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O déficit democrático na integração regional latino-americana

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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS. Fabielly Bellagamba Ramos. O déficit democrático na Integração Regional Latino-americana. Natal 2017.

(2) 2. Fabielly Bellagamba Ramos. O déficit democrático na Integração Regional Latino-americana. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais, na linha de pesquisa de Estado, Governo e Sociedade, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito à obtenção do título de Mestra em Ciências Sociais. Orientador: Prof. Dr. Gabriel Eduardo Vitullo. Natal 2017.

(3) 3. Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes - CCHLA. Ramos, Fabielly Bellagamba. O déficit democrático na Integração Regional Latino-americana / Fabielly Bellagamba Ramos. - 2017. 160f.: il. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais. Orientador: Prof. Dr. Gabriel Eduardo Vitullo. 1. Iniciativas de integração regional latino-americana. 2. Democracia. 3. Hegemonia. I. Vitullo, Gabriel Eduardo. II. Título. RN/UF/BS-CCHLA. CDU 321.7.

(4) 4. “Desde os descobrimentos até nossos dias, tudo se transformou em capital europeu ou, mais tarde, norte-americano, e como tal se tem acumulado e se acumula até hoje nos mais distantes centros de poder” Eduardo Galeano.

(5) 5. AGRADECIMENTOS. Primeiramente, a Deus, por ter me dado muita luz em todos os momentos. À Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), por ter me oportunizado uma vaga em uma pós-graduação, à qual grande maioria da população brasileira não tem acesso, e uma vaga na residência universitária, sem a qual ficaria mais difícil residir em Natal. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pelos recursos financeiros, sem os quais não teria condições de ter feito o mestrado. Ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da UFRN (PPGCS-UFRN), principalmente aos funcionários e amigos Jefferson Lopes e Otânio Costa, que me ajudaram desde que cheguei em Natal, sempre solícitos com as documentações necessárias e pelas risadas e momentos de alegria compartilhados. Ao meu orientador e amigo, professor Doutor Gabriel Eduardo Vitullo, sem o qual esta pesquisa não teria existido. Agradeço imensamente pela paciência, pelos conselhos, pela dedicação e pelos riquíssimos ensinamentos nesses dois anos de mestrado; também, pelo companheirismo na militância política, dividindo os mesmos ideais que eu, e pela amizade sincera sua e de sua família. Ao meu mestre e amigo de muitos anos, professor Doutor Aragon Dasso Júnior, que, desde os tempos da UERGS, tem contribuído com a minha trajetória acadêmica, sempre acreditando em mim e me indicando os melhores caminhos a seguir. Aos professores Doutores Djamiro Acipreste, Fabricio da Silva, Fidel Flores, Haroldo de Carvalho e Jose Antonio Spineli Lindozo que deram valiosas contribuições para este estudo. Ao professor Doutor Homero Costa pela ajuda desde o início do mestrado e os ensinamentos na disciplina “Interpretações do Brasil”. Aos meus avós maternos, Francisca Sara e José Pedro Bellagamba, por terem sempre compreendido minha ausência nestes dois anos de mestrado e pela confiança em meu potencial, sempre orgulhando-se de mim. Aos meus pais e meus irmãos, em especial à minha mãe, Fabianne, que sempre acreditou em mim, me trazendo orgulho também por ter concluído sua especialização. À minha amiga gaúcha Vânia Alberton, pelas “mateadas” e maravilhosas cucas, por ter diminuído a saudade de casa, pela amizade, pelos conselhos e pelo exemplo de mulher, mãe e professora que representa em minha vida. Ao professor Doutor e amigo Robério Paulino, por ter me recebido com tanto carinho.

(6) 6. em sua casa e por me mostrar que, apesar de todas as adversidades, devemos lutar por uma sociedade justa e igual sempre. À minha amiga, companheira e colega da pós, Isabelle Ferreira, que sempre me aconselhou, me deu apoio, me fez companhia e dividiu comigo muitas cevas nesta vida, te agradeço de coração pela amizade. Aos meus amigos dos “Rio Grandes” do Norte e do Sul, Ana Danielle, Aurora, Danielle, João Paulino, Sara e Thalita, sem os quais não sei se teria conseguido suportar os obstáculos e a distância de casa. Meus sinceros agradecimentos pela companhia e amizade em todas as horas. Aos meus colegas da pós e amigos Ana, Ju, Lara, Rennata, Rolfran e Rômulo pelas contribuições, pelas festas, pelas conversas e pelos momentos de alegria compartilhados. Ao projeto de extensão América Latina no Cinema do Departamento de Ciências Sociais da UFRN, meu muito obrigada por ter sido colaboradora nestes dois anos. Aos movimentos sociais e aos militantes entrevistados que disponibilizaram um pouco de seu tempo na luta diária para estarem presentes nas entrevistas e enriquecerem este estudo. Aos representantes governamentais que pausaram suas atividades burocráticas e concederam as entrevistas. Aos funcionários da UFRN, do CCHLA, do RU e do Setor II, por sempre terem sido atenciosos quando precisei. Aos que não foram citados aqui mas, de alguma forma, contribuíram com minha aprendizagem e amadurecimento, sejam aqueles com os quais conversei nos corredores do CCHLA, do Setor I, na fila do RU e nos eventos acadêmicos. Por fim, e não menos importantes, aos cidadãos brasileiros que, graças ao seu trabalho sofrido, conseguiram pagar seus impostos, financiando esta pesquisa e me deram muita motivação para concluí-la..

(7) 7. LISTA DE SIGLAS. ACE– Acordo de Complementação Econômica AEC– Associação dos Estados do Caribe ALBA-TCP– Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América – Tratado de Comércio dos Povos ALCA– Área de Livre Comércio das Américas AP– Aliança do Pacífico APEC– Ásia-Pacific Economic Corporation AR– República Argentina ASGDRe– Asociación Sexo-Género Diversa Revolucionaria BID– Banco Interamericano de Desenvolvimento BRICS– Mecanismo Intra-regional do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul CAN– Comunidade Andina CELAC– Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos CEPAL– Comissão Econômica para a América Latina e Caribe CLATE– Confederación Latinoamericana y del Caribe de Trabajadores Estatales CMC– Conselho do Mercado Comum CMS– Conselho de Movimentos Sociais da ALBA CONIVE- Consejo Nacional Indio de Venezuela CR– Conselho de Representantes do Observatório da Democracia do Parlamento do MERCOSUL CSN– Comunidade Sul-americana de Nações CUT-RS– Central Única de Trabalhadores do Rio Grande do Sul DIP– Direito Internacional Público ELACES– Encontro Latino-americano e Caribenho de Educação Superior ESPT– Escola Superior Para Todos EUA– Estados Unidos da América FCES– Fórum Econômico Social FCCR– Foro Consultivo dos Municípios, Estados federados, Províncias e Departamentos do MERCOSUL FEUCR– Federação de Estudantes da Universidade da Costa Rica FMI– Fundo Monetário Internacional FMLN– Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional.

(8) 8. FNCEZ– Frente Nacional Campesino Ezequiel Zamora FNCSB– Frente Nacional Comunal “Simón Bolívar” FOCEM– Fundo de Convergência Estrutural e Fortalecimento Institucional do MERCOSUL FPC– Foro de Participação Cidadã da UNASUL FSM– Federação Sindical Mundial FT– Financial Times GEDAP-UFRGS– Grupo de Pesquisas em Estado, Direito e Administração Pública da Universidade Federal do Rio Grande do Sul GMC– Grupo do Mercado Comum GRAN– Grupo Andino IESP/UERJ– Instituto de Estudos Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro IREL/UnB– Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília MAS-IPSP– Movimiento al Socialismo- Instrumento Político para la Soberanía de los Pueblos MCCA– Mercado Comum Centro-Americano MERCOCIDADES– Rede Mercocidades/Mercado Comum das Cidades MERCOSUL– Mercado Comum do Sul MG– Estado de Minas Gerais MMM– Marcha Mundial de Mulheres MST– Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra ODPM– Observatório de Democracia do Parlamento do MERCOSUL OCLAE– Organización Continental Latinoamericana y Caribeña de Estudiantes OEA– Organização dos Estados Americanos OI– Organização Internacional OIT– Organização Internacional do Trabalho OMC– Organização Mundial do Comércio ONU– Organização das Nações Unidas PARLACEN– Parlamento Centro-americano PARLANDINO– Parlamento Andino PARLASUL– Parlamento do MERCOSUL PARLATINO– Parlamento Latino-americano PE– Parlamento Europeu PS– Partido Socialista do Chile PSUV– Partido Socialista Unido de Venezuela.

(9) 9. PT-PR– Partido dos Trabalhadores do Paraná RI– Relações Internacionais RN– Estado do Rio Grande do Norte RS– Estado do Rio Grande do Sul SAI– Sistema Andino de Integración SG– Secretaria de Governo da República Federativa do Brasil SM– Secretaria do MERCOSUL SMGES– Secretaria Municipal de Gestão de Porto Alegre SP– Estado de São Paulo TEC– Tarifa Externa Comum TIAR– Tratado Interamericano de Assistência Recíproca TLC– Tratado de Livre Comércio TLCAN– Tratado de Livre Comércio da América do Norte TPP– Transpacific Partnership UBM– União Brasileira de Mulheres UCR– Universidad de Costa Rica UE– União Europeia UFF– Universidade Federal Fluminense UFRGS– Universidade Federal do Rio Grande do Sul UNASUL– União de Nações Sul-americanas UNDECA– Unión Nacional de Empleados de la Caja y la Seguridad Social UNE– União Nacional dos Estudantes UNILA– Universidade Federal da Integração Latino-Americana UNIRIO– Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro UNIRITTER– Universidade Ritter dos Reis UPS– Unidade de Apoio à Participação Social do MERCOSUL.

(10) 10. RESUMO. As iniciativas de integração regional latino-americanas podem ser classificadas em duas categorias: o regionalismo hegemônico e o regionalismo contra-hegemônico. O regionalismo hegemônico leva essa terminologia devido à hegemonia dos Estados Unidos da América (EUA) nas iniciativas regionais. Algumas iniciativas hegemônicas são: a Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) e a Aliança do Pacífico (AP). O regionalismo contrahegemônico caracteriza-se pela criação de iniciativas com menor ou sem interferência estadunidense, tanto no âmbito político, quanto no âmbito econômico. As iniciativas contrahegemônicas são: a Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América (ALBA), a União de Nações Sul-americanas (UNASUL) e a Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (CELAC). O Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) é uma iniciativa regional híbrida, que não se adequa nem ao regionalismo hegemônico e nem ao contra-hegemônico. Dentro da ALBA, do MERCOSUL e da UNASUL foram criados, respectivamente, o Conselho de Movimentos Sociais da ALBA (CMS), a Unidade de Apoio à Participação Social do MERCOSUL (UPS) e o Foro de Participação Cidadã da UNASUL (FPC), para que a democracia dos povos seja consolidada e aprofundada. No âmbito da CELAC, em protesto pela ausência da participação cidadã, realizou-se o Encontro Social pela Pátria Grande. Além das três propostas “participativas”, analisam-se também os quatro parlamentos regionais latino-americanos: o Parlamento Andino (Parlandino), o Parlamento Centro-americano (Parlacen), o Parlamento do MERCOSUL (Parlasul) e o Parlamento Latino-americano (Parlatino). Apesar de surgirem com tal finalidade, pairam dúvidas se as propostas e os parlamentos são democráticos, indagando-se: qual o espaço da democracia na integração regional latino-americana?. Este trabalho visa compreender as iniciativas regionais latinoamericanas, no que tange à democracia. Os objetivos específicos são verificar o andamento das ações dentro das propostas CMS, UPS e FPC (cúpulas, fóruns, oficinas) e dos parlamentos regionais e conectar as temáticas de estudo da democracia e do regionalismo latino-americano. O método escolhido é o hipotético-dedutivo e, quanto à abordagem, a pesquisa é qualitativa. As técnicas consistem em uma pesquisa bibliográfica e documental. Ao fim deste trabalho, comprovou-se a hipótese sugerida de que as propostas “participativas” e os parlamentos regionais não contribuem, de modo significativo, com a democratização da integração regional latino-americana. Palavras-chave: Iniciativas de integração regional latino-americana; Hegemonia; Democracia..

(11) 11. ABSTRACT. The initiatives of latin-american regional integration can be classified in two categories: the hegemonic regionalism and the counter-hegemonic regionalism. The hegemonic regionalism takes this terminology due to the hegemony of the United States of America (USA) in the regional initiatives. Some hegemonic initiatives are: the Americas Free Trade Area (Afta) and the Pacific Alliance (PA). The counter-hegemonic regionalism is characterized for the creation of initiatives with smaller or without US interference, both in the political scope, as much in the economical scope. The initiatives counter-hegemonics are: the Bolivarian Alliance for the Peoples of Our America (ALBA), the Union of South American Nations (UNASUL) and the Community of Latin-American States and Caribbeans (CELAC). The Southern Common Market (MERCOSUR) is a hybrid regional initiative, which is not suited to either hegemonic or counter-hegemonic regionalism. Inside the ALBA, the MERCOSUR and the UNASUL were created, respectively, the Council of Social Movements of ALBA (CMS), the Unit to Support the Social Participation of MERCOSUR (UPS) and the Forum of Citizen Participation of UNASUL (FPC) so that the democracy of the people to be consolidated and deepened. In the context of the CELAC, in protest of the lack of citizen participation, it held the Social Gathering for the Great Homeland. In addition to the proposals "participatory", also looks up the four Latin American regional parliaments: the Andean Parliament, the Central American Parliament (Parlacen), the MERCOSUR Parliament (Parlasur) and the Latin American Parliament (Parlatino). In spite of appearing with such a finality, there are doubts whether the proposals and the parliaments are democratic, inquiring: which space of democracy in Latin American regional integration?. This work aims to understand the processes of latin-american regional Integration, as regards the democracy. The specific objectives are to check the progress of the actions within the CMS, UPS and the FPC proposals (summits, forums, workshops) and the regional parliaments to connect the thematics study of the democracy and of the Latin-American regionalism. The method chosen is the hypothetico-deductive and, in the approach, the research is qualitative. The techniques consist of a bibliographical and documentary research. At the end of the work, the hypothesis suggested that "participatory" proposals and regional parliaments do not contribute significantly to the democratization of latin american regional integration. Keywords: Initiatives of latin-american regional integration; Hegemony; Democracy..

(12) 12. RESUMEN Las iniciativas de integración regional latinoamericanas se pueden clasificar en dos categorías: el regionalismo hegemónico y el regionalismo contrahegemónico. El regionalismo hegemónico toma esta terminología debido a la hegemonía de los Estados Unidos de América (EE.UU.) en las iniciativas regionales. Algunas iniciativas hegemónicas son: el Área de Libre Comercio de las Américas (ALCA) y la Alianza del Pacífico (AP). El regionalismo contrahegemónico se caracteriza por la creación de iniciativas con menos o sin injerencia de Estados Unidos, tanto en la esfera política, como en el campo económico. Las iniciativas contrahegemónicas son: la Alianza Bolivariana para los Pueblos de Nuestra América (ALBA), la Unión de Naciones Suramericanas (UNASUR) y la Comunidad de Estados Latinoamericanos y Caribeños (CELAC). El Mercado Común del Sur (MERCOSUR) es una iniciativa híbrida regional, que no se encuadra ni en el regionalismo hegemónico ni en el contrahegemónico. Dentro del ALBA, MERCOSUR y UNASUR fueron creados, respectivamente, el Consejo de Movimientos Sociales del ALBA (CMS), la Unidad de Apoyo a la Participación Social de MERCOSUR (UPS) y el Foro de Participación Ciudadana de UNASUR (FPC) para que la democracia de los pueblos se consolidara y se viera profundizada. En el ámbito de la CELAC, en protesta por la falta de participación ciudadana, ocurrió el Encuentro Social por la Patria Grande. Además de las propuestas "participativas", también se analizan los cuatro parlamentos regionales de América Latina: el Parlamento Andino, el Parlamento Centroamericano (Parlacen), el Parlamento del MERCOSUR (Parlasur) y el Parlamento Latinoamericano (Parlatino). A pesar de haber surgido para este fin, existen dudas sobre si las propuestas y los parlamentos son democráticos, preguntándose: ¿cuál es el espacio de la democracia en la integración regional latinoamericana?. Este estudio tiene como objetivo entender los procesos de integración regional de América Latina, con respecto a la democracia. Los objetivos específicos son comprobar el progreso de las acciones dentro de las propuestas de la CMS, UPS y FCP (cumbres, foros, talleres) y de los parlamentos regionales y conectar las temáticas de estudio de la democracia y del regionalismo latinoamericano. El método elegido es el hipotético-deductivo y, en el enfoque, la investigación es cualitativa. Las técnicas consisten en una investigación bibliográfica y documental. En el final del trabajo, se confirmó la hipótesis de que las propuestas “participativas” y los parlamentos regionales no contribuyen, de modo significativo, con la democratización de la integración regional de América Latina. Palabras clave: Iniciativas de integración regional latinoamericana; Hegemonía; Democracia..

(13) 13. SUMÁRIO INTRODUÇÃO..............................................................................................................…. 15 2. O REGIONALISMO HEGEMÔNICO E CONTRA-HEGEMÔNICO LATINOAMERICANO: DEFINIÇÕES E PERSPECTIVAS.........................................………... 20 2.1 DELIMITAÇÕES TEÓRICAS E TERMINOLÓGICAS DO REGIONALISMO LATINO-AMERICANO....................................................................................................... 22 2.2 O REGIONALISMO HEGEMÔNICO LATINO-AMERICANO…………………...... 24 2.3 O REGIONALISMO CONTRA-HEGEMÔNICO LATINO-AMERICANO..……….. 34 2.4 O MERCADO COMUM DO SUL: UM CASO HÍBRIDO REGIONAL...................... 44 2.5 PERSPECTIVAS FUTURAS PARA A INTEGRAÇÃO REGIONAL LATINO- 51 AMERICANA....................................................................................................................... 3. A DEMOCRACIA COMO SINÔNIMO DE GOVERNO POPULAR E DE 53 CONSTRUÇÃO COLETIVA DAS MASSAS................................................................... 3.1 A APROPRIAÇÃO LIBERAL DA DEMOCRACIA..................................................... 54 3.2 AS TEORIAS PARTICIPATIVAS E A CONTINUIDADE DO MODELO 60 REPRESENTATIVO-LIBERAL........................................................................................... 3.3 DEMOCRACIA: SINÔNIMO DE GOVERNO POPULAR.......................................... 63 4. AS PROPOSTAS “PARTICIPATIVAS” REGIONAIS LATINO-AMERICANAS.. 69 4.1 O CONSELHO DE MOVIMENTOS SOCIAIS DA ALBA (CMS)............................... 69 4.2 A UNIDADE DE APOIO À PARTICIPAÇÃO SOCIAL DO MERCOSUL (UPS)....... 73 4.3 O FORO DE PARTICIPAÇÃO CIDADÃ DA UNASUL (FPC).…………...…….…... 75 4.4 O ENCONTRO SOCIAL PELA PÁTRIA GRANDE……..............................….......... 77 5. OS PARLAMENTOS REGIONAIS LATINO-AMERICANOS................................ 80 5.1 O PARLAMENTO ANDINO (PARLANDINO) ………………………………........... 80 5.2 O PARLAMENTO CENTRO-AMERICANO (PARLACEN)…...…...…..................... 83 5.3 O PARLAMENTO DO MERCOSUL (PARLASUL)…................................................. 85 5.4 O PARLAMENTO LATINO-AMERICANO (PARLATINO)....….......…........………. 89 6. A DEMOCRACIA E A INTEGRAÇÃO REGIONAL LATINO-AMERICANA: 93 OS OLHARES DOS MOVIMENTOS SOCIAIS, DOS ACADÊMICOS E DOS REPRESENTANTES GOVERNAMENTAIS.................................................................. 6.1 A FALTA DE ACOMPANHAMENTO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS DE SUAS 95 DEMANDAS........................................................................................................................ 6.2 AS DIVERGÊNCIAS ENTRE OS REPRESENTANTES GOVERNAMENTAIS........ 99 6.3 O CONSENSO ACADÊMICO SOBRE O DÉFICIT DEMOCRÁTICO DA 104 INTEGRAÇÃO REGIONAL LATINO-AMERICANA....................................................... 6.4 ATIVIDADES VARIADAS………………………………………………………….... 108 7. O DÉFICIT DEMOCRÁTICO NA INTEGRAÇÃO REGIONAL LATINOAMERICANA: REFLEXÕES CRÍTICAS …………………………………………….. 113 7.1 O REGIONALISMO E O CENÁRIO POLÍTICO LATINO-AMERICANO: 114 ENCONTRO CONTROVERSO........................................................................................... 7.2 O DÉFICIT DEMOCRÁTICO DOS PARLAMENTOS REGIONAIS LATINO- 126 AMERICANOS......................................................................................................................

(14) 14. 7.3 O DÉFICIT DEMOCRÁTICO DAS PROPOSTAS “PARTICIPATIVAS” LATINO- 133 AMERICANAS..................................................................................................................... CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................. 141 REFERÊNCIAS.............................................................................................................…. 144 ANEXOS.............................................................................................................................. 156.

(15) 15. INTRODUÇÃO. A América Latina, historicamente, constituiu-se como um território permeado de conflitos, motivados pelo sentimento de domínio de nações sobre os povos. Desde o colonialismo ao neoliberalismo, as nações europeias e, posteriormente, a estadunidense tentaram conquistar a região, através de diferentes táticas. O domínio era o caminho necessário para o alcance de objetivos, sendo o principal o poderio econômico mundial. Mas, o povo latino-americano reagiu ao domínio externo e, através de lideranças como a do inca Tupac Amaru, passando pelo venezuelano Simón Bolívar, lutou para ser livre. O território colonizado pelos povos europeus foi aos poucos se transformando em colônias mercantis, crescendo as diferenças sociais e econômicas entre as regiões geográficas do continente americano. Com a reflexão do povo sobre a exploração e o nascente sentimento de soberania, por meio de processos revolucionários e independentistas, as ex-colônias transformaram-se em Estados nacionais. Apesar da formação dos Estados-nações, a dependência continuara e demonstrara que era necessária a união da população latina para romper com o capitalismo que, rapidamente, de país em país ia gerando mais desigualdades, acentuando os problemas sociais e acirrando a exploração dos trabalhadores. A união das nações latino-americanas, como no sonho de Bolívar, nunca chegou a se concretizar. Um país, com uma Constituição e um governo único latino-americano, não foi o desejo de muitos governantes dos países, de ditadores a neoliberais. Outro fator que dificultou qualquer unificação é a permanência colonial de algumas nações, como a Guiana Francesa que até hoje é propriedade da França. A integração regional caracterizada como a união de países, com objetivos comuns para a finalidade de bem-estar de sua população, é um caminho viável para a aproximação dos povos latino-americanos, frente à crise capitalista internacional. Uma discussão, levantada por alguns pesquisadores, é que a integração latino-americana nunca fora conquistada, pois sempre houvera o desejo de hegemonia de um país sobre outro, em detrimento do sentimento de solidariedade e da percepção do real sentido da cooperação. As iniciativas de integração regional da América Latina podem ser classificadas em dois tipos: o regionalismo hegemônico e o regionalismo contra-hegemônico. O regionalismo hegemônico leva essa terminologia devido à hegemonia dos Estados Unidos da América.

(16) 16. (EUA) como o principal ator ou criador e/ou motivador e/ou mantenedor das iniciativas regionais. Os EUA representaram e representam os interesses de sua burguesia nacional, seja pela instalação de empresas transnacionais estadunidenses nas nações latino-americanas ou seja pela expansão dos capitais financeiros internacionais. As iniciativas regionais do fim do século XX e início do século XXI fazem parte do conjunto de táticas da estratégia maior de hegemonia no continente americano, sendo algumas delas: a Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) e a Aliança do Pacífico (AP). O regionalismo contra-hegemônico tem como um de seus marcos significativos a Cúpula de Mar del Plata (2005), na cidade homônima argentina. Esta classificação tem como característica o surgimento de iniciativas regionais com menor ou sem interferência estadunidense, tanto no âmbito político quanto no âmbito econômico. As iniciativas contrahegemônicas compreendem a Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América (ALBA), a União de Nações Sul-americanas (UNASUL) e a Comunidade de Estados Latinoamericanos e Caribenhos (CELAC). O Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) é uma exceção aos dois tipos de regionalismo criados. A iniciativa sul-americana não pode ser incluída no tipo hegemônico, pois nunca fora uma tática estadunidense de conquista da hegemonia na América Latina. Por outro lado também, o MERCOSUL não pode ser considerado contra-hegemônico, em razão de ter sido criado em meio à ascensão do projeto neoliberal na América, mais precisamente no ano de 1991, e distanciar-se do resto das iniciativas, no que tange a seus propósitos. Dentro da estrutura institucional da ALBA, do MERCOSUL e da UNASUL foram criados, respectivamente, o Conselho de Movimentos Sociais da ALBA (CMS), a Unidade de Apoio à Participação Social do MERCOSUL (UPS) e o Foro de Participação Cidadã da UNASUL (FCP), para que a democracia dos povos na integração regional latino-americana seja consolidada e aprofundada. Em protesto contra a ausência de espaços participativos na CELAC, as federações sindicais e de estudantes, os movimentos indígenas e de trabalhadores e os demais os movimentos sociais da América Latina reuniram-se em janeiro de 2015, na Costa Rica, para o evento que resolveram chamar de Encontro Social pela Pátria Grande. O Encontro é também objeto de análise desta pesquisa, sendo considerado igualmente uma iniciativa “participativa” na integração regional latino-americana. Expandindo a análise para além das quatro propostas “participativas”, esta pesquisa pretende também explorar os quatro parlamentos regionais latino-americanos: o Parlamento Andino (Parlandino), o Parlamento Centro-americano (Parlacen), o Parlamento do.

(17) 17. MERCOSUL (Parlasul) e o Parlamento Latino-americano (Parlatino). Apesar de surgirem com tal finalidade, pairam dúvidas sobre se as iniciativas são realmente democráticas. Sendo assim, se deve indagar: qual o espaço da democracia na integração regional latino-americana? A hipótese básica que guia a pesquisa é: as propostas “participativas” e os parlamentos regionais não contribuem, de modo significativo, para a democratização da integração regional latino-americana. Examinando a hipótese descrita, percebe-se que as propostas persistem na tentativa de que os povos, através dos movimentos e das organizações sociais, participem das atividades por elas criadas e almejam continuá-las. Os parlamentos regionais, por sua vez, também não conseguem contribuir com o aprofundamento da democracia, resumindo-se em representações parlamentares dos países. Conclui-se, previamente, que o discurso democrático das propostas e dos parlamentos é retórico, não se efetivando em suas agendas1. Em razão da confirmação ou refutação da hipótese básica apresentada, optou-se pela utilização das aspas na terminologia – participativas – até o fim desta dissertação. Caso a comprovação empírica da pesquisa e as análises críticas da autora apontem pela refutação, as aspas serão retiradas na publicação final, em respeito às iniciativas regionais. Este trabalho se justifica pela ausência, presente na Ciência Política Contemporânea, nas Relações Internacionais, no Direito, nas Ciências Sociais, na Economia Internacional e nos demais campos de estudo correlatos, de pesquisas que associem a temática da integração regional à teoria democrática. Especificando, ainda, a ausência de publicações, entendemos que os trabalhos existentes possuem uma limitação teórico-conceitual no que tange à questão democrática, dado que partem de abordagens “liberais” ou “elitistas”, em detrimento da noção de democracia socialista, abordada detalhadamente no capítulo 3. Outra justificativa desta produção é a inovação na integração regional latinoamericana, face às poucas monografias, dissertações e teses acadêmicas que problematizam as iniciativas regionais que chamamos de contra-hegemônicas. Constatamos, no levantamento bibliográfico, que a maioria das pesquisas centra-se nas iniciativas hegemônicas, discutindo o MERCOSUL e a Aliança do Pacífico e os acordos transpacíficos e debruçando-se somente sobre as relações comerciais intra-regionais. Majoritariamente, a Ciência Política brasileira. 1. A agenda das iniciativas regionais ou a agenda regional compreende os projetos, os programas, os planos, os acordos, as reuniões, os documentos de Direito Internacional Público (DIP) e as demais ações realizadas em cada mandato da presidência pró-tempore da iniciativa regional..

(18) 18. tem direcionado os estudos em Relações Internacionais para a região sul-americana e, mais especificamente, para as relações do Brasil com gigantes econômicos mundiais, como os Estados Unidos, a China, a Rússia, o Japão, entre outros. A revisão bibliográfica desta produção compreenderá as iniciativas de integração regional latino-americana e as teorias democráticas. Os dois tipos de iniciativas latinoamericanas – regionalismo hegemônico e contra-hegemônico – serão apresentados e discutidos. Posteriormente, as abordagens liberais sobre a democracia serão recuperadas e será realizada uma reflexão sobre a democracia socialista. Com relação aos objetivos, este trabalho visa compreender as iniciativas de integração regional latino-americana no que tange à democracia. Os objetivos específicos são verificar o andamento das atividades das propostas “participativas” (cúpulas, fóruns, oficinas e demais encontros) e dos parlamentos regionais e conectar as temáticas de estudo da democracia e do regionalismo latino-americano para as pesquisas científicas contemporâneas. Os objetos de pesquisa compreendem as quatro propostas “participativas” – CMS, UPS, FPC e o Encontro Social pela Pátria Grande – e os quatro parlamentos regionais latinoamericanos – o Parlandino, o Parlacen, o Parlasul e o Parlatino. O método de pesquisa é o hipotético-dedutivo, pois há a formulação de uma hipótese central – as propostas “participativas” e os parlamentos regionais latino-americanos não contribuem, de modo significativo, para a democratização da integração regional latinoamericana – com base no problema de pesquisa. Em seguida, se testa a hipótese central, com a finalidade de comprová-la ou refutá-la. Neste estudo, a hipótese, segundo as inferências realizadas, é comprovada. Do ponto de vista da abordagem, esta pesquisa é qualitativa, dado que analisamos a temática da democracia na integração regional latino-americana indutivamente, sem dados numéricos, mas sim, tentando entendê-la, explicá-la e problematizá-la. As técnicas de pesquisa adotadas são a bibliográfica e a documental. A pesquisa bibliográfica compreende a utilização de fontes de escrita sobre a democracia e sobre a integração regional latino-americana já analisadas por outros autores, como livros, artigos, periódicos, dissertações, teses e internet. A pesquisa documental envolve os materiais científicos que ainda não foram estudados, tais como artigos, periódicos, notícias, documentos oficiais internacionais, entre outros. Neste primeiro capítulo introdutório buscou-se apresentar esta produção acadêmica de modo geral, especificando a temática, a problemática, as hipóteses, as justificativas, a revisão bibliográfica, os objetivos gerais e específicos e a metodologia com as técnicas de pesquisa..

(19) 19. No capítulo 2, será discutida a integração regional latino-americana, com base em uma nova classificação – regionalismo hegemônico e contra-hegemônico – adotando-se como critério a hegemonia estadunidense. Cada classificação possui um conjunto de iniciativas regionais que demonstram a aproximação ou o afastamento com o critério. No capítulo 3, persegue-se o ideal de recuperar a democracia como sinônimo de governo popular ou construção coletiva das massas, abandonando a teoria dominante – elitista e liberal – das produções acadêmicas e dos centros educacionais mundiais. A democracia participativa e popular prevê que as classes sociais proletárias e populares tenham voz e decidam nos processos políticos, em vez de somente participarem em eleições periódicas, delimitadas nas Constituições pelo direito do sufrágio universal. No capítulo 4, serão apresentadas, com base nos sítios institucionais, as quatro propostas “participativas” regionais latino-americanas – o CMS, a UPS, o FPC e o Encontro Social pela Pátria Grande. Não serão, ainda, debatidas as informações disponibilizadas nas fontes de consulta, contudo serão detalhados os dados de criação, os objetivos, as funções, as atividades realizadas e demais informações julgadas relevantes ao tema de pesquisa. No capítulo 5, serão apresentados os quatro parlamentos regionais latino-americanos – o Parlandino, o Parlacen o Parlasul e o Parlatino – também com base nas informações disponibilizadas nas fontes de consulta dos sítios institucionais. Assim como no capítulo 4, ainda, não serão discutidas as informações disponibilizadas pelos parlamentos. No capítulo 6, serão analisadas e debatidas as entrevistas com militantes dos movimentos sociais, acadêmicos e representantes diplomáticos e governamentais e também as informações coletadas nos sítios eletrônicos, de modo a fornecerem comprovações empíricas para a defesa ou a refutação da hipótese básica. Com a soma das técnicas de pesquisa adotadas surgirá uma nova base de informações sobre as ações promovidas pelas propostas “participativas” e uma nova visão crítica da atuação dos movimentos sociais no sistema capitalista. No capítulo 7, serão analisadas criticamente as propostas “participativas” e os parlamentos regionais latino-americanos, com base nas informações coletadas nos sítios eletrônicos e no referencial teórico dos capítulos 2 e 3 e, através da análise crítica, será comprovada ou refutada a hipótese da pesquisa. Espera-se que este trabalho contribua com as produções acadêmicas existentes nas diversas áreas do conhecimento envolvidas, dada a importância e o ineditismo de estudar a democracia associada à integração regional latino-americana e, especificamente, às propostas “participativas” pertencentes às iniciativas regionais..

(20) 20. 2. O REGIONALISMO HEGEMÔNICO E CONTRA-HEGEMÔNICO LATINOAMERICANO: DEFINIÇÕES E PERSPECTIVAS. Muitos pesquisadores latino-americanos e de outras regiões do planeta têm dedicado suas produções científicas ao continente americano e, mais ainda, à região da América Latina, buscando apresentar novas experiências de integração regional e de cooperação entre os países. Todavia, as correntes dominantes nas Relações Internacionais, na Ciência Política, na Economia, nas Ciências Sociais e nos demais campos de estudos relacionados têm voltado seu olhar somente para a questão econômica, e mais especificamente para o comércio internacional. Uma rápida pesquisa nas bases de publicações brasileiras e estrangeiras indica que: a) sempre a relação comercial permeia as análises e; b) os projetos sociais, educacionais, artísticos e culturais são esquecidos. Além desse vazio, se verifica que o papel que a mídia corporativa desempenha é péssimo para o continente americano, pois colabora com a ausência do conhecimento da temática de integração regional e, mais ainda, da própria América Latina, em todos seus aspectos. Como prova dessa ausência sobre a região em que moramos, basta perguntar a qualquer pessoa se ela sabe o nome do presidente do Equador ou se sabe onde fica a Nicarágua, para perceber que ela nunca teve acesso a essas informações. A mídia prefere noticiar as relações regionais econômicas, como a relação comercial do Brasil e da China, do que apresentar os projetos sociais, como a Escola Superior Para Todos (ESPT) criada no âmbito da ALBA. Frente às problemáticas descritas, se espera que, de modo geral, esta dissertação possa oferecer uma contribuição no campo das pesquisas científicas da América Latina, possibilitando que suas iniciativas integracionistas sejam vistas pelos leitores com outro enfoque, trazendo sempre análises críticas às discussões. Este capítulo tem dois objetivos: a) apresentar a abordagem marxista de Relações Internacionais neogramsciana, em atendimento às necessidades desta pesquisa e; b) mostrar ao leitor uma nova classificação de regionalismo latino-americano – hegemônico e contrahegemônico – e discuti-la no contexto político e social atual. Antes de iniciarmos o debate sobre a integração regional na América Latina, é relevante discutirmos rapidamente sobre as correntes teóricas que permeiam o campo de Relações Internacionais (RI) e, particularmente, a temática da integração regional. No campo de estudo de RI, a integração regional é analisada, pela maioria dos pesquisadores do Brasil e.

(21) 21. do exterior, utilizando-se as teorias realistas e liberais. As abordagens realistas e liberais surgiram no começo do século XX e, com a constituição da União Europeia (UE), passaram a ser difundidas rapidamente na academia, pois a experiência europeia era a melhor forma empírica de comprovação dos postulados teóricos. A corrente realista tem como expoente principal Morgenthau e sua atualização, neorrealista, tem como autor emblemático Waltz. Já a abordagem liberal tem como principal teórico Mitrany, pela variante funcionalista, e Keohane e Nye, na linha neoliberal ou neofuncionalista. Dentre todas as abordagens citadas, nenhuma relaciona as Relações Internacionais à integração regional e às relações existentes na sociedade, principalmente as classes dominantes. Os Estados são atores autônomos que se relacionam com outros Estados e possuem a capacidade de agência, ou seja, a capacidade de integrarem-se. O Estado é representado através dos governos, que operam nas relações entre as classes sociais e que, nas abordagens predominantes de RI, são esquecidas, não sendo criticadas (KAN, 2013). Com a integração regional não é diferente, pois os acordos, tratados e projetos são firmados pelos governos e, majoritariamente, as classes populares são esquecidas pela academia. Face ao exposto, esta dissertação pretende utilizar uma abordagem diferente das tradicionais de integração regional: a neogramsciana. De tradição marxista, a corrente neogramsciana é inspirada em Antonio Gramsci – filósofo e político italiano – e tem como interlocutor Robert Cox. A teoria neogramsciana desenvolve críticas às escolas realista e neorrealista, citadas anteriormente, e entende que tanto as iniciativas de integração regional, quanto as Relações Internacionais devem ser pensadas como resultados das relações de força entre as classes sociais. As duas categorias – bloco histórico e hegemonia – criadas por Gramsci para entender os Estados Nacionais são ampliadas para o entendimento dos fenômenos internacionais, pois as relações sociais de produção desenvolvem-se em escala global. Robert Cox explicita que: A produção de bens e serviços que dá origem tanto à riqueza da sociedade como a um fundamento para que o estado conte com a capacidade de mobilizar o poder no fundo de sua política externa, muda mediante uma relação de poder entre aqueles que controlam e aqueles que executam as tarefas dentro da produção. O conflito político e o proceder do estado preservam ou provocam mudanças nestas relações de poder em torno da produção (…) (COX, 1988, p. 157 apud KAN, 2013, p. 3, tradução nossa).. Entendendo que as relações de produção capitalistas são também relações de poder, pode-se pensar que os governos, representações dos Estados, possuem em seu território.

(22) 22. relações de produção capitalistas, que definem a inserção global e demonstram a forma de suas classes dominantes projetarem-se externamente, tanto para conquistarem seus interesses setoriais diretos no mercado, quanto para manterem uma estratégia de médio ou longo prazo de vinculação exterior (KAN, 2013). O conceito de hegemonia em Gramsci, inspirado em Lenin, consiste na dominação e direção ideológica, política e cultural de uma classe social sobre outra, como o proletariado e suas frações de classes sobre a burguesia, com o intuito de tornar-se classe dirigente e dominante. O proletariado, em seus escritos, deveria formar um sistema de alianças entre as classes, mobilizado contra o capitalismo e o Estado burguês e na construção e manutenção de um Estado Socialista (BUONICORE, 2003). O conceito de Estado, adotado nesta produção, deve ser entendido como a forma política de existência da relação do capital (HOLLOWAY; PICCIOTTO, 1994 apud KAN, 2013). Complementando o conceito, Virgínia Fontes (2010) também lembra que o Estado no capitalismo defende condições que permitam a expansão do capital, tornando-o legítimo e legal, como uma forma de ser, educando com uma sociabilidade adequada e com a utilização da violência aberta ou discreta. Compreendida a categoria de hegemonia, pode-se entender que, assim como nos Estados Nacionais, no cenário internacional a luta hegemônica também ocorre, motivada pelos interesses de classe, principalmente os da burguesia transnacional. Se no cenário internacional as classes sociais lutam pela hegemonia, essas são transmitidas à integração regional, através do Estado, que é o principal palco de manutenção e reprodução das relações sociais capitalistas. Com base neste pensamento, entende-se que a classe dominante ou detentora do capital utiliza-se do Estado para a assinatura de tratados e acordos que a beneficiem aumentando seus lucros, através de suas empresas transnacionais, e expandindo a relação de exploração da divisão internacional do trabalho. Os tratados e acordos são instrumentos de Direito Internacional Público (DIP), firmados pelos presidentes, chefes de Estado, diplomatas e ministros de relações exteriores, que concedem personalidade jurídica às iniciativas de integração regional.. 2.1 DELIMITAÇÕES TEÓRICAS E TERMINOLÓGICAS DO REGIONALISMO LATINOAMERICANO. A integração regional pode ser compreendida, de forma sintética, como o “agrupamento voluntário de vários países soberanos situados, habitualmente, em uma mesma.

(23) 23. região ou continente” (VACCHINO, 1981, p. 9). Complementando o conceito, DASSO JÚNIOR (2000) lembra que a integração gera vínculos entre os Estados que se aproximam. Iris Laredo entende a integração através da adoção de políticas comuns entre as nações, devido a interesses e problemas comuns, visando objetivos também comuns e configurando-se como uma nova forma de adição de poderes crescentemente adotada e aceita no mundo (LAREDO, 1994). Andrés Malamud (2014) descreve a integração regional como o “processo de partilha voluntária de soberania entre Estados contíguos” (MALAMUD, 2014, p.12). A partilha voluntária ocorre por que os Estados são mais eficientes atuando conjuntamente do que sozinhos na resolução de problemas. Durante toda esta produção, utilizaremos a terminologia iniciativas regionais como sinônimo de processos, blocos, mecanismos e organizações de integração regional, pois necessitamos de uma terminologia única para a temática, mas que, ao mesmo tempo, abranja múltiplos significados. Para o melhor entendimento do regionalismo latino-americano2, não será eleito o recorte analítico de fases, etapas ou ondas de integração, mas sim uma nova classificação: regionalismo hegemônico e regionalismo contra-hegemônico3. A nova classificação justificase pela multiplicidade de produções acadêmicas cujos recortes analíticos pouco ou nada enfatizam um critério relevante à integração regional: a hegemonia dos Estados Unidos da América. O regionalismo hegemônico é assim denominado face à hegemonia dos Estados Unidos da América (EUA) como o principal ator criador e/ou motivador e/ou mantenedor das iniciativas regionais. A hegemonia estadunidense pode ser vista sob diversos instrumentos de dominação, seja política, ideológica, cultural, territorial e, principalmente, comercial na América Latina. Retomando Gramsci (2003) e complementando com Virgínia Fontes (2010), os Estados Unidos da América representaram e representam os interesses de sua burguesia nacional que sempre objetivou a acumulação de capital, seja pela instalação de empresas transnacionais estadunidenses nos países latino-americanos ou seja pela expansão dos capitais financeiros internacionais. Não podemos pensar que os EUA defendem somente os interesses da burguesia, pois existem outros interesses estatais como, por exemplo, a instalação de bases militares, que garante o controle territorial latino-americano e expressa o desejo histórico de governar todo o continente americano. 2 3. Adotamos regionalismo como sinônimo de integração regional. A classificação tem como inspiração a teoria marxista, na linha neogramsciana..

(24) 24. O regionalismo contra-hegemônico tem como principal característica a ausência da hegemonia estadunidense nas iniciativas regionais. Um dos marcos significativos do regionalismo contra-hegemônico fora a Cúpula de Mar del Plata (2005) onde os presidentes sul-americanos Hugo Chávez, Néstor Kirchner e Luiz Inácio Lula da Silva rechaçaram a ALCA. No quadro abaixo, ilustramos cada iniciativa (com o seu período histórico) e sua respectiva classificação regional – hegemônico e contra-hegemônico – dividindo-a conforme o critério da presença ou da ausência da hegemonia estadunidense. Figura 1: Quadro-resumo de classificação das iniciativas regionais latino-americanas. Classificação Período. Hegemônico. Contra-hegemônico. 1990- 1999. ALCA. 2000- 2014. ALCA. ALBA. AP. UNASUL CELAC. 2015- 2020. AP. ALBA UNASUL CELAC. Fonte: elaborado pela autora (2016). Assentados no quadro-resumo acima, a seguir apresentaremos, conforme uma linha cronológica, as duas categorias de regionalismo latino-americano com suas respectivas iniciativas. Não podemos retomar todas as experiências no âmbito da integração regional, face ao seu número extenso, entretanto, escolheremos um conjunto de iniciativas que refletem como as relações a nível regional foram conduzidas na América Latina. A título informativo, não custa lembrar que, neste primeiro momento, ainda não desejamos comprovar ou refutar a hipótese de pesquisa, reservando tal feito a um segundo momento. Sendo assim, tentaremos retomar os regionalismos e, conjuntamente, criticá-los.. 2.2 O REGIONALISMO HEGEMÔNICO LATINO-AMERICANO. Um dos primeiros antecedentes de desejo expansionista dos Estados Unidos no continente americano foi em 1823 com a “Doutrina Monroe”, após não terem assinado uma declaração conjunta com a Inglaterra de não-interferência nos processos de independência das.

(25) 25. nações latino-americanas. A Doutrina, que teve como frase emblemática “América para os americanos”, tinha o apoio da “Santa Aliança”4 e expressava a oposição a uma possível recolonização europeia no continente americano. Colocando em prática a ideologia da “Doutrina Monroe” e iniciando seu desejo de conquista territorial, no período de 1855-1856 a 1898, os Estados Unidos começaram a se expandir pela América Central e após a expansão, o objetivo seguinte era a conquista da hegemonia na América do Sul, que até então era dominada pela Inglaterra com os tratados comerciais. Diferentemente da expansão territorial na América do Norte e Central, na América do Sul os EUA adotaram como tática hegemônica a realização de acordos comerciais, cujo objetivo profundo era a unificação de uma área de livre comércio (SOUZA, 2012). Outra forma de exercer a hegemonia, além dos acordos comerciais, fora as intervenções militares estadunidenses. As intervenções militares começaram a partir de 1870, quando o capitalismo nos EUA entrou em uma nova fase – a industrialização pesada – e necessitou de matérias-primas e novos mercados. Na fase capitalista de industrialização pesada, surgiu o capital financeiro que era o somatório dos monopólios industriais com os monopólios bancários. Empreendendo as táticas de hegemonia comercial, em 1887 os Estados Unidos propuseram formar uma união aduaneira com o Brasil e dois anos depois, em 1889, na Primeira Conferência Pan-americana sugeriram uma comunidade comercial americana. A Argentina, o Brasil e o Chile não aceitaram a comunidade comercial, devido aos interesses ingleses e à defesa da soberania nacional. Prosseguindo com as táticas hegemônicas na América Latina, no período da Segunda Guerra Mundial, precisamente em janeiro de 1942, os Estados Unidos sediaram a Conferência Inter-americana de Ministros das Relações Exteriores, na busca do apoio total da América contra o Eixo Nazi-fascista (Alemanha, Itália e Japão). A Argentina posicionou-se com neutralidade na Conferência, enfurecendo os EUA que passou a prejudicá-la de todas as formas possíveis, principalmente nos acordos comerciais iniciais firmados com o Brasil (SOUZA, 2012). Apesar da vitória na Segunda Guerra Mundial e da consolidação como a maior economia mundial, os EUA, representante dos interesses de sua burguesia, encontravam dificuldades à fixação das empresas transnacionais no território latino-americano nos anos 4. A Santa Aliança era composta pela Áustria-Hungria, Prússia e Rússia e não se manifestava contra a expansão territorial estadunidense (SOUZA, 2012)..

(26) 26. subsequentes ao final da Guerra. Os países mais desenvolvidos da América Latina passavam por um processo de industrialização, em razão da demanda interna por importações e do forte sentimento nacionalista. Perante a industrialização latino-americana, os Estados Unidos investiram na forte propaganda ideológica anti-comunista e nas iniciativas políticas de aproximação com os países da região. A tática de aproximação, através da ideologia, também pode ser considerada uma tentativa de conquista da hegemonia, já que Gramsci (2003) expressava que essa poderia ser difundida como meio cultural e político. Além da propaganda ideológica, os EUA aprovaram, em 1947, o Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR), que propunha a unificação da proteção contra ataques armados a qualquer país do continente americano. Complementando o TIAR, em 25 de fevereiro de 1948, fora fundada a Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (CEPAL) pela Organização das Nações Unidas (ONU), para tentar impulsionar o desenvolvimento dos países latino-americanos. A Comissão era formada por vários estudiosos, entre eles Celso Furtado, e concluiu que a saída para o desenvolvimento social estava na economia, através de um processo de industrialização (SOUZA, 2012). A CEPAL acabou sendo domesticada pelo neoliberalismo nos anos 1990, formulando projetos que atendessem os interesses dos Estados Unidos e não mais propondo alternativas de desenvolvimento autônomo e soberano da América Latina. Em 30 de abril do mesmo ano de 1948, fora criada a primeira Organização Internacional (OI) no mundo, a Organização dos Estados Americanos (OEA), na cidade de Bogotá (Colômbia), para a substituição das conferências americanas realizadas e para a submissão dos governos regionais às transnacionais estadunidenses. Posteriormente à aprovação do TIAR, à criação da OEA e da CEPAL, a tática fora a instalação de transnacionais no território latino-americano a partir de 1950. A industrialização estadunidense estava enfraquecendo-se, ante o Japão por exemplo, e precisava modernizar-se. A modernização das transnacionais deu-se pela utilização das próprias matrizes produtivas latino-americanas (implementadas durante o projeto da CEPAL), transformando-as em empresas filiais das corporações estadunidenses (SOUZA, 2012). Aliados à expansão de suas transnacionais, os Estados Unidos persistiram em deter o avanço do socialismo, sendo criado o programa “Aliança para o Progresso” durante o governo de John Kennedy. A “Aliança para o Progresso” fora criada em 17 de agosto de 1960, na cidade uruguaia de Punta del Este e seu objetivo era aportar recursos financeiros para o combate das desigualdades econômicas e sociais presentes na região latino-americana. A.

(27) 27. iniciativa durou três anos, pois em 1963, com o assassinato de Kennedy, seu sucessor Lyndon Johnson, não deu continuidade. Nos anos seguintes, houve um declínio do crescimento da economia estadunidense comparada às maiores economias mundiais. A Alemanha teve um crescimento em sua economia de 145% e o Japão de 289% de 1960 a 1976, percentuais altos se comparados com o 57% dos EUA no mesmo período (SOUZA, 2001). Por obra do declínio econômico estadunidense, fora assinado o Acordo de Cartagena, em 1969, que criou o Pacto Andino. Os países que assinaram o Acordo eram a Bolívia, o Chile, a Colômbia e o Peru. A Venezuela ingressou em 1973 e o Equador completou seu processo de integração em 1993. O objetivo era a formação de União Aduaneira no período de 10 anos. José Luís Fiori (2011) recorda outra tática hegemônica estadunidense nos anos 1960: o incentivo aos governos militares nos países latino-americanos. Segundo Fiori, os Estados Unidos estavam com medo de um possível avanço do socialismo, iniciado com a Revolução Cubana, e para conterem tal avanço incentivaram financeiramente e politicamente os golpes de Estado e ascensão de regimes militares latino-americanos. O primeiro golpe de Estado fora em 1973, no Chile, com a derrubada do ex-presidente Salvador Allende e posse do general Augusto Pinochet. Em seguida, no ano de 1975, houve a criação do Sistema Econômico LatinoAmericano (SELA), pela iniciativa do presidente do México Luis Echeverría Álvarez. O Sistema não possuía personalidade jurídica de DIP, porém congregava os países latinoamericanos no sentido de coordenar suas ações de qualquer natureza integracionista (SOUZA, 2012). Tanto o Pacto Andino quanto o SELA fora alternativas criadas sem a interferência direta dos Estados Unidos, entretanto as economias dos países do resto do continente ainda estavam presas àquele país, através das transnacionais que continuavam a ocupar o espaço das indústrias nacionais. Apresentadas algumas táticas, como a expansão territorial, as conferências Interamericanas, a assinatura do TIAR, a criação da OEA e o incentivo aos golpes militares na América Latina, recuperam-se as políticas estadunidenses para o enfrentamento de suas crises internas, advindas das relações capitalistas presentes em seu território. As duas políticas estadunidenses – que influenciaram a trajetória do regionalismo hegemônico – foram a Reaganomics (1980) e o Consenso de Washington (1989). As políticas acirraram ainda mais a dependência econômica e a dívida externa dos países latino-.

(28) 28. americanos, acentuando sua submissão às políticas do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI)5. A Reagnomics fora implementada nos Estados Unidos durante toda a década de 1980, inicialmente pelo presidente Ronald Reagan. As medidas da Reagnomics compreendiam a pressão pela redução na precificação das matérias-primas importadas e o aumento da taxa de juros das dívidas externas. O aumento da taxa de juros das dívidas externas dos países latinoamericanos resultou no aumento das despesas externas e na diminuição das receitas cambiais, já que os produtos importados foram barateados. A saída para os países prejudicados foi a aceitação do receituário neoliberal do FMI e a acumulação de mais compromissos com as instituições financeiras internacionais, já que necessitavam pagar suas dívidas externas (SOUZA, 2012). O Consenso de Washington foi criado em 1989, durante o governo de George H.W. Bush, porém sua aplicação deu-se em 1990 e permaneceu até o início da década de 2000, nos governos de Bill Clinton e George W. Bush, respectivamente. O Consenso guiou, durante um longo período, a cultura, a educação, a política, a economia e as diversas áreas dos países latino-americanos. O objetivo imediato do governo dos EUA com o Consenso de Washington era, de um lado, encontrar mercados para os produtos e capitais excedentes das transnacionais estadunidenses e, de outro, suprir-se de força de trabalho e de matérias-primas baratas a fim de melhorar sua capacidade de competir no mercado internacional (SOUZA, 2009, p.125 apud SOUZA, 2012, p.112).. As medidas propostas pelo grupo de estudiosos, empresários, representantes do FMI, do Banco Mundial e dos grandes bancos internacionais eram o fim da desestatização e das barreiras comerciais nos países. Por trás de todas as recomendações do Consenso de Washington residia a ideologia neoliberal. Para o neoliberalismo, doutrina econômica, política e social de Friedrich Von Hayek, Milton Friedman, Michael Polanyi e Karl Popper, o Estado deve ser reduzido ou minimizado, de modo que sua existência seja bem clara: ajudar as empresas a lucrarem mais (ANDERSON, 1995). Qualquer atuação estatal que não atenda aos interesses do capital, não deve ser seguida pelos governantes, no que tange principalmente à democracia. Na década de 1980, apesar do Reaganomics e do Consenso de Washington, foram criadas mais algumas iniciativas regionais, como a Associação Latino-Americana de Integração (ALADI), o Grupo do Rio e o Consenso de Cartagena e retomou-se a relação entre 5. José Luís Fiori (2011) lembra que o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional foram instituições multilaterais administradas pelos Estados Unidos da América para consolidarem seu projeto de hegemonia no mundo após a Segunda Guerra Mundial..

(29) 29. a Argentina e o Brasil (SOUZA, 2012). A Associação Latino-Americana de Integração (ALADI) adveio da Associação LatinoAmericana de Livre Comércio (ALALC), criada em 18 de fevereiro de 1960, pelo Tratado de Montevidéu, e composta pela Argentina, o Brasil, o Chile, o México, o Paraguai, o Peru e o Uruguai. O objetivo da ALALC era a ampliação do comércio intra-regional, através da criação de um mercado comum entre os países latino-americanos. A ALADI possuía os mesmos signatários da ALALC, porém tinha dois novos objetivos: a) formar uma zona de preferências tarifárias regionais e; b) ampliar os acordos sub-regionais comerciais (SOUZA, 2012). O Grupo do Rio teve como antecedentes o Grupo de Apoio à Contadora, criado em 1983, cujos membros eram a Argentina, o Brasil, a Colômbia, o México, o Panamá, o Uruguai e a Venezuela. Em 1986, com a ampliação dos objetivos do conjunto de países, o Grupo de Apoio à Contadora passou a se chamar Grupo do Rio. Os objetivos do Grupo do Rio eram a pacificação da América Central e o fortalecimento latino-americano, através da integração econômica. Em 1984, a Argentina, o Brasil, a Bolívia, o Chile, a Colômbia, o Equador, o México, o Peru, a República Dominicana, o Uruguai e a Venezuela uniram-se para encontrar saídas para o pagamento das dívidas externas, formando o Consenso de Cartagena (SOUZA, 2012). A ALADI, o Grupo do Rio e o Consenso de Cartagena não podem ser desconsiderados como iniciativas regionais autônomas dos países latino-americanos, todavia se deve ter em mente que imperaram as relações capitalistas, com o fortalecimento majoritário da integração econômica e, por conseguinte, das transnacionais que ocupam o território latino-americano. Chama-se a atenção para o forte papel dos organismos internacionais que ditaram as regras dos projetos regionais firmados no período. Dentre as organizações, destaca-se o Banco Interamericano para o Desenvolvimento (BID), que financiou e assessorou projetos tanto para empresas, quanto para órgãos públicos. Outros organismos multilaterais foram o FMI e o Banco Mundial que contribuíram para o endividamento dos países, pois seus empréstimos acarretavam juros altíssimos e crescentes e ocasionavam a dependência estatal a essas instituições. Outra iniciativa regional hegemônica fora a ALCA, que além de ser uma tentativa de unificação comercial americana dos EUA, também se configurou como a expressão mais nítida das relações capitalistas na América Latina. A Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) fora proposta na ocasião da I Cúpula das Américas, realizada na cidade de Miami (EUA), em 9 de dezembro de 1994, pelo.

(30) 30. então presidente estadunidense Bill Clinton. Participaram da I Cúpula das Américas os 34 países do continente americano, com exceção de Cuba, cujas relações diplomáticas e comerciais com os EUA ainda estavam rompidas e só seriam reestabelecidas em 2015. O calendário da ALCA previa que até dezembro de 2005 a proposta deveria ser aceita, acordada e entrar em vigência, caso contrário expiraria. Na realidade, a ALCA dava continuidade ao projeto de unificação de uma área de livre comércio americana, proposta em 1989, por George H.W. Bush, chamada de Iniciativa para las Américas (IPA) (SOUZA, 2012). Alguns autores como Baéz (2003) e Batista Júnior (2005) acreditam que a ALCA representou a volta da “Doutrina Monroe”, já Souza (2012) lembra que fora mais uma tática estadunidense para o enfrentamento de sua crise interna e Louis (2015) vê a ALCA como uma forma de aplicação do neoliberalismo na América Latina. Paulo Roberto de Almeida, ao contrário dos outros autores, pontua que a ALCA é “mais do que mero exercício de rebaixamento tarifário e de concessões recíprocas de ordem não-tarifária, abrindo campos como os de serviços, investimentos, propriedade intelectual, concorrência e compras” (ALMEIDA, 2000, p. 20). Edgardo Lander (2004) crê que a ALCA fora um tentativa estadunidense de estabelecer de uma vez por todas a prioridade absoluta dos direitos do capital sobre os direitos das pessoas. Louis (2015) cita o exemplo da indústria farmacêutica que, após a adesão à ALCA, começaria a produzir medicamentos com patentes estadunidenses. Nas compras governamentais, percebe-se que a tática hegemônica estadunidense perpassava o âmbito dos Tratados de Livre Comércio (TLCs) e adentrava no Estado, particularmente na gestão pública, determinando regras para as compras públicas dos países americanos. O cenário da ALCA começou a mudar a partir de 1998, ano em que Hugo Chávez fora eleito presidente da Venezuela, acompanhado pela eleição no Brasil de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002 e pela de Néstor Kirchner na Argentina em 2003. O governo venezuelano de Chávez, em 1999, inicia um período que Souza (2012) e Louis (2015) denominam de “governos progressistas”. Já Martínez, Ramazini Júnior e Serbin (2012) e Gaudichaud (2015), falam em “governos pós-neoliberais” e, por último, Kan (2013) remete a governos que atuaram na contramão do neoliberalismo. A partir de 1999, começou a substituição de governos chamados “de direita” ou neoliberais, que mantinham boas relações com os EUA e priorizavam políticas regionais comerciais, para governos “de esquerda” ou de.

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