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comunicação 11 constituem as realidades de nossas vidas cotidianas e servem como o principal meio para estabelecer as associações com as quais nós nos

3.2.2 O conceito de grupo e de pertença de grupo

O conceito de Harré (2001) leva-nos a entender um grupo social como um agrupamento de pessoas que, principalmente, têm algo em comum. No entanto, é van Dijk (2003) quem nos oferece o conceito de grupo social do qual nos apropriaremos para nossas considerações13:

O grupo social pode se definir a partir dos critérios de pertença (origem, aparência, idioma, religião, títulos); as atividades típicas (como no caso dos profissionais); objetivos específicos (ensinar aos estudantes, curar os pacientes, difundir notícias, etc.); normas, relações e recursos do grupo, etc. às vezes, estes critérios do grupo são flexíveis e superficiais, por exemplo, quando se baseiam na indumentária preferida ou em um estilo de música; no entanto, às vezes organizam todos os aspectos da vida e as atividades dos membros do grupo, como no caso do sexo, a etnia, a religião e a profissão14 (Idem, 2003, p. 31).

12 Internas aqui entendidas com relação ao grupo e não ao indivíduo, ainda que essas relações afetem a cognição individual dos integrantes do grupo.

13 Destaques nossos.

14Livre tradução nossa, a partir do original: “El agrupamiento social se puede definir a partir de los criterios de pertinencia (origen, apariencia, idioma, religión, títulos); las actividades típicas (como en el caso de los profesionales); objetivos específicos (enseñar a los estudiantes, curar a los pacientes, difundir noticias, etc.); normas, relaciones y recursos del grupo, etc. A veces, estos criterios del grupo son flexibles y superficiales, por ejemplo, cuando se basan en la indumentaria preferida o en un estilo de

É importante compreender esse conceito para nosso trabalho, pois é nas relações que se estabelecem dentro dos grupos sociais, através da estrutura ideológica por eles constituída, que se localiza a TRS. Para que sejam representações sociais (doravante RS), elas precisam ser partilhadas por um agrupamento X, que as revalida em seu interior. Esse, talvez, seja o principal traço característico das representações: elas são (de maneira redundante) sociais, precisam pertencer a um grupo e, funcionalmente, orientam práticas sociais.

A partir dessas afirmações, que são na verdade a retomada de forma resumida do que aqui já se falou, van Dijk (2008a) propõe criar uma “heurística” (a arte ou a ciência do descobrimento, uma disciplina suscetível de ser investigada formalmente) mais prática, de um método para “achar” a ideologia na linguagem (o propósito de nosso trabalho). Para isso, propõe o seguinte, para a identificação e caracterização de um grupo social:

Categorias Perguntas

Pertença do grupo Quem somos? Quem pertence ao grupo? Quem podemos admitir?

Atividades O que fazemos, propomos? O que se espera de nós?

Objetivos Por que fazemos isto? O que queremos conseguir?

Normas O que é bom ou mal, permitido ou não no que fazemos?

Relações Quem são nossos amigos ou inimigos? Que lugar ocupamos na sociedade?

Recursos O que temos que os demais não têm? O que não temos que os demais têm?

Tabela 01: Perguntas para caracterização dos grupos e de suas ideologias.

Percebemos, a partir da tabela apresentada, uma proposta de Análise Crítica do Discurso (doravante ACD) dentro dos estudos do autor e que aponta um encaminhamento próprio do exame ideológico no interior dos ECD como um todo: a polarização entre ‘nós’ e ‘os outros’. Segundo essa dicotomia analítica, os grupos tendem a desenvolver em seus discursos estratégias que visam: 1. Falar de nossos aspectos positivos e falar de seus aspectos negativos; ou 2. Não fales de nossos aspectos negativos e não fales de seus aspectos positivos. Ou seja, van Dijk (2003 e posteriores) trata em seus estudos dos conflitos socialmente localizados e reproduzidos no interior dos discursos. Esse sentimento de pertença e exclusão do outro é fundamental para a delimitação do conceito de grupo, como observamos na tabela 1, principalmente, no que

música; sin embargo, a veces organizan todos los aspectos de la vida y las actividades de los miembros del grupo, como en el caso del sexo, la etnia, la religión y la profesión. (Ibid., p. 31)”

diz respeito ao estudo que envolva representações de sujeitos pertencentes a essa ou àquela organização social. A partir dessas considerações, van Dijk (2003, p. 41) propõe um “quadrado conceitual” ou “ideológico”, que esboçamos a seguir:

Figura 1: Quadrado ideológico, baseado na proposta de van Dijk (2003, p. 41).

O quadro apresentado revela ponto fundamental das propostas de van Dijk (2003), no que diz respeito às ideologias, uma vez que confronta precipuamente elementos constitutivos da pertença de grupos. O autor propõe, inclusive, em suas categorias de análise, essas características como um dos pontos suscetíveis de análise no discurso, cuja materialização pode ser evidenciada com o uso de pronomes pessoais (Nós vs. Eles), possessivos (Nossas crenças vs. A crença dos outros), etc.

Como podemos observar, essas quatro possibilidades podem ser aplicadas para a análise de todas as estruturas do discurso, já que se referem ao conteúdo ideológico nele inserido e que evidencia a vinculação não apenas do grupamento do sujeito, mas de seu ideário. Igualmente, a partir dos elementos do esquema proposto, podemos analisar questões como o detalhamento (indicando ênfase ou abrandamento de algum dos quatro aspectos), o uso de hipérboles, eufemismos, títulos pequenos ou grandes. Ou seja, estruturas linguísticas que ofereçam pistas da expressão das ideologias de grupo no discurso. São muitas as “pistas”, os indícios, ou os “rastros” linguísticos deixados no discurso pelos que o engendram. Nosso trabalho, por sua parte, propõe examinar esses vestígios do material ideológico da representação dos professores sobre a formação de docentes E/LE, a partir do léxico utilizado e da semântica do seu discurso, materializada nos temas recorrentes.

Em uma contextualização, que será feita na seção três, da metodologia, exporemos a caracterização do grupo participante da pesquisa, de maneira a defini-lo como grupo social, de acordo com os critérios apresentados por van Dijk (2003). Apresentamos anteriormente os critérios e os repetiremos mais adiante no trecho a que nos referimos da metodologia. São eles:

a) Os critérios de pertença de grupo; b) As atividades típicas;

c) Objetivos específicos

d) Normas, relações e recursos do grupo.

É importante dizer que os professores que participaram da pesquisa se enquadram como grupo social, a partir dos critérios apresentados, como veremos na contextualização da pesquisa, na seção que trata da metodologia, como já apontamos.

Uma vez discutida a noção de grupo que adotamos em nossa investigação, podemos retornar à revisão da TRS.