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O REGIONALISMO E O CENÁRIO POLÍTICO LATINO-AMERICANO:

7. O DÉFICIT DEMOCRÁTICO NA INTEGRAÇÃO REGIONAL LATINO-

7.1 O REGIONALISMO E O CENÁRIO POLÍTICO LATINO-AMERICANO:

O regionalismo e o cenário político latino-americano possuem uma relação estreita. Acontecimentos a nível nacional podem ocasionar modificações nas relações entre os países a nível regional. Como bem lembra Edgardo Lander (2004, p. 50):

La integración no puede pensarse como algo diferente a los proyectos nacionales, diferente a las sociedades que se prefiguran al interior de cada Estado-nación. Los proyectos de integración del continente dependen de los procesos políticos, de las estructuras productivas, de las correlaciones de fuerza existentes tanto global y regionalmente como al interior de cada uno de los países participantes.

Frente a golpes de Estado, corrupção, crises, troca-troca partidárias nos governos e demais fatos nos governos nacionais, os países podem caminhar rumo à “desintegração regional”. Um exemplo é a aplicação da “cláusula democrática”37, que ocasionou a suspensão do Paraguai no MERCOSUL em junho de 2012 devido ao golpe de Estado contra o governo do ex-presidente Fernando Lugo.

Em 28 de junho de 2009, Manuel Zelaya fora preso em sua residência por militares que o obrigaram a sair de Honduras. A partir desse momento, iniciava uma onda reacionária nos governos latino-americanos que atingiu, por exemplo, o Paraguai em 2012, a Argentina em 2015 e o Brasil em 2016. Zelaya, apesar de ser de um partido oligárquico, tinha introduzido algumas mudanças no país que levaram a avanços sociais, como o aumento do salário mínimo, e se oposto ao escalonamento da “guerra às drogas” de Washington. Em 2008, Honduras ingressou na ALBA e aproximou-se da Venezuela, comercializando créditos, petróleo e insumos agrícolas a preços justos.

Com todas essas mudanças em Honduras, os setores oligárquicos ficaram enraivecidos

37 A cláusula democrática fora acordada em 1998, com a assinatura do Protocolo de Ushuaia pelos Estados Partes e países membros do MERCOSUL, determinando que, em caso de ruptura da ordem democrática de um sócio, esse sofra punições, que podem ser sanções comerciais até a suspensão temporária.

e passaram a estimular a destituição de Zelaya com o pretexto de crime de lesa-pátria, ou seja, crime de inconstitucionalidade derivado de um projeto de consulta popular. O ex-presidente pretendia convocar, juntamente com as eleições gerais, uma assembleia constituinte, que, segundo seus opositores, representava uma manobra para se perpetuar no poder. Por trás dos grupos opositores, estavam os Estados Unidos da América, financiando um novo golpe na América Latina. Manuel Zelaya não estava cometendo nenhum crime, pois meses antes da convocação da assembleia, o congresso hondurenho tinha aprovado a Lei de Participação Cidadã, que permitia os referendos e as consultas populares.

Depois do golpe, diferentes iniciativas regionais e países posicionaram-se contra. Em 2009, Honduras fora expulsa da Organização dos Estados Americanos (OEA). A ALBA condenou a ilegalidade, prestou solidariedade a Manuel Zelaya, aplicou sanções comerciais e econômicas ao governo golpista de Roberto Micheletti e alguns membros retiraram ou deixaram poucos representantes diplomáticos no país38, posicionando contra o golpe. Hugo Chávez, ex-presidente venezuelano, disse que não se podia permitir o retorno dos governos ditatoriais na América Latina, não havendo negociações com os golpistas e exigiu que o presidente Micheletti se retirasse do cargo e que Zelaya voltasse a ocupá-lo. Daniel Ortega, presidente da Nicarágua, exprimiu que a ALBA não ficaria satisfeita até que Honduras voltasse a ter o presidente escolhido pelos votos de seu povo. Rafael Correa, presidente equatoriano, posicionou-se como Chávez, apoiando Zelaya e exigiu que os golpistas o restituíssem no seu cargo.

O MERCOSUL, assim como a ALBA, durante a trigésima oitava Cúpula do MERCOSUL, realizada em dezembro de 2009, em um documento final, condenou o golpe e as graves violações dos direitos humanos e das liberdades fundamentais do povo hondurenho (após a repressão às manifestações populares). Por meio do documento, os presidentes também expressaram o desconhecimento das eleições realizadas em 2009, que elegeram Porfírio Lobo Sosa e que afastaram Zelaya de uma possível volta ao seu cargo. A nota apontou, ainda, para a inconstitucionalidade, a ilegitimidade e a ilegalidade e para o duro golpe contra os valores democráticos da América Latina e Caribe.

Além da OEA, da ALBA e do MERCOSUL, a Associação dos Estados do Caribe (AEC) também condenou o governo golpista em Honduras e solicitou o retorno de Zelaya ao seu cargo. No seu pronunciamento público, a iniciativa regional caribenha desagravou o tratamento desumano dado pelos militares do governo de Micheletti à Ministra de Assuntos

Exteriores do país, Patricia Rodas, e aos embaixadores de Cuba, Nicarágua e Venezuela. A AEC, entretanto, não aplicou nenhuma punição à Honduras, seja por meio de sanção comercial ou seja por meio de expulsão total do país como membro da iniciativa.

A Comunidade do Caribe (CARICOM) foi mais branda em seu posicionamento sobre o golpe em Honduras. Apesar de ter condenado o governo ilegal, a iniciativa regional caribenha, assim como a AEC, não aplicou nenhuma punição ao país. Acreditamos que a AEC e a CARICOM estão presas aos Estados Unidos da América, tanto comercialmente, quanto politicamente. A ausência de um posicionamento firme e de medidas condenatórias demonstra que os países centro-americanos e caribenhos ainda temem pela retaliação estadunidense.

Não só as iniciativas regionais se posicionaram contra o golpe hondurenho, mas também alguns países latino-americanos. Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente brasileiro, disse que o golpe era um precedente perigoso da volta dos regimes ditatoriais dos anos 1960 e não seria aceito pelo restante dos países latino-americanos. O Brasil pediu à ONU a elaboração de uma resolução que restabelecesse o regime democrático em Honduras e abandonou toda e qualquer forma de cooperação com aquele país. Lula também não reconheceu o novo governo, pois Manuel Zelaya fora eleito democraticamente pelo povo, através do voto, e, portanto, deveria retornar à presidência.

Fidel Castro, ex-presidente cubano, qualificou o golpe de Estado em Honduras como brutal e considerou que não podia haver negociação com os golpistas, sendo necessário derrubar o governo de Micheletti e, provisoriamente, outros militares, não ligados às oligarquias, ocuparem o cargo. Raúl Castro, presidente cubano, exprimiu o mesmo posicionamento, frisando o apoio dos EUA.

Cristina Kirchner, ex-presidenta argentina, julgou o golpe como um dos piores já acontecidos na América Latina, denominando-o como “barbárie” e demonstrando-se preocupada com a situação política em Honduras. A ex-presidenta defendeu o rápido retorno de Manuel Zelaya ao seu cargo e exigiu que a OEA se posicionasse contra, com base na carta democrática.

Em 22 de junho de 2012, por 39 votos a favor e quatro em contra, Fernando Lugo fora deposto da presidência do Paraguai. Com as justificativas de que Lugo estaria desempenhando mal suas funções e permitindo a violência no país, os parlamentares depuseram o ex- presidente, concedendo-lhe apenas duas horas para sua defesa. O golpe de Estado parlamentar no Paraguai fora a via utilizada pelo Partido Colorado (conservador) para voltar ao poder depois de ter o exercido por 60 anos. Após o golpe de 2012, o MERCOSUL, a UNASUL e a ALBA posicionaram-se e tomaram medidas. Também alguns presidentes sul-americanos

reuniram-se e expressaram seu apoio a Fernando Lugo.

O MERCOSUL aplicou em 29 de junho de 2012, ao término da 43ª Cúpula do Mercosul em Mendoza (Argentina), a “cláusula democrática” ao Paraguai, por considerar a destituição de Fernando Lugo uma ruptura na ordem democrática. A sanção aplicada foi de caráter político, compreendendo a impossibilidade de participação em eventos da iniciativa regional até a posse do novo presidente, em agosto de 2013. Os presidentes dos Estados Partes acordaram que a aplicação de sanções econômicas ao Paraguai iria contra o objetivo da iniciativa regional, que é o de melhorar a situação econômica dos países membros.

A ex-presidenta da Argentina, Cristina Kirchner, no ato da suspensão paraguaia, expressou que a vigência plena da democracia é condição indispensável para o processo de integração e que a intenção do Protocolo de Ushuaia é o restabelecimento da institucionalidade democrática nos países membros, de modo que não prejudique o MERCOSUL. O deputado Carlos Varela, representante da Frente Ampla do Uruguai, lembrou que houve concordância pela suspensão paraguaia entre todas as chancelarias dos países membros da iniciativa regional. Dilma Rousseff, ex-presidenta brasileira, defendeu que a posição adotada mostra a preocupação dos países com a democracia. Hugo Chávez, ex- presidente venezuelano, não reconheceu o governo paraguaio, considerando-o ilegítimo, e manifestou interesse em repensar as relações comerciais e políticas da Venezuela com o Paraguai.

A UNASUL reuniu-se, em caráter emergencial, com Lugo e com o vice-presidente, Federico Franco, nos dias 21 e 22 de junho de 2012, na capital paraguaia, onde participaram os presidentes e as representações diplomáticas da Argentina, do Brasil, do Chile, da Colômbia, do Equador, do Peru e da Venezuela. Alguns trechos do pronunciamento público da UNASUL, em apoio ao ex-presidente, exprimiam a “violação da ordem democrática”, a ausência de “respostas favoráveis às garantias processuais e democráticas” e a possibilidade de rompimento da ordem democrática com o processo de impeachment. Posteriormente ao encontro, apesar da manifestação clara da iniciativa regional sul-americana, as casas legislativas paraguaias continuaram com o impeachment, destituindo definitivamente Fernando Lugo. Diante desse quadro, a UNASUL, em 29 de junho de 2012, suspendeu temporariamente39 o Paraguai, tanto das cúpulas, quanto das relações comerciais.

A ALBA, através da articulação dos movimentos sociais, repudiou o impeachment de Lugo, frisando a tentativa de desestabilização do processo histórico de transformação do país.

A Aliança Bolivariana enfatizou que o parlamento paraguaio (composto majoritariamente pela direita) só emperra o regionalismo latino-americano e defende os interesses das oligarquias. Também a iniciativa regional chamou a atenção para o processo de remilitarização e de violação dos direitos democráticos dos povos americanos, por meio da tentativa de golpe na Venezuela, em 2002, do golpe em Honduras, em 2009 e das ações contra a revolução cidadã equatoriana, em 2010. Ao final da nota, a ALBA convocou os governos e as iniciativas regionais para se unirem na preservação do processo legítimo democrático e popular paraguaio.

Visualizamos no MERCOSUL, na UNASUL e na ALBA, através das falas de Cristina Kirchner, Dilma Rousseff, Carlos Varela e Hugo Chávez, a preocupação com os regimes latino-americanos eleitos por voto popular. Concordamos com o posicionamento e com as sanções políticas aplicadas ao Paraguai, entretanto questionamos a ausência de participação popular no processo. Com exceção da ALBA, cuja nota foi emitida pelos movimentos sociais, as cúpulas das iniciativas regionais foram realizadas a portas fechadas, restritas somente aos presidentes e seus auxiliares diplomáticos. Os povos latino-americanos não puderam opinar sobre esse assunto tão importante, demonstrando que o modelo de regime político defendido é representativo e liberal, não sendo expressão das classes populares dos países envolvidos.

O golpe de Estado brasileiro transcorreu em 31 de agosto de 2016, sendo arquitetado desde a proposição do processo de impeachment, impetrado em abril de 2016 pelos advogados Janaina Paschoal, Hélio Bicudo e Miguel Reale Júnior. Sob a alegação de crime de responsabilidade fiscal ou as chamadas “pedaladas fiscais”, Dilma Rousseff fora afastada do cargo por até 180 dias em 12 de maio de 2016. Em 31 de agosto de 2016, por 61 votos favoráveis e 20 em contra, Dilma perdeu seu mandato de presidenta, sendo substituída pelo seu vice Michel Temer.

O golpe representa, na realidade, uma manobra da elite conservadora do Brasil para voltar a ocupar o poder. Infelizmente, desde o primeiro mandato do ex-presidente Lula, em 2003, o Partido dos Trabalhadores (PT) praticava uma política conciliadora com a mesma direita conservadora, através de um conjunto de políticas neoliberais. De qualquer forma, o golpe de Estado brasileiro foi ilegítimo e totalmente anti-democrático, já que ignorou os 54 milhões de votos dos brasileiros em Dilma Rousseff. O projeto de Temer, intitulado “Uma ponte para o futuro”, atende aos interesses do Fundo Monetário Internacional (FMI), do Banco Mundial, das agências estadunidenses e dos neoliberais Tink Tanks.

Após o golpe, o Parlasul, a ALBA, a UNASUL, a CEPAL e a OEA manifestaram-se contra em notas públicas. O Parlasul declarou, por meio de seu presidente, o deputado

uruguaio Jorge Taiana, a preocupação com a situação política e exigiu respeito à vontade popular, à legalidade e ao Estado Democrático de Direito no Brasil. Taiana exprimiu a importância do ator regional brasileiro para a integração e dessa para o desenvolvimento social do Brasil.

A ALBA rejeitou veementemente o golpe de Estado parlamentar-judicial no Brasil, expressando a manobra da direita para afastar Dilma, que esconde por trás os interesses imperialistas dos grandes oligopólios e das transnacionais contra um governo que realizou imensos avanços sociais (segundo a Aliança Bolivariana). Em nota, os países da ALBA prestaram solidariedade à ex-presidenta Dilma, a Lula e ao povo que foi às ruas manifestar-se contra o governo golpista. A Bolívia, o Equador e a Nicarágua denunciaram na OEA o golpe, ressaltando que esse é reflexo das forças repressivas atuando na região, que têm ódio dos governos progressistas.

A UNASUL pronunciou-se antes e depois da deposição da ex-presidenta através de seu secretário-geral Ernesto Pizano. Antes do impeachment, Pizano declarou que a situação política brasileira é uma questão preocupante para toda a região latino-americana e que o Brasil estava na “UTI da UNASUL”. Pizano sustentou também o direito de defesa de Dilma e seu reconhecimento como a única chefa constitucional brasileira. Ainda, caso o processo continuasse e as plenas condições democráticas não fossem restabelecidas, o secretário-geral manifestou a vontade de consultar o restante das nações sul-americanas a respeito da aplicação da cláusula democrática. Depois da saída de Dilma Rousseff, entretanto, a iniciativa sul-americana, através de Pizano, divulgou somente um comunicado público demonstrando sua preocupação, as implicações regionais do golpe e o interesse em realizar uma reunião de chanceleres para discutir os acontecimentos brasileiros40.

A CEPAL, por intermédio de sua secretária executiva Alicia Bárcena, mostrou preocupação com o Brasil, reafirmando a importância da soberania popular exercida através dos governos eleitos democraticamente e seus avanços na diminuição da pobreza, da miséria e da desigualdade. Alicia ainda lembrou que o Brasil ajudou a fortalecer a integração regional, especialmente no âmbito da UNASUL e da CELAC, e a ofensiva midiática.

A OEA, por meio da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), antes do golpe, exigiu explicações formais do presidente interino Michel Temer, através de uma notificação encaminhada ao Palácio do Planalto. Após o golpe, a mesma comissão condenou veementemente tal fato, atentando para as irregularidades, arbitrariedades e ausência de

40 Até a defesa pública desta dissertação, a UNASUL não realizou nenhuma reunião para discutir as sanções e eventual aplicação da cláusula democrática ao Brasil.

garantias no processo de afastamento da presidenta Dilma Rousseff. Alguns senadores entraram com um pedido contra o governo ilegal de Temer, solicitando medidas cautelares. A OEA prometeu analisar o pedido, todavia até outubro de 2016 não se manifestou.

Além das iniciativas regionais, alguns países latino-americanos manifestaram-se contra o golpe. Recuperamos as declarações à imprensa da Bolívia, de Cuba, do Equador e da Venezuela.

A Bolívia, mediante seu presidente Evo Morales, declarou também a saída e o fechamento da embaixada boliviana no território brasileiro, defendendo a democracia e a paz em seu comunicado oficial.

Cuba, conforme a declaração de Raúl Castro, prestou solidariedade à Dilma, a Lula e ao povo brasileiro. O presidente cubano atentou para o artifício armado pela oligarquia, apoiada pela grande imprensa, e pelo imperialismo que tentaram banir o projeto político do PT, derrotar o governo legítimo e roubar o poder, já que esse não fora conquistado via eleições. Cuba rechaçou o golpe e opôs-se a qualquer tentativa de desmantelar as conquistas sociais alcançadas pelo PT para o Brasil.

Rafael Correa, presidente equatoriano, anunciou a retirada do embaixador do Equador no Brasil e avaliou o golpe como uma apologia ao abuso e à traição e um retorno aos governos ditatoriais latino-americanos, expressando solidariedade à Dilma, a Lula e ao povo brasileiro.

A Venezuela, representada através de seu presidente Nicolás Maduro, retirou seu embaixador do Brasil e decidiu congelar as relações diplomáticas e políticas por tempo indeterminado. Assim como os presidentes Evo Morales, Raúl Castro e Rafael Correa, Maduro defendeu o respeito à democracia e à legalidade nos países latino-americanos.

Como vimos, as forças políticas que compõem as arenas nacionais acabam enfraquecendo as iniciativas regionais latino-americanas. Um exemplo é o declínio do MERCOSUL com a não aplicação da cláusula democrática ao Brasil, após o golpe de agosto de 2016. Em 2012, os Estados Partes eram representados, em parte, por governos com o discurso de contestação ao neoliberalismo, como a Argentina com Cristina Kirchner, o Brasil com Luiz Inácio Lula da Silva, o Uruguai com José Mujica e a Venezuela com Hugo Chávez, que fizeram valer o Protocolo Ushuaia, suspendendo o Paraguai da iniciativa regional Mercosulina. Em 2016, entretanto, as forças políticas nacionais são de direita e demonstram a volta do neoliberalismo de forma acirrada na América do Sul. O não pronunciamento público do MERCOSUL frente ao golpe brasileiro é resultado da amizade de Mauricio Macri, presidente argentino, com Michel Temer, presidente ilegítimo do Brasil, do apoio de Horacio

Cartes, presidente paraguaio, e da omissão de Tabaré Vázquez, presidente uruguaio.

A UNASUL, assim como o Mercosul, também está enfraquecida, pois seu secretário- geral, Ernesto Pizano, não deu continuidade ao comunicado oficial que previa uma reunião de chanceleres para discutir os acontecimentos políticos e consultar os países sobre a aplicação da cláusula democrática ao Brasil. Sem nenhum presidente que se oponha à onda conservadora, não há nenhuma liderança na iniciativa regional sul-americana capaz de enfrentar os governos golpistas.

A CELAC também não se manifestou sobre o golpe brasileiro, retratando seu enfraquecimento após o falecimento de um de seus líderes, o ex-presidente Hugo Chávez, e demonstrando que a onda conservadora atinge toda a América Latina.

Além do posicionamento frente aos golpes de Estado e parlamentares, os discursos dos Executivos nacionais também indicam o enfraquecimento das iniciativas regionais latino- americanas. Dentre os diferentes pronunciamentos no ano de 2016, recuperamos o do presidente argentino Mauricio Macri no Fórum Empresarial da Aliança do Pacífico (AP), os dos cinco presidentes do MERCOSUL sobre a não-transmissão da presidência à Venezuela e o do ex-ministro de relações exteriores do Brasil José Serra em resposta ao artigo publicado no jornal Financial Times (FT). As declarações retratam bem as políticas externas adotadas e a visão dos países a respeito da integração regional.

No Fórum Empresarial da Aliança do Pacífico ocorrido em 30 de junho de 2016, no Chile, Mauricio Macri defendeu o relançamento do MERCOSUL no século XXI, através da convergência com a Aliança do Pacífico. Para o neoliberal argentino, a iniciativa sul- americana precisa sair do “congelamento” e a aproximação com a AP representa o melhor caminho para todos.

A Argentina reorientou sua política externa após a posse de Macri, tornando-se Estado observador da AP e assinando Tratados de Livre Comércio (TLCs) com parceiros extra- regionais, como a União Europeia e os Estados Unidos da América. Os objetivos da política externa argentina no governo de Macri compreendem a atração de capitais estrangeiros, a tomada de empréstimos e a abertura de novos mercados para exportadores (MORGENFELD, 2016).

Macri deseja que o MERCOSUL assine um acordo de livre comércio com a Aliança do Pacífico e que se torne uma iniciativa regional estritamente comercial, sem incluir em sua agenda temas sociais, culturais e trabalhistas, por exemplo. O presidente argentino representa os interesses da classe burguesa e caracteriza-se como um dos piores governos neoliberais da América Latina, que reprime manifestações, prende ilegalmente militantes sociais, demite

funcionários públicos e gera desemprego no país, empobrecendo os cidadãos argentinos. Liderando o projeto de reformulação do MERCOSUL, Macri é um dos principais protagonistas da crise da iniciativa sul-americana, que iniciou na não-transmissão da Presidência Pro Tempore à Venezuela. Em 29 de julho de 2016, o Uruguai anunciou o término de seu mandato e, conforme a rotação alfabética prevista no Tratado de Assunção, a transferência da presidência para a Venezuela. A República Bolivariana da Venezuela comunicou sua posse, entretanto, a Argentina, o Brasil e o Paraguai não aceitaram, alegando a vacância da presidência.

O presidente Mauricio Macri expressou desgosto com a presença venezuelana no