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Bases teóricas para um estudo do ponto de vista do gênero

2.4 O dialogismo do Círculo de Bakhtin e o estatuto do sujeito

Somos todos grupúsculos. GUATTARI

A concepção de linguagem e de discurso proposta pelo Círculo de Bakhtin é essencialmente ativa, e, portanto, centrada no agente: o ato verbal, o processo de intercâmbio lingüístico, no qual são produzidos os enunciados constitui o objeto de estudo e o centro de seu empreendimento, ao mesmo tempo em que são precisamente estes últimos o ponto de partida deste. Toda a obra do Círculo pode ser entendida a meu ver como a busca da superação de todas as propostas teóricas e metodológicas que tomam a parte pelo todo, que julgam o todo mera soma ou simples junção de partes, que não levam suas propostas às últimas conseqüências ou que sequer se dão conta dessas conseqüências.

No âmbito dessa concepção ativa, que se empenha em abarcar a natureza dos atos humanos sem essencialismos, merecem destaque, em primeiro lugar, o dialogismo, a idéia-mestra segundo a qual toda “voz” (todo ato) envolve a relação com várias vozes (atos), dado que nenhum sujeito falante é a fonte da linguagem/do discurso, ainda que seja o centro de suas enunciações, do mesmo modo como nenhum agente humano é a fonte de seus atos, ainda que seja o centro destes e por eles tenha de responsabilizar-se (cf. BAJTÍN, 1997; GUATTARI, 2005).

O conceito de dialogismo é a base da concepção dos atos humanos como essencialmente inacabados, ainda que plenamente realizados, atos em permanente tensão com outros atos, passados e futuros, ou seja, base da idéia de que só da diferença nasce o sentido, sem menosprezar a semelhança. Essa concepção vê essa diferença não como propriedade de um sistema (ou código) fechado, mas como advinda e constitutiva das relações concretas entre os homens na sociedade e na história, unindo tensamente repetibilidade e irrepetibilidade.

Acentuo que não se deve confundir dialogismo, que é da ordem do arquitetônico, com a forma “diálogo”, que é da ordem do composicional, quer se trate das réplicas de um diálogo face a face ou de sua representação discursiva; o diálogo é um fenômeno e um procedimento englobado pelo dialogismo, que o transcende e o tem apenas como um de seus níveis mais evidentes no nível da materialidade discursiva. Além disso, na feliz afirmação de Emerson (2000, p. 144), “todo

enunciado ... é um ato de discurso indireto, algo que lembra Greimas (1996) ao afirmar que dizer “eu digo” antes de dizer é já duplicar o dizer, dado que a enunciação pressupõe um sujeito “enunciante” (ou melhor, projeções do sujeito da enunciação) dizendo que diz!

O dialogismo é um fenômeno que se faz presente no Círculo de três maneiras distintas, que aqui apresento do geral para o particular: como princípio geral do agir e mesmo do ser: só se age/se é em relação de contraste com respeito a outros atos de outros sujeitos/a outros sujeitos. Logo, o vir-a-ser do indivíduo e do sentido está fundado na diferença, no confronto eu-tu; como princípio de produção dos enunciados/discursos (do sentido), que advêm de “diálogos” retrospectivos e prospectivos com outros enunciados/discursos; e como forma específica de composição de enunciados/discursos, opondo-se nesse caso à forma de composição monológo, embora nenhum enunciado/discurso seja constitutivamente monológico nos dois outros sentidos: o simples fato de enunciar “a verdade” pressupõe a possibilidade de haver alguma outra “verdade”, assim como a negação pressupõe uma afirmação (cf. WITTGENSTEIN, 2005, passim).

É oportuno quanto a isso evocar aqui a distinção entre o prosaico e o poético (cf. a esse respeito, por exemplo, MORSON e EMERSON, 1989, 1990; HOLQUIST, 1990; CLARK & HOLQUIST, 1998; BRAIT, esp. 1994, 1996, 1997; BARROS & FIORIN, 1994; EMERSON, 2003; TEZZA, 2003; AMORIM, 2001), objeto de tantas polêmicas e equívocos, e que é tratada pelo Círculo, a meu ver, nos seguintes termos: tanto o discurso prosaico como o discurso poético advêm, pelo próprio fato de serem discursos, da interação entre sujeitos, e destes com o tema, o tópico, do discurso, vinculado com os presumidos, os va sans dire que tanto facilitam a compreensão como criam mal-entendidos.

É da natureza do prosaico “re-presentar”, ao objetivá-las (ou seja, transformar em “vozes” do discurso, e não objetificá-las, ou seja, fazer delas meros conteúdos), várias “vozes” em diálogo, mesmo quando não usa a forma composicional “diálogo”; do mesmo modo, é da natureza do poético, mesmo no caso de poemas épicos, que apresentam por assim dizer “personagens”, não as “re-presentar” e, mais do que isso, tender a só fazer ouvir a voz — objetivada — do poeta, mesmo se usar a forma composicional “diálogo”. Ressalto que, de outra perspectiva, um poema lírico pode dirigir-se dialogicamente a seu interlocutor típico (COBIÁN FIGEROUX, 2003).

Além disso, quando se leva em conta o “confronto” de vozes de que fala o Círculo, e que é fator constitutivo do intercâmbio verbal, percebe-se com clareza que todo discurso (e, mesmo toda palavra) é arena, lugar de confronto, de presença do outro, não se podendo pois conceber um discurso monológico no sentido de discurso que neutralize todas as vozes que não a daquele que enuncia, assim como não se pode julgar idealista a relação eu-tu aí envolvida: a concepção de outro do Círculo é complexa: o outro pode ser amigável, submisso, autoritário, inimigo etc., permanecendo em todos os casos constitutivo do eu, tal como este é, como se costuma dizer, “o outro do outro”. Pode-se, não obstante, perceber nos discursos o que proponho denominar “tendência ao monológico” e “tendência ao dialógico”, para dar conta dos graus de dialogismo “mostrado” a partir de seus dois extremos, naturalmente possíveis apenas em termos teóricos, mas não concretamente verificáveis — os discursos monológicos e dialógicos “puros”.

Assim, o dialogismo é constitutivo em termos arquitetônicos (cf. BAKHTIN, 1993), mas os discursos podem ser estruturados composicionalmente de modo a apresentar ou não as marcas desse dialogismo. Assim, o discurso tendencialmente monológico é aquele que se mostra, em termos composicionais e de projeto enunciativo, voltado assimilativa e/ou refutativamente para a “neutralização”, na superfície discursiva, das vozes que o constituem, e para a instauração de uma só voz como a voz dominante, de maneira explícita ou velada.

Em contrapartida, o discurso tendencialmente dialógico é aquele que se mostra, nesses mesmos termos, voltado para tornar presentes, assimilativa e/ou refutativamente, as vozes que o constituem; trata-se do discurso voltado para a instauração, mais ou menos explícita, de um concerto de vozes, que naturalmente podem ser dissonantes. Logo, poderia haver discursos que, em sua forma de composição, se mostram dialógicos e tendem ao monológico, bem como discursos composicionalmente monológicos que tendem ao dialógico, havendo aí vários graus, dado que, insisto, não há formas “puras”, exceto como artifício metodológico.

Logo, as vozes, os discursos “outros”, são constitutivas de todo discurso; a “mostração” e a “escamoteação” de marcas são recursos do plano de composição da obra, de sua, por assim dizer, textualização, não de sua constituição interdiscursiva e dialógica, de sua arquitetônica. Além disso, embora haja um projeto enunciativo de que o locutor tem consciência, há inúmeros aspectos que fogem ao

seu controle: ele também responde a vozes que só se fazem ouvir, paradoxalmente, em suas réplicas — apesar dele mesmo! O sujeito que enuncia não tem nem pode ter total consciência de todas as vozes que atravessam seu discurso, o que remete à questão do inconsciente, a qual não foi abordada com muita profundidade ou felicidade nos escritos do Círculo, como terei oportunidade de expor.

Pode-se afirmar, em suma, que o dialogismo é um arcabouço constitutivo não apenas dos discursos como da própria linguagem e mesmo do agir humano. Isso implica que o locutor e o interlocutor (os sujeitos agentes) têm o mesmo estatuto: assim como é, retrospectivamente, uma resposta a enunciações precedentes de interlocutores e sobredestinatários “passados”, a enunciação do locutor responde prospectivamente a interlocutores, e sobredestinatários, “futuros”. Logo, a recepção é tão parte do vir-a-ser do sentido quanto o são a produção e a circulação dos discursos, o que não significa que a deriva do sentido seja infinita, ainda que seja ilimitada – algo que desautoriza algumas apropriações de Bakhtin por alguns teóricos do pós-modernismo.

O interlocutor é entendido por Bakhtin, em mais uma de suas geniais descobertas, como dotado de "responsividade ativa": a resposta concreta deste é que permite que se materialize a compreensão daquilo que lhe é “proposto” pelo locutor, e este o propõe em termos de uma dada “entoação avaliativa” Portanto, só faz sentido para os sujeitos aquilo que responde a alguma coisa e só as coisas às quais é dada uma resposta, o que leva à recusa de uma “linguagem exemplar” que não venha do intercâmbio verbal, caso se queira apresentá-la como da ordem da enunciação, do agir concreto dos sujeitos, e não da ordem “morta” da exemplificação, que em suas mais nefastas manifestações escamoteia contextos presumidos para atribuir sentidos fixos a enunciados que não os podem ter, confundindo-os assim com frases, marcadas por uma fixidez no nível da significação que é impossível no nível do tema.

Vale destacar que o retrospectivo e o prospectivo têm como ponto de referência o realizado, o texto efetivamente enunciado, que, insiste Bakhtin, é uma unidade, dado que, constituído por outros textos, é resultado de um ato que mobiliza esses textos constitutivos, que, sem ele, não teriam sobre que incidir, ao tempo em que remete direta ou indiretamente a textos futuros (ou busca antecipar possíveis

objeções etc.), criando assim um todo integrado que não é mera soma de seus elementos constituintes.

Toda e qualquer enunciação, toda e qualquer interação, é parte de uma rede de interlocução em constante fazer-se, um festival de volta ao lar de pródigos significados temporariamente extraviados, rede que abarca os vários momentos sociais e históricos constitutivos da interação/enunciação, e que acaba por afetar as próprias formas fixadas da língua de que parte para instaurar seus sentidos. Na língua, é essencial a oposição entre estabilidade e fixidez, ou forças centrípetas e forças centrífugas (cf. CROWLEY, 1986; SOBRAL, 2002b).

No processo contínuo de produção de sentidos, cada diálogo recria sentidos criados por outros diálogos, assim como antecipa diálogos ainda inexistentes, inserindo-os em novos modos de vida (Wittgenstein) associados com os jogos de linguagem (Wittgenstein) que a ressignificação instaura. Além disso, à luz desses elementos, o horizonte social que Bakhtin leva em conta de modo algum se esgota no interdiscurso ou no contexto imediato, material mesmo, da interação.

Acresce que, ao dar primazia ao tema com relação aos significados cristalizados, tanto na constituição como no próprio vir-a-ser dos sentidos, Bakhtin demonstra que o sentido depende por inteiro do contexto e que esse contexto de modo algum se esgota na situação imediata a que se restringem grande parte das teorias da interação verbal. Destaco ainda que isso não exclui de modo algum o sistema lingüístico enquanto tal, nem os processos cognitivos envolvidos, mas busca, integrando-os, ir além deles.

Tem relação com essa questão, igualmente, a concepção bakhtiniana de ideologia (cf. SOUZA, 2004; ver também SOBRAL, 1999, III.4.21 e SILVESTRI & BLANCK, 1993, esp. Cap. II), sobre que julgo oportuno fazer algumas breves observações. Voloshinov (1976) trata da questão dos vínculos entre ideologia e signo verbal e afirma que um produto ideológico não só constitui uma parte da

1 Busco na seção citada, essencialmente, fundamentar o papel da ideologia, concebida como um

conjunto de regras sociais de produção de sentido, no processo de constituição da sociedade e na determinação do modo de ser da linguagem. Essa concepção se opõe a propostas sobre a ideologia como (1) conteúdos subjacentes à linguagem; elemento identificado com o discurso; (2) produto de “isomorfismos” com relação à linguagem (“canhestros”, segundo GONÇALVES, 1981); (3) “falsa consciência” ou “visão de mundo”; (4) explicação racional da ordem existente.

realidade natural ou social (no que se assemelha a um corpo físico ou a um instrumento de produção) como reflete e refrata (o que constitui uma revisão da teoria marxista do reflexo) uma realidade que lhe é exterior; nessa perspectiva, um signo sempre se refere a uma realidade da qual faz parte.

Os signos estão sujeitos aos critérios de avaliação ideológica, coincidindo o seu domínio com o da ideologia e, por conseguinte, todo produto ideológico tem valor semiótico e, além de refletir e refratar a realidade, tem uma realidade concreta passível de estudo científico. Temos aqui a base de uma produtiva concepção de ideologia que julgo inigualável, posto que fundada no dinamismo do vir-a-ser das avaliações ideológicas que marcam toda palavra, texto, discurso ou ato humano (cf. SOBRAL, 1999).

Dado que a compreensão e a consciência só se produzem com base num material semiótico e dado que esse material se institui como realidade concreta, a própria consciência só se constitui na concretude material dos signos (VOLOSHINOV, 1976, p. 22; cf., quanto ao conceito de “signo”, também cap. I, n. 1), isto é, a consciência individual só se constitui no processo de interação social e a partir da semiose do ideológico. Na interação entre o individual e o social, “a psique anula a si mesma, ou é eliminada, no processo de converter-se à ideologia, e a ideologia anula a si mesma no processo de converter-se à psique” (Id.). Destaco que “anulação” funciona aí como metáfora, dado que o trecho indica a interconstituição ativa entre psique individual e ideologia.

Como vemos, a plenitude ideológica ocorre apenas, mesmo provisoriamente (dado que não há sentidos ideológicos fixados de uma vez por todas), quando se realiza em signo, e a realização em signo só ocorre por meio da plenitude ideológica, numa dialógica tensiva em permanente fazer-se. Como precisa realizar-se no signo ideológico como signo, o sentido depende de sua inscrição na psique (no “mundo interior” do sujeito); sem assumir um acento

O sentido articula-se em dois planos: no da significação para a qual aponta e da direção que indica. Significação remete à língua e à interdiscursividade; direção, ao intercâmbio verbal e ao confronto de vozes, ao lócus da geração do sentido. Em vez do sujeito transcendental (kantiano, neo-kantiano, etc.), Bakhtin propõe o sujeito situado, o sujeito que, inserido em seus atos e por eles constituído em seu Ser- como-evento, deles só se afasta em termos exotópicos, em sua necessária posição

de fronteira, mas sempre cronotopicamente, isto é, num aqui e num agora (mesmo no plano da grande temporalidade!).

Em outras palavras, o discurso se constrói com base em dois planos: o do significado a ser expresso e o da valoração, pelo locutor e por seu(s) interlocutor(es), desse significado, o plano do sentido; é assim função do ato valorativo intrínseco ao discurso e, mais do que isso, à vida da língua: todo discurso se orienta numa dada direção. Aqui se vê completo o ciclo que vai da língua à vida e da vida à língua, em sua contínua interpenetração (tensão que pode, contudo, como vimos, ser contida, com nefastas conseqüências, ainda que também o reprimido acabe por ter seu “regresso ao lar”, por vezes festivo).

Social e pessoal são no Círculo elementos imbricados nos próprios discursos, e que só aí nos são acessíveis; não se tratando de uma proposta de análise dos sujeitos biológicos; a concretude da situação do sujeito é levada em conta em sua transfiguração discursiva, em sua construção. Logo, o Círculo não admite uma separação entre o contexto da interação e a interação propriamente dita, entre o texto e o contexto, entre a realidade discursiva e a realidade per se, o que uma análise bakhtiniana não admite.

Por outro lado, observe-se que a ênfase no sujeito se associa à inserção social e histórica dos sujeitos. O sujeito está necessariamente vinculado com a sociedade ao tempo em que a constitui: assim como o sujeito é um ser em fazer-se, que busca social e historicamente no outro a sua completude, a sociedade éue se articula para além dos propósitos individuais dos sujeitos, para além da soma desses propósitos, sendo antes marcada pela articulação entre eles no todo social, atravessado sempre pela história, tanto retrospectiva como prospectivamente.

Creio poder afirmar que as teses do Círculo, seu modus operandi e sua prática analítica dos fenômenos humanos funda-se no reconhecimento da provisoriedade da condição humana, provisoriedade do sentido, cuja base é uma permanente tensão dialógica em que estabilidade e variação se confrontam ad aeternum, em que eu e outro, pessoal e social, geral e particular, fixidez das formas e ressignificação, se constituem e configuram mutuamente, em que a irrepetibilidade irredutível do sensível – base do Ser - e a repetibilidade necessária do sensível se interdefinem. A teoria do discurso, do sentido, bakhtiniana, ao trabalhar com oposições sustentadas, consegue assim teorizar sobre aquilo que não se repete

sem se perder na especificidade do concreto e, ao mesmo tempo, sem engessar os atos concretos, uni-ocorrentes, num teoreticismo estéril tão buscado ainda hoje em nome da suposta necessidade de estabilidade.

O mundo tal como o entende o Círculo é um mundo de sentido em constante vir-a-ser, de estabilidade e instabilidade relativas, em que há regularidades suficientes para que se identifiquem atividades-tipo mas em que há margem para o reconhecimento de que nada se repete literalmente: a simples escolha daquilo que se repete é já uma transfiguração do repetido. Porque nada no mundo bakhtiniano se realiza por completo, o que é fonte de sofrimento para o ser humano, mas nem por isso deixa esse mundo de contar com suficiente concretude para alimentar a eterna busca do acabamento como ideal inalcançável mas nem por isso menos mobilizador que une o agir necessário do sujeito ao necessário agir social em que este pode ser sujeito!

A ênfase num sujeito ímpar que não definido apenas em termos subjetivos estritos, mas que é objetivado, e numa teorização que, como todas, generaliza, mas que, ao contrário de tantas outras, não objetiviza, ao lado do reconhecimento de que, entre o possível e o realizável há um agente que faz escolhas, que avalia, que se compromete, parece-me permitir afirmar que as teorias do Círculo revelam de modo inequívoco que só um tratamento abrangente, transdisciplinar, dos fenômenos é capaz de fazer justiça à complexidade do ser, do agir e do significar dos seres humanos. Se todos os pontos de vista parciais de estudo têm sua validade como momentos de uma perspectiva mais complexa, a pretensão de tomar as partes estudadas pelo todo produz no plano teórico aquilo que, no fenômeno, Bakhtin chama de “todo mecânico”, uma totalidade a que não comparece a unidade do sentido.

A concepção bakhtiniana de sujeito constitui assim base de uma alternativa a um tratamento do discurso apenas em termos de heterogeneidade mostrada/heterogeneidade constitutiva, ou de oposições entre aspectos individuais e aspectos sociais, agir pessoal/agir social codificado etc., ainda que sem desprezar a produtividade dessas abordagens (que, quando restritas aos campos para os quais são competentes, têm perfeita legitimidade), porém questionando alguns de seus aspectos e buscando ir além deles por meio da exploração da potencialidade da relação eu-outro (sujeitos, discursos, gêneros) como algo que vai além das

textualizações específicas assumidas pelos discursos, bem como de várias teorias de discurso sociologizantes.