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Neste ponto, propomo-nos analisar o papel do Director de Turma na articulação

curricular do ensino das línguas no 3º Ciclo do Ensino Básico.

A necessidade de conhecimento e reflexão sobre a organização e gestão das escolas é cada vez mais assumida como condição indispensável ao processo de desenvolvimento e melhoria do desempenho das escolas.

No contexto do sistema educativo, a proposta curricular consubstancia-se fundamentalmente nos programas oficiais e respectivas recomendações metodológicas. Contudo, o currículo experienciado perfilam-se diversos actores que intervêm na sua gestão:

ƒ os órgãos de gestão de escola – executam o projecto educativo, integrando as dimensões curriculares a um nível diferente, isto é, ao nível macro;

ƒ os órgãos intermédios (delegados, coordenadores de Departamento) e os Directores de Turma.

ƒ os professores a quem compete a gestão do currículo da respectiva área disciplinar, em articulação com os actores já referenciados (gestão acontece ao nível micro, isto é, da sala de aula).

O currículo, que é também experienciado pelos alunos, surge como resultado da gestão curricular que tiver sido operacionalizada a estes diferentes níveis. É perante este quadro que se situa o papel específico do Director de Turma.

A função de Director de Turma reúne um conjunto de aspectos de actuação: alunos, professores e encarregados de educação. A actuação do Director de Turma junto dos alunos e encarregados de educação tende a prevalecer sobre a acção face aos professores, que constitui também uma dimensão importante e que não pode existir isoladamente.

O Director de Turma desempenha a função de coordenação, de articulação, de mediação entre a acção dos professores e os restantes actores envolvidos no processo educativo. Deste modo, as atribuições do Director de Turma situam-se entre duas áreas de intervenção: a docência e a gestão.

É no âmbito da gestão que se pretende dar enfoque ao papel do Director de Turma. Partindo da noção de desenvolvimento curricular apresentado no primeiro capítulo um deste estudo, cabe agora reflectir sobre o modo como esse desenvolvimento se processa.

Os professores são os principais actores de desenvolvimento curricular nas diferentes disciplinas. Mas tal acção não é unicamente da responsabilidade do professor. Não se pretende, contudo, limitar a autonomia de cada professor. Trata-se, sim, de repensar a função do Director de Turma no domínio do desenvolvimento curricular, de acordo com os alunos que tem.

A coordenação que se espera do Director de Turma não pode dissociar-se da consideração de um conjunto de problemas que estão relacionados com a estruturação das actividades de aprendizagem da turma como um todo coerente, adequado às suas características e necessidades: a definição de prioridades curriculares a partir da análise da situação da turma (contexto sócio-económico e cultural e o percurso escolar); a definição de um perfil de competências, estratégias a implementar necessárias ao aluno; entre outros (cf Roldão, 1995: 12).

O Director de Turma tem que estar implicado com todo o processo de desenvolvimento curricular que ocorre em cada turma e assume, assim, um papel de liderança e coordenação no lançamento deste tipo de análises e no debate e promoção dos procedimentos para uma acção equilibrada e eficaz na turma. Portanto, no conselho de turma pode-se definir um conjunto de estratégias, de competências que impliquem o envolvimento dos professores de todas as disciplinas. Esta tarefa constitui uma área de intervenção do Director de Turma, cujo objectivo é promover o debate e a organização de um trabalho cooperante.

A ausência de trabalho conjunto é um outro problema que se levanta em relação ao

desenvolvimento curricular. Esta atitude conduz a um desfasamento de processos e de

normas que podem constituir factores de desorientação e insucesso para os alunos. Na opinião de Roldão “(...) não se deseja uniformizar métodos de trabalho ou assimilar as

disciplinas umas às outras (...)” (1995: 14), pois todas as disciplinas têm as suas

particularidades, logo os professores gerem o currículo partindo dessas especificidades e recorrendo a métodos adequados a cada turma. O importante é que não haja práticas que se opõem umas às outras.

Nesta perspectiva, podemos referir que, sendo o professor o gestor e co- constructor (directo e activo) do currículo, o Director de Turma é, por sua vez, o actor educativo responsável pela gestão da coordenação curricular. A sua função, tanto de gestor como de coordenador do currículo, envolve o desenvolvimento no grupo dos docentes da turma de um espírito de equipa e, de acordo com Roldão, “consolidar a sua

consciência de grupo responsável pela turma, em conjunto, e não apenas a título individual (...)” (1995: 17).

É importante sublinhar o campo de intervenção e as competências do Director de

Turma indicados pelo Decreto Regulamentar nº 10/99, de 21 de Julho.

No quadro de autonomia da escola, as estruturas de orientação educativa constituem formas de organização pedagógica da escola, cujos objectivos são a coordenação pedagógica e a articulação curricular na implementação do currículo, assim como o acompanhamento do percurso escolar dos alunos ao nível da turma, ano ou ciclo de escolaridade, sempre em interacção com os encarregados de educação. As estruturas de gestão intermédia devem desenvolver a sua actividade baseada na cooperação entre os professores e destes com os respectivos orgãos de administração e gestão do estabelecimento de ensino. É essencial ainda que seja assegurada a adequação do processo de ensino-aprendizagem às características e necessidades individuais do público que a frequenta.

Neste contexto, e conforme o artigo 7º do Decreto Regulamentar anteriormente citado, compete ao Director de Turma a coordenação das actividades do conselho de turma, que passa pela

“articulação entre os professores da turma [...]” (alínea a);

“promoção da comunicação e de formas de trabalho cooperativo entre professores e alunos” (alínea b);

“coordenar, em colaboração com os docentes da turma, a adequação de actividades, conteúdos, estratégias e métodos de trabalho à situação concreta do grupo e à especificidade de cada aluno” (alínea c).

Uma vez feita esta análise, podemos concluir que o Director de Turma desempenha uma função de extrema importância no âmbito do processo de ensino- aprendizagem, destacando-se a questão da articulação curricular ao nível dos docentes que compõem o conselho de turma, no sentido de atender o público, cada vez mais heterogéneo e exigente, que frequenta a escola nos dias que correm.