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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Talita Miranda Ribeiro

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Academic year: 2019

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Talita Miranda Ribeiro

Exportações e Crescimento: Um Teste de Causalidade

para o caso chileno

MESTRADO EM ECONOMIA POLÍTICA

SÃO PAULO

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Talita Miranda Ribeiro

Exportações e Crescimento: Um Teste de Causalidade

para o caso chileno

MESTRADO EM ECONOMIA POLÍTICA

SÃO PAULO

2008

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BANCA EXAMINADORA

________________________________________

________________________________________

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Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta dissertação por processos de fotocopiadoras ou eletrônicos.

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AGRADECIMENTOS

Apesar do processo de pesquisa ser por muitas vezes uma tarefa solitária, contei com a presença e auxílio de diversas pessoas, sem as quais esse trabalho não teria sido possível. Registro aqui minha gratidão a todos que colaboraram de alguma forma.

Ao apoio da CAPES, contribuindo financeiramente para que eu pudesse finalizar essa etapa da minha vida acadêmica. A todos os professores do programa de Pós-Graduação que contribuíram diretamente ou indiretamente para esse trabalho. Ao meu orientador, professor Carlos Eduardo Carvalho, pela paciência e dedicação na revisão dos capítulos e pela generosidade de sempre receber a todos de braços abertos. Aos professores Paulo Baia e Patrícia Cunha, pelos comentários e orientações no exame de qualificação, e pela dedicação de horas de seu tempo. À professora Laura Valladão pelos conselhos durante a disciplina de Seminários de Pesquisa. Um agradecimento muito especial à Sônia, prestativa a todas as minhas demandas.

Aos professores Dr. Manuel Agosin, da Universidade do Chile e Dr. Dierk Herzer, da Universidade Johann Wolfgang Goethe, que auxiliaram na obtenção dos dados utilizados.

Aos meus pais, Lázaro e Maria de Fátima Ribeiro por me apoiarem incondicionalmente em todos os momentos, mostrando-me sempre a importância do conhecimento. A minha irmã Viviane, que apesar de não acompanhar de perto este trabalho, sempre vibrou com minhas conquistas. Às minhas tão queridas amigas de morada, Camila, Fernanda e Mariana, pelo carinho e amizade que me conferiram ao longo destes dois anos de convivência diária.

Aos muitos amigos de Unicamp que compartilharam os percalços da dissertação. Imprescindível citar Sandra Acosta, Rafael Fagundes e Felipe Serigati.

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Al mismo tiempo, el nombre de Chile se había engrandecido en forma extraordinaria. Nos habíamos transformado en un país que

existía. Antes pasábamos desapercibidos entre la multitud del

subdesarrollo. Ahora por primera vez teníamos fisonomía propia y no había nadie en el mundo que se atreviera a desconocer la magnitud de nuestra lucha en la construcción de un destino nacional.

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RESUMO

O presente trabalho busca investigar o impacto das exportações no crescimento econômico chileno a partir da recuperação da crise da dívida em meados dos anos 1980. A análise desenvolvida deu-se em torno de três polêmicas principais: a causalidade entre comércio exterior, particularmente as exportações, e crescimento econômico, o papel da diversificação da pauta exportadora neste processo; e efeitos possivelmente diferenciados das exportações de minérios e bens industriais. Para tanto, foi utilizado o instrumental econométrico de séries temporais, como Vetor de Correção de Erros (VEC) e técnicas de cointegração. Os resultados estimados levam a sugestão de um modelo liderado por exportações, assim como a evidências de que as exportações de produtos industriais promovem ganhos de produtividade, enquanto as de minérios limitam os ganhos de produtividade. O contínuo crescimento da economia chilena, baseado no setor exportador de produtos intensivos em recursos naturais e a estabilidade que a economia apresentou, mesmo durante a conturbada década de 1990, fazem do Chile um importante objeto de estudo para as relações entre comércio exterior e crescimento econômico.

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ABSTRACT

The present work aims to investigate the impact of exports in the Chilean economic growth from the recovery of the debt crisis in middle of the 1980s. The developed analysis was given around three main controversies: the causality between international trade, particularly exports, and economic growth, the paper of the diversification of the exporting guideline in this process and the different effect of the ore exports and industrial goods. For this purpose, the econometrical instrument of time series was used, such as Error-Correction Vector (VEC) and cointegration techniques. The estimation results suggest an export-led growth model, as well as evidence of productivity-enhancing effects of industrial exports and of productivity limiting effects of ore exports. The continuous growth of the Chilean economy, based in the exporting sector intensive in natural resources and the stability that the economy presented, even during the turbulent decade of 1990 makes Chile an important object of study for the relations between international trade and economic growth.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...14

1 – COMÉRCIO EXTERIOR E CRESCIMENTO: NOTAS SOBRE O DEBATE TEÓRICO ...17

1.1 As origens do debate teórico da causalidade comércio – crescimento...18

1.2 O arcabouço neoclássico ...21

1.3 Os modelos de influência keynesiana...27

2. CRESCIMENTO E DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES CHILENAS...32

2.1 Um Histórico Recente do Chile: da substituição de importações à crise da dívida ...32

2.2 O período Pós-Crise: A recuperação e as exportações ...40

2.3 Diversificação: a chave para o crescimento ...45

2.3.1 O cobre ...49

2.3.2 O salmão...53

2.3.3 O vinho ...56

2.3.4 O setor florestal-madeireiro...59

2.3.5 Os serviços...62

2.4 A desaceleração do crescimento e a questão da sustentabilidade do modelo ...64

3 – UM ESTUDO ECONOMÉTRICO A RESPEITO DA CAUSALIDADE ENTRE EXPORTAÇÕES E CRESCIMENTO: O CASO CHILENO...69

3.1 Evidências empíricas da causalidade...70

3.1.1 Uma primeira abordagem: dificuldades metodológicas e modelos gerais ...70

3.1.2 Modelos específicos para o caso chileno...73

3.2 Um modelo econométrico para o caso chileno...84

3.2.1 Definindo a metodologia e os dados ...84

3.2.2 Análise empírica ...87

3.3 Conclusões dos testes ...93

CONCLUSÃO...95

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Exemplo de pautas de desenvolvimento ... 24

Figura 2 – Ciclo Virtuoso do modelo de Thirlwall (2003) ....... 30

Quadro 1 - Incentivos tributários às exportações de 1974 a fins dos anos 1980... 43

Gráfico 1 – Participação das exportações em relação ao PIB (1960-1990)... 43

Gráfico 2 – Evolução da Participação dos Destinos das Exportações (1973-1999)... 46

Quadro 2 - Acordos Bilaterais de Comércio do Chile... 48

Gráfico 3 – Participação das exportações de cobre em relação ás exportações totais, % (1960-2006) ... 51

Gráfico 4 – Variação anual dos índices de exportação de cobre escolhidos em % (1997-2006) ... 52

Gráfico 5 - Produção de cobre refinado em relação ao total da produção de cada tipo de empresa (1960-1999) ... 53 Gráfico 6 – Exportações de Salmão Chileno por Destino (% do total) ... 55

Gráfico 7 – Exportações de Salmão Chileno, 1990-2006 (US$ milhões) ... 56

Gráfico 8 – Índices escolhidos da exportação de vinho (1996-2006) (base 2003=100)... 58

Gráfico 9 – Montante exportado ao ano entre 1995-2005 (US$ milhares) ... 61

Gráfico 10 – Exportação de Serviços chilenos 1996-2006 (US$ milhares)... 63

Gráfico 11 – Crescimento real anual do PIB chileno (1961-2006) ... 64

Figura 3 – Sistema Nacional de Inovação chileno ... 66

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Figura 4 – Variáveis escolhidas 1960-2006 ... 86

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Exportações chilenas por setor, como % do total (1960-1970) ... 34

Tabela 2 - Câmbio real pesos por US$ 1 (1973 – 1978)... 38

Tabela 3. Chile: Evolução do Crescimento do PIB, Investimento Bruto e

Exportações, 1960 – 2006(%) ... 42

Tabela 4 - Alíquota de importação média (1973-2005) ... 44

Tabela 5. Diversificação das Exportações (1990-1999) ... 45

Tabela 6 - Distribuição geográfica das exportações por conteúdo tecnológico, 1970 - 1998... 47

Tabela 7 - Participação das exportações por setor (% do total)... 49

Tabela 8 – Taxa de crescimento médio anual da produção de cobre % (1960-2006) ... 50

Tabela 9 - Variação anual dos índices de exportação de salmão escolhidos

(1997-2006) ... 55

Tabela 10 – Índices escolhidos das exportações de florestais e móveis 1996-2006

(base 2003=100) ... 61

Tabela 11 – Variáveis Macroeconômicas Chilenas Escolhidas (1996-2006) ... 65

Tabela 12 – Modelo de crescimento de Agosin (2007) (variável dependente: taxa

anual média de crescimento do PIB per capita, 1980-2003)... 73

Tabela 13 – Fatores determinantes do crescimento do setor não exportador de

Garcia, Meller e Repetto (1996)... 75

Tabela 14 – Modelo vetorial de correção de erro parcimonioso de Agosin (1999)

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Tabela 16 – Crescimento não exportador distinguindo entre exportações mineiras e

outras exportações de Garcia, Meller e Repetto (1996)... 81

Tabela 17 - Resultados dos testes de raízes unitárias convencionais... 87

Tabela 18 – Teste de especificação do número de defasagens do Vetor Autorregressivo ... 89

Tabela 19 - Seleção do número de relações de cointegração por modelo (0,05 de significância) ... 89

Tabela 20 – Vetor de Cointegração ... 90

Tabela 21 – Teste de Causalidade de Granger em bloco ... 91

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INTRODUÇÃO

O Chile tem apresentado crescimento econômico continuado nas últimas duas décadas, fato este que o destaca dos demais países latino-americanos. Por sua vez, esta expansão vem acompanhada de um grande dinamismo exportador, suscitando a hipótese de que o modelo chileno pode ser caracterizado como caso de crescimento induzido pelas exportações. Esta suposição mostra-se plausível, à medida que tanto a literatura especializada quanto os dados empíricos sugerem sua aceitação.

A conjuntura de bonança macroeconômica vivida pela economia chilena após meados dos anos 1980 tornou-se possível devido a uma ruptura com o modelo pré-existente de substituição de importações e, principalmente, graças a uma série de mudanças e políticas impulsionadas pelo governo militar a partir da recuperação da crise da dívida de 1982-1983 a fim de tornar a economia voltada para fora, com ênfase nas exportações. Um fato importante a ser destacado é a diversificação dos setores exportadores que ocorreu neste período, levando a desconcentração da pauta exportadora.

O presente trabalho busca analisar as exportações chilenas e seu impacto no crescimento econômico do país a partir recuperação da crise da dívida,1983-1984, a 2006. Dessa forma, abordamos três polêmicas que cercam este tema: a causalidade entre exportações e crescimento, o papel da diversificação da pauta exportadora neste processo e o perfil diferenciado do desempenho das exportações de minérios e de produtos industriais, por meio da análise de sua influência nos ganhos de produtividade.

Afora estas polêmicas, pode-se adicionar a controvérsia em torno da sustentabilidade do modelo, visto que mesmo os ramos exportadores não-tradicionais são intensivos em recursos naturais.Este debate divide-se em duas visões: os que afirmam que o modelo não é sustentável no longo prazo, pois a economia chilena carece de aporte tecnológico, e aqueles que afirmam que o desenvolvimento de novos segmentos e maior utilização de tecnologia elevam o valor agregado dos produtos exportados, apoiando suas expectativas na diversificação. O efeito das exportações sobre a produtividade e a incorporação de progresso tecnológico é uma das questões chave para a discussão do modelo escolhido pelo Chile. Por isso, o foco da análise repousa na diversificação de setores e na capacidade de criação e introdução de tecnologia nos novos setores.

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apresentação da controvérsia sobre o papel do setor externo como motor do crescimento na literatura, destacamos alguns conceitos dos clássicos, Adam Smith e David Ricardo, relevantes para o trabalho em questão. Em seguida, algumas teorias que tratam da causalidade são detalhadas, como os modelos de influência keynesiana partem do lado da demanda, focalizando aspectos macroeconômicos, como restrições ao balanço de pagamentos. Por outro lado, mostramos os modelos neoclássicos, com ênfase na teoria do crescimento endógeno que considera o conhecimento e a tecnologia elementos fundamentais para explicar o crescimento econômico e parte de uma visão de oferta. A análise da dissertação teve como base principal esta última teoria, visto que incorpora a questão do progresso tecnológico e possui uma visão que permite um exame a partir de componentes microeconômicos e setoriais, fundamental para a discussão do caso chileno.

No segundo capítulo, buscou-se inicialmente realizar uma pequena digressão na história chilena, demarcando as principais transformações na economia que realizaram a mudança de um modelo de substituição de importações para um modelo de economia voltada para fora, através de um processo de liberalização generalizado. A periodização utilizada deveu-se a divisão realizada por vários autores que versaram sobre o tema, que afirmam que só se pode falar em crescimento liderado por exportações a partir de meados da década de 1980, portanto, após a recuperação da crise da dívida que atingiu o país entre os anos de 1982-1983.

Trataremos o período subseqüente à crise analisando as exportações de forma mais aprofundada, assim como as políticas e as variáveis que as influenciaram. O enfoque aqui recai sobre a diversificação da pauta exportadora e a capacidade de criação de novas tecnologias, fatos também assinalados por diversos autores como indicativo das exportações como motor do crescimento. Pretende-se então, buscar um maior detalhamento dos principais setores exportadores, tanto dos mais tradicionais (o cobre) quanto dos setores apontados como mais dinâmicos (salmão, vinho, madeireiro e serviços).

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(VEC) e análise de cointegração, a fim de delinear uma relação de longo prazo entre as variáveis.

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1 – COMÉRCIO EXTERIOR E CRESCIMENTO: NOTAS SOBRE O DEBATE TEÓRICO

O estudo das causas do crescimento econômico é um tema muito antigo da Ciência Econômica, datando da publicação do livro A riqueza das nações de Adam Smith em 1776,

trabalho responsável por colocar em destaque a divergência de crescimento entre os países. Apesar de ser um tema recorrente em toda a história do pensamento econômico, as últimas décadas observaram um aumento do interesse no estudo dos determinantes do crescimento, sendo alvo freqüente de artigos e discussões acadêmicas.

Neste contexto, o papel do comércio exterior no crescimento e desenvolvimento das nações, por sua vez, tem ganhado cada vez mais ênfase, com análises provenientes de diversas linhas teóricas. Estas considerações, impulsionadas por experiências de êxito de diversos países (especialmente os asiáticos), têm se mostrado cada vez mais voltados para os países em desenvolvimento e para a superação de obstáculos ao crescimento.

A questão da causalidade entre comércio exterior e crescimento econômico, entretanto, representa objeto controverso na literatura, devido à complexidade da relação e interação entre estas duas variáveis. O caso chileno, por sua vez, constitui-se em uma das experiências nacionais mais polêmicas deste debate, devido à sua singularidade. A estratégia de crescimento econômico via exportações intensivas em recursos naturais traz à tona alguns conceitos da teoria econômica.

A finalidade deste capítulo é apresentar a discussão teórica a respeito desta causalidade e suas influências na análise do caso do Chile, assim como dar suporte para o exercício empírico realizado no último capítulo desta dissertação.

O capítulo está organizado em três seções. A primeira apresenta o debate sobre o papel do comércio exterior como motor do crescimento ou como decorrência de outros movimentos. Por isso, foi feita uma apresentação breve sobre esta polêmica, ressaltando prós e contras desta hipótese na literatura. Além disso, retomam-se alguns aspectos da teoria de autores clássicos como Smith e Ricardo relevantes para o trabalho em questão.

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crescimento. Por outro lado, os autores de influência keynesiana partem do lado da demanda, destacando os aspectos macroeconômicos como restrições ao balanço de pagamentos.

1.1 As origens do debate teórico da causalidade comércio – crescimento

O papel do comércio exterior no crescimento das nações consiste em tema de debate controverso no meio acadêmico, especialmente se considerarmos os países em desenvolvimento. As experiências reais de países que escolheram a via do comércio como propulsor do crescimento econômico divide opiniões, devido a seus resultados tão divergentes sobre as variáveis econômicas. A questão aqui colocada é se esta variável pode ser instrumento de indução do crescimento ou se apenas atua como coadjuvante de outras variáveis (FRANK, 1968).

Tanto os que julgam o comércio exterior como motor do crescimento quanto os que não aceitam esta hipótese, baseiam-se em evidências empíricas para confirmar suas análises. Entretanto, geralmente tomam como ponto de partida experiências nacionais ou períodos históricos diferentes, o que leva a conclusões distintas.

Crafts (1973), por exemplo, avalia o diálogo entre Irving B. Kravis e Regnar Nurkse a respeito do crescimento das nações e seus condicionantes antes da Primeira Guerra Mundial, utilizando como pano de fundo o comércio internacional. Segundo ele, Kravis tenta demonstrar que o crescimento ocorrido nos países em desenvolvimento nesta época deveu-se a fatores predominantemente internos e que o comércio exterior não teve o poder de diferenciar os “bem sucedidos” dos “mal sucedidos”. Este autor pondera alguns dos indicadores criados por Kravis a fim de indicar que não é possível dispensar a hipótese de que as exportações dos países em desenvolvimento foram responsáveis por seu crescimento. Assim, colabora para as conclusões de Nurkse, que por sua vez considera o comércio como mecanismo indutor e transmissor de crescimento econômico durante o século XIX. Crafts (1973) assinala, todavia, que mais do que examinar a demanda externa, é necessário um exame mais atento dos seus impactos sobre os componentes da oferta, já que constituem variáveis interdependentes.

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menos desenvolvidos seriam impulsionadas pela prosperidade nos países desenvolvidos. Riedel (1984), ao acreditar que essa hipótese é simplista e que não reflete a realidade atual, especialmente frente à diversificação da pauta exportadora dos países em desenvolvimento rumo a bens de maior valor agregado, nega que as exportações possam substituir o desenvolvimento industrial como motor do crescimento nos países em desenvolvimento.

A negação da causalidade entre comércio e crescimento econômico para Riedel (1984), portanto, é uma questão de não aceitar a suposta premissa que o crescimento nos países em desenvolvimento via exportações é apenas uma maneira de transmitir o desempenho de nações desenvolvidas. O autor conclui que “The metaphor of trade as a handmaiden of growth is (…) more theoretically appealing and more likely to be applicable to the experience of the 1960s and 1970s” (RIEDEL, 1984, p. 72).

Moon (1998), por sua vez, analisa a relação entre comércio e crescimento a partir do debate entre crescimento via exportações e a teoria da dependência. O intento da teoria da dependência é mostrar que um grande setor externo pode limitar o crescimento futuro, pois tende a especializar o país em desenvolvimento em setores primários com pouco valor agregado e pouca possibilidade de linkage com outros setores. Na outra ponta da discussão, o

autor apresenta os achados do Banco Mundial de que países com orientação de crescimento para fora, tendo como variável principal de impulso as exportações, crescem mais rápido que as demais. Após a análise de diversos modelos de regressão, Moon (1998) conclui que a expansão das exportações não foi a principal fonte do desempenho macroeconômico superior de certas nações, pois estes países não possuíam fluxo de comércio maior nem apresentavam taxas de expansão de suas exportações muito diferentes das economias mais fechadas.

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Frankel e Romer (1999) tentam investigar como o comércio pode afetar o produto e o padrão de vida, tratando a questão por meio das características geográficas dos países. Segundo os autores, essa escolha de abordagem foi devido à dificuldade de identificar a direção de causalidade entre comércio e produto. Portanto, as características geográficas são utilizadas como proxy do comércio. Os achados de seus modelos sugerem que o impacto das

exportações sobre o crescimento é grande, e enfatizam a importância do comércio exterior e de políticas para promovê-lo.

O debate permanece em aberto. O sucesso exportador recente de alguns países, notadamente os asiáticos, deu novo impulso às teorias que preconizam a causalidade entre exportações e crescimento. Contudo, primeiramente faz-se necessário retomar alguns conceitos de autores clássicos como Adam Smith e David Ricardo, assim como alguns desdobramentos mais próximos destas teorias. É importante ressaltar que elas discutem os ganhos estáticos do comércio exterior sobre o crescimento econômico, baseando-se em modelos simples com premissas restritivas.

Adam Smith (1985) enfatizou em sua teoria que a divisão do trabalho leva à especialização dos trabalhadores e proporciona crescimento da produtividade, o que se traduz em retornos crescentes de escala. Isso significa dizer que não há limites para adição de fatores de produção. Os setores ligados à indústria e à manufatura são segmentos com rendimentos crescentes, enquanto a agricultura e demais atividades baseadas em recursos naturais teriam rendimentos decrescentes. Assim, países desenvolvidos tendem a se especializar em atividades com rendimentos crescentes, enquanto os em desenvolvimento dedicam-se a setores com rendimentos decrescentes (THIRLWALL, 2003).

Esta teoria baseada na divisão social do trabalho possui ligação íntima com o tamanho do mercado, pois: “Sendo a capacidade de troca que dá origem à divisão do trabalho, a extensão desta deve ser sempre limitada pela extensão daquela capacidade ou, por outras palavras, pela dimensão do mercado” (SMITH, 1985, p. 99). Assim, o comércio exterior,

mais especificamente as exportações, atua como escoadouro para a produção excedente e os mercados externos como uma extensão do mercado interno, principalmente no caso de países pequenos. Dessa forma, a ampliação do comércioexterior expande o mercado para os bens produzidos internamente, permitindo um aprofundamento da divisão do trabalho, a introdução de novas técnicas produtivas, a acumulação de capital, e, consequentemente, possibilita o crescimento das nações.

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parceiros comerciais e importam aqueles em que possuem custos de produção superiores. Existe, portanto, uma especialização total dos países em determinados produtos, trazendo melhor eficiência à produção e aumento do bem-estar geral.

Entretanto, foi com David Ricardo e sua teoria das vantagens comparativas1, em oposição às vantagens absolutas de Smith, que o comércio apresentou papel mais evidente na teoria econômica. Mesmo que um país possua vantagem absoluta em diversos bens, o comércio ainda trará maior bem-estar do que a produção interna, visto que são as vantagens comparativas as premissas necessárias e suficientes para exportação. Segundo Ricardo (2001),

Num sistema comercial perfeitamente livre, cada país naturalmente dedica seu capital e seu trabalho à atividade que lhe seja mais benéfica. Essa busca de vantagem individual está admiravelmente associada ao bem universal do conjunto dos países(RICARDO, 2001, p. 104).

De acordo com o modelo ricardiano, o comércio exterior, dado que os países possuem produtividades do trabalho relativamente diferentes, induz a especialização na produção de bens diferentes de acordo com sua vantagem comparativa. Por sua vez, a especialização permite uma melhor utilização dos recursos internos do país e a importação de outros produtos a um custo menor do que se estivessem sendo produzidos internamente.

O modelo de Ricardo pode ser considerado como uma produção indireta. Ao invés de produzir um bem, o país pode optar por produzir outro e importar o bem desejado, se a produção deste segundo no exterior demandar menos trabalho que internamente. Assim, o comércio expande as possibilidades de consumo da população, implicando em ganhos de comércio e de bem-estar. Entretanto, o modelo ricardiano é alvo de diversas críticas, devido a seu elevado grau de abstração e simplicidade, pois considera o comércio entre apenas dois países que permutam duas mercadorias e cujos fatores de produção se resumem ao trabalho (JAYME Jr., 2001).

1.2 O arcabouço neoclássico

A Ciência Econômica atravessou um período em que a teoria do comércio internacional dissociou-se da teoria do crescimento e desenvolvimento, procurando analisar os

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ganhos de bem-estar e alocação de recursos e, consequentemente, desconsiderando seus impactos sobre o crescimento de longo prazo.

Foi durante estes anos que surgiram diversos modelos embasados na teoria ricardiana. Uma tentativa de utilização e expansão do modelo ricardiano das vantagens comparativas foi realizada por Eli Heckscher e Bertil Ohlin, sendo conhecido como modelo Heckscher-Ohlin. Este modelo afirma que a motivação para os países exportar e importar produtos é a diferença de recursos, ou dotação relativa dos fatores (relativa abundância ou escassez de fatores de produção). Os fatores de produção e a tecnologia, a qual reflete a intensidade com que os recursos são utilizados na produção dos bens, dão origem às vantagens comparativas. As nações, desta forma, especializam-se nos setores cuja produção é intensiva na utilização dos fatores de produção que lhe são relativamente abundantes.

Afora o modelo ser considerado simplificado demais, pois é composto por dois países, duas mercadorias e utiliza-se de apenas dois fatores de produção2, as premissas do modelo também são bastante restritivas. O modelo supõe que as tecnologias empregadas nos dois países são idênticas e estão sujeitas a rendimentos decrescentes. O lado da demanda e suas interações com a oferta de bens também é deixado de lado, já que modelo pressupõe que as curvas de demanda dos dois países sejam idênticas para todos os bens, o que significa dizer que “a proporção nas quais os dois bens são consumidos independe do nível de renda”

(JAYME Jr., 2001, p. 128).

O teorema de Stolper-Samuelson afirma que mudanças nos preços relativos dos produtos importados e exportados afetam a distribuição de renda do país. Se há, por exemplo, uma redução do preço local do produto importado, os detentores do fator produtivo usado intensivamente na produção do bem exportado serão beneficiados, pois aumentará a demanda pelo fator abundante. No caso da abertura comercial, os setores produtores de bens intensivos no fator abundante serão favorecidos, enquanto os setores que produzem bens intensivos em fatores escassos, concorrentes com importações, observarão perdas.

Dados os padrões de comércio exterior atuais, a comprovação empírica do modelo H-O-S (Heckscher–Ohlin–Samuelson) é de difícil verificação, já que a maior parte do comércio internacional ainda é realizada entre países desenvolvidos, que possuem dotações de fatores similares.

Trabalhos mais recentes tentam resgatar os modelos teóricos destes autores. Maneschi (1983), por exemplo, apresenta tentativas de criação de um modelo ricardiano reformulado

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por diversos autores, evidenciando os ganhos dinâmicos provenientes do comércio exterior, visto que a característica estática da análise do autor clássico tornou-se uma das maiores críticas à sua teoria. Um dos artigos analisados pela autora, o de Findlay (1974)3, mostra que Ricardo utilizou-se de um modelo multifatorial, mostrando o efeito do comércio exterior sobre os retornos decrescentes do trabalho ao longo do tempo, adiando a queda da taxa de lucro.

O modelo criado por Maneschi (1983) para uma economia aberta ao comércio internacional com base no modelo de vantagens comparativas permite a especialização dos países em determinado setor. As suposições iniciais ricardianas são mantidas: constitui-se de um sistema de trocas entre apenas dois países e dois bens, e o trabalho é o único fator de produção. Todavia, neste modelo, a trajetória em direção à especialização completa em um ou outro bem pode ser modificada, pois o comércio internacional, através da equalização da razão de preços nos países, pode alterar a alocação da força de trabalho entre os dois setores, as taxas de lucro, acumulação de capital e o crescimento da força de trabalho. Estas transformações podem adiar a aproximação da economia rumo ao estado estacionário, proporcionando benefícios dinâmicos do comércio.

Álvarez e Fuentes (2006), por sua vez, apresentam o modelo teórico de Leamer4 (1987), que expande o modelo Heckscher - Ohlin, na tentativa de demonstrar que um país pode ter diferentes pautas de desenvolvimento de acordo com a abundância relativa de fatores. Estes autores trabalham com um modelo de n bens e três fatores de produção

(trabalho, capital e recursos naturais) e explicita que a produção dos bens muda conforme a acumulação dos fatores de produção. A figura 1 ilustra um exemplo de triângulo de diversificação apresentados pelo autor.

Podemos observar que dependendo do fator mais abundante no país, os setores exportadores localizam-se em um dos triângulos internos. Cada vértice do triângulo maior representa um dos três fatores de produção e suas dotações, assim como a intensidade de uso de cada fator é representada por um ponto do triângulo. À medida que o país acumula capital, sua pauta de especialização transforma-se. Um país abundante no fator trabalho, por exemplo, ao acumular capital se moverá do triângulo A para o B, C e D, diminuindo sua produção de bens intensivos em trabalho e avançará na produção de bens intensivos em capital. Economias abundantes em recursos naturais, por sua vez, teriam pautas de especialização como E,

3 FINDLAY, R. Relative prices, growth and trade in a simple Ricardian System. Economica, vol.41, pp 1-13, 1974. apud Maneschi (1983).

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especializando-se nos setores de extração de madeira, mineração e cultivos permanentes e madeira em bruto. Ao acumular capital, esses países movimentar-se-iam para os triângulos F, G e D, especializando-se em setores mais intensivos em capital físico e humano.

Figura 1 – Exemplo de pautas de desenvolvimento

Fonte: Álvarez e Fuentes (2006), p. 754.

A concepção do modelo de Solow em 1956 trouxe à luz novamente a preocupação com o crescimento econômico. O modelo parte de uma economia em concorrência perfeita, em que o produto é expresso por meio de uma função com rendimentos constantes de escala e decrescentes dos fatores. Na equação de produção abaixo, Y indica o produto interno bruto, K o estoque de capital, L, o trabalho, A é uma constante que reflete o ponto de partida da tecnologia e e a taxa de crescimento exógena da tecnologia (PACK, 1994, p. 55):

Y = Ae t K L

1-A taxa de crescimento do produto depende do crescimento do capital e do trabalho, ponderado por sua participação na produção e o progresso técnico ou produtividade total dos fatores. Este progresso técnico, dado como exógeno, expande a produtividade dos fatores e impede, ou ao menos adia o alcance do steady state da economia, ocasião quando o

crescimento do produto per capita se iguala a zero (AFONSO, 2001; ROSENDE, 2000).

RECURSOS NATURAIS

Artesanato

Mineração e cultivos permanentes

Madeira em Bruto

Papel e Celulose

CAPITAL FÍSICO E HUMANO Extração de

Madeira

TRABALHO Vestuário Maquinário

Produtos de madeira e alimentos E

D B

C A

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O modelo de Solow e os que seguiram sua trilha falhavam por conter hipóteses iniciais muito restritivas, tais como concorrência perfeita, agentes racionais, função de produção com retornos constantes de escala e progresso técnico exógeno, além de suposição de economia fechada.

Os modelos neoclássicos posteriores baseados no modelo de Solow sugeriam a convergência entre as taxas de crescimento do produto ou níveis de renda dos países devido a iguais taxas domésticas de poupança, crescimento da força de trabalho e progresso técnico. Um país que exibisse uma baixa relação capital - trabalho apresentaria taxa de crescimento de seu estoque de capital maior que em um país com relação capital - trabalho superior, fazendo com que a relação entre capital e produto e os níveis de renda convergissem. Para solucionar tais problemas e limitações da teoria prévia, diversos trabalhos começaram a tratar de temas esquecidos pela teoria do crescimento, como os impactos do comércio exterior no produto (PACK, 1994).

A nova teoria do crescimento, chamada de teoria do crescimento endógeno, nasceu das críticas acima citadas, impulsionada pelo interesse no desempenho econômico de países em desenvolvimento, pela maior disponibilidade de dados e pela comprovação de alguns estudos de que não havia convergência do produto per capita na economia mundial, contrastando com

a suposição de rendimentos decrescentes do capital (THIRLWALL, 2003, p. 64).

Os trabalhos pioneiros de Robert Lucas e Paul Romer representaram grande questionamento à teoria neoclássica do crescimento. Romer (1986)5 afirma a existência de retornos crescentes do capital devido a acumulação de tecnologia e conhecimento, que é facilitada pelo comércio exterior por meio de economias de escala e do processo de aprendizagem do trabalho, ou learning by doing. Adicionalmente aos achados de Paul Romer,

Lucas (1988) 6 inclui a idéia de vantagens comparativas em sua construção. Segundo o autor, o país se especializaria na produção do bem no qual tivesse vantagem comparativa em capital humano e esta especialização seria reforçada pelos ganhos de aprendizagem no setor.

Os trabalhos subseqüentes buscaram estabelecer a importância das externalidades no processo acumulativo de fatores por meio da “endogeinização” do progresso tecnológico com modelos de equilíbrio geral com crescimento de longo prazo. Por meio de uma visão schumpeteriana, os modelos têm como ponto de partida o processo inovativo das firmas, destacando os aspectos microeconômicos do crescimento (ROMER, 1994).

5 ROMER, P.M. Increasing Returns and Long-Run Growth. Journal of political Economy, 1986 apud Grossman e Helpman (1991), Afonso (2001), Rosende (2000).

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A essência deste arcabouço teórico está na equação Y = AK, em que A representa os fatores que afetam a tecnologia, enquanto K inclui capital humano e físico. Aqui não existem retornos decrescentes do capital, o que é incompatível com a hipótese de concorrência perfeita do modelo neoclássico anterior. Ao introduzir um marco de concorrência imperfeita, a nova teoria permite aos agentes investir em pesquisa e desenvolvimento que levam a retornos crescentes e ganhos monopólicos temporários, devido a obsolescência das inovações e ao fato do conhecimento ser um bem ao menos parcialmente excludente. A economia beneficia-se deste esforço de conquista de poder de mercado, visto que as firmas irão investir em novo conhecimento visando maiores lucros. A disseminação do conhecimento técnico entre os agentes é uma externalidade positiva, capaz de levar ao crescimento sustentado da economia (GROSSMAN e HELPMAN, 1991; HOUNIE et. al., 1999).

Conclui-se que uma das diferenças existente entre o modelo neoclássico anterior e os modelos de crescimento endógeno é que nesta última o crescimento não recai sobre variáveis exógenas ao sistema, mas sim sobre as condições técnicas e econômicas que os agentes enfrentam, estimulando um maior investimento em novas tecnologias.

O papel do comércio exterior nestes modelos diz respeito ao aumento de produtividade, como resultado da difusão do conhecimento já disseminado em outros países. Como a tecnologia é a fonte do crescimento, o comércio traria novas tecnologias a menor custo, acelerando o taxa de expansão de inovações e do produto.

Segundo autores que seguem essa visão, a ampliação das exportações pode promover crescimento econômico por meio do aumento na produtividade total dos fatores, devido à especialização do país em setores que possui vantagens comparativas, aos ganhos de escala e aos efeitos dinâmicos no resto da economia. Além disso, a introdução de tecnologia nas exportações tem o poder de torná-las mais dinâmicas, e o mais importante, torná-las variável fundamental do crescimento econômico. Alguns autores afirmam que as exportações, como medida de comércio, são importantes para explicar diferenças de crescimento de produtividade entre países (PACK, 1994).

Grossman e Helpman (1990) constroem um modelo simples a fim de ilustrar o progresso técnico endógeno no crescimento econômico e o impacto do comércio exterior. Assim, o comércio pode beneficiar os países por meio de spillovers gerados por investimentos

em progresso tecnológico e a participação no mercado de capitais internacional pode prover recursos para o financiamento em pesquisa e desenvolvimento.

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sejam limitados. Partindo de um esquema com duas economias, dois setores e dois fatores de produção (terra e trabalho), o modelo dos autores conclui que os países menos desenvolvidos tendem a se beneficiar mais do comércio, já que conseguem extrair, por meio de spillovers, o

conhecimento acumulado pelas nações desenvolvidas, por meio da imitação (GROSSMAN e HELPMAN, 1990).

Em termos de política comercial, estes trabalhos geralmente apontam que uma política mais liberal, visto que o comércio internacional proporciona maior difusão de tecnologias, possibilita o acesso a uma quantidade maior de conhecimento, facilitando a queda de custos e introdução de novos bens. Além disso, a competição derivada do comércio possibilitaria a exploração de economias de escala e aceleraria o processo criativo. Segundo Jayme Jr. (2001), estes modelos de comércio e crescimento que enfatizam a visão da oferta são sustentados pelas idéias de liberalização por trazer melhoras na produtividade do país.

1.3 Os modelos de influência keynesiana

Este item busca analisar os modelos de influência keynesiana, especialmente de Kaldor e Thirlwall, autores com grande destaque nesta discussão. Assim, trataremos dos modelos export-led, incluindo assim, as questões do balanço de pagamentos, tão recorrentes

em países em desenvolvimento. A análise do modelo liderado pelas exportações é vista por estes autores pela visão da demanda, oposta aos modelos de crescimento endógeno, que partem do lado da oferta.

Estes autores consideram as exportações como único elemento autônomo da demanda, pois é uma variável que não depende do crescimento do produto interno, assim como consumo ou o investimento. Ademais, possuem um efeito indireto sobre a demanda ao financiar as importações, permitindo que seus outros componentes cresçam mais rápido. Estes autores também levam em consideração a oferta, pois as importações, financiadas pelas exportações, possibilitam o aumento da produtividade (THIRLWALL, 2003, p.84).

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Segundo Kaldor (1966), o nível do produto se dá pelo supermultiplicador de Hicks (1950)7, que demonstra que o crescimento do produto é decorrência do crescimento dos gastos autônomos, sejam eles gastos do governo ou exportações. Para ilustrarmos o modelo liderado pela demanda, podemos fazer uso das identidades da contabilidade nacional:

Y = C + I + G + (X – M)

sendo Y o produto, C o consumo do setor privado, I o investimento do setor privado, G, os gastos do governo; X e M, as exportações e importações de bens e serviços, respectivamente. Desdobrando esta equação, teremos

Y = c (1-t)Y + ageY+ G + X - mY

onde c é propensão marginal a consumir (0<c<1); t é a renda marginal líquida do governo

(0<t<1); a é a relação entre capital e produto; ge taxa esperada de crescimento da demanda e m a propensão marginal a importar (0<m<1) (FREITAS, 2003, p. 3).

Todas as variáveis são dependentes do produto agregado, exceto G e X, comprovando a liderança dos fatores da demanda como indutores de crescimento. Este crescimento, todavia, possui um limite, que seria a restrição no balanço de pagamentos. Desconsiderando os componentes da conta corrente, exceto exportações e importações, a condição para o balanço de pagamentos estar em equilíbrio seria que o valor das exportações fosse igual ao valor das importações (X = mY).

A partir destas duas premissas, é possível verificar dois níveis de produto: um associado ao equilíbrio do balanço de pagamentos e outro que equilibra oferta e demanda agregada. Para que estes dois valores sejam iguais, é necessário que o orçamento do governo seja equilibrado (G = tY) e a poupança privada seja igual ao investimento privado (I = S). O

produto de equilíbrio seria dado por:

Y = X/m

O multiplicador ( Y/ X = 1/m), por sua vez, é o multiplicador do comércio exposto

por Roy F. Harrod em 19338. Para a construção de seu modelo liderado pelas exportações,

7 HICKS, J. The Trade Cycle, Clarendon Press, Oxford, 1950

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Kaldor utiliza este multiplicador como base, admitindo que a economia cresça de acordo com o crescimento das exportações (gx) e das importações (gm), de forma que

g = (gx - gm) / (1 + gm)

Sendo g a taxa de crescimento da economia de equilíbrio do Balanço de Pagamentos, à medida que a taxa de crescimento das importações aumente, é necessário que a taxa de expansão das exportações seja maior que o crescimento do próprio produto (KENNEDY e THIRLWALL, 1979).

Modelo semelhante ao de Kaldor foi idealizado por Thirlwall (2003). Partindo do mesmo pressuposto de Kaldor, de que as exportações em uma economia aberta representam componente principal da demanda autônoma, Thirlwall afirma que o crescimento econômico de longo prazo será induzido pela expansão das vendas externas. Portanto, o crescimento é uma função do aumento das exportações. O autor enfatiza o papel das elasticidades preço das exportações e importações, assim como a elasticidade renda dessas variáveis, a fim de comprovar a hipótese de export-led growth.

Dessa forma, inicia sua análise pelas causas da ampliação das exportações. Utilizando a noção das elasticidades, Thirlwall (2003, p. 86) chega à seguinte equação:

xt = (pdt – pft) + (zt)

onde a expansão das exportações (xt) depende dos preços internos (pdt) e dos preços

internacionais (pft) ponderados pela elasticidade preço da demanda por exportações ( <0) e do

produto externo (zt), ponderado pela elasticidade renda da demanda por exportações ( >0). Os

preços domésticos, por sua vez, são função dos salários, da produtividade do trabalho e de um

mark up sobre os custos de produção. De acordo com Thirlwall (2003), o crescimento da

produtividade, pela Lei de Verdoon9, pode ser dividido em dois componentes: uma parte autônoma e outra dependente do crescimento do produto. Assim, cria-se um ciclo virtuoso à medida que as exportações apresentem variações positivas. Podemos esquematizar da seguinte forma:

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Figura 2 – Ciclo Virtuoso do modelo de Thirlwall (2003)

Para um modelo liderado por exportações com restrição do balanço de pagamentos em que se pressupõe que não exista efeito realimentador por meio da lei de Verdoon e os preços relativos são mantidos constantes, o autor chega à conclusão de que o crescimento econômico dependerá diretamente da elasticidade renda da demanda por exportações e do crescimento da renda externa e indiretamente da elasticidade-renda da demanda por importações.

Um modelo mais complexo com restrição do balanço de pagamentos a partir deste mais simples é construído por Thirlwall. Partindo do equilíbrio da conta corrente dado por

pd + x = pf + m + e

onde pd é o crescimento dos preços das exportações em moeda nacional, x a expansão da

quantidade de exportações, pf a taxa de crescimento das importações em moeda estrangeira, m

o aumento da quantidade de importações e e a taxa de câmbio o autor chega a um novo ponto

de equilíbrio do produto. Este dependerá, além das variáveis do modelo anterior, da elasticidade-preço da demanda por importações. Supondo que os preços relativos são constantes, o crescimento do produto compatível com o equilíbrio do balanço de pagamentos é igual à razão entre a taxa de crescimento das exportações (x) e a elasticidade-renda das importações ( ), representando uma versão dinâmica do multiplicador de Harrod utilizado por Kaldor.

y = x/

A lei de Thirlwall afirma que a taxa de crescimento de longo prazo das economias é igual à taxa de crescimento de acordo com o equilíbrio do balanço de pagamentos acima

Exportações

Produto Agregado

Produtividade Preços

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ilustrado. O setor externo aqui possibilita um aumento da taxa de expansão da economia, pois as exportações financiariam o déficit resultante da expansão da demanda interna.

Podemos averiguar que os modelos de influência keynesiana enfatizam o papel da demanda no crescimento das economias, dando destaque a elasticidade – renda da demanda das exportações. Quanto maior esta variável, mais dinâmico será o comércio internacional deste país.

É importante destacar que apesar das teorias analisadas partirem de pontos diferentes e de visões diversas, elas podem ser vistas como complementares e não opostas na análise do Chile. Partindo dos modelos de Kaldor e de Thirlwall de influência keynesiana, as exportações, como único componente da demanda autônoma independente do crescimento do produto, possuem a capacidade de prover divisas para as importações necessárias, como as importações de bens de capital, afastado o risco de problemas no balanço de pagamentos. Além disso, “criam” demanda em outros setores internos a economia, como serviços e bens intermediários, adensando a cadeia produtiva.

Dessa forma, as exportações representam um motor do crescimento econômico. Entretanto, o que garantiu a continuidade do crescimento ao longo das últimas duas décadas? Aqui inserem-se os conceitos microeconômicos da teoria do crescimento endógeno. No caso chileno, a diversificação da pauta exportadora trouxe maior dinamismo às vendas externas, pois possibilitou a criação de oportunidades para novos produtos, novos setores e novas atividades. Como será visto no capítulo seguinte, a preocupação com inovar nos novos setores, mesmo que estes fossem intensivos em recursos naturais, criou um estímulo para a atividade de pesquisa e desenvolvimento. O ganho de produtividade nestes setores devido à utilização de novas técnicas ou novos produtos traz externalidades positivas para a economia por meio de spillovers, em setores fornecedores, nos serviços de apoio e em outras áreas de

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2. CRESCIMENTO E DIVERSIFICAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES CHILENAS

Este capítulo buscou inicialmente realizar uma pequena digressão na história chilena, a fim de delimitar as principais transformações na mudança de um modelo voltado para dentro, baseado em uma estratégia de substituição de importações, para um voltado para fora, por meio de um processo de liberalização generalizado.

A periodização utilizada deveu-se a um consenso, na literatura sobre o tema, de que só se pode falar em crescimento liderado por exportações a partir de meados da década de 1980, após a recuperação da crise da dívida que atingiu o país entre os anos de 1982 e 1983. O período subseqüente à crise é avaliando sob a ótica das exportações, as políticas e as variáveis que as influenciaram. O enfoque aqui recai sobre a diversificação da pauta exportadora, fato também assinalado por diversos autores como indicativo das exportações como motor do crescimento. Pretende-se então buscar um maior detalhamento dos principais setores exportadores, tanto dos mais tradicionais (o cobre) quanto dos setores apontados como mais dinâmicos (salmão, vinho, florestal-madeireiro e de serviços) e a questão da capacidade de inovação em cada um destes. Além disso, deseja-se abordar a criação de blocos comerciais e acordos de comércio, evidenciando a nova estratégia adotada pelo país e a diversificação de destino das exportações.

Por último, achou-se necessário destacar a desaceleração do crescimento chileno a partir de 1998 e ver suas implicações nas exportações e políticas do governo rumo a um esforço maior de introdução de tecnologia e pesquisa em inovação.

2.1 Um Histórico Recente do Chile: da substituição de importações à crise da dívida

O ano de 1973 inaugurou uma nova etapa na economia chilena, visto que o governo militar que foi instituído a partir deste ano pôs fim à política vigente desde a década de 1930. O modelo precedente, o de substituição de importações, teve início após a crise de 1929, quando se mostrou evidente a vulnerabilidade da economia chilena frente às conjunturas externas desfavoráveis, caracterizada pela dependência da economia em relação a um produto principal, o cobre. A queda no preço deste bem durante a crise conduziu a política econômica rumo à industrialização. Acreditava-se que a indústria abriria caminho para um desenvolvimento auto-sustentável, diminuindo a dependência e vulnerabilidade externa.

Segundo Krueger (1997), o modelo de substituição de importações, adotado em países cujas estruturas produtivas estavam orientadas principalmente para a produção de

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econômico. Assim, era necessário haver uma oferta crescente de bens de capital e bens intermediários para a expansão da indústria, o que seria feito pela substituição dos importados.

As idéias de que a industrialização era peça fundamental para o crescimento e que o livre comércio tenderia a especializar o país em bens primários, visto que a indústria local não possuía meios de competir no mercado internacional (argumento da indústria nascente10), levaram a um maior protecionismo. (KRUEGER, 1997).

No caso chileno, a participação do Estado neste processo foi de grande importância, como articulador de políticas que impulsionassem uma maior industrialização. Os principais instrumentos utilizados pelo governo foram restrições às importações e altas taxas alfandegárias, combinadas com uma sobrevalorização cambial, subsídios à importação de bens de capital e bens intermediários, créditos ao setor privado e investimento pesado em infra-estrutura (VERGARA, 1981). Segundo Goldberg (1975, p. 100), a grande presença estatal nos investimentos deveu-se em parte à uma relutância do setor privado em fazê-los, deixando a cargo do governo essa tarefa.

À medida que se completavam as primeiras fases de substituição de importações, o modelo começou a perder dinamismo, o que ocorreu a partir da década de 1950. A aceleração da inflação, combinada com a rigidez da taxa de câmbio nominal, levou a uma valorização do câmbio real, originando problemas no balanço de pagamentos e, conseqüentemente, maiores restrições de importação. Ademais, como a internalização dos setores chave (bens de capital, principalmente) não havia sido completada, essa limitação às importações também representou uma restrição ao crescimento, fadando a economia a uma dinâmica de stop-and-go: quando a economia crescia, a demanda por importações expandia-se, causando problemas

no balanço de pagamentos devido às divisas escassas, o que forçava o governo a impor políticas de restrição de importações, freando o crescimento (KRUEGER, 1997).

Outro fator agravante foi a queda do preço das commodities durante os anos 1950,

incluindo o cobre. Diminuía-se, assim, a maior fonte de recursos externos, visto que o cobre nesta época representava o produto de maior peso na pauta exportadora. O tamanho diminuto do mercado interno também é apontado como fator decisivo para o fracasso do modelo substituidor de importações no Chile. Esta característica se mostrou um entrave à manutenção

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dos investimentos, pois não permitiria sustentar o setor industrial em suas etapas iniciais de desenvolvimento (KRUEGER, 1997; VERGARA, 1981).

As exportações, principalmente de bens industriais, foram desestimuladas durante o período do modelo substituidor de importações, visto que a proteção artificial que se criava trazia grandes ganhos às empresas: a possibilidade de importar máquinas e equipamentos a uma taxa favorável combinada ao controle oligopólico da produção permitia altas taxas de rentabilidade. Por isso, a abertura comercial era repudiada por muitos empresários (VERGARA, 1981). Além disso, as exportações eram fortemente concentradas no setor minerador. Segundo dados do Banco Central chileno, durante a década de 1960, as exportações deste ramo giraram em torno de 86,0% das vendas externas totais. A participação do cobre obteve crescentes avanços durante esse período, sendo 69,8% das exportações totais em 1960 e 75,5% em 1970. A tabela 1 mostra a evolução das exportações chilenas por setor como porcentagem do total.

Tabela 1 – Exportações chilenas por setor, como % do total (1960-1970)

Setores 1960 1961 1962 1963 1964 1965 1966 1967 1968 1969 1970

Agricultura, Fruticultura, Pecuária,

Silvicultura e Pesca 4,9% 5,4% 5,1% 4,9% 4,3% 3,3% 2,4% 2,6% 2,7% 2,5% 3,0% Mineração 87,1% 85,8% 88,0% 88,0% 82,4% 81,7% 84,4% 88,3% 87,6% 87,9% 85,5% Indústria 8,0% 8,8% 6,9% 7,1% 13,3% 15,0% 13,2% 9,2% 9,7% 9,7% 11,6% Total 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% Fonte: Banco Central do Chile (elaboração própria)

No campo político, as eleições de setembro de 1970, sob disputa acirrada entre os partidos11, deram a vitória a Salvador Allende, abrindo um período breve, porém controverso na história chilena (GOLDBERG, 1975).

O governo Allende foi um capítulo à parte, tanto em termos econômicos quanto políticos. O plano de Allende era realizar uma transição do Chile para um modelo socialista, por meio da estatização de setores tidos como estratégicos, o aumento da participação dos trabalhadores nas decisões políticas e maior intervenção estatal. Como objetivo final, pretendia-se uma melhor distribuição de renda e serviços para as classes mais carentes. As políticas postas em prática por Allende encontraram grande oposição, o que levou ao golpe militar (GOLDBERG, 1975).

11

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É importante ressaltar, entretanto, que as forças internas contrárias ao governo não foram as únicas a colaborar para o golpe de Estado de 1973. No contexto da Guerra Fria, a existência de mais um país com aspirações socialistas não era desejável aos Estados Unidos. Segundo Fermandois (1998),

Para Estados Unidos, desde los años de la guerra, era importante mantener con vida a la “única democracia existente”, como repetidamente informaban sus responsables hacia América Latina. (...) La elección de un “proyecto socialista”, es decir, marxista, ponía de relieve la superioridad de un sistema sobre el otro en la pugna de las imágenes. Era un poderoso mensaje para aquellas zonas de inestabilidad, es decir, la gran mayoría de los países en donde no se había consolidado ni el “modelo occidental” (democracia y economía tendencialmente de mercado), ni el sistema marxista o totalitario

(FERMANDOIS, 1998, p. 153).

Afastando-se do campo ideológico para o econômico, a nacionalização das empresas norte-americanas extrativistas do setor de cobre, sem nenhuma contrapartida, e de cerca de 90% do sistema bancário foram as principais objeções do governo dos Estados Unidos. Esta política foi um aprofundamento do movimento de “chilenización”12 da indústria cuprífera

iniciado em 1966, quando o então presidente Eduardo Frei pôs em prática um plano de nacionalização da atividade. No governo Allende, por sua vez, a nacionalização da grande atividade mineradora de cobre foi total, especificamente através da lei nº 17.450 de 11 de julho de 1971. Esta lei permitiu ao governo o poder sobre a organização, exploração e administração das empresas agora nacionais (SUTULOV, 1975).

Diante da política de Allende, os Estados Unidos vetaram a concessão de empréstimos externos ao Chile13, forçando o governo chileno a restringir a importação de bens de consumo que iam de bens supérfluos, como rádios e câmeras fotográficas, a produtos essenciais como os alimentícios, causando um sério desabastecimento. A conseqüência foi um grande descontentamento popular, especialmente da classe média, que, juntamente com empresários que tiveram suas importações proibidas e os militares descontentes, formaram a coalizão para

12 O primeiro passo foi a aprovação da lei nº 16.425 de 1966 que criava sociedades mistas com as empresas estrangeiras, nas quais o governo chileno teria 51% do capital acionário. O intuito era de que houvesse uma maior convergência entre os interesses nacionais e o rumo da atividade mineradora, principal setor da economia. Para isso, seria preciso a submissão dos interesses das empresas extratoras às necessidades de política macroeconômica, e isso só seria possível com a nacionalização do segmento (SUTULOV, 1975).

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o golpe de 11 de setembro de 197314. As forças armadas chefiadas pelo General Augusto Pinochet, com apoio do governo dos Estados Unidos, tomaram o poder iniciando uma das ditaduras mais violentas15 da América Latina. (GOLDBERG, 1975).

O fim do governo Allende foi marcado pelo enfraquecimento do processo substituidor de importações, aumento da dívida externa, inflação elevada e desaceleração do crescimento econômico, visto que o produto alcançou expansão de apenas 0,5% a.a. entre 1971 e 197316 . Em relação ao comércio exterior, durante o período da “tentativa socialista” as exportações tiveram forte recuo. Enquanto no período entre 1960-1970 o crescimento anual das exportações17 havia sido de 5,6%, entre 1971-1973 houve retração de 4,4% a.a.. A produção do cobre reduziu-se de maneira expressiva, com as empresas funcionando a menos da metade da capacidade por falta de profissionais e insumos. O lento crescimento da economia teve um efeito instabilizador no país com o aumento das pressões sociais. A redução da dependência externa a partir deste modelo mostrou-se inviável e abriu precedentes para os críticos do protecionismo e intervencionismo estatal (AGOSIN, 1999; SUTULOV, 1975).

Deste modo, as idéias de liberalização da economia tomaram força. Outros países latino-americanos também enveredaram nesta via já nos anos 1970, como Argentina e Uruguai. As políticas destinadas à abertura das economias representaram uma resposta ao modelo anterior e preconizavam que uma economia livre ao jogo das forças de mercado proporcionaria uma melhor alocação de recursos e maior eficiência.

O governo que ascendeu em 1973 se propôs a modificar drasticamente o padrão de desenvolvimento anterior, partindo da crítica ao modelo de substituição de importações. O tamanho exacerbado do Estado era uma das principais censuras ao modelo anterior, pois, segundo seus críticos, as políticas do governo distorciam os mercados e inibiam os investimentos, ou os direcionavam a setores menos eficientes. A nova estratégia deveria buscar uma grande abertura da economia, mas como um plano mais global de política. O objetivo era realizar uma total reestruturação na economia, de modo a diminuir a participação do Estado (SILVA, 1996).

Procurava-se deixar a cargo do mercado a alocação dos recursos. Segundo os defensores da liberalização, o livre funcionamento do mercado atrairia recursos para os

14 A morte de Salvador Allende em um dos gabinetes do Palácio de La Moneda possui duas versões: a primeira é de que ele se suicidou cercado pelas tropas do Exército com a arma que foi lhe dada de presente por Fidel Castro; enquanto a segunda afirma que ele foi assassinado pelas tropas que invadiram o palácio (sede do governo chileno).

15 Para melhor compreensão sobre este assunto, Remmer (1980)

16 O crescimento do PIB entre os anos de 1971 e 1973: 1971, 9,0%; 1972, -1,2%; 1973, - 5,6% (ZAHLER, 1983, p. 516)

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setores com maiores vantagens comparativas e faria das exportações o fator dinamizador do desenvolvimento econômico (VERGARA, 1981).

Silva (1993) divide os anos entre 1973 e 1988 em três períodos distintos pela orientação de política econômica: 1973 a 1975 (gradual), 1975 a 1983 (radical) e 1983 a 1988 (pragmática), identificando as nuances das políticas. O primeiro iniciou-se com a escolha de qual seria a política adotada. Existiam três caminhos possíveis: manutenção do modelo precedente e estabilização da economia de forma lenta; derrubar as barreiras de comércio vagarosamente e estabilizar a economia de forma a diminuir os preços dos produtos pela competição com os importados; ou realizar políticas radicais de estabilização e abertura total do comércio (SILVA, 1993).

Em 1974, optou-se pela segunda abordagem, a gradual. A base política dos gradualistas estava nos empresários competitivos internacionalmente, mineradores e agricultores que pediam em contrapartida certa proteção, como um piso para os preços de seus produtos. Além destes, algumas das mais importantes associações como a Sociedad de Fomento Fabril, Sociedad Nacional de Agricultura, Sociedad Nacional de Minería e Cámara Nacional de Comercio, isto é, representantes de importantes setores da atividade econômica (SILVA, 1993; SILVA, 1996).

A abertura comercial iniciada em 1974 compreendeu a redução de tarifas alfandegárias, eliminação de restrições às importações e a unificação das diversas taxas de câmbio em uma única (FFRENCH-DAVIS, 2002a). No fim do governo Allende, a alíquota de importação média era de 105%, mas chegava a 750% para bens considerados de luxo. Além das barreiras tarifárias, existiam as não-tarifárias, como aprovação de todas as importações por parte do governo, depósitos não remunerados de 10.000% do valor c.i.f.18 das importações, e taxas múltiplas de câmbio (oito oficiais), com um diferencial de 1.000% entre a maior e a menor. Em 1974, o objetivo central era eliminar essas barreiras gradativamente, tarifárias ou não. Entre os anos de 1974 e 1975, três grandes reduções de tarifas foram realizadas, que representaram a queda da tarifa máxima para 129% e a média para 57% (CORBO, 1997, p. 73; MELLER, 1992).

A política cambial, por sua vez, após desvalorização média de 212% em 1973, buscou manter o valor real com desvalorizações periódicas de acordo com a inflação interna e situação de reservas internacionais. Apenas em duas ocasiões, em 1976 e 1977, o peso foi valorizado a fim de diminuir as expectativas inflacionárias. Entre 1978 e 1979, a taxa de câmbio tornou-se o principal

18

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instrumento de estabilização por meio de um sistema de crawling-peg ativo, que proporcionava

os valores nominais futuros da taxa de câmbio, com o objetivo de guiar as expectativas inflacionárias (EDWARDS e LEDERMAN, 1998; MELLER, 1992).

Tabela 2 - Câmbio real pesos por US$ 1 (1973 – 1978)

Ano Câmbio Real1(pesos por US$1)

1973 23,5

1974 21,6

1975 27,1

1976 22,7

1977 22,2

1978 25,4

Fonte: Vergara (1981, p. 7)

1 O câmbio está expresso em pesos de 1977 por dólar deste mesmo ano.

Durante o período gradual (1973-1975), os chamados Chicago boys19 ganharam

influência no governo. Assim, iniciou-se o segundo período mencionado por Silva (1993), o período de ajuste radical (1975-1983), que foi seguido de um aprofundamento do autoritarismo político. A conjuntura internacional foi importante fator de definição no jogo de forças políticas e de influência no governo. A mudança da principal fonte de recursos de empréstimos externos das instituições multilaterais para os bancos comerciais, assim como a ampliação da liquidez internacional devido aos petrodólares, beneficiou financeira e politicamente os agentes a favor de uma maior abertura da economia (SILVA, 1993).

As políticas orientadas pelos economistas da Escola de Chicago incluíam a intensificação da abertura comercial conjuntamente com um programa de estabilização ortodoxo de cunho monetarista, que buscava a liberação dos preços, contenção dos salários reais e controle da oferta monetária por meio da diminuição do déficit fiscal. Uma série de outras reformas fora realizada neste período, como forma de diminuir a participação estatal e abrir a economia chilena ao livre mercado. Foram elas: reforma financeira, com o objetivo de criar um mercado de capitais e inseri-lo no mercado internacional; privatizações (primeira onda20), e as “sete modernizações” 21 (DIEZ, 1999).

19 Os Chicago boys eram economistas provenientes da escola monetarista da Universidade de Chicago, seguidores de Milton Friedman e Arnold Harberger (SILVA, 1993, p. 542).

Referências

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