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3. METODOLOGIA DE PESQUISA

3.5. Procedimentos de coleta de dados

A coleta dos dados se deu por meio de pesquisa documental e pela abordagem dos indivíduos envolvidos nos processos referentes ao Programa Água para Todos (APT), por meio de entrevistas em profundidade com roteiro semiestruturado.

O levantamento bibliográfico e documental incluiu a realização de pesquisas em bancos de dados gerenciais e a realização de consultas a textos normativos, como Portarias, Decretos e Leis, arquivos, sites governamentais, além de relatórios de conferências setoriais e intersetoriais. O acesso aos documentos institucionais ocorreu mediante pesquisa in loco ou mediante buscas realizadas em sites governamentais e institucionais. A coleta de dados também se baseou em teses, dissertações e artigos científicos, sendo utilizadas fontes de literatura teórica sobre o tema, de literatura empírica sobre pesquisas anteriores, de literatura metodológica sobre a realização da pesquisa e o método escolhido.

A presente pesquisa utilizou um conjunto de três grupos de fontes de dados, a saber: 1) Levantamento bibliográfico e documental:

a. documentos oficiais (dados secundários);

b. artigos científicos, livros, teses, dissertações (dados secundários); c. documentos jornalísticos (dados secundários);

2) Notas Taquigráficas (dados secundários) e

3) Documentos derivados das transcrições das Entrevistas (dados primários). As consultas às fontes documentais sobre o APT foram realizadas in loco ou pela internet nas seguintes organizações: Casa Civil da Presidência da República (CC/PR), Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), Ministério da Integração Nacional (MI), Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf), Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), Ministério do Meio Ambiente (MMA), Fundação Nacional de Saúde (Funasa), a Fundação Banco do Brasil (FBB), Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Petrobras, Articulação Semiárido Brasileiro

(ASA), Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Federação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (Fetraf-Brasil/CUT), Secretaria de Desenvolvimento Regional (SDR/MI), Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (SESAN/MDS), Secretaria Extraordinária para Superação da Extrema Pobreza (SESEP/MDS), Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano (SRH/MMA), Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR) do estado da Bahia, Secretaria de Desenvolvimento Agrário do estado do Ceará.

Também foram analisados os Relatórios de Auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) e os Relatórios de Gestão da Controladoria Geral da União (CGU), de forma a confrontar os dados destes relatórios com os dados obtidos nas entrevistas e verificar as contradições e similaridades. Além desses, também foram considerados os documentos jornalísticos que tratassem das matérias publicadas na imprensa à época da execução do APT, assim como os discursos de atores relevantes, entrevistas concedidas aos meios de comunicação e outros documentos relativos ao programa em questão.

A análise documental incluiu ainda o exame dos documentos de diretrizes das políticas estruturantes do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e do Ministério da Integração Nacional (MI), de Leis, Decretos e Portarias mencionados na documentação pesquisada, bem como de relatórios orçamentários do APT, dentre outros citados ao longo desse texto e registrados nas referências bibliográficas, ao final deste documento.

Outra importante fonte de dados consistiu no exame das Notas Taquigráficas referentes as reuniões plenárias do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA) e das audiências públicas da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados.

Nesta fase foi possível a identificação dos principais atores envolvidos no processo de formulação e implementação do APT, para posterior agenda de entrevistas. Os documentos foram selecionados de acordo com a pertinência e contribuição para com os casos investigados. Logo, a escolha é caracterizada como proposital, e não aleatória.

Foram realizadas dezesseis entrevistas, no período compreendido entre agosto e novembro de 2019. Esse número foi determinado pelo princípio da saturação, isto é, o fim do ciclo de coleta de dados. O estado de saturação é alcançado quando a inclusão de novos estratos não agrega nada de novo. Mesmo porque existe um número limitado de pontos de vista sobre um determinado tópico dentro de um meio social específico (BAUER; GASKELL, 2013).

Todas as entrevistas foram realizadas e gravadas pelo pesquisador, com o consentimento dos entrevistados. A transcrição dos relatos foi realizada pelo pesquisador e por duas profissionais especializadas, gerando um total de 327 páginas transcritas. As entrevistas tiveram

duração média de setenta minutos, tendo a entrevista mais curta a duração de quarenta minutos e a entrevista mais longa durado cento e quatro minutos.

A utilização de um roteiro semiestruturado (Apêndice A), apresentou a vantagem de possibilitar a inserção de questões adicionais nas situações nas quais o relato do entrevistado indicou a necessidade de que fossem esclarecidos aspectos que não ficaram suficientemente claros na abordagem inicial. As entrevistas semiestruturadas permitiram maior elasticidade na duração do tempo passado com os entrevistados, o que também favoreceu o aprofundamento sobre determinados assuntos (MANZINI, 2012).

O roteiro que guiou as entrevistas foi dividido em quatro partes. Como os entrevistados pertenciam a várias organizações distintas, o roteiro passou por adaptações de acordo com a vinculação organizacional do entrevistado à época do estudo.

Todos os potenciais entrevistados foram contatados por mensagem eletrônica ou por telefone, momento no qual eram informados acerca dos objetivos da investigação. Os entrevistados que concordaram em participar do projeto receberam o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), que se encontra no Apêndice B deste documento, por correio eletrônico, ou mediante entrega pessoal.

O critério de seleção dos entrevistados priorizou a experiência e a representação assumida por eles em cada uma das organizações participantes da formulação e da implementação do Programa Água para Todos. As entrevistas foram realizadas com analistas, técnicos e gestores representativos do setor governamental e da sociedade civil que participaram do Programa. Os entrevistados foram classificados nos seguintes 4 segmentos:

(1) O segmento da gestão federal do APT, composto pelo Ministério da Integração Nacional (MI), por meio da Secretaria de Desenvolvimento Regional (SDR/MI); o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), por meio da Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (SESAN/MDS) e Secretaria Extraordinária para Superação da Extrema Pobreza (SESEP/MDS); o Ministério do Meio Ambiente (MMA) e a Fundação Nacional de Saúde (Funasa);

(2) O segmento da gestão federal com interface estadual, composto pela CODEVASF e DNOCS;

(3) O segmento da gestão estadual com interface municipal, composto pela Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR/BA) do estado da Bahia e pela Secretaria de Desenvolvimento Agrário do estado do Ceará (SDA/CE);

O Quadro 3contém o segmento ao qual pertence e a organização pela qual cada um dos entrevistados atuou durante a implementação do APT no período compreendido pela investigação.

Quadro 3 – Códigos dos entrevistados, por segmento e organização, na atuação do APT

Código do Entrevistado

Segmento Organização

E1 Gestão Federal do APT SDR/MI

E2 Gestão Federal do APT SDR/MI

E3 Gestão Federal do APT SESEP/MDS

E4 Gestão Federal do APT SESEP/MDS

E5 Gestão Federal do APT SESAN/MDS

E6 Gestão Federal do APT SESAN/MDS

E7 Gestão Federal/Estadual do APT CODEVASF/MI

E8 Gestão Federal/Estadual do APT DNOCS/MI

E9 Gestão Estadual/Municipal do APT CAR/BA

E10 Gestão Estadual/Municipal do APT SDA/CE

E11 Participação Social/territorial no APT CONTAG

E12 Participação Social/territorial no APT ASA

E13 Participação Social/territorial no APT FETRAF

E14 Gestão Federal do APT SDR/MI

E15 Gestão Federal do APT MMA

E16 Gestão Federal do APT Funasa

Fonte: Elaboração própria

No segmento da gestão federal do APT foram convidados para as entrevistas dirigentes (diretores e coordenadores-gerais) das secretarias diretamente envolvidas na gestão do programa no MDS e no MI, por serem as organizações com maior volume de ações e recursos na execução do programa. No critério de escolha também foram considerados técnicos e dirigentes que tivessem conhecimento não só do programa em si, mas também das políticas estruturantes das principais organizações envolvidas. O governo federal teve maior protagonismo no desenho, financiamento e monitoramento do programa, portanto a maior parte dos entrevistados pertence a esse segmento, no qual foram incluídos também o MMA e a

Funasa. Os entrevistados aqui são representados pelos códigos E1, E2, E3, E4, E5 e E6, além de E14, E15 e E16.

A CODEVASF e o DNOCS foram colocados no segmento de interface entre o nível federal e o estadual. Estas organizações têm vínculo com o MI (órgão federal) mas possuem capilaridade nos estados do Nordeste, executando diretamente as ações nos territórios ou fazendo convênios com os estados. Participaram diretamente com ações no território em várias ocasiões. Estão representados com o código E7 e E8.

O segmento da gestão estadual contou com uma interface municipal, devido aos estados terem ficado incumbidos de executarem o programa nos municípios e de formarem oscomitês municipais de acompanhamento do APT. Aqui estão representados pela Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR/BA) do estado da Bahia e pela Secretaria de Desenvolvimento Agrário do estado do Ceará (SDA/CE). Estes estados foram considerados mais representativos por terem sido os que mais receberam cisternas, como será visto mais adiante na seção 4.2.3. Neste segmento estão os entrevistados E9 e E10.

O quarto segmento é o da participação social composto por entrevistados representantes da ASA, CONTAG, e FETRAF. Estas foram as organizações da sociedade civil que tiveram maior participação no Programa Água para Todos (APT), aqui identificadas pelo código E11, E12 e E13.

Com a expectativa de reduzir as chances de obtenção de respostas defensivas, o pesquisador adotou e explicou aos entrevistados o posicionamento de não vincular diretamente o nome deles às opiniões emitidas (FLICK, 2009; HOFFMAN-CÂMARA, 2013). Esta medida teve origem no cuidado de preservar a livre opinião de todos os entrevistados, dado que alguns deles continuam trabalhando na mesma organização que ocupavam no período de abrangência da investigação.