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Projeto Gramática do Português culto falado no Brasil

CAPÍTULO 1 ORALIDADE: HISTÓRIA, CONSTITUIÇÃO E ENSINO

1.4. Oralidade sob a perspectiva gramatical

1.4.1. Projeto Gramática do Português culto falado no Brasil

Em 1987, um novo projeto viria a fortalecer os estudos sobre oralidade: o Projeto de Gramática do Português Falado, apresentadono II Encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação em Letras e Linguística – ANPOLL – pelo Prof. Ataliba Teixeira de Castilho e desenvolvido por pesquisadores de universidades públicas e privadas de todo o Brasil. Tal projeto tinha como objetivo “a preparação de uma gramática referencial da variante culta do português falado no Brasil” (SILVA, 1996, p. 89).

A proposição dessa obra apontava para um novo lugar para a língua falada, tratada não mais como o lugar do erro, como foi em outrora, mas tomando seu devido lugar dentro dos estudos linguísticos: uma modalidade com características próprias, apesar de não excludente. A coletânea advinda desse projeto figura na tabela a seguir:

Tabela 2 – Gramática do Português Falado – obras publicadas15

Ano Vol. Subtítulo Organizador(es)

1990 I A ordem Ataliba Teixeira de Castilho 1992 II Níveis de análise linguística Rodolfo Ilari

1993 III As abordagens Ataliba Teixeira de Castilho 1996 IV Estudos descritivos Ataliba Teixeira de Castilho

Margarida Basílio

1996 V Convergências Mary Kato

1996 VI Desenvolvimentos IngedoreGrunfeld Villaça Koch 1999 VII Novos estudos Maria Helena de Moura Neves 2003 VIII Novos estudos descritivos Maria Bernardete Marques Abaurre

Ângela Cecília S. Rodrigues Coord. Geral: Ataliba Teixeira de Castilho – Editora da Unicamp

Fonte: Elaborado pela autora.

Segundo Silva (1996), o corpus utilizado como análise para o desenvolvimento dessa gramática foi o material do NURC, o que coloca em evidência os desdobramentos do Projeto coordenado pelo Prof. Dr. Dino Preti.

Castilho (2010), ao apontar as motivações para a produção dessa gramática, afirma que no interior das discussões advindas dos estudos do Projeto Nurc observou uma lacuna no que se refere aos estudos propriamente gramaticais que envolviam a língua falada.

O Projeto NURC, como todos sabem, introduziu a pesquisa sobre a oralidade na Linguística brasileira, formulando perguntas muito instigantes sobre um objeto que parecia tão banal, a conversação, dotando ademais a comunidade de um extenso corpus, que esse projeto explorou em seus aspectos maiormente pragmáticos.

Mas a pesquisa gramatical tinha ficado de fora naquele projeto. Os instrumentos previstos pelo NURC para esse fim se mostraram insuficientes: Castilho (1990). Surgiu assim, a partir de outras perguntas, o Projeto de Gramática do Português Falado (PGPF), que atuou por vinte anos e produziu oito volumes de ensaios, muitas dissertações e teses.

(CASTILHO, 2010, p. 120)

A coletânea coordenada por Castilho surgiu, assim, com o objetivo de organizar uma gramática referencial dos falares ligados à variante de prestígio utilizada pelos falantes de Língua Portuguesa no Brasil. O intuito da obra era descrever e analisar o português falado em diversos níveis: fonológico, morfológico, sintático e textual. Pela natureza dinâmica que o estudo exigia, optou-se por não delimitar um único recorte teórico, assim, a análise pôde ser feita com a contribuição de diversas abordagens do conhecimento científico e teve como corpus uma seleção de entrevistas divulgadas pelo Projeto Nurc. (CASTILHO, 2014)

A publicação da Gramática do Português Falado – desenvolvida entre as décadas de 80 e 90 – favoreceu o surgimento de outras obras com objetivos similares: o estudo das características e especificidades da língua em sua modalidade oral.

Uma delas – uma continuação do estudo anterior – foi a Gramática do Português Culto Falado no Brasil, obra com coordenação geral do Prof. Dr. Ataliba Teixeira de Castilho e contribuição de pesquisadores de todo o país.

Tabela 3 – Gramática do Português Culto Falado no Brasil – 1ª fase16

Ano Vol. Subtítulo Organizador(es)

2006 I Construção do texto falado Clélia Cândida Abreu SpinardiJubran IngedoreGrunfeld Villaça Koch 2009 II Classes de palavras e processos de

construção Rodolfo Ilari Maria Helena Moura Neves 2008 III A construção da sentença Mary Kato

Mílton do Nascimento Inédito IV Construção morfológica da palavra Ângela C. Rodrigues

Ieda Maria Alves

Inédito V Construção fonológica da palavra Maria Bernadete Marques Abaurre Coord. Geral: Ataliba Teixeira de Castilho – 1ªedição – Editora da Unicamp

Fonte: Elaborado pela autora.

SegundoJubran (2006a), a elaboração desta nova série orientou-se por uma perspectiva textual-interativa, a partir da qual a língua era entendida, em primeira instância, em seu caráter comunicativo. Assim, o aspecto verbal estudado era encarado dentro dessas condições de interação e não como sistema isolado. Como decorrência disso, o objeto de estudo passou a ser o texto, fruto da interação social.

A autora coloca ainda que o direcionamento teórico assumido na coletânea passa por três áreas: Pragmática, Linguística Textual e Análise da Conversação. Esclarece, no entanto, a que fase dessas ciências a obra se afilia.

A dimensão comunicativo-interacional, por exemplo, tem como base a Pragmática que observa o contexto da comunicação como uma marca dentro do texto e não como objeto isolado, que apenas margeia o enunciado. Afirma, assim, que “as condições comunicativas que sustentam a ação verbal inscrevem-se na superfície textual, de modo que se observam marcas do processamento formulativo- interacional na materialidade linguística do texto.” (JUBRAN, 2006, p. 29).

No que tange à Linguística Textual,a autora esclarece que a obra não se afilia a esta corrente em sua primeira fase, quando apenas se fazia uma aplicação da linguística frasal ao texto, mas às fases posteriores, em que o texto passa a existir apenas em situação real de comunicação, na interação social.

Para realizar uma descrição textual-interativa da língua falada, a coletânea usa os pressupostos da Análise da Conversação, não focando em aspectos

etnometodológicos – cujas bases não dariam condição para uma leitura linguístico- textual do corpus –, mas em “situações diversificadas de intercurso verbal”, sem restringir o estudo a “situações altamente informais de interlocução”. (op. cit., p. 30). O texto, assim, é analisado sempre considerando a situação em que foi produzido.

O que é tomado como “gramatical” no plano do texto, segundo a concepção dos pesquisadores que engendraram a obra, refere-se às regularidades na construção do texto falado dentro de um contexto dado.

O caráter sistemático de determinados procedimentos de formulação textual é dado pela recorrência desses procedimentos em contextos definidos, pelas marcas formais que os caracterizam e pelo preenchimento de funções que lhes são específicas. Esta é a concepção do grupo sobre o que vem a ser gramatical no plano do texto.

(JUBRAN, 2006, p. 31)

Segundo Castilho (inédito), a organização da Gramática do Português Culto Falado no Brasil foi repensada, pois os pesquisadores envolvidos entenderam que cinco volumes não seriam suficientes para abarcar todos os aspectos que mereciam atenção. A obra foi, então, revista e repensada em sete volumes, todas a serem publicadas pela Editora Contexto e não mais pela Editora da Unicamp.

Tabela 4 – Gramática do Português Culto Falado no Brasil – 2ª fase17

Ano Vol. Subtítulo Organizador(es)

2015 I Construção do texto falado Clélia Cândida A. SpinardiJubran 2015 II A construção da sentença Mary Kato

Mílton do Nascimento 2014 III Palavras de classe aberta Rodolfo Ilari

2015 IV Palavras de classe fechada Rodolfo Ilari

2016 V A construção das orações complexas Maria Helena Moura Neves 2015 VI Construção morfológica da palavra Ângela C. Rodrigues

Ieda Maria Alves

2013 VII Construção fonológica da palavra Maria Bernadete Marques Abaurre Coord. Geral: Ataliba Teixeira de Castilho – 2ªedição – Editora Contexto

Fonte: Elaborado pela autora. De forma geral, nessa nova edição, o antigo vol. II, que tratava de “Classes de palavras e processos de construção”, foi desmembrado e ampliado, gerando o que, na 2ª edição tornaram-se os volumes 3, 4 e 5, respectivamente: “Palavras de

classe aberta”, “Palavras de classe fechada” e “Construções hipotáticas”. Os demais capítulos mantêm os mesmos títulos da edição publicada pela Editora da Unicamp.

Evidenciamos, a seguir, uma comparação entre essas duas fases na elaboração da coleção Gramática do Português Culto Falado no Brasil para deixar clara a relação entre as obras publicadas pela editora da Unicamp (1ª fase) e editora Contexto (2ª fase).

Tabela 5 – Comparação das fases de publicação da coleção “Gramática do Português Culto Falado no Brasil”

1ª fase (Editora da Unicamp)

2ª fase (Editora Contexto)

Ano Vol. Título / Organizador Vol. Título / Organizador Ano 2006 I Construção do texto falado

* Clélia C. A. SpinardiJubran * IngedoreGrunfeld Villaça Koch

I Construção do texto falado

* Clélia C. A SpinardiJubran 2015

2009 II Classes de palavras e processos de construção * Rodolfo Ilari

* Maria Helena de M.Neves

III Palavras de classe aberta

* Rodolfo Ilari 2014

IV Palavras de classe fechada

* Rodolfo Ilari 2015

V A construção das orações complexas * Maria Helena de M. Neves 2016 2008 III A construção da sentença

* Mary Kato * Mílton do Nascimento II A construção da sentença * Mary Kato * Mílton do Nascimento 2015

Inédito IV Construção morfológica da palavra

* Ângela C. Rodrigues * Ieda Maria Alves

VI Construção morfológica da palavra * Ângela C. Rodrigues

* Ieda Maria Alves

2015

Inédito V Construção fonológica da palavra

* Maria Bernadete M. Abaurre

VII Construção fonológica da palavra

* Maria Bernadete M. Abaurre 2013

Coord. Geral: Ataliba Teixeira de Castilho – 2ªedição – Editora Contexto

Fonte: Elaborado pela autora.

Em relação aos pesquisadores responsáveis pela organização da coleção, observamos que eles se mantiveram em quase todos os volumes, exceção apenas ao volume I, que em 2015 não teve a participação de Ingedore G. V. Koch. Outra diferença em relação a isso é que o vol. II de 2009 (1ª fase) era organizado por Ilarie

Moura Neves, mas como esse volume foi desmembrado em três outros para a edição da editora Contexto (2ª fase), cada volume ficou com um deles como responsável. Assim, os volumes III e IV foram organizados por Rodolfo Ilari e o volume V por Maria Helena de Moura Neves.

Discutiremos, no tópico a seguir, alguns aspectos da regularidade do texto falado apontados na obra.