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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.3. COMPREENDENDO O CONSTRUTO TEORIA IMPLÍCITA

2.3.2. O compartilhamento dos esquemas cognitivos

Uma outra noção importante sobre os esquemas se refere à compreensão de como esquemas individuais podem se tornar semelhantes àqueles de outros membros organizacionais.

Neste sentido, Cannon-Bowers e Salas (2001) levantam a necessidade de se especificar o que significa a expressão “compartilhado”. Eles identificaram quatro tipos de entendimentos sobre o significado da expressão compartilhado.

O primeiro sentido que pode ser atribuído é a sobreposição (overlapping). A sobreposição significa que dois ou mais membros da equipe necessitam ter algum conhecimento comum. No entanto, isto não significa que tal conhecimento tenha que ser totalmente redundante. Neste caso, não se espera que haja conhecimento idêntico, mas que porções da base de conhecimento possam ser compartilhadas.

A segunda categoria é o conhecimento idêntico ou similar. Neste caso, significa que as pessoas necessitam manter conhecimento similar, se não idêntico. Esta categoria aplica-se mais diretamente a atitudes e crenças compartilhadas. Por exemplo, quando todos os membros de uma equipe têm um entendimento similar sobre a importância do feedback para o desenvolvimento da equipe, este poderá ser mais bem aceito pela equipe. Ao contrário, quando tais atitudes não são compartilhadas, resultam em confusão e falhas nas expectativas podem ter efeitos negativos no desempenho.

A terceira categoria que define compartilhamento, segundo Cannon-Bowers e Salas (2001) é complementaridade ou compatibilidade. Nem sempre o compartilhamento do conhecimento necessita ser similar ou idêntico. Neste caso, os conhecimentos podem ser

diferentes, mas compatíveis dando um sentido de multidisciplinaridade onde cada membro da equipe, cada qual com a sua especialidade, contribui para a resolução de problemas.

A categoria final que pode definir o compartilhamento de conhecimentos é a distributiva. Esta se refere a uma definição diferente de compartilhamento. Assim, a questão principal é saber se o conhecimento está distribuído entre os membros da equipe. Em muitas equipes de alta performance o sistema de tarefas é tão complexo que seria impossível para uma pessoa, sozinha, dispor de todo o conhecimento requerido. Nestes casos, o conhecimento dos membros da equipe é especializado e distribuído.

A perspectiva da cognição social sugere que enquanto membros de uma comunidade particular têm interpretações individuais, eles também têm um conjunto central de crenças em comum (PORAC et al, 1989). As pesquisas sobre processamento da informação social, de poder, de especialização e de cultura organizacional (ORLIKOWSKI e GASSH, 1994) sugerem que as pessoas tendem a compartilhar concepções, conhecimentos e expectativas com os outros com os quais ela tem relacionamentos mais próximos. Por outro lado, interação social e a negociação ao longo do tempo, criam oportunidades para desenvolver e trocar pontos de vista similares (ISABELLA, 1990).

Neste sentido, pode-se dizer que enquanto as estruturas são necessariamente individualmente mantidas e, portanto, inevitavelmente refletem variações individuais elas são úteis também para distinguir aqueles elementos cognitivos que, através da socialização, interação ou negociação, os indivíduos têm em comum (ORLIKOWSKI e GASH, 1994).

Assim, indivíduos dentro de um contexto social ou de pequenos grupos, tendem a pensar, pelo menos em algum grau, de forma semelhante. Isso requer determinada consensualidade cognitiva, o que implica dizer que não é uma perfeita concordância, mas que eles encontram certa similaridade na forma como processam e avaliam a informação. Segundo

Bastos (2004) há um interesse no estabelecimento de significados comuns para que uma ordem social previsível seja possível. O pensamento é, essencialmente, um conceito próprio do nível individual. Mas as estruturas cognitivas são fortemente influenciadas pelas interações que os indivíduos estabelecem com os outros. Tais interações originam idéias ou conceitos comumente compartilhados. Enquanto as interações ocorrem entre um número de diferentes indivíduos dentro de um dado grupo social, as idéias comumente compartilhadas começam a assumir uma existência própria independente de quem as criou. Assim, podemos falar de estruturas existentes em um nível supra- individual, nível grupal ou até mesmo nível organizacional (WILEY, 1988; BODENHAUSEN et al, 2003). Este sistema de crenças compartilhado, por sua vez, faz a atividade coordenada possível, ao fornecer uma estrutura comum para interpretar novos estímulos e para uma coordenação apropriada da ação (GILBERT, apud BOGNER e BARR, 2000).

Na visão de Harris (1994) os esquemas se tornam similares em conseqüência da experiência compartilhada e da exposição compartilhada a sugestões sociais a respeito das construções das realidades dos outros. Visto que os esquemas são resumos do conhecimento experirencial, compartilhar o espaço e o tempo experienciais e os desafios propostos pela comunicação, interação e resolução de problemas comuns facilitam e encorajam o desenvolvimento de esquemas similares (HARRIS, 1994).

Buscando refinar o entendimento sobre cognição compartilhada, Cannon-Bowers e Salas (2001) destacam que é necessário que se defina claramente o que é compartilhado. Neste sentido, os autores afirmam que aquilo que é compartilhado pode ser classificado em quatro grandes categorias: conhecimento sobre tarefas específicas, conhecimento relacionado às tarefas, conhecimento sobre colegas de equipe e sobre atitudes e crenças.

O compartilhamento de conhecimento sobre a tarefa possibilita que os membros possam agir sobre o conhecimento que cada um mantém sem a necessidade de discuti- lo ou de comunicá- lo. Esse tipo de conhecimento compartilhado leva os membros da equipe a terem expectativas compatíveis em relação ao desempenho.

O segundo tipo de conhecimento compartilhado é o conhecimento relacionado à tarefa. Nesta categoria estão os conhecimentos que os membros das equipes necessitam ter em relação aos processos relacionados às tarefas, mas não necessariamente a uma tarefa simples. Assim, por exemplo, os membros compartilham conhecimento sobre como a equipe trabalha, a importância de uma determinada equipe. Este tipo de conhecimento compartilhado dá sentido para a equipe realizar a tarefa.

A terceira categoria, segundo Cannon-Bowers e Salas (2001), envolve o conhecimento que os membros da equipe possuem uns dos outros. Esta perspectiva considera que há uma necessidade de cada membro da equipe ter um entendimento dos outros em relação às suas fraquezas, forças, preferências e tendências a fim de maximizar seus desempenhos. Este tipo de conhecimento compartilhado ajuda os integrantes da equipe a compensar uns aos outros, predizer a ação do outro, fornecer informações antes de ser perguntado e alocar recursos de acordo com as especialidades dos membros especialistas.

Já o termo crenças e atitudes compartilhadas se referem a uma categoria bastante ampla. Cannon-Bowers e Salas (2001) argumentam que quando as pessoas de uma equipe de trabalho mantêm crenças e atitudes similares eles terão percepções similares sobre as tarefas e o ambiente e assim, tomarão decisões mais efetivas. Os autores salientam que esta categoria é mais ampla, no sentido de que elas não se referem a tarefas ou relacionadas a tarefas específicas, mas afeta o seu desempenho na medida em que os membros da equipe têm interpretações similares do ambiente.

Cannon-Bowers e Salas (2001) finalizam a explicação sobre cognição compartilhada argumentando que este conceito não é unitário, mas que provavelmente todos os tipos de conhecimento descritos nas quatro categorias necessitam ser compartilhados em equipes efetivas.

Após o entendimento do conceito de esquema, passa-se a seguir a explorar o outro aspecto considerado na definição de teoria implícita, ou seja, a comparação com a teoria explícita ou científica.