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Outros serviços

No documento A flor do campo (páginas 93-99)

Outro património

1.10. Outros serviços

A vila de São Martinho não se fica apenas a nível económico pela actividade industrial, possuindo alguma agricultura, um comércio crescente, para além da prestação de serviços.

A indústria, como já referimos e voltaremos a abordar mais adiante, é a actividade dominante. A agricultura foi sucintamente já abordada quando se mencionou a importância da cultura do linho em tempos que já lá vão. Não podemos esquecer que a agricultura foi durante muitos séculos o grande meio de subsistência das pessoas desta região, sendo as culturas do vinho (verde) e do milho os elementos que compõem a trilogia a que se associa o linho.

A nível de prestação de serviços, concretamente a nível de transportes, a freguesia possui perto dos seus limites a ligação ferroviária (via estreita) à sede do concelho, ao Porto e a Guimarães através da estação de Lordelo. Pela via rodoviária, para além dos veículos particulares existem carreiras com ligação a Vizela, a Santo Tirso e ao Porto.

No que diz respeito a serviços ao dispor da população, a freguesia é servida por uma estação dos correios, já existente na década de 50, como documenta o jornal Semana Tirsense quando diz no dia 8 de Janeiro de 1956 que "uma estação dos

Correios posta a servir uma enorme zona de laboração fabril como S. Martinho, Vilarinho, etc., ê, na verdade, uma solução para muitos e contigenciais problemas que a Caixa Postal só por si de nenhum modo poderia suprimir e afligia a indústria ali situada". A inauguração da Estação dos Correios e

Telégrafo-Postal seria a 12 de Janeiro, data do aniversário do Comendador Abílio Ferreira de Oliveira, à qual estava pessoalmente ligado. No dia 30 de Setembro de

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1957, segundo noticia o Jornal de Santo Thyrso na sexta-feira seguinte, "A

donairosa e progressiva freguesia de São Martinho do Campo esteve, no domingo, mais uma vez em festa, com a inauguração da sua nova casa dos Correios, que é um edifício moderno e elegante, para cuja edificação muito contribuiu, além da direcção dos C.T.T. e da Junta de Freguesia, o benemérito e importante industrial sr. Abílio Ferreira de Oliveira".

Possuí ainda uma delegação do Centro Regional de Segurança Social do Norte, uma dependência da Electricidade do Norte, três agências de instituições bancárias, um centro de saúde e uma farmácia. Outrora dispôs de uma instituição hospitalar associada à Irmandade da Misericórdia local.

Fotografia n„° 5 - Imagem do Centro de Saúde

Os estabelecimentos comerciais são bastante diversificados nos seus ramos, sobressaindo os cafés, restaurantes, mercearias e minimercados. 0 pronto-a-vestir, as papelarias, cabeleireiros, perfumarias e floristas marcam a sua presença, bem como lojas de electrodomésticos, materiais de construção, padarias, talhos, ourivesaria, drogaria, fotógrafo, enfim, o comércio habitual numa vila que ainda não sentiu a estabilização ou decréscimo da população residente, mas, pelo contrário, vê a mesma aumentar de forma constante, tal como o comércio que incrementa.

À quarta-feira, a Avenida das Tílias ganha novo ânimo com a realização da feira semanal, oficializada em 1983 por votação da Assembleia de Freguesia, que a aprovou por unanimidade. A população residente e a das freguesias circunvizinhas

passaram a usufruir de um espaço de comércio ao ar livre que, para além de satisfazer as necessidades das pessoas, é sempre um momento de convívio num ambiente quase festivo.

1.11. O ensino

Mencione-se também, de uma forma muito particular, o ensino na freguesia, que, pelo seu interesse, abordaremos de forma mais alongada, até porque ele se cruza com alguns dos principais benfeitores da freguesia do último século, sendo um deles Abílio Ferreira de Oliveira.

A escola, entendida como um espaço privilegiado de interacção humana, em que a formação e aquisição de conhecimentos diversos por parte dos jovens são uma realidade, aparece-nos em São Martinho do Campo com determinação e empenho. Sabe-se que foi uma das primeiras freguesias a acatar as decisões saídas das reformas do século XIX, caso da que impõe sanções às famílias se não mandarem os filhos à escola (1844) e da que divide a instrução primária em graus e estabelece o ensino gratuito (1870).

O panorama escolar no virar para o século XX é bastante desolador a nível concelhio, mas a situação de São Martinho do Campo é deveras interessante e não acompanha essa imagem negativa do concelho.

Foi a 28 de Fevereiro de 1894, na Casa de Arnozela, que se começaram a leccionar as primeiras aulas para crianças pobres de São Martinho do Campo e terras circunvizinhas, tendo como grandes impulsionadores João Evangelista Faria e Almeida, a cuja família pertencia a Casa de Arnozela, e Manuel Dias Machado, um comerciante emigrado no Brasil, onde fez fortuna. Ambos fundaram a Irmandade e Misericórdia de Santa Maria.

O relato lavrado em acta da inauguração das escolas, pelas dez horas da manhã, diz a determinada altura: "o revm0 professor, aproveitando as palavras de Jesus 'deixai que as criancinhas se cheguem a mim', dirigiu aos seus discípulos uma allocução simples sim, como convinha às pequeninas capacidades intelectuais, mas comovente".

A 14 de Março de 1894, pelas onze horas da manhã, dá-se a inauguração da escola para o sexo feminino com a presença das figuras públicas locais e "mais de

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sessenta alumnas das escolas, todas vestidas de branco, acompanhadas da sua digna professora", D. Rosa Dias Machado, tal como a acta lavrada nesse dia.

Em 1901 a escola passa para um edifício apropriado, cuja construção se efectuava em terrenos cedidos por João Evangelista, então Presidente da Câmara Municipal de Santo Tirso. A escritura de doação data de 14 de Junho de 1899 (anexo B, documento n.°2)e a intenção dos beneméritos era dotar as freguesias de São Martinho e São Salvador do Campo de escolas do ensino gratuito, de ambos os sexos, para as crianças pobres e desvalidas daquelas localidades do concelho de Santo Tirso, para além de lhes oferecer uma refeição diária, bem como, sempre que possível, os livros e algum agasalho. Como não havia ainda um método oficialmente obrigatório, seria adoptado nestas escolas "o alphabeto natural do Abbade

d'Arcozello"

A escola do sexo masculino ficou com a denominação de "Escola de Santo

António", em honra deste santo, enquanto que a do sexo feminino se designou de "Escola de Santa Maria", em homenagem à Mãe de Deus e a D. Maria Alves

Pimenta, da "Casa de Arnozela". Recorde-se que a instituição, cujos estatutos foram concluídos a 2 de Novembro de 1898 e aprovados a 20 de Fevereiro de 1899, era classificada como "corporação religiosa, que tem por fim o exercício de

actos de instrução, piedade e beneficência", daí ter-se proposto a criar as

escolas de ensino primário e também prestar "socorros espirituais aos seus

confrades".

Com a instauração da República em 1910, mercê das alterações político-sociais que afectaram o religioso, a Irmandade e Misericórdia de Santa Maria passa a ser uma "corporação de instrução, beneficência e culto" e as escolas passam a designar-se por "Escola de Santa Maria", para o sexo feminino, e "Escola Dias

Machado", para o sexo masculino, sendo retirada dos estatutos a qualificação de "corporação religiosa".

Em 8 de Dezembro de 1915, numa reunião da mesa da Irmandade, o Provedor Manuel Dias Machado propõe a venda de um piano oferecido em tempos por ele, quando se pretendia criar um "colégio de meninas", onde pudessem aprender a arte da música, revelando assim as dificuldades económicas do momento. Esta situação prolongar-se-á e em 1924, lutando com grandes dificuldades, apelava-se ao Presidente da Junta Escolar de Santo Tirso a criação de uma escola oficial dos dois sexos na freguesia, utilizando-se também como argumento a distância a que moravam as crianças de São Martinho e de São Salvador do Campo em relação a escolas de freguesias vizinhas.

Já nos anos quarenta, concretamente as eleições realizadas a 1 de Dezembro para Provedor são impugnadas, sendo a mesa administrativa da Irmandade dissolvida pelo Governador Civil do Distrito do Porto, António Pires de Lima, em 1 de Abril de 1941, e da comissão administrativa reafirma-se a beneficência e protecção do ensino.

Entre Janeiro de 1942 e Fevereiro de 1951, bem como de Fevereiro de 1975 a Abril de 1980, a direcção da instituição tem como presidente o Comendador Abílio Ferreira de Oliveira, que na primeira data assumia ainda a Presidência da Junta de Freguesia de São Martinho do Campo. Da sua actuação inicial registe-se o cumprimento dos estatutos no que se refere à dádiva de um prato de sopa às crianças comprovadamente pobres, enquanto as restantes pagariam 25 centavos, para além de obras diversas que mandou executar.

Regressando ao tema central, já na actualidade, a instituição está voltada para o apoio à infância, tendo surgido no seu edifício a Creche José Narciso Martins da Costa, marido da benemérita D. Raquel, e o Jardim da Infância José Machado de Almeida, cuja inauguração se efectuou em 20 de Dezembro de 1986, cuja recuperação foi custeada pelo mesmo.

Curioso é também a simbiose que a toponímia de São Martinho do Campo legaria para a posteridade, ao designar a conhecida "Avenida das Tílias" como

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"Avenida Manuel Dias Machado", e curioso porque a esposa de Dias Machado se

chamava precisamente Tília.

Actualmente a freguesia possui duas escolas do 1o ciclo, a de Entre-Estradas e Aldeia do Monte e uma escola básica integrada, que juntou a escola do 1o ciclo de Escorregadoura (escola que deu continuidade à da casa Manuel Dias Machado e que é a maior e a mais central da freguesia) à escola dos 2o e 3o ciclos criada em 1989. Reconhecida como escola básica integrada a partir de 1990, também através desta a freguesia assume um carácter inovador, uma vez que esta estrutura sequencial e vertical dos três ciclos do ensino básico foi uma das mais antigas do país e a primeira na região norte. Também esta escola, pelo facto de receber os alunos oriundos da própria freguesia, mas também de São Salvador do Campo, Roriz, São Mamede de Negrelos e Vilarinho, representa um bom indicador da população, observando-se um crescente e significativo aumento nos últimos dez anos, mantendo pela primeira vez a população escolar no presente ano lectivo.

Em síntese...

Este item integrado no primeiro capítulo da tese pretendeu ser um contributo para a elaboração de uma monografia sobre São Martinho do Campo. Foi nosso propósito dar uma panorâmica do que consideramos ser o pulsar desta freguesia, começando por descrever aspectos relacionados com a sua localização geográfica e população, passando pela sua história e abordando os diversos sectores da actividade económica, com relevo para os mais significativos.

Procurou transmitir-se a ideia de que estamos perante uma terra típica da transição do Douro Litoral para o Minho, fértil a nível agrícola, mas essencialmente centrada a nível económico na indústria têxtil, actividade motora de progresso e fixadora de gentes, fonte de riqueza para os homens e para as obras que foram sendo construídas através do tempo. Nos diversos itens foi clara a interligação homem/meio como eixo central desse progresso, para além de uma narrativa alternada entre a descrição simples e objectiva e o texto histórico construído com fontes documentadas e pontualmente enriquecido com elementos de uma oralidade assente na tradição.

Finalmente, foi também um momento próprio para relembrar nomes como João Evangelista, Manuel Dias Machado, Abílio Ferreira de Oliveira, entre outros, cuja

obra está ainda bem presente na freguesia de São Martinho do Campo, continuando a merecer o respeito da população.

No segundo item deste capítulo alargaremos a nossa análise abordando o que consideramos a força industrializadora da região do Ave, uma vez que aqui se concentra a maior parte do sector têxtil, da fiação à confecção de vestuário.

2. A força industrializadora da região do Vale do Ave

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