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PARTE III – A ANÁLISE DA PRODUÇÃO CULTURAL DA DEFICIÊNCIA

CAPÍTULO 5 – A PRODUÇÃO CULTURAL DO OUTRO COM DEFICIÊNCIA NAS

5.2 Análise das coexistências discursivas

5.2.1 O discurso da Pedagogia Inclusiva

Os discursos sobre a deficiência, no Portal do Professor do MEC, são constituídos ou atravessados por enunciados que falam sobre a inclusão desses sujeitos. Portanto, é possível identificar na materialidade textual uma variedade de enunciados em que o tema inclusão da pessoa com deficiência ganha visibilidade, fazendo circular discursos que falam sobre adaptações curriculares, ofertas de atendimento educacional especializado, didática, avaliações, dentre outras.

A compreensão de que a inclusão é um direito de todos configurando-se como uma medida necessária para que os alunos possam aprender a lidar com as diferenças, presentifica-se nos discursos dos sujeitos enunciadores. Portanto, o conjunto das narrativas dos professores e outros profissionais da educação,

revelaram o entendimento de que a educação inclusiva é uma das formas de possibilitar a convivência entre o ―normal‖ e o ―diferente‖, como condição necessária para que as diferenças sejam reconhecidas e respeitadas. Como podemos ver no excerto abaixo:

Na visão da psicopedagoga Marilda Nepomuceno da Silva, que trabalha há 11 anos na sala de recursos multifuncionais da Escola Classe 316 Norte, em Brasília (DF), a inclusão é um direito de todos e todos saem ganhando com a interação que ela proporciona. (Em sua opinião, quando as crianças começam a conviver, muito cedo, com as diferenças, aprendem a lidar com isso, naturalmente.) (Jornal do Professor-Inclusão eleva número de alunos especiais em classes comuns)

Fica claro que a sociedade precisar rever a questão da diferença e ampliar as suas idéias sobre cidadania e responsabilidade social, para que todos sejam incluídos e compartilhem do desenvolvimento global. (Vídeo – Esporte como fator de inclusão)

Que alegria olhar para os meus alunos e vê-los começando uma história de vida diferente, selada pelo gosto da inclusão social com arte, envolvimento e ação, destaca a professor (Jornal do Professor - Aulas de libras mudam o comportamento de alunos na escola)

Tornou-se visível nos discursos dos docentes a preocupação com a reestruturação da escola, com a formação de professores e com a oferta de atendimento educacional especializado. Para os profissionais da educação, essas são condições necessárias para que os alunos com deficiência possam ter acesso às oportunidades educacionais e sociais oferecidas pelas instituições de ensino.

A escola fez algumas reformas para garantir a acessibilidade: construiu rampas, banheiro especial, e alargou portas. Também se preocupou em garantir a presença de profissionais capacitados para o atendimento de alunos com necessidades educacionais especiais, entre eles, intérpretes da linguagem de sinais (Libras), para auxiliar no aprendizado. Além disso, segundo Jaqueline, muitos professores têm curso de pós-graduação na área de educação especial. (Jornal do Professor – Escola do Paraná está comprometida com a inclusão) A próxima meta de Maria de Fátima é montar uma sala de atendimento especializado com equipamentos e jogos que possam contribuir para a melhoria do aprendizado e a inclusão de alunos com diferentes deficiências e necessidades. (Jornal do Professor – Escola do Recife atrai estudantes excluídos)

Examinando as formulações dos professores podemos perceber que, ao enunciar a respeito da inclusão, os referidos profissionais obedecem a um conjunto

básico de regras que governam a produção do discurso acerca da deficiência, ou seja, ao discursar sobre a deficiência, os professores ―crêem falar de maneira livre, enquanto ignoram que dizem coisas acanhadas, limitadas por uma gramática imprópria‖. (PAUL VEYNE, 2008, p.252).

Em outras palavras, é possível dizer que os enunciados sobre a inclusão engendrados nas materialidades discursivas do Portal, encontram na própria Lei constitucional Brasileira de 1988; na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996), e também nos documentos internacionais como a Declaração Mundial de Educação para Todos (1990); a Declaração de Salamanca (1994), dentre outros, as condições de possibilidade para enunciação da deficiência.

Considerando que os discursos sobre a deficiência são engendrados a partir dos documentos anteriores, parece-nos bastante significativo destacar alguns deles, com o objetivo de caracterizar as relações entre o discursivo e o não discursivo na produção desses sujeitos. Sobre esse enfoque, seguem-se algumas considerações a respeito dos marcos políticos e sociais em defesa de uma educação inclusiva, com a pretensão de determinar as regras do discurso sobre a inclusão da pessoa com deficiência no Portal do Professor do MEC.

Nesse âmbito, cabe salientar que a Organização das Nações Unidas, estimulada por movimentos sociais cada vez mais veementes e organizados em prol do tema deficiência, elegeu o ano de 1981 como a Ano Internacional das Pessoas Deficientes, com o tema ―Participação Plena e Igualdade‖. O Ano Internacional da Pessoa Deficiente foi entendido, assim, como um programa de ação mundial que permitiria a tomada de medidas que visassem à participação plena, das pessoas com deficiência na vida social. (SILVA, 1987)

Podemos afirmar que o discurso em defesa da educação inclusiva, fundamenta-se em uma série de dizeres que é propagado através de documentos como a ―Declaração Mundial de Educação para Todos‖, elaborada na Conferência Mundial de Educação para Todos, realizada em Jomtien-Tailândia. O documento preceitua que:

a educação é um direito fundamental de todos, mulheres e homens, de todas as idades, no mundo inteiro; Entendendo que a educação pode contribuir para conquistar um mundo mais seguro, mais sadio, mais próspero e ambientalmente mais puro, que, ao mesmo tempo, favoreça o progresso social, econômico e cultural, a tolerância e a cooperação internacional. (UNESCO, 1990, p..02).

A Declaração de Salamanca e Linha de Ação sobre Necessidades Educativas especiais, aprovada na Conferência Mundial de Educação Especial, na cidade de Salamanca – Espanha, no ano de 1994, é outro marco importante em relação ao conceito de inclusão, apontando alguns princípios básicos no sentido de promover uma educação para todos. A partir desse marco histórico, passou-se a considerar a inclusão dos alunos com deficiência em classes regulares como a forma mais avançada de democratização das oportunidades educacionais, como se pode observar em alguns trechos desse documento:

o princípio da inclusão consiste no ―reconhecimento da necessidade de se caminhar rumo à ‗escola para todos‘ – um lugar que inclua todos os alunos, que celebre a diferença, apóie a aprendizagem e responda às necessidades individuais.

[...] reafirmamos, pela presente declaração, nosso compromisso com a educação para todos, reconhecendo a necessidade e a urgência de ser o ensino ministrado, no sistema comum de educação, a todas as crianças, jovens e adultos com necessidades educativas especiais, e apoiamos, além disso, a Linha de Ação para as Necessidades Educativas Especiais cujo espírito, refletido em suas disposições e recomendações, deve orientar organizações e governos.

o princípio fundamental dessa Linha de Ação é de que as escolas devem acolher todas as crianças, independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, lingüísticas ou outras. Devem acolher crianças com deficiência e crianças bem dotadas; crianças que vivem nas ruas e que trabalham; crianças de populações distantes ou nômades; crianças de minorias lingüísticas, étnicas ou culturais e crianças de outros grupos ou zonas desfavorecidos ou marginalizados.(UNESCO, 1994, p. 9-18).

Os enunciados sobre a inclusão da pessoa com deficiência engendrados nos textos culturais do Portal, encontram também nas políticas públicas sua forma social de regulação. Tendo em vista que, a partir da década de 90, mudanças substantivas acontecem na legislação, contribuindo para emergência do discurso pela inclusão das pessoas com deficiência tanto no campo da educação como em outros domínios.

Na Constituição de 1988, vários capítulos, artigos e incisos do Título VIII, da Ordem Social, dispõem sobre a habilitação e reabilitação das pessoas com deficiência e sobre a promoção de sua integração à vida comunitária. No artigo 208 da Constituição Federal, consta que:

III – Atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino.

IV – O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público e subjetivo.

V – Acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um. (BRASIL, 1988, p.35).

Mas a Educação Especial torna-se mais explicita na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394/96). No capítulo V, organizado em torno da Educação Especial, consta que:

Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino para educandos que apresentam necessidades especiais.

& 1 Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular para atender às peculiaridades da clientela da educação especial.

& 2 O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função de condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular.

& 3 A oferta de educação especial, dever constitucional do Estado, tem início na faixa etária de zero aos seis anos, durante a educação infantil. (BRASIL, 1996, p.21)

O Plano Nacional de Educação – Lei n. 10.172, de 9 de janeiro de 2001, também coloca-se como um marco político importante na educação das pessoas com deficiência, ao estabelecer vinte e oito objetivos e metas para a educação desses sujeitos. Sinteticamente, essas metas tratam:

1. do desenvolvimento de programas educacionais em todos os municípios, visando à ampliação da oferta de atendimento desde a educação infantil até a qualificação profissional dos alunos;

2. das ações preventivas nas áreas da deficiência visual e auditiva até a generalização do atendimento aos alunos na educação infantil e no ensino fundamental;

3. do atendimento extraordinário em classes e escolas especiais ao atendimento preferencial na rede regular de ensino;

4. da educação continuada dos professores que estão em exercício à formação em instituições de ensino superior. (MACHADO E LABEGALINI, 2007, p.56).

Os documentos apresentados anteriormente servem-nos de mote para afirmar que, ao discursar sobre a deficiência, o professor está submetido a todo um conjunto de regras (políticas, econômicas, sociais) que nesse dado período histórico,

controla aquilo que pode ser dito sobre a deficiência, em termos de seus conteúdos, seus limites e suas formas de se manifestar. Sobre essas regras de controle do discurso, Carvalho (2004) esclarece que:

os processos econômicos, políticos, culturais e demográficos, ao mesmo tempo em que permitem uma maior visibilidade da diversidade das culturas, dos incluídos e dos excluídos, incidem na formação de regras de controle do que pode ou não ser dito no que se refere às diferenças sociais e desigualdades sociais. (p.399).

Isso significa que o professor ao enunciar a respeito da inclusão da pessoa com deficiência, evidenciando sua adesão a esse ideário, está obedecendo a certo regime de verdade de sua época. São justamente essas regras que determinam o feixe de relações que o discurso deve efetuar para poder falar, abordar, analisar, classificar e explicar a deficiência. É por isso que Foucault (2013), nos diz que a linguagem nem sempre traduz o querer fundamental daqueles que falam,

isto significa que não se pode falar de qualquer coisa em qualquer época; não é fácil dizer alguma coisa nova; não basta abrir os olhos, prestar atenção ou tomar consciência, para que novos objetos logo se iluminem e, na superfície do solo, lancem sua primeira claridade. (p.54).

É preciso destacar que os enunciados ao harmonizar-se com esse regime de verdade, que é a educação inclusiva, estabelecem certas regras, sancionando alguns enunciados e interditando outros tantos, decorrendo disso, que apenas o que compatibiliza com esse discurso é o que pode ser anunciado. Presumimos que seja essa uma das razões pelas quais os professores e outros profissionais ligados à área da educação, expressam ou revelam uma realidade em que a inclusão das pessoas com deficiência acontece de forma tranquila, natural, sem maiores dificuldades ou entraves.

Essa preparação ela foi feita de forma muito natural, a escola, à medida que ficou sabendo que faria parte deste projeto, ela naturalmente começou a se preparar para receber esse portadores de necessidades especiais e como a escola já tinha um trabalho com inclusão, isso foi extremamente fácil, eles aceitaram com naturalidade, foi algo muito natural para a comunidade escolar. (Vídeo – Escola e Inclusão Social)

A chegada do Anderson, o aluno com paralisia cerebral, levou o colégio a construir um triciclo para que ele pudesse se movimentar facilmente de um ambiente para o outro. (...) ―Todo mundo ajuda o Anderson‖, diz a professora de matemática, Neide Carneiro do Nascimento Silva. Lecionando em oito turmas diferentes, Neide dá aulas para turma do Anderson há três anos. E diz que o trabalho não é difícil. (Jornal do Professor – Escola do Paraná está comprometida com a inclusão)

Depreende-se, portanto, que as regras do discurso pela inclusão, enquanto definidoras do regime de verdade desses enunciados, promove interdições no seio da própria formação discursiva. Sendo assim, dentro do conjunto de palavras interditadas pela ordem discursiva dominante, estão ―discriminação‖, ―preconceito‖, e ―intolerância‖. Contudo, a pretensão de tornar evidente apenas os aspectos positivos da inclusão, enunciando somente o que está compatível com esse ideário, podem ter como consequência o encobrimento de situações de discriminação ou preconceitos vividas pelas pessoas com deficiência em sala de aula regular, além de esconder ou dissimular as lutas de poder existentes no espaço escolar.

Em contrapartida, quando as pessoas com deficiência são autorizadas a narrar a sua própria história de inclusão, delineia-se outro cenário, aparece outra escola, bem distinta daquela enunciada no discurso dos professores, coordenadores pedagógicos e de outros profissionais da educação. Como nos alertou Said (1995 apud COSTA, 2005, p. 61), ―parece que entre os meandros das histórias para dominar sempre se cria um espaço para algum tipo de escape, alimentado por histórias de contestação e emancipação‖.

Dentre essas histórias de contestação, encontra-se a de um aluno cadeirante, que explicita em seu discurso o total despreparo da escola, não somente diante das condições de acessibilidade, mas também no que diz respeito ao próprio direito de pertencer, de fazer parte do grupo e de poder ir ao recreio como qualquer outro aluno.

Na hora do recreio eu não posso ir para o pátio por causa da escada e tenho que ficar na mesa da inspetora. Eu falo gente eu não vou cair, eu se eu cair o problema não é eu me machucar, o problema é me levantar, o importante é que eu estou indo com vocês, estou querendo participar também. Eu quero participar. (Portal do Professor)

O exame breve e pontual do discurso acima coloca-nos diante da necessidade de questionarmos as práticas denominadas inclusivas, que estão sob a

égide do discurso da igualdade de oportunidades para todos, uma vez que esse discurso, de certa forma, pode acabar mascarando um processo de inclusão – excludente.

Essa inclusão-excludente se traduz na fala de outra aluna cadeirante, quando revela as difíceis condições de acessibilidade nas escolas que estudou, denunciando a precariedade no atendimento às necessidades desses sujeitos, fazendo-nos perceber que, embora nas últimas décadas tenha havido um grande debate político e social em relação à inclusão e aos direitos das pessoas com deficiência, este não tem sido acompanhado por práticas ou ações mais significativas nesse âmbito.

Claro que pra mim e para crianças com deficiência física como eu, o ideal é encontrar uma escola com rampas, porta largas, banheiros adaptados. Claro que nas escolas que eu estudei não tinha nada disso, algumas não tinha adaptações (…). Em outras, mesmo eu sendo aluna, ninguém pensou em adaptar nada para facilitar minha vida, e muitos outros lugares, não estão preparados para pessoas deficientes físicas, então eu comecei a entender, que tenho que enfrentar muitas barreiras, para chegar meus objetivos. (Portal do Professor- Vídeo – Bem além dos limites)

De fato, os enunciados acima revelam outro olhar sobre a Educação Inclusiva e faz-nos pensar que precisamos estar atentos às vozes dos sujeitos com deficiência, pois não podemos continuar silenciando-os a respeito desse processo que lhes diz respeito diretamente. Portanto, concordamos com Skliar e Souza (2000), quando afirmam que tratamos as falas das pessoas com deficiência como produções marginais e desarticuladas, silenciando-as para que se possa continuar falando por elas e produzindo saberes a respeito delas.

Com o propósito explicito de questionar o conteúdo desses discursos, tanto pelo que revela quanto pelo que escamoteia, nossa indignação se faz no sentido de colocar em questão a forma com que essa inclusão está se dando. Nosso argumento é que o regime de verdade, ao qual se filiam os professores, pode acabar obscurecendo questões importantes que precisam ser problematizadas nos processos formativos como, por exemplo, as práticas excludentes, a não garantia das condições favoráveis para aprendizagem e desenvolvimento dos alunos com deficiência.

No entanto, é interessante sublinhar que, embora o discurso dos professores sejam atravessados pelo discurso da inclusão e pelos ideais de igualdade de oportunidades, baseia-se muitas vezes na ideia de que basta estar inserido em sala de aula regular para estar incluso, traduzindo-se numa concepção integradora em relação à educação da pessoa com deficiência. Vejamos o fragmento abaixo, em que a professora relata a sua prática pedagógica, com alunas surdas na sala de aula regular:

Na escola de Educação Básica Governador Freitas Neto, também de Teresina, a professora Carmem Alves Marques tem duas alunas surdas em sua turma de 5º ano. Formada em Pedagogia, há dois anos no magistério, Carmem conta que a experiência da inclusão tem sido muito positiva. ―No início do ano, as duas estavam muito tristes, muitos quietinhas, mas agora estão mais alegres e participativas‖. Quando querem se comunicar com a professora elas mandam mensagens, via celular. ―É muito gratificante, diz‖. A escola também tem uma sala de recursos e as duas alunas participam no contraturno. (Portal do Professor - Piauí Incentiva a inclusão em suas escolas / Jornal do Professor).

Parece-nos que o discurso da professora é sustentado pela crença de que para estar incluso basta estar inserido na sala de aula regular, desrespeitando ou desconsiderando a importância das condições mínimas para a aprendizagem dos alunos, neste caso das alunas surdas. Sobre isso, Carvalho (2005) chama atenção para o fato de que inserir os alunos nas escolas comuns, distribuindo-os pelas turmas do ensino regular, como figurante, além de injusto, não corresponde ao que se propõe no paradigma da educação inclusiva. Segundo a autora, a proposta de inclusão é muito mais abrangente e significativa do que o simples fazer parte (de qualquer aluno), e implica, sobretudo, a necessidade de garantir a ativa participação dos alunos com deficiência em todas as atividades do processo de ensino- aprendizagem, principalmente em sala de aula.

Logo, por um gesto de interpretação, entendemos que se fosse dado a estas alunas surdas o poder de narrarem, ou de falar por si mesmas, possivelmente elas não demonstrariam tanta ―alegria‖ em estar numa sala de aula regular, tendo em vista que a necessidade de usar um celular como único meio de comunicação entre professor e aluno, usurpa um direito básico da pessoa surda, que consiste na garantia de um intérprete em sala de aula, para assegurar as condições mínimas de aprendizagem e de comunicação entre aluno e professor.

Obviamente, ao fazermos referência à existência de uma inclusão-excludente não estamos de maneira alguma posicionando-nos contra a inclusão da pessoa com deficiência, pelo contrário, queremos apenas problematizar que apesar da existência de um discurso comprometido com os valores da inclusão, existe uma incongruência ou uma contradição, entre aquilo que o discurso dos profissionais da educação enuncia e o que realmente está acontecendo na escola denominada inclusiva.

Além disso, ao ler os discursos da formação de professores para educação inclusiva, no espaço formativo do Portal, evidenciando os ditos e os não-ditos, tentamos mostrar que os docentes ao enunciarem, trazem, em si, uma instituição, e manifesta, por si, uma ordem que lhe é anterior e em que está imerso. Em resumo, nessa época atual, o conjunto de práticas não-discursivas engendram o que se diz e o que se faz a respeito da deficiência, demonstrando que não há nada de natural nesse campo. Em consonância com Paul Veyne (2008) acreditamos que:

Aí está, pois, um universo material, feito de referentes pré- discursivos que são virtualidades ainda sem rosto; práticas sempre diversas engendram nele, em pontos diferentes, objetivações sempre diversas, rostos; cada prática depende de todas as outras e de suas transformações, tudo é histórico e tudo depende de tudo; nada é