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O desenvolvimento indígena no Banco Interamericano (BID)

COOPERAR COM O DESENVOLVIMENTO DOS ÍNDIOS

4.4. O desenvolvimento indígena no Banco Interamericano (BID)

No Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), e apesar da sua já longa trajetória em matéria de projetos sociais e uns poucos projetos ou componentes de projetos orientados exclusivamente a populações indígenas aprovados antes de 1985 (basicamente nas áreas da saúde e educação), a consciência e a preocupação pelos temas indígenas surgiram de forma mais acentuada somente em meados da década de 1980. Esta afirmação foi feita por Anne Deruyttere, antropóloga da Divisão de Proteção do Meio Ambiente do BID, durante o Segundo Taller Interagencial (1993). Para Anne, na origem da incorporação do tema “povos indígenas” como um tema específico dentro do BID estava: (1) os problemas no desenho e na execução dos componentes de proteção ambiental das grandes obras de infra-estrutura nas áreas tropicais que teriam afetado as populações indígenas ali residentes; e (2) os esforços sistemáticos por parte de organizações indígenas, como por exemplo a

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O evento contou com o aporte financeiro do Ministério Alemão de Cooperação Econômica e Desenvolvimento (BMZ), executado pela GTZ, complementado pelo apoio das seguintes agências: IBIS-Dinamarca, InWent, Oxfam-

COICA, que exigiam serem consultadas no desenho de projetos que lhes afetasse e participar dos mecanismos formais de consulta do BID com as organizações não-governamentais, tal como as reuniões bianuais de consulta com as ONGs sobre temas de meio ambiente. É nesse contexto que são criadas a Divisão de Proteção do Meio Ambiente e o Comitê de Meio Ambiente (CMA) como organismos de monitoramento e avaliação dos impactos das operações financiadas pelo BID. O CMA existe desde 1983 com a responsabilidade de monitorar a qualidade das operações do BID. A Divisão de Proteção do Meio Ambiente foi criada em 1990, com a responsabilidade técnica sobre os projetos ambientais e para o “controle de qualidade” de todas as operações do BID com impacto sobre o meio ambiente. As questões indígenas foram tratadas como aspectos socioculturais da dimensão ambiental dos empreendimentos financiados, o que incluía a realização de estudos sobre os impactos dos projetos sobre os povos indígenas. Até 1993, o BID dispunha, para orientar suas operações financeiras, de quatro documentos de referência para o tratamento dos assuntos e pleitos indígenas, eram eles:

• Marco Conceitual para a Ação do Banco na Proteção e Melhoramento do Meio Ambiente e Conservação dos Recursos Naturais, de 1989 – neste documento a proteção das populações indígenas e o aumento da sua participação nos projetos de desenvolvimento que os afetam é vista como um meio de proteção do ambiente e conservação dos recursos naturais;

• Procedimentos para Classificar e Avaliar Impactos Ambientais nas Operações do Banco, de 1990 – os projetos classificados na categoria IV são operações que podem ter impactos negativos significativos sobre o meio ambiente e as populações indígenas, exigindo, portanto Estudos de Impacto Ambiental (EIA), com a participação das populações afetadas que deverão ser informadas posteriormente sobre os resultados do EIA e sua opinião sobre os resultados incluídos no relatório final;

• Estratégias e Procedimentos para os Temas Socioculturais em Relação com o Meio Ambiente, de 1990 – reconhece a “íntima relação” que existe entre a proteção do meio ambiente e a administração dos recursos naturais, o papel protagonístico que devem ter as populações que vivem nessas áreas, os problemas que as operações do Banco podem trazer para as populações indígenas, e o efeito positivo que traz para o projeto a incorporação oportuna e efetiva de considerações socioculturais. Atribui à Divisão de Proteção do Meio Ambiente a responsabilidade sobre a identificação, planejamento, elaboração e análise dos componentes sociais das operações do Banco, que afetam

América, Banco Mundial, BID, AECI, Instituto Interamericano de Direitos Humanos e Presidência da Republica do México. Ver COICA/GTZ (2005).

diretamente aos “grupos tribais e indígenas”, e a outras populações que tradicionalmente habitam áreas naturais afetadas pelos projetos;

• Estratégias e Procedimentos para a Interação do Banco Interamericano de Desenvolvimento e as Organizações Não Governamentais Ambientalistas, de 1990 – recomenda-se a interlocução com as entidades não-governamentais, particularmente as que estão trabalhando para aliviar a pobreza e reduzir as desigualdades sociais e para a proteção do meio ambiente e a cultura e os direitos dos povos indígenas.

Igualmente como no caso do Banco Mundial, estes documentos do BID surgem junto com as grandes obras de infra-estrutura nas áreas de florestas tropicais. Anne Deruyttere menciona, por exemplo, o projeto PMACI – Proteção do Meio Ambiente e das Comunidades Indígenas, um projeto de proteção dos povos indígenas que nasce associado ao projeto de pavimentação da rodovia Porto Velho– Rio Branco. 71

Recentemente, em 11 de março de 2004, o Comitê de Políticas e Avaliações da Diretoria Executiva do BID aprovou dois documentos: a Política Operacional para os Povos Indígenas (GN-2296) e o Marco Estratégico para o Desenvolvimento Indígena (GN-2295). Ao longo de 2004/2005, esses documentos foram objetos de consultas nos países e entre as principais organizações indígenas no continente. Ao término desse processo, os documentos resultantes devem orientar a atuação do BID no apoio ao “desenvolvimento com identidade” dos povos e nacionalidades indígenas e nas negociações de empréstimo para programas e projetos de desenvolvimento nacional dos países do continente. Pela primeira vez na sua história o BID terá um documento específico orientando a relação com os povos indígenas.

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Em março de 1985 o governo brasileiro assinou contrato de empréstimo com o BID para pavimentar a rodovia BR- 364, no trecho Porto Velho-Rio Branco, num total de 502 km. A obra foi orçada em US$ 146 milhões, sendo 40% do BID e 60% contrapartida nacional. O empréstimo do BID foi condicionado à implementação do Programa de Proteção ao Meio Ambiente e às Comunidades Indígenas (PMACI). Sobre o PMACI no período de 1985-1990, ver Arnt & Schwartzman (1992: 159-192). Trata-se de uma interessante análise dos meandros e negociações envolvendo governo federal (com um destaque para o Conselho de Segurança Nacional – CSN), governo estadual (Acre), movimentos sociais (indígenas e seringueiros), ONGs (nacionais e internacionais), as elites regionais ligadas aos setores madeireiro, agropecuária e outros, e as instituições financeiras multilaterais (BIRD e BID).

CAPITULO 5