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ƒ Percursos de aprendizagem

5. O Ensino e Aprendizagem de Línguas num contexto intercultural

5.2. Uma abordagem intercultural – Programa de Inglês

No programa de Inglês (1996: 5) é enfatizado o valor da língua enquanto factor de enriquecimento intelectual e escolar, assim como meio de comunicação criando processos de interacção social. Este último aspecto é fundamental para a sociabilização e valorização social do aluno/aprendente.

A este nível, a língua é veiculada como um dispositivo socio-cultural e é através dele que os alunos tomam consciência de si próprios e dos outros, posicionando-se no mundo, dando-se a conhecer aos outros e com eles desenvolver relações interpessoais. Trata-se de um dispositivo importante no diálogo e entendimento entre povos de diferentes culturas.

Por outro lado, a aprendizagem de uma língua estrangeira, para além de exercer um papel fulcral na formação global do aluno, assume ainda uma função importante na construção do eu – em contextos escolares onde existe uma forte diversidade cultural – que influencia o desenvolvimento da personalidade e da identidade cultural dos alunos.

A educação para a cidadania assume cada vez mais o centro de debate nas escolas portuguesas. E a articulação entre o desenvolvimento da competência linguística e o desenvolvimento pessoal e social, no contexto escola intercultural, permite a formação do aluno nesse sentido. Estas exercem influência ao nível do desenvolvimento de processos cognitivos que fomentam atitudes de reflexão e de sensibilização relativamente ao funcionamento da língua materna e da língua estrangeira, influenciando- se mutuamente. E à medida que estas competências (linguísticas e comunicativas) se desenvolvem, a autoconfiança e a auto estima vão sendo estimuladas, o que lhes permite a mobilização em contextos socio-culturais diversificados. Por outro lado, favorece a partilha das suas vivências e experiências e dos seus saberes como os outros.

Nesta perspectiva, o aluno é o centro das atenções, uma vez que está em causa o desenvolvimento da sua personalidade através da “promoção de dimensões intrapessoal,

interpessoal e intelectual” (Cardoso, 2001: 112). Em termos do processo educativo,

garante as identidades individuais e colectiva dos alunos, “das quais a língua é o

repositório socio-cultural” (ibidem). Neste sentido, a afirmação da individualidade e da

étnicas, a criação de espaços para que se proceda a uma adequação do processo ensino-aprendizagem tendo em conta os ritmos e estilos de aprendizagem dos alunos.

5.2.1. Objectivos Gerais

Os objectivos gerais que constam do documento O.C.P. apresentam reptos evidentes de uma abordagem intercultural, por exemplo:

ƒ “nas referências à interculturalidade e a termos e expressões a ela associados como: ‘competência sócio-linguística e intercultutal’, ‘descobrir a sua identidade’, demarcação da ‘cultura anglo-americana’ e ‘universos culturais e sociais diferenciados para além dos contextos culturais anglo-saxónicos;

ƒ na incidência no desenvolvimento da autonomia e de aprendizagens activas, recorrendo a referências como ‘estratégias discursivas e de compensação’, ‘estratégias de superação de dificuldades e resolução de problemas’, ‘estratégias adequadas à organização do seu processo de aprendizagem’, ‘o risco como forma natural de aprender’;

ƒ na promoção de atitudes e valores dentro de uma dimensão humanista, expressos nos termos como: ‘partilha de informação, de ideias e opiniões’, ‘atitudes de responsabilidade, cooperação e solidariedade’, ‘confronto de ideias e expressão de opiniões pessoais’, ‘confronto de ideias pelo exercício do espírito crítico’ (Cardoso, 2001: 112).

5.2.2. Os Conteúdos

Os conteúdos apresentam um valor educativo e social da aprendizagem de uma língua estrangeira, tendo em conta as dinâmicas da sala de aula, por se tratar do espaço privilegiado onde decorrem as interacções facilitadoras do desenvolvimento de saberes, competências linguísticas e culturais, assim como a promoção de valores e atitudes. A ser assim, os conteúdos devem expressar a “textura e a diversidade social, cultural e

étnica das suas comunidades de origem e das culturas que têm o Inglês como língua oficial” (ibidem).

A estrutura dos conteúdos programáticos tem como base um tema organizador – o

mundo em que vivemos – que corresponde a uma área específica de acordo com os

ciclos e a um tema aglutinador de todas as áreas dos conteúdos.

No 3º Ciclo, os conteúdos situam-se no âmbito do Eu e a comunidade alargada:

a mobilização do eu e a sua valorização, como também o conhecimento do outro, com base na solidariedade, o respeito, a compreensão pelos diferentes povos e culturas para a construção de um mundo melhor.

A área de conteúdo socio-cultural – Eu e a comunidade alargada: organização e

formas de relacionamento versus organização e formas de relacionamento em comunidades anglo-americanas - chama a atenção para o reconhecimento e

relacionamento com a cultura anglo-americana. Quanto às atitudes e valores, apela-se para o desenvolvimento de atitudes positivas face às diferentes culturas. Esta área de conteúdo enfatiza a questão da identidade e da diversidade, no relacionamento humano, onde existe um confronto e um alargamento de experiências com outros indicadores culturais. Os temas que constam no programa de inglês vão muito ao encontro das vivências e experiências de vida dos alunos/aprendentes. Por outro lado, existe espaço para o reconhecimento da identidade cultural de cada sujeito e a tomada de conhecimento positivo de outras culturas que permitem o enriquecimento do indivíduo.

Nesta perspectiva, o professor desempenha aqui um papel fulcral, na medida em que ele é o actor que deve assegurar a partilha dessas vivências entre o seu público, cujas proveniências são as mais variadas a nível social, cultural e étnica. Só assim os alunos terão uma visão mais alargada do seu próprio meio socio-cultural e as realidades socio-culturais de outras comunidades.

Por último, é importante referir que, dada a natureza dos conteúdos temáticos, estes permitem um trabalho interdisciplinar entre as diferentes línguas estrangeiras e com outras áreas curriculares. Esta interacção pedagógica entre as diferentes disciplinas faz com que os alunos/aprendentes transportem os conhecimentos adquiridos em determinadas disciplinas para outras, consolidando, enriquecendo e favorecendo a continuidade da sua aprendizagem.

5.2.3. Orientações/Sugestões Metodológicas

As orientações que encontramos definidas no documento – Gestão Intercultural do currículo (ME, 2001) – são fundamentais para a gestão intercultural do currículo nacional. Ao nível da língua Inglesa, as sugestões têm como função contribuir para o desenvolvimento global do aluno, partindo dos objectivos e finalidades definidas. Por outro lado, pretendem fomentar uma aprendizagem activa e centrada no aluno, visto que ele também exerce um papel de destaque enquanto gestor da sua própria aprendizagem.

Logo, e perante este contexto, o professor de língua limita-se a ser um facilitador do processo de aprendizagem. No entanto, é essencial que haja um ambiente de trabalho motivador, atractivo e onde predomine desafios para todos os alunos. Nesta perspectiva, o professor deve recorrer a práticas pedagógicas baseadas no ensino diferenciado, já que as motivações, interesses, necessidades, ritmos e estilos de aprendizagem dos alunos são distintos. Esta forma de planear as aulas passa também pela forma de estruturar a organização do trabalho quer individual, quer em grupo.

Perante um público cada vez mais heterogéneo, dadas as diversas proveniências, vivências, características, ritmos e estilos de aprendizagem e cujos interesses e motivações são as mais variadas possíveis, é necessário que se promova uma adequação do currículo a estas diferenciações para que haja sucesso no ensino. Por sua vez, os alunos desenvolverão as capacidades de organizar, controlar e aferir o seu próprio trabalho, logo a sua própria aprendizagem.

Partindo das dimensões do eu e do nós, o ensino e a aprendizagem de uma língua estrangeira deve acontecer em meios adequados aos alunos tendo como referência os seus saberes, valores, representações, ideias e experiências e a partilha. Neste sentido, a sala de aula é o local por excelência onde essas manifestações acontecem. Dito de um outro modo, é neste espaço onde se processa a partilha e a troca de vivências, onde se espera atitudes de cooperação, de respeito e de solidariedade por parte dos alunos.

Dada a diversidade cultura que aqui se descreve, e face aos objectivos definidos, o professor de língua deve criar condições para que os seus alunos estejam motivados a utilizar a língua estrangeira em situações de comunicação no seu dia-a-dia, desenvolvam uma noção de língua tendo em conta os mais variados contextos em situações de comunicação, nomeadamente com escolas em países de língua inglesa. É importante que os alunos incluam na sua aprendizagem, conhecimentos e vivências experienciadas nas outras áreas curriculares, assim como as que são vividas fora da escola. Referimo- nos pois à informação que os alunos assimilam através da escola paralela, dada a proliferação das novas tecnologias. Por outro lado, pretende-se que os alunos atentam sobre a forma como a língua inglesa funciona partindo da experiência linguística anterior, como é o caso dos alunos bilingues. Portanto, não se restringe à língua materna.

Esta forma de encarar as realidades de outros indivíduos nos seus contextos distintos, fomentam uma maior consciencialização da identidade de percursos históricos e culturais que se aproximam da sociedade portuguesa, principalmente no que diz respeito à diversificação étnica em Portugal, como por exemplo, na fase pos-colonial, permitindo uma maior compreensão das manifestações culturais.

Face ao exposto, a abordagem metodológica apresentada assume um carácter construtivista em que aluno é um construtor de aprendizagens que se esperam significativas.

5.2.4. Metodologias e recursos

Tendo em linha de conta as orientações metodológicas, existem dois aspectos essenciais no âmbito do ensino das línguas, são eles: “o centrar do ensino no aluno e a

necessidade de utilização ‘real’ da língua que se pretende aprender em situações autênticas de comunicação” (Cardoso, 2001: 119). Contudo, corre-se o risco de não se

concretizar plenamente estes dois aspectos, dada a pressão sobre o cumprimento dos objectivos curriculares.

Numa outra perspectiva, a definição de “autenticidade” nas aulas de língua estrangeira engloba o seguinte:

ƒ “ ’autenticidade da aprendizagem’, com as necessárias implicações ao nível pessoal, das práticas que permitam a aquisição de saberes e de competências, adaptáveis à variedade dos alunos e da mediação entre estes e o ‘conhecimento’;

ƒ autenticidade linguística e cultural, expressa na existência de espaços e finalidades comunicativas credíveis, interlocutores ‘reais’, sabendo-se, no entanto, como a dicotomia real/artificial é dificilmente mantida, em matéria de linguagem, campo onde é, sem limites, permitido ‘fazer de conta …’ “ (2001:119).

Nos programas de Inglês, a aprendizagem da língua estrangeira prende-se bastnte com a questão social e intercultural, uma vez que é a língua e a cultura, acções e interacções entre falantes culturalmente marcados que se encontram no centro de debate. E estes sujeitos combinam a aprendizagem da linguagem à aprendizagem da relação com o outro.

A interculturalidade está também associada ao desenvolvimento de atitudes e valores e exercem um papel fundamental na relação de reciprocidade, baseada no respeito e admiração mútuos entre as diferentes culturas. Neste sentido, os professores de língua devem analisar e gerir o programa atendendo “aos conteúdos, aos processos

postos em prática pelos alunos para aprenderem esses conteúdos e aos alunos enquanto sujeitos dessa aprendizagem” (Cardoso, 2001: 120).

Tal como acontece na língua francesa, para alargar a noção de conteúdo cultural, conta-se com os conteúdos que se prendem com dados geográficos ou históricos. O ideal seria o professor de língua recorrer a documentos autênticos, para recriar situações, atmosferas que se aproximam da realidade estrangeira em estudo.

5.3. Uma abordagem Intercultural - Programa de Língua Portuguesa