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O CONSELHO DE MOVIMENTOS SOCIAIS DA ALBA (CMS)

4. AS PROPOSTAS “PARTICIPATIVAS” REGIONAIS LATINO-AMERICANAS

4.1 O CONSELHO DE MOVIMENTOS SOCIAIS DA ALBA (CMS)

Criado no âmbito da V Cúpula da ALBA, realizada nos dias 28 e 29 de abril de 2007, na cidade de Tintorero na Venezuela, o Conselho de Movimentos Sociais da ALBA (CMS) surge conforme os próprios princípios da Aliança de integrar os povos do continente e, através dos movimentos sociais, construir a iniciativa regional bolivariana sobre as bases populares.

O conceito de sociedade da ALBA difere-se do conceito de sociedade civil hegemônico: o liberal-burguês. Pelo conceito hegemônico, há a dominação majoritária da classe proprietária, através dos patrões, ricos e demais poderosos. A sociedade organizada da

ALBA é construída coletivamente pelas massas e no exercício compartilhado do poder, por intermédio de conselhos e movimentos sociais.

A criação do Conselho fora expressa na Declaração de Tintorero, anexada no fim desta dissertação, bem como uma gama de propostas e quatro campanhas centrais da luta anti- imperialista. A adesão dos movimentos sociais latino-americanos à ALBA está radicada no respeito ao princípio da autonomia e da horizontalidade dos movimentos e na integração com os governos, para a criação dos planos, programas e projetos, no atendimento aos interesses comuns dos povos (ALBA-TCP, 2010).

Segundo o sítio institucional da Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América (2010), o Conselho de Movimentos Sociais é o principal mecanismo facilitador da integração e participação social direta na ALBA. Ademais, se constitui como um espaço anti- imperialista, anti-neoliberal e que tem o compromisso de atuar no alcance da felicidade, da segurança, da justiça social e da real soberania dos povos e em harmonia com a natureza.

Recuperaremos nesta seção, os encontros realizados pelo CMS e o VIII Fórum Social Mundial de 2009 (co-organizado pelo CMS). Os encontros foram em Tintorero (Venezuela), na V Cúpula da ALBA, nos dias 28 e 29 de abril de 2007, em Caracas (Venezuela), na VI Cúpula da ALBA, no dia 25 de janeiro de 2008, a I Cúpula, em Cochabamba (Bolívia), nos dias 15, 16 e 17 de outubro de 2009 e em Caracas (Venezuela), na XI Cúpula da ALBA, no dia 03 de fevereiro de 2012.

No encontro de 2007, além da criação do CMS, aprovou-se também a dinâmica de funcionamento do espaço dos movimentos sociais, sendo criado um Comitê Nacional composto por: um porta-voz ou uma porta-voz indicado por organização nacional, dois porta- vozes ou duas porta-vozes designados por capítulo estadual, e, por consenso, dois membros de organizações nacionais para a Secretaria, um (a) da Frente Nacional Campesino Ezequiel Zamora (FNCEZ) e um (a) da Frente Bicentenario de Mujeres 200. Os referidos membros foram escolhidos pelos (as) porta-vozes nacionais das 17 organizações participantes do CMS e um membro de cada capítulo estadual que é responsável pelo contato com as plataformas regionais, ao todo na secretaria são oito porta-vozes.

Os movimentos sociais que compõem o CMS são: o Movimiento de Pobladoras y Pobladores, a Asociación Nacional de Medios Comunitarios Libres y Alternativos (ANMCLA), a Frente Nacional Campesino Ezequiel Zamora (FNCEZ), a Frente Nacional de Campesinos y Pescadores “Simón Bolívar”, o Consejo Nacional Indio de Venezuela (CONIVE), a Frente Bicentenario de Mujeres 200, a Red de Colectivos La Araña Feminista, a Red Nacional de Sistemas de Trueke, a Frente Nacional Comunal Simón Bolívar (FNCSB), a

Red Nacional de Comuneros, a Red de Organizaciones Afrovenezolanas, o Movimiento Nacional de Televisoras Comunitarias-ALBA TV, o Movimiento de Mujeres Ana Soto, o Movimiento Gayones, a Organización Político Revolucionaria Bravo Sur, a Compañía Nacional de Circo, o Colectivo Nuevo Circo, o Jóvenes por el ALBA, a Alianza Sexo – Género Diversa Revolucionaria (ASGDRe), a Asociación de Socorro al pueblo palestino CANAAN e outros coletivos e organizações a nível nacional (ALBA TV, 2011).

Algumas proposições apresentadas em 2007 foram: a criação da Carta da ALBA, a articulação com os governos locais, a multiplicação das missões sociais e a capacitação dos movimentos sociais.

Adicionalmente, foram chamadas quatro campanhas centrais: a) a solidariedade com a luta costarriquense contra os Tratados de Livre Comércio (TLCs); b) a jornada de mobilização contra a liberação do terrorista Luis Posada Carriles e a favor da liberação de cinco presos antiterroristas cubanos detidos nos Estados Unidos; c) o chamado para o encontro entre os povos e os governos da ALBA e; d) o chamado à mobilização em memória aos 40 anos do assassinato em combate do guerrilheiro heróico, Comandante Che Guevara.

Nas considerações finais do encontro fora lembrado o aniversário de 30 anos das Mães da Praça de Maio, a luta dos povos bolivianos e equatorianos para a libertação e protagonismo dos movimentos sociais e povos originários, a luta contra o analfabetismo e contra os transgênicos, a solidariedade com os presidentes, chefes de Estado e movimentos sociais ibero-americanos, pela ocasião da Cúpula Ibero-americana de 2007, o apoio aos movimentos sociais na Europa e Canadá e o povo equatoriano, que impôs sua vontade soberana para convocar uma Assembleia Constituinte em seu país.

No encontro de Caracas, no início de 2008, os movimentos sociais da Bolívia, de Cuba, da Nicarágua e da Venezuela afirmaram os princípios da ALBA e definiram a missão e as funções do Conselho de Movimentos Sociais.

A missão principal do Conselho é articular os movimentos sociais dos países membros, dos países não-membros da ALBA e os demais interessados, para cumprirem suas responsabilidades de desenvolverem e de ampliarem a ALBA.

Os princípios que regem o CMS são: a autodeterminação, o internacionalismo, a autonomia e a solidariedade dos povos em luta, o respeito à soberania popular, à integração e à complementariedade, a igualdade e a equidade e a corresponsabilidade para uma construção revolucionária na integração.

As funções do CMS são:

as declarações e outras iniciativas dos movimentos sociais; b) Receber, avaliar e dirigir, ao mesmo tempo em que propõe, programas de colaboração dos Movimentos Sociais dos países cujos governos não são membros da ALBA-TCP; c) Divulgar amplamente os objetivos, ações e resultados da ALBA-TCP; d) Dar continuidade aos projetos gran-nacionais, no formato escolhido pelos movimentos sociais e; e) Fortalecer a mobilização e a participação ativa dos movimentos sociais em cada país, nos projetos e nas iniciativas da ALBA-TCP (ALBA-TCP, 2010);

Ademais aos princípios, à missão e às funções do CMS, no encontro de 2008 deu-se seguimento a duas ações pendentes do encontro de Tintorero, que eram a identificação de organizações, redes e campanhas latino-americanas e caribenhas, nacionais e locais, nos países extra-ALBA26 que possam participar do CMS e a realização de uma reunião constitutiva do CMS.

Na I Cúpula do Conselho de Movimentos Sociais da ALBA, em 2009, na cidade boliviana de Cochabamba, reafirmou-se a criação e a organização, dispostas na Declaração de Tintorero, recuperou-se brevemente a trajetória, frisaram-se os nove princípios do CMS e propuseram-se 21 ações.

Em fevereiro de 2009, a Comissão Política estabeleceu o prazo até abril de 2009 para que os movimentos sociais criassem seus capítulos nacionais e para que comunicassem à coordenação permanente da ALBA as nominatas. O prazo fora estabelecido a fim de que o CMS entrasse em operação no dia primeiro de maio de 2009.

A I Cúpula fora realizada conjuntamente com a VII Cúpula dos Presidentes da ALBA, em Cochabamba, e frisou os nove princípios que, resumidamente, são:

a) Ser um espaço inclusivo, aberto, diverso e plural; b) Ser um espaço para fortalecer as posições políticas econômicas e sociais; c) Ter o compromisso com os princípios gerais da ALBA; d) Expressar a legitimidade e a representação real dos movimentos sociais que participam; e) Manter um diálogo e um relacionamento permanente com os governos dos países membros da ALBA; f) Definir que cada coordenação nacional construa dinâmicas de atuação e relacionamento com os governos dos países membros da ALBA; g) Estipular que a coordenação nacional seja responsável pelo relacionamento do CMS com os movimentos sociais de cada país da ALBA e; h) Integrar o enfoque de gênero através da participação da mulher nos movimentos sociais (ALBA-TCP, 2010).

Na I Cúpula do CMS também fora constituído um comitê ad hoc, formado por um (a) representante de cada capítulo nacional já criado (Bolívia, Cuba e Venezuela) e pela coordenação da Bolívia.

Além do comitê, foram definidas 21 ações, sendo algumas delas: a consolidação dos capítulos nacionais com movimentos sociais representativos, a incorporação dos movimentos sociais dos países da ALBA no exterior, a criação de espaços de discussão para avaliar as

atividades dos movimentos sociais e para desenvolver programas comuns, a realização de atividades conjuntas entre os movimentos sociais, a incorporação de maneira progressiva de organizações comunitárias pequenas com igualdade de participação no CMS, a participação de movimentos sociais de fora da ALBA no CMS, a entrega dos programas dos movimentos sociais aos chefes de Estado e de governo dos países da ALBA, para sua aprovação, e a criação de programas condizentes com as necessidades dos povos pelos capítulos nacionais.

Na XI Cúpula da ALBA, realizada em Caracas em 03 de fevereiro de 2012, fora firmado o documento intitulado “Compromiso SUCRE. Movimientos Sociales del ALBA- TCP”. O “Compromiso SUCRE” continha compromissos e um plano de 34 ações. Os principais compromissos eram: trabalhar de maneira unida e articulada com os governos da ALBA, implementar um plano de organização do CMS, apoiar as iniciativas da CELAC e da UNASUL e contribuir com a implementação de políticas sociais e culturais da Aliança. O plano proposto dividia-se em três áreas: econômica produtiva, sociocultural e política- jurídica. Face ao número expressivo de encaminhamentos, todos de grande importância, chama-se a atenção para seis: fortalecer os processos de comercialização associativa, assim como os espaços para o intercâmbio dos produtos da ALBA, impulsionar os projetos de intercâmbio e o desenvolvimento de experiências científico-tecnológicas na ALBA, criar uma Universidade da ALBA ou Latino-americana, apoiar a liderança revolucionária na tarefa de fortalecer o sistema educativo na Aliança, executar políticas públicas contra a discriminação racial e desenvolver leis que permitam administrar a água para garantir a segurança e a soberania alimentar (ALBA-TCP, 2012).

Recuperamos também o VIII Fórum Social Mundial, realizado em janeiro de 2009 na cidade de Belém (Pará), em que ocorreu a Assembleia dos Movimentos Sociais, dando origem à Carta dos Movimentos Sociais das Américas. Na Carta dos Movimentos Sociais reforçou-se a necessidade de a ALBA e as iniciativas regionais serem construídas pelas organizações sociais e a luta anti-imperialista proposta pela Aliança.