• Nenhum resultado encontrado

4. ANÁLISE E DISCUSSÃO

4.2. Governança e Arranjos institucionais no Programa Água para Todos

4.2.2. O arranjo institucional no Programa Água para Todos

O Decreto nº 7.535 de 26 de julho de 2011, que institui o Programa Nacional de Universalização do Acesso e Uso da Água - “ÁGUA PARA TODOS”, estabelece formalmente mecanismos de coordenação e articulação por meio de um Comitê Gestor e de um Comitê Operacional (BRASIL, 2011b).

O Comitê Gestor é composto pelos representantes dos seguintes Ministérios: I - Ministério da Integração Nacional, pelo titular da Secretaria de Desenvolvimento Regional, que o coordenará; II - Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, pelo titular da Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional; III - Ministério das Cidades, pelo titular da Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental; IV - Ministério do Meio Ambiente, pelo titular da Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano; V - Ministério da Saúde, pelo presidente da Fundação Nacional de Saúde; VI - Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura - Contag, conforme indicação de titular; e VII - Federação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar -Fetraf-Brasil/CUT, conforme indicação de seu titular. Tem por finalidade: a) coordenar iniciativas e articular as ações no âmbito do Programa “ÁGUA PARA TODOS”; b) definir as metas de curto, médio e longo prazo do Programa; c) discutir e propor aperfeiçoamentos nos planos operacionais dos órgãos e entidades federais responsáveis pela execução de ações no âmbito do Programa; d) estabelecer metodologia de monitoramento e avaliação da execução do Programa; e) avaliar resultados e propor medidas de aprimoramento do Programa (BRASIL, 2011b).

O Comitê Operacional, por sua vez, é composto por um representante titular e um suplente de cada um dos órgãos e entidades que compõem o Comitê Gestor. Tem por competência: I - avaliar e apresentar ao Comitê Gestor propostas dos órgãos e entidades

parceiras do Governo Federal no cumprimento das metas do Programa; II - avaliar e apresentar ao Comitê Gestor propostas de distribuição territorial das metas necessárias à garantia do acesso à água; III - avaliar e apresentar ao Comitê Gestor demandas por diagnósticos e estudos que auxiliem o Governo Federal na elaboração de políticas e ações necessárias à oferta de água e atendimento da demanda; IV - avaliar e apresentar ao Comitê Gestor relatórios e informações necessárias ao cumprimento das ações no âmbito do Programa; V - acompanhar as ações dos órgãos e entidades parceiras do Governo Federal em seus respectivos territórios; e VI - apresentar ao final de cada exercício fiscal, para avaliação e deliberação do Comitê Gestor, o plano de ação integrada para o exercício seguinte, acompanhado de relatório de avaliação e execução das ações desenvolvidas no exercício anterior (BRASIL, 2011b).

Desta forma, conforme determina o decreto, verifica-se que o Ministério da Integração Nacional é responsável pela coordenação do comitê gestor do programa do qual se destacam os seguintes órgãos: a) Ministério da Integração Nacional (MI); b) Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS); c) Ministério do Meio Ambiente (MMA); d) Ministério das Cidades (MCidades); e) Ministério da Saúde/Funasa. Esta configuração pode ser resumida na figura 10 a seguir:

Figura 10: Organograma do Arranjo Institucional no Programa Água para Todos PROGRAMA ÁGUA PARA TODOS

INSTÂNCIAS ESTRATÉGICAS

INSTÂNCIAS OPERACIONAIS

Fonte – Elaboração própria com base em Sesep / MDS (Brasil, 2014) COMITÊ GESTOR:

MI, MDS, MMA, MCid, MS, CONTAG, FETRAF

COMITÊ OPERACIONAL:

MI (SDR)/CODEVASF, MDS (SESAN), MMA (SRH)/ANA, MCid (SNSA), MS(FUNASA), FBB, CONTAG, FETRAF

SALAS DE SITUAÇÃO: MDS (SESEP) REPRESENTANTES DOS COMITÊS

A garantia efetiva do direito ao acesso à água requer a articulação de diversas ações intersetoriais, devido à interface do tema com as políticas de recursos hídricos, de saneamento básico e, principalmente, com as políticas de segurança alimentar e nutricional e as políticas de desenvolvimento regional, mas também necessita de articulação federativa, de forma a contar com a contribuição fundamental dos entes subnacionais.

No nível estadual e municipal, há estruturas de apoio criadas por iniciativa do MDS e do MI. No caso do Ministério da Integração Nacional, o Manual Operacional dos Objetos Padronizados do Programa estabelece a criação dos Comitês Estaduais, Municipais e Comunitários, que se propõem a auxiliar na gestão do Programa no território (BRASIL, 2016a).

O Manual Operacional estabelece que os Comitês Gestores Estaduais (CGE) devem funcionar como fóruns em que é garantida a participação de instituições da sociedade civil organizada e de órgãos e entidades estaduais com finalidades compatíveis as do Água para Todos. Esses comitês devem fazer a ponte entre as unidades locais dentro do estado e o Comitê Gestor Nacional, levando demandas e sugestões, contribuindo para que as prioridades estabelecidas sejam implementadas. Os CGEs são criados por instrumentos normativos próprios de cada Estado ou do Distrito Federal, que determinam sua composição, suas competências e rotinas de deliberação.

Os Comitês Gestores Estaduais devem também criar Comitês Gestores Municipais (CGM) nos locais de atuação do Programa. O CGM é uma instância consultiva que deve ter a criação comprovada mediante ata assinada por seus membros. O CGM deve contar com representantes da sociedade civil organizada, preferencialmente as organizações vinculadas à temática rural (sindicato de trabalhadores rurais, associações rurais, cooperativas, pastorais, entre outras) e com pelo menos um membro do poder público local, vedada a representação de mais de um terço de agentes públicos municipais.

As atribuições do CGM consistem em auxiliar na seleção das comunidades que serão atendidas pelo Programa, bem como na ordem de priorização; acompanhar o processo de validação e cadastramento das famílias que serão atendidas; ajudar na sensibilização e mobilização da comunidade para participação nas oficinas dos beneficiários; e acompanhar a implementação das iniciativas do Programa no município, reportando ao MI e ao Comitê Gestor Estadual e Nacional possíveis distorções identificadas.

Uma vez indicada uma comunidade pelo CGM, o convenente deverá verificar as condições naturais existentes na comunidade, com o objetivo de identificar a viabilidade técnica da implementação das tecnologias, para depois criar, em conjunto com o CGM, as Comissões Comunitárias (CC). As CCs devem contar com pelo menos três membros da comunidade, sendo

importante garantir a participação de pelo menos uma mulher e desejável a participação de um agente de saúde. Seus membros devem ser eleitos pela própria comunidade na reunião de apresentação do Programa e tem como atribuições receber e orientar as equipes do trabalho social e técnico; ajudar na mobilização e na realização de oficinas, reuniões, encontros e visitas, inclusive as de monitoramento e fiscalização; e auxiliar na mobilização e organização das famílias para cadastramento, validação, georreferenciamento, entrega e instalação dos equipamentos (cisternas), do registro fotográfico e da assinatura de termos de recebimento (cisternas) e atendimento (sistemas e barreiros). A Figura 11 mostra o modelo de interlocução proposto pelo Programa Água para Todos no Ministério da Integração Nacional:

Figura 11 – Modelo de Interlocução com entes Subnacionais – MI

Elaboração: SDR/MI. (Brasil, 2016)

No caso do MDS, as estruturas de apoio estadual são articuladas a partir do órgão ou entidade executora após a formalização do instrumento de parceria, conforme modelo de fluxo apresentado na Figura 12.

Comitê Gestor Nacional

(MI, MDS, MS, MCID, MMA, CONTAG, FETRAF)

CGE

MI

Ente Beneficiário

Comitê Gestor Municipal

Comissões

Comunitárias

Implementação da

Tecnologia

A maior parte das tecnologias implementadas a partir de recursos do Programa Cisternas tiveram como parceiros governos estaduais, a OSCIP Associação Programa Um Milhão de Cisternas (AP1MC), instituída a partir da Articulação no Semiárido (ASA), consórcios municipais e o Banco do Nordeste (BNB), mas na prática essas parcerias envolvem a descentralização dos recursos para uma gama de instituições com atuação local ou territorial.

Figura 12 – Modelo de Interlocução com entes Subnacionais - MDS

Fonte – Sesan / MDS (Brasil, 2015)

A ação é deflagrada pelo órgão ou entidade com atuação regional, que subcontrata entidades executoras locais. A partir dessas entidades executoras locais, são realizadas reuniões com lideranças locais representativas de diferentes segmentos da sociedade, nas quais o projeto a ser implementado no município é apresentado e também são legitimadas as comunidades a serem atendidas.

Após esse processo, as entidades vão a campo para validar a lista de famílias, no caso da cisterna de água para consumo humano (Primeira Água), observando os critérios do Programa, iniciando, a partir dessa seleção, os demais processos associados à implementação da tecnologia. A partir da identificação das famílias, os técnicos das entidades apresentam

orientações gerais a respeito do Programa, incluindo condição para o atendimento da família. Ainda realizam o cadastro, a partir de formulário específico, e confirmam a participação do beneficiário na capacitação técnica associada à tecnologia. Tais procedimentos metodológicos também foram adotados nos casos em que o financiamento partiu dos parceiros federais como FBB, Petrobrás e BNDES.

As estruturas de governança descritas anteriormente foram criadas para fortalecer os canais de articulação intersetorial e federativa para a implementação do APT. Todavia cada organização parceira no programa já tinha o seu modus operandi específico anterior à criação do APT. Estas organizações adotam diferentes modelos de implementação e diferentes tecnologias de acesso à água, inclusive utilizando nomes distintos para suas ações.

Desta forma, na próxima seção serão analisadas as diferentes formas de atuação das organizações parceiras no APT.