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comunicação 11 constituem as realidades de nossas vidas cotidianas e servem como o principal meio para estabelecer as associações com as quais nós nos

4. SEÇÃO 3 – METODOLOGIA

4.4 Procedimentos, instrumentos e técnicas da pesquisa para a geração e coleta de dados

4.4.2 Questionários

Doise (1994) chama a atenção para a pluralidade de abordagens e a diversidade de significações que veiculam e fazem da RS um instrumento de trabalho

difícil de manipular. Na mesma direção, Jodelet (2001) aponta para a necessidade de desenvolver-se uma abordagem que respeite a complexidade dos fenômenos e da noção de RS, mesmo que isso pareça um grande desafio. Para a autora, a multiplicidade de perspectivas da abordagem da TRS em diversos campos do conhecimento desenha territórios mais ou menos autônomos, em função da ênfase dada a aspectos específicos dos fenômenos representativos das RS. Esta pequena introdução serve para justificarmos o uso de mais esse instrumento em nossa pesquisa.

Dada a complexidade do objeto de estudo da investigação (as ideologias subjacentes à representação sobre formação de professores), o modo de aproximação dele deverá cercar-se de cuidados que garantam o seu entendimento na totalidade do que se pretende. Na perspectiva de múltiplos olhares sugerida por Jodelet (2001), considerarmos o que diz Harré (2001) sobre o papel das palavras como suporte das representações sociais:

Uma das características dos trabalhos de Moscovici foi a de enfatizar os vínculos entre a atividade linguística e manifestação das representações sociais [...] Potter e Litton lançaram a ideia de um repertório linguístico como suporte concreto para as representações sociais. O fato de que a partilha de uma teoria seja facilitada pelo domínio comum de um vocabulário adequado é fenômeno conhecido e amplamente difundido (Ibid., p. 105-106).

Conforme essa visão, sendo o discurso o veículo primordial para o compartilhamento dos conhecimentos, é através, pois, das palavras que o compõem que se ‘vetorizam’ as representações. De modo semelhante, ao referir-se à estrutura ideológica que ampara o discurso, van Dijk (2008a, p. 43) afirma que ela é formada por cognições fundamentais, socialmente compartilhadas e relacionadas aos interesses de grupos e seus membros, é adquirida, confirmada ou alterada, principalmente, por meio da comunicação e do discurso.

Cabe, pois, afirmar que adotamos a visão segundo a qual as representações sociais existem nas estruturas formais (morfológicas, lexicais, sintáticas, etc.) das línguas faladas e escritas, tanto quanto na organização semântica de seus léxicos e que muitas representações sociais importantes são adquiridas como crenças individuais no curso da aprendizagem de uma língua, em particular da língua materna (HARRÉ, 2001, p. 107). Em última instância, é essa também a ideia defendida por van Dijk (Ibid.) e que orienta nossas indagações e metodologia de pesquisa.

Pelas razões expostas, apresentam-se os questionários como instrumentos que fornecerão a materialização do que os autores apontam: a espessura ideológica e os vetores léxicos das RS, que nos permitirão entender o objeto de estudo pesquisado. Ajuntados ao material colhido no curso das entrevistas realizadas, dar-nos-ão elementos suficientes para que alcancemos os objetivos propostos.

Passaremos, agora, a descrição da etapa das entrevistas. 4.4.3 Entrevistas

A partir de tudo que foi discutido anteriormente, podemos afirmar que as representações sociais são formas de conhecimento. Além disso, é lícito dizer que são estruturas compostas por elementos cognitivo-afetivos e, por isso, devem ser estudadas levando-se em consideração ambos os aspectos de sua constituição. Dessa forma, devem ser entendidas desde o contexto em que se geram e de seu papel nas interações sociais, ou seja, na orientação de práticas.

Assim, aponta-nos Spink (2002),que o sujeito a ser estudado em pesquisas que usem a TRS, será um sujeito social e que por esse se deve entender:

[...] um indivíduo adulto, inscrito numa situação social e cultural definida, tendo uma história pessoal e social. Não é um indivíduo isolado que é tomado em consideração, mas sim as respostas individuais enquanto manifestações de tendências do grupo de pertença ou de afiliação na qual os indivíduos participam (p. 120).

A descrição é importante para lembrarmos que as representações somente existem quando partilhadas por um grupo e que, por isso mesmo, são parte da criação e da transformação da realidade social. Conforme o discutido no capítulo teórico, elas são produto de uma ressignificação constante do mundo, por parte do indivíduo.

Para a autora citada, a coleta de dados em pesquisa de natureza interpretativista e de associação de ideias como a nossa, exige longas entrevistas semiestruturadas acopladas a levantamentos paralelos sobre o contexto social e sobre os conteúdos históricos que informam os indivíduos enquanto sujeitos sociais. Por essa mesma razão, já anteriormente explicitada, o número de participantes de pesquisas como essas é reduzido e seus participantes apresentam-se sob o conceito já apresentado de “sujeitos genéricos”.

Finalmente, Spink (2002, p. 130) apresenta as etapas para a aplicação desse instrumento de geração de dados, os quais transcrevemos a seguir:

1. Transcrição da entrevista;

2. Leitura flutuante do material, intercalando a escuta do material transcrito de modo a afinar a escuta deixando aflorar os temas, atentando para a construção, para a retórica, permitindo que os investimentos afetivos emerjam.

3. Retorno aos objetivos da pesquisa e, especialmente, definir claramente o

objeto da representação.

Durante a segunda etapa, a autora chama a atenção para o cuidado que o pesquisador deverá ter para detectar possíveis variações ou versões contraditórias que podem emergir do discurso e que podem indicar a forma como esse se orienta. Os aspectos retóricos também deverão ser observados, podendo fazer parte da construção da argumentação contra ou a favor do entendimento construído pelo sujeito sobre o objeto.

Por se tratar de uma representação complexa, a que escolhemos para estudar, o caminho indicado por Spink (2002), na terceira etapa, é aquele que busca mapear o discurso, a partir dos temas emergentes definidos pela leitura flutuante e guiados pelos objetivos do pesquisador. Esses temas constituirão, segundo ela, as dimensões nas quais se organizam as ideias dos sujeitos. A etapa final da análise indicada pela autora diz respeito à construção de gráficos que associem essas dimensões às ideias que as subjazem.

No nosso caso, além de desenvolvermos os passos descritos, a análise avança para um viés crítico dos temas emergidos do discurso dos professores, realizada conforme as bases do que propõe van Dijk (2003) e de acordo com o que descreveremos no próximo item, no qual explicitaremos as categorias e as etapas de análise, para a evidenciação das ideologias que dão suporte às RS, das quais emergem esses elementos léxicos.