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CAPÍTULO 1: OS GRUPOS ECONÔMICOS

1.4 O conceito de grupo financeiro

A maior parte dos estudos sobre grupos financeiros derivam de estudos sobre a formação do capital financeiro e concentram nos grupos sua unidade de análise. Tal mo- vimento não é espantoso, pois os grupos financeiros podem ser vistos como uma repre- sentação da interpenetração dos capitais bancário e industrial, sob o controle dos bancos, que é a característica basilar do capital financeiro e que surge nas relações de acesso ao credito, execução dos meios de pagamento e aceleração da acumulação. Embora algumas definições presentes na teoria considerem como grupo financeiro qualquer conjunto de empresas relacionadas entre si e com nível de autonomia de autofinanciamento, um grupo financeiro de fato, só pode ser definido pelo controle do capital bancário e tal só pode existir quando essa firma financeira é o componente agregador do conjunto de firmas. Não se pode negar a influência dos bancos na formação dos grupos financeiros, mas não são todos os casos em que essa influência se transforma em controle.

Autores como Anaya (2010) afirmam que a relação entre grupos econômicos e o sistema bancário é altamente simbiótica, enquanto autores como Alcorta (1993), afirmam certa dependência, mas apontam que os grupos econômicos possuem elevada autono- mia67. Huamán conclui que não se pode afirmar que o banco seja o núcleo de negócio de todo o grupo econômico, no entanto, o autor aponta que os grupos acabam ingressando no setor bancário, comumente organizando uma firma de investimentos que possibilita a

66 Cf. Anaya (2010, p. 43. Tradução nossa). 67 Cf. Huamán (2002, p. 283). Tradução nossa.

criação de um micromercado de credito dentro do próprio grupo, conforme o autor: “O micromercado de capitais surgiu como uma forma efetiva de proteger os recursos finan- ceiros dos grupos, garantindo sua independência e espaço para manobra.”68

De acordo com Pastre um grupo financeiro é definido como um conjunto de em- presas capazes de se financiarem autonomamente69, de acordo com o autor:

[..] conjunto de empresas e bancos multinacionais que asseguram uma circula- ção e um valorização autônoma de seus capitais [..] é sua capacidade de asse- gurar uma mobilização autônoma do capital o que, em efeito, distingue os gru- pos financeiros dos grupos industriais ou das empresas independentes. (Pastre, 1979, p. 261-262. Tradução nossa).

Em seu estudo sobre interlocking directorates, Fennema apresenta uma definição de grupo financeiro na qual ele está menos preocupado com a capacidade e autonomia da gestão financeira. Seu conceito explora o princípio de coordenação do conjunto de firmas através de uma estratégia de longo prazo e no controle exercido pelo cruzamento de dire- torias em uma interpolação entre capital produtivo e bancário através da diversificação de negócios. Segundo o autor:

Na teoria do capital financeiro, um grupo é uma unidade de capital consistindo em empresas financeiras e industriais que desenvolvem políticas comuns têm elementos de controle em comum e estão conectados por diretorias interliga- das. (FENNEMA, 1982, p. 23. Tradução nossa).

Menshikov apresenta uma definição bastante imprecisa do grupo financeiro como sendo a “[...] soma total de empresas gerenciadas de forma independente. Cada um é uma entidade comercial. Controle (se existir) é separado do gerenciamento. As atividades de tais empresas são coordenadas em um nível superior, fora das próprias empresas70”.

A definição de Baran e Sweezy é mais precisa que a de Menshikov. De acordo com os autores um grupo financeiro é constituído por “um número de corporações sob controle comum, sendo o lócus do poder normalmente um banco de investimento - ou comercial ou uma grande fortuna familiar71”. Fennema aponta que ambos os conceitos carecem de definição de que tipo de interlocking ligam as firmas, se essa conexão é feita via relações de credito ou se esse lócus de controle é familiar72. Para Alcorta o problema

68 Cf. Huamán (2002, p. 223-28). Tradução nossa. 69 Cf. Pastre (1979, p. 261).

70 Cf. Menshikov, (1969, p. 205-206). Tradução nossa. 71 Cf. Baran e Sweezy (1968, p. 30). Tradução nossa. 72 Cf. Fennema (1982, p. 24).

central das definições que consideram o cruzamento de diretorias é que elas não deixam claro o significado do entrelaçamento, para o autor o entrelaçamento só é uma categoria válida de controle se estiver acompanhado da propriedade, pois somente dessa forma eles podem representar domínio73.

A definição de grupo financeiro dada por Chesnais segue a linha do financiamento autônomo do grupo de firmas ao afirmar que “o que é específico do grupo financeiro é a possibilidade de interiorizar a restrição de financiamento”, criando uma interface entre o sistema financeiro e o capital produtivo vinculada a interpenetração desses capitais74. Po- rém, de acordo com Alcorta (1992), a capacidade de autofinanciamento pode ser aplicada as firmas individuais, não obstante, essa definição é pouco clara sobre os termos do auto- financiamento. Se seguirmos Chesnais (1981) e considerarmos essa capacidade como a ausência de uso de fundos externos, então não existem grupos, pois é praticamente im- possível uma empresa totalmente autofinanciada a menos que ela seja uma instituição bancaria. Se o que o autor quis dizer com autofinanciamento significa, na verdade, uma autonomia relativa, então o problema operacional reside no nível de autonomia a partir do qual se considera um grupo financeiro75.

Neste trabalho compactuo com as críticas de Alcorta e concordo com o autor quando ele diz que antes de pensarmos em autofinanciamento é preciso pensar na defini- ção de quais entidades dos grupos podem ter a capacidade de gerar fundos, quais empre- sas e instituições financeiras podem constituir um grupo e quais os vínculos que unem as empresas76.

Obstante o que foi exposto acima, destacamos a existência dos grupos financeiros como sendo grupos econômicos cujo negócio nuclear é uma firma atuante no sistema financeiro, seja ela a origem do grupo ou resultado de uma mudança no núcleo de negó- cios de um grupo industrial (um exemplo é o grupo peruano Wiese que mudou seu núcleo do comércio para o setor bancário). Entendo que esta definição contempla o nível de fi- nanciamento de um grupo financeiro como sendo autônomo visto que o grupo teve ori- gem e se diversificou a partir de uma empresa financeira, e mantem como grupo econô- mico aquele grupo que possui uma instituição financeira em seu portfólio, mas tem uma autonomia bem menor no que trata de autofinanciamento. Ademais, esta definição

73 Cf. Alcorta (1992, p. 73).

74 Cf. Chesnais (1981, p. 168). Tradução nossa. 75 Cf. Alcorta (1992, p. 73).

absorve todas as características do grupo econômico sendo sui-generis apenas na sua ori- gem ou através de uma mudança no núcleo de negócios. Ou seja, quando falamos de grupo financeiro, estamos falando de um grupo econômico cujo o princípio agregador é o capital bancário.