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O debate como prática social em Português, contexto, interlocução

CAPÍTULO 5 – A PRESENÇA DO GÊNERO DEBATE NO LIVRO

5.3. O debate como prática social em Português, contexto, interlocução

sentido

A coleção Português, contexto, interlocução e sentido (col.3-PCIS), que se organiza em três grandes divisões internas – “Literatura”, “Gramática” e “Produção de textos” –, apresenta sugestões para realização de debates apenas na parte de Literatura e na de Produção de texto.

O Manual do Professor dessa coleção declara que adota “uma perspectiva discursiva a partir da qual [discutem] os aspectos relacionados à escrita e à leitura” (ABAURRE, ABAURRE e PONTARA, 2013a. p. 25 do MP). Tem, portanto, uma afiliação teórica com a teoria dialógica do discurso.

Como explica Bakhtin, os gêneros definem-se como “tipos relativamente estáveis”, portanto reconhecíveis pelo usuário da língua. Socialmente constituídos, os gêneros pressupõem a interação por meio da linguagem, o que explicita a sua dimensão discursiva.

(ABAURRE, ABAURRE e PONTARA, 2013a. p. 26 do MP)

Tal afiliação pode ser observada pelo título dos capítulos da parte de produção textual: notícia, reportagem, resenha, crônica, carta aberta, artigo de opinião, editorial, dentre outros.

Apesar de o MP defender que “adotar a dimensão discursiva da linguagem (...) não significará tentar estabelecer uma tipologia exaustiva dos inúmeros gêneros orais e escritos que circulam socialmente” (ABAURRE, ABAURRE e PONTARA, 2013a. p. 26 do MP), há uma prevalência na seleção de gêneros ligados à escritura, visto que gêneros orais não são explorados na íntegra dos capítulos nos três volumes da coleção.

A presença do gênero debate na col.3-PCIS aparece diluída em algumas seções ou boxes no interior de capítulos. Isso acontece de forma explícita para o aluno em dois momentos: na seção “Jogo de ideias” (vol. 1, p. 154) e no boxe “Produção oral” (vol.1, p. 378). Há, ainda, quatro vezes na coleção em que a indicação para a realização de um debate aparece para o professor, nas orientações que acompanham as atividades.

Tabela 26: Presença do gênero “debate” em seções e boxes – Col.3-PCIS

Divisão da

obra Vol.1 Vol.2 Vol.3

Literatura

Debate oral (p.154) Seção “Jogo de ideias” (Livro do aluno e do professor)

Debate (p.69) Seção “Interações” (Orientação do livro do professor) --- Gramática --- --- --- Produção de texto Debate (p. 328)

Boxe “De olho no filme” (Orientação do livro do professor)

Debate (p. 378) Boxe “Produção oral”

(Livro do aluno e do professor) Debate (p. 378)

Boxe “De olho no filme” (Orientação do livro do professor) Debate (p.396) Seção “Conexões: encontro de linguagens” (Orientação do livro do professor) ---

(ABAURRE, ABAURRE e PONTARA, 2013d)

As atividades de debate aparecem com maior frequência no volume 1 e estão ausentes no volume 3 da obra.

Considerando, como as OCEM, que “é na interação em diferentes situações sociais (...) que o sujeito aprende e apreende as formas de funcionamento da língua e os modos de manifestação da linguagem” (BRASIL, 2006, p. 24), a quantidade reduzida de atividades com o gênero debate aponta para um silenciamento da voz do aluno, visto que as oportunidades de sociabilização ficam limitadas.

No vol.1, no interior da seção “Jogo de ideias”, este gênero está ligado a um tema da literatura, tratando de diferentes visões do processo de colonização.

Nesta unidade, você viu que os textos produzidos entre os séculos XVI e XVIII revelam diferentes visões sobre o processo de colonização e seus efeitos sobre o nosso país. De um lado, identificamos o olhar do europeu nos relatos dos viajantes, que descrevem a necessidade de “salvar” os nativos que aqui encontraram. De outro, nos versos de Gregório de Matos e dos inconfidentes árcades, observamos a crítica à ganância e à corrupção dos poderosos e o desejo de conquistar a independência do Brasil.

Para compreender melhor essas diferentes visões e como elas podem ser percebidas na produção literária desse período, propomos que você e seus colegas organizem um debate.

(ABAURRE, ABAURRE e PONTARA, 2013a. p. 154. Grifo do autor)

Em seguida, a seção apresenta duas etapas para a realização do debate: preparação e organização.

Na primeira etapa – preparação – o foco está voltado para a divisão da sala em quatro grupos. Dois deles devem compor a plateia, e têm a função de fazer perguntas aos debatedores. Os outros dois grupos devem escolher dois debatedores (um por grupo) e preparar a argumentação. Um grupo deve defender a favor da perspectiva do “colonizador” (vantagens da colonização) e outro do “colonizado” (desvantagens da colonização).

A fim de ajudar na elaboração da argumentação, são dados aos alunos alguns direcionamentos: “selecionar fatos históricos, informações e trechos das manifestações literárias do período que sustentem o ponto de vista que desejam defender” (ABAURRE, ABAURRE e PONTARA, 2013a. p. 154), e refletir sobre questões como:

 Quais as intenções dos colonizadores europeus em relação à terra descoberta?

 Que imagem os colonizadores faziam do povo colonizado e de si mesmos? Que imagem os colonizados faziam do europeu? Por quê?

 Quais foram as vantagens e as desvantagens do processo de colonização para o nosso país? Por quê?

(ABAURRE, ABAURRE e PONTARA, 2013a. p. 154)

A proposta conduz o aluno a fazer uso do discurso alheio, tomando-o como palavra internamente persuasiva (BAKHTIN, 1930-36/2015). Ao entrar em contato com essas leituras, o aluno tem a possibilidade de ampliar seu conhecimento sobre

o assunto, o que dará base para uma tomada de posição no momento da defesa de seu ponto de vista.

Na segunda etapa – organização – as orientações dividem-se em três partes: (1) sorteio do mediador, definição de suas funções e do tempo destinado a cada argumentação; (2) esclarecimento sobre o que cada debatedor deve fazer, como apresentar sua defesa e argumentos, respeitar o tempo e fazer uma pergunta ao outro debatedor para refutar sua posição; (3) orientação da participação da plateia, que deve escolher dois representantes por grupo para questionar os debatedores.

No que tange ao enfoque temático, observamos que ele gira em torno de uma questão histórico-literária e os argumentos deverão ser construídos a partir da seleção dos textos estudados e de pesquisas que comprovem o que se pretende defender. A discussão é feita, portanto, na relação entre vantagens ou desvantagens do colonizador no processo de colonização.

A proposta, apesar de suscitar um debate de opinião por apresentar uma questão polêmica, fica limitada a um exercício escolar e distante dos temas de interesse juvenil.

A atividade funciona como estratégia de uso do gênero debate como prática social, neste caso, servindo como base para a reflexão de aspectos literários estudados pelos alunos. Embora haja alguns direcionamentos para a produção, o gênero não é tomado como objeto de ensino.

Seguindo essa mesma finalidade de abordagem – gênero como prática social – a segunda proposta de debate do volume 1 é apresentada. Ela aparece no boxe “Produção oral”, dentro de uma seção que visa à produção de um anúncio. A orientação para essa produção está dividida em três partes: (1) pesquisa e análise de dados sobre o bullying e o ciberbullying; (2) elaboração; (3) reescrita do texto. O boxe “Produção oral” integra a parte 1.