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No plano internacional, diversos instrumentos normativos reconhecem o direito ao trabalho em geral, tais como a Declaração Universal de Direitos Humanos17, o Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais18 e o

17 Artigo 23

1. Toda a pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha do trabalho, a condições eqüitativas e satisfatórias de trabalho e à proteção contra o desemprego.

Protocolo Adicional à Convenção Americana sobre Direitos Humanos em Matéria de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (Protocolo de São Salvador)19.

Especificamente sobre o tema proposto, o Conselho Econômico e Social das Nações Unidas aprovou as Regras Mínimas para o Tratamento de Reclusos, adotadas pelo Primeiro Congresso das Nações Unidas para a Prevenção do Crime e o Tratamento dos Delinquentes, estabelecendo que “deve ser dado trabalho suficiente de natureza útil aos reclusos de modo a conservá-los ativos durante o dia normal de trabalho”20.

2.3.1 Instrumentos internacionais do direito ao trabalho em geral

Inicialmente, a Declaração Universal de Direitos Humanos - DUDH - dispõe, em seu art. 23, que toda pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha do trabalho, a condições equitativas e satisfatórias de trabalho e à proteção contra o desemprego. Ademais, todos têm direito, sem discriminação alguma, a salário igual por trabalho igual.

Conforme leciona Fábio Konder Comparato (2005, p. 223-224), “a Declaração Universal dos Diretos do Homem é uma recomendação que a Assembléia das Nações Unidas faz aos seus membros (Carta das Nações Unidas, artigo 10)”.

No entanto, o mesmo autor reconhece que negar a força vinculante da Declaração é se apegar ao formalismo, uma vez que o respeito à dignidade da pessoa humana, fundamento da DUDH, é uma exigência consensual da doutrina jurídica contemporânea.

Ademais, Valério de Oliveira Mazzuoli (2011, p. 861) entende que “é possível (mais que isso, é necessário) qualificar a Declaração Universal como norma de jus 18ARTIGO 6º

1. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem o direito ao trabalho, que compreende o direito de toda pessoa de ter a possibilidade de ganhar a vida mediante um trabalho livremente escolhido ou aceito, e tomarão medidas apropriadas para salvaguardar esse direito.

19 Artigo 6 Direito ao trabalho

1. Toda pessoa tem direito ao trabalho, o que incluí a oportunidade de obter os meios para levar uma vida digna e decorosa por meio do desempenho de uma atividade lícita, livremente escolhida ou aceita.

20 Resoluções 663 C (XXIV), de 31 de Julho de 1957 e 2076 (LXII), de 13 de Maio de 1977.Resolução 663 C (XXIV) do Conselho Econômico e Social. Artigo 71.

cogens internacional”. Isto porque os direitos elencados na DUDH correspondem aos costumes e princípios internacionais já praticados. Logo, tendo em vista que o Direito Internacional também é composto por estas fontes normativas, a Declaração é uma norma imperativa de direito internacional.

A norma extraída do art. 23 da DUDH possui clareza meridiana. Todos tem direito ao trabalho, sem discriminação alguma.

O Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais dispõe que toda pessoa deve ter o direito de levar uma vida digna por meio do desempenho de uma atividade lícita livremente escolhida. Trata-se de convenção internacional ratificada pelo Brasil, possuindo, portanto, eficácia normativa.

No sistema americano de Direitos Humanos, a despeito da omissão do Pacto San José da Costa Rica a respeito do direito ao trabalho, o referido Pacto é complementado pelo Protocolo de São Salvador (Protocolo Adicional à Convenção Americana Sobre Direitos Humanos em Matéria de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais), que cria para os Estados subscritores a obrigação de adotar medidas que garantam a plena efetividade do direito ao trabalho de todos os cidadãos21.

Desta forma, o Estado deve dar plena efetividade ao direito ao trabalho, possuindo obrigações específicas na consecução do pleno emprego tendo em vista as particularidades dos diversos grupos, incluindo-se, aqui, a proteção de grupos vulneráveis, quais sejam, os deficientes e, em certa medida, as mulheres22.

Sem pretender exaurir o tema, essas são algumas das normas que versam sobre o direito ao trabalho em geral. Conforme observado, elas não adentram no conteúdo do Direito do Trabalho, se limitando a anunciar o trabalho como direito humano e a criar responsabilidade estatais nas políticas de acesso ao emprego.

21 Artigo 6º, 2. Os Estados Partes comprometem‐se a adotar medidas que garantam plena efetividade do direito ao trabalho, especialmente as referentes à consecução do pleno emprego, à orientação vocacional e ao desenvolvimento de projetos de treinamento técnico‐profissional, particularmente os destinados aos deficientes. Os Estados Partes comprometem‐se também a executar e a fortalecer programas que coadjuvem um adequado atendimento da família, a fim de que a mulher tenha real possibilidade de exercer o direito ao trabalho.

22 O tema da responsabilidade estatal na concretização do direito ao trabalho de grupos vulneráveis será tratado no próximo capítulo deste trabalho.

2.3.2 Normas internacionais sobre o trabalho encarcerado

Tratando sobre o tema do direito ao trabalho do preso, o Conselho Econômico e Social das Nações Unidas aprovou as Regras Mínimas para o Tratamento de Reclusos de 1955, adotadas pelo Primeiro Congresso das Nações Unidas para a Prevenção do Crime e o Tratamento dos Delinquentes.

As regras previstas pela ONU dispõem não só que todos os encarcerados devem trabalhar, como também deve ser fornecido trabalho suficiente de natureza útil aos reclusos. Especifica-se, assim, uma obrigação estatal: disponibilizar trabalho ao preso23.

Em 2015 estas regras foram atualizadas pelas denominadas Regras de Nelson Mandela, em homenagem ao falecido Presidente da República Sul-Africana Nelson Rolihlahla Mandela, que passou 27 anos preso por sua luta por direitos humanos, igualdade, democracia e paz.

As novas regras de tratamento de presos da ONU explicitam que os presos devem ter a oportunidade de trabalhar e participar se sua própria reabilitação, conservando-os ativos através do exercício de trabalho de natureza útil24.

Assim, ao dispor que o prisioneiro deve ter a oportunidade de trabalhar e participar de sua própria reabilitação, bem como que trabalho útil e suficiente deve

23 O item 71 destas regras assim dispõe: 71.

1) O trabalho na prisão não deve ser penoso.

2) Todos os reclusos condenados devem trabalhar, em conformidade com as suas aptidões física e mental, de acordo com determinação do médico.

3) Deve ser dado trabalho suficiente de natureza útil aos reclusos de modo a conservá-los ativos durante o dia normal de trabalho.

4) Tanto quanto possível, o trabalho proporcionado deve ser de natureza que mantenha ou aumente as capacidades dos reclusos para ganharem honestamente a vida depois de libertados.

5) Deve ser proporcionado treino profissional em profissões úteis aos reclusos que dele tirem proveito, e especialmente a jovens reclusos.

6) Dentro dos limites compatíveis com uma seleção profissional apropriada e com as exigências da administração e disciplina penitenciária, os reclusos devem poder escolher o tipo de trabalho que querem fazer.

24 Trabalho Regra 96

1. Os presos condenados devem ter a oportunidade de trabalhar e/ou participar ativamente de sua reabilitação, sendo esta atividade sujeita à determinação, por um médico ou outro profissional de saúde qualificado, de sua aptidão física e mental.

2. Trabalho suficiente de natureza útil deve ser oferecido aos presos de modo a conservá‐los ativos durante um dia normal de trabalho.

ser fornecido para manter os presos ativos no dias normais de trabalho, as Regras de Mandela, adotadas na forma de Resolução pela Assembleia Geral da ONU, explicitam as obrigações estatais já mencionadas acima, quais sejam, o Estado deve garantir ao preso a possibilidade de exercer trabalho e este deve possuir natureza útil.

Qual é, portanto, a aplicabilidade do direito ao trabalho para a população carcerária? Esta análise exige o entendimento do direito ao desenvolvimento do indivíduo que teve a sua liberdade privada.