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2. CRESCIMENTO E DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES CHILENAS

2.3 Diversificação: a chave para o crescimento

2.3.1 O cobre

recuperação da crise da dívida iniciou-se um processo de desconcentração, ocorrendo uma diversificação da pauta exportadora rumo a produtos manufaturados elaborados a partir de recursos naturais (tabela 7). Como será abordado posteriormente, o cobre ainda possui lugar expressivo nas exportações chilenas, porém registrou significativa queda de participação (ALVAREZ E LEMUS, 2001).

Tabela 7 - Participação das exportações por setor (% do total) 28

Minerador Agropecuário Pesqueiro Madeireiro Industrial

1960-1973 86,5 3,2 1,8 1,9 10,1

1974-1980 66,8 5,5 4,0 7,3 27,0

1981-1990 55,4 10,2 7,4 7,9 32,3

1991-1999 45,9 10,1 3,9 7,9 41,9

Fonte: Alvarez e Lemus (2001), baseado em Agosin (2001) e Banco Central do Chile

O setor industrial ampliou sua participação no total das exportações, especialmente durante os anos 1990. Porém, a partir de meados desta década, o processo de diversificação da pauta desacelerou-se. Segundo Alvarez e Lemus (2001), entre 1990 e 1994, o número de empresas exportadoras cresceu 42,5%, enquanto a quantidade de produtos exportados ampliou-se 57,5%. No período entre 1995 e 1999, por sua vez, o crescimento destas variáveis foi de 3,5% e 3,9%, respectivamente. O desafio da década atual é, portanto, retomar o dinamismo da diversificação, com ênfase na inovação tecnológica.

As subseções seguintes têm o objetivo de realizar um estudo mais detalhado dos principais segmentos exportadores da economia chilena, englobando o maior em peso e os setores mais dinâmicos apontados pela literatura.

2.3.1 O cobre

A análise setorial inicial será feita não por um novo ramo, um adendo a pauta exportadora, mas pelo produto principal desta. Para entendermos como a pauta diversificou- se, primeiro é preciso verificar aquele que por muito tempo representou a maior parte das exportações.

28 A participação dos setores tem soma maior a 100%, pois existe uma dupla contagem já que alguns produtos do

Como visto anteriormente, durante os anos prévios a ditadura militar, um movimento chamado de “chilenización” foi responsável pela nacionalização da Gran Minería del Cobre29. Em 1976, já sob o governo de Augusto Pinochet, a criação formal da CODELCO

(Corporación Nacional del Cobre de Chile) formalizou a propriedade das empresas

nacionalizadas nas mãos do Estado, e “(...) agrupaba los yacimientos existentes en una sola Corporación, minera, industrial y comercial, con personalidad jurídica y patrimonio propio”

(CODELCO).

No período prévio à abertura comercial, o cobre representava uma percentagem significativa da economia chilena. Durante a década de 1950, esse produto representava cerca de 75,0% das exportações e constituía mais de 30% da arrecadação fiscal, chegando a quase 50% no ano de 1955 (MELLER, 2003, p. 2).

Portanto, era compreensível que muitos achassem que o Chile estava fadado a ter as exportações concentradas em um único setor e que as vantagens comparativas deste país resumiam-se a esta atividade. Apesar de perder participação nas exportações e na economia nacional, a produção de cobre nunca deixou de registrar ampliação. A tabela 8 mostra a comparação das taxas de crescimento média da produção de cobre mundial e chilena, evidenciando o avanço expressivo da última.

Tabela 8 – Taxa de crescimento médio anual da produção de cobre % (1960-2006) Mundo Chile 1960-1970 4,17 2,66 1971-1980 2,11 4,43 1981-1990 2,51 4,01 1991-2000 3,72 11,23 2001-2006 2,52 2,81

Fonte: MELLER (2003) e Copper Statistics U.S. geological survey.

A nacionalização da Gran Minería nas décadas de 1960 e 1970 trouxe uma mudança

estrutural na produção de cobre. As empresas privadas, que respondiam por 90,0% da produção chilena de cobre em 1960, no ano de 1990 registravam participação de 12,2%. Por outro lado, a CODELCO, em 1980 respondia por 84,7% da produção e em 1990, por 75,3% (MELLER, 2003, p. 5).

29 “son

empresas productoras de cobre de la Gran Minería las que produzcan, dentro del país, cobre "blister", refinado a fuego o electrolítico, en cualquiera de sus formas, en cantidades no inferiores a 75.000 toneladas métricas anuales mediante la explotación y beneficio de minerales de producción propia o de sus filiales o asociados.” (Lei n° 16.624 del 20 de abril de 1967, artigo 1°, República do Chile)

Na década de 1990, as empresas estrangeiras obtiveram a concessão para explorar as minas de cobre, assim como algumas minas foram privatizadas. Dessa forma, a produção da CODELCO teve sua participação diminuída, concomitantemente à expansão das empresas privadas, principalmente estrangeiras. No ano de 2000, a CODELCO só participava com 32,9% da produção, e as estrangeiras, com 59,5% (MELLER, 2003).

Uma das questões centrais do debate atual sobre o cobre no Chile é uma possível privatização da CODELCO. Os favoráveis a esta idéia baseiam-se nas estatísticas de crescimento médio da produção: enquanto a produção da CODELCO atingiu alta de 2,4% ao ano durante os anos 1990, as grandes empresas privadas alcançaram avanço de 30,3% ao ano no mesmo período. Meller (2003), por sua vez, rebate os argumentos pró-privatização, afirmando que a presença de uma grande estatal no segmento não só não impediu o investimento estrangeiro30, mas insere uma vantagem de ser referência de eficiência produtiva, já que a estatal está entre as empresas com menores custos.

Em relação às exportações de cobre, estas foram perdendo participação ao longo dos anos. Essa tendência apresentou uma reversão nos últimos três anos devido a uma conjuntura internacional muito particular de preço recorde das commodities. O gráfico 3 mostra a

evolução da participação das exportações de cobre sobre as exportações totais em valores. Gráfico 3 – Participação das exportações de cobre em relação ás exportações totais, % (1960- 2006) 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 19 60 1963 1966 1969 1972 1975 1978 1981 1984 1987 1990 1993 1996 1999 2002 2005

Fonte: Banco Central do Chile (elaboração própria)

Para contrastar a análise baseada nos valores, podemos investigar qual foi o real efeito da alta dos preços do cobre, por meio dos dados pela variação de preço e quantidade exportada. Segundo os dados disponíveis desde 1997, os dois últimos anos registraram variação negativa do índice de quantum, enquanto o índice de preços cresce a taxas

significativamente altas. O gráfico 4 tenta ilustrar esta discrepância entre os índices mencionados, conjuntamente ao índice de valor.

Gráfico 4 – Variação anual dos índices de exportação de cobre escolhidos em % (1997-2006)

-40 -20 0 20 40 60 80 100 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

Quantum Preço Valor

Fonte: Banco Central do Chile (elaboração própria)

Pelo gráfico 4, pode-se verificar que o crescimento da participação do cobre nas exportações totais em valor diz respeito a um movimento unicamente de preços, visto que a quantidade exportada caiu nos últimos três anos.

A principal indagação a propósito das exportações de cobre recai sobre a capacidade de criação e utilização de tecnologia e adição de valor agregado ao produto. Segundo dados da COCHILCO31, a produção de cobre possui uma estrutura dual quanto a agregar valor: a CODELCO, conjuntamente às pequenas e médias empresas, respondem por grande parte do total do cobre refinado, enquanto as grandes empresas privadas refinam uma parte mínima de sua produção. A disparidade até o ano de 1992 era tão grande entre estes dois blocos, que o primeiro respondia a 100% da produção de cobre refinado no Chile.

Gráfico 5 - Produção de cobre refinado em relação ao total da produção de cada tipo de empresa (1960-1999) 0% 20% 40% 60% 80% 100% 120% 140% 160% 19 60 1963 1966 1969 1972 1975 1978 1981 1984 1987 1990 1993 1996 1999

CODELCO Empresas privadas Empresas Médias

Empresas Pequenas Total

Fonte: COCHILCO, apud Meller (2003) (elaboração própria)

Segundo dados apresentados por Meller (2003), a maior parte das exportações de cobre (53,0% em 2000) consiste de cobre refinado, porém a CODELCO e as pequenas e médias empresas são responsáveis por grande parte desta porcentagem, enquanto o cobre refinado só representa 35% das exportações das empresas privadas.

Portanto, o Chile possui capacidade de melhora da qualidade do cobre exportado, entretanto, este fato depende dos interesses das empresas privadas, predominantemente multinacionais norte-americanas. É importante destacar que a produção de bens elaborados a partir do cobre é pequena no país, o que abre possibilidade para investimentos nesta área, tanto por parte de empresas estrangeiras quanto nacionais.