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Capítulo I – EDUCAÇÃO: UM BREVE PANORAMA

C) Quanto à formação moral:

1.3. O Ensino Médio, quem é, afinal?

A revista Carta na Escola, objeto desta pesquisa, se propõe a trabalhar atualidades no Ensino Médio a partir da reestruturação de notícias veiculadas originalmente pela revista semanal Carta Capital. Para a adequação das notícias ao Ensino Médio, a revista conta com uma supervisora pedagógica que tenta selecionar e articular o conteúdo das notícias com o previsto nos Parâmetros Curriculares. A ideia é também motivar professores e alunos ao entendimento dos acontecimentos, relacionando-os, na medida do possível, aos temas estudados na sala de aula. Mas, qual é o retrato da realidade e do imaginário coletivo sobre o chamado final do ciclo da Educação Básica, o Ensino Médio?

Figura 2. Comparativo entre Ensino Médio Privado e Público

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Figura 3. Reflexão sobre a utilidade do conteúdo ensinado no Ensino Médio

Fonte: http://itaboray.com/blog/?cat=10

Figura 4. Visão da percepção cultural do aluno do Ensino Médio

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Figura 5. Leitura do professor e do aluno contemporâneo de Ensino Médio

As charges acima poderiam ilustrar as palavras de Carneiro (2012, p.10) na obra “O nó do Ensino Médio”, quando afirma que

a emissão de discursos tangenciados sobre o Ensino Médio, quase sempre à margem dos seus reais desafios históricos o tem jogado no limbo das políticas educacionais do Estado brasileiro, produzindo o retardamento de sua adequada reconfiguração.

Os desafios dos quais fala o autor sugerem que: a) o Ensino Médio seja visto como a etapa final da Educação Básica e não como mais um nível de ensino, que antecede o vestibular; b) a formação de professores não seja o âmago das mazelas educacionais; c) a elaboração de instrumentos de avaliação sem a contribuição dos professores deveria ser revista; d) o Ensino Superior privado ser majoritariamente culpado pela má formação de professores seria uma aberração. Isso sem colocar a questão da nulidade da família na formação global do aluno de Ensino Médio como a única resposta às discrepâncias nesta fase da Educação Básica.

Os resultados da evolução do Ensino Médio Regular, segundo o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica - o IDEB – entre 2009 e 2011, também apontam para uma realidade que exige cuidados. Segundo tabela abaixo, organizada pelo Ministério de

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Educação e Cultura (MEC) e pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), o crescimento deste nível de ensino – quando não decrescimento – foi ínfimo em todas as regiões do país, conforme mostra tabela abaixo:

Tabela 8. Ensino Médio regular - evolução entre 2009 e 2011

3ª série EM

Ideb Observado Metas Projetadas

Estado 2005 2007 2009 2011 2007 2009 2011 2013 2015 2017 2019 2021 Acre 3.2 3.5 3.5 3.4 3.2 3.3 3.5 3.8 4.1 4.5 4.8 5.0 Alagoas 3.0 2.9 3.1 2.9 3.0 3.1 3.3 3.6 3.9 4.4 4.6 4.9 Amapá 2.9 2.8 3.1 3.1 2.9 3.0 3.2 3.5 3.8 4.3 4.5 4.8 Amazonas 2.4 2.9 3.3 3.5 2.4 2.5 2.7 3.0 3.3 3.7 4.0 4.2 Bahia 2.9 3.0 3.3 3.2 3.0 3.1 3.2 3.5 3.8 4.3 4.5 4.8 Ceará 3.3 3.4 3.6 3.7 3.3 3.4 3.6 3.9 4.2 4.6 4.9 5.1 Distrito Federal 3.6 4.0 3.8 3.8 3.6 3.7 3.9 4.1 4.5 4.9 5.2 5.4 Espírito Santo 3.8 3.6 3.8 3.6 3.8 3.9 4.1 4.3 4.7 5.1 5.3 5.6 Goiás 3.2 3.1 3.4 3.8 3.3 3.4 3.5 3.8 4.2 4.6 4.8 5.1 Maranhão 2.7 3.0 3.2 3.1 2.8 2.9 3.0 3.3 3.6 4.1 4.3 4.6 Mato Grosso 3.1 3.2 3.2 3.3 3.1 3.2 3.4 3.7 4.0 4.4 4.7 4.9

Mato Grosso do Sul 3.3 3.8 3.8 3.8 3.3 3.4 3.6 3.8 4.2 4.6 4.8 5.1

Minas Gerais 3.8 3.8 3.9 3.9 3.8 3.9 4.1 4.3 4.7 5.1 5.3 5.6 Pará 2.8 2.7 3.1 2.8 2.9 2.9 3.1 3.4 3.7 4.2 4.4 4.7 Paraíba 3.0 3.2 3.4 3.3 3.0 3.1 3.3 3.5 3.9 4.3 4.6 4.8 Paraná 3.6 4.0 4.2 4.0 3.6 3.7 3.9 4.2 4.5 5.0 5.2 5.4 Pernambuco 3.0 3.0 3.3 3.4 3.1 3.2 3.3 3.6 3.9 4.4 4.6 4.9 Piauí 2.9 2.9 3.0 3.2 3.0 3.1 3.2 3.5 3.8 4.3 4.5 4.8 Rio de Janeiro 3.3 3.2 3.3 3.7 3.3 3.4 3.6 3.8 4.2 4.6 4.9 5.1

Rio Grande do Norte 2.9 2.9 3.1 3.1 2.9 3.0 3.2 3.5 3.8 4.3 4.5 4.7

Rio Grande do Sul 3.7 3.7 3.9 3.7 3.8 3.9 4.0 4.3 4.6 5.1 5.3 5.5

Rondônia 3.2 3.2 3.7 3.7 3.2 3.3 3.5 3.8 4.1 4.5 4.8 5.0 Roraima 3.5 3.5 3.4 3.6 3.5 3.6 3.8 4.0 4.4 4.8 5.1 5.3 Santa Catarina 3.8 4.0 4.1 4.3 3.8 3.9 4.1 4.4 4.7 5.2 5.4 5.6 São Paulo 3.6 3.9 3.9 4.1 3.6 3.7 3.9 4.2 4.5 5.0 5.2 5.4 Sergipe 3.3 2.9 3.2 3.2 3.3 3.4 3.6 3.8 4.2 4.6 4.9 5.1 Tocantins 3.1 3.2 3.4 3.6 3.1 3.2 3.4 3.6 4.0 4.4 4.7 4.9

Fonte: MEC/Inep (http://ideb.inep.gov.br/resultado/) Obs:

* Número de participantes na Prova Brasil insuficiente para que os resultados sejam divulgados. ** Solicitação de não divulgação conforme Portaria Inep nº 410.

*** Sem média na Prova Brasil 2011.

Os resultados marcados em verde referem-se ao Ideb que atingiu a meta

Quando os dados são avaliados por rede de ensino, a rede particular – contrariando todas as expectativas quanto a isso – obteve resultado abaixo do esperado: enquanto se projetou como meta 5,8, as escolas privadas alcançaram 5,7. Já as públicas permaneceram na projeção de 3,4, o que não parece ser motivo para comemorações. A tabela a seguir

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apresenta tais dados, inclusive com as projeções para o ano de 2021 em ambos os seguimentos – público e privado:

Tabela 9. Resultado comparativo do IDEB entre Rede Pública e Privada

Ensino Médio

IDEB Observado Metas

2005 2007 2009 2011 2007 2009 2011 2013 2021 Total 3.4 3.5 3.6 3.7 3.4 3.5 3.7 3.9 5.2 Dependência Administrativa Pública 3.1 3.2 3.4 3.4 3.1 3.2 3.4 3.6 4.9 Estadual 3.0 3.2 3.4 3.4 3.1 3.2 3.3 3.6 4.9 Privada 5.6 5.6 5.6 5.7 5.6 5.7 5.8 6.0 7.0

Fonte: MEC/Inep (http://ideb.inep.gov.br/resultado/)

Os resultados marcados em verde referem-se ao Ideb que atingiu a meta.

O jornal O Estado de S. Paulo, de 15 de agosto de 2012, traz como manchete

de capa: “Ensino Fundamental avança, mas Médio ainda preocupa”. Nesta reportagem, os números do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) reiteram a estagnação do Ensino Médio - de 3,6 para 3,7 na média geral – inclusive com a piora nos índices em nove estados do país, principalmente no ensino privado. Os especialistas afirmam que “o Brasil conseguiu avanços muito tímidos e grande parte dos estudantes ainda sai das escolas sem aprender o que deveriam nas suas respectivas séries” (O Estado de S. Paulo, p. A15). Chamam também a atenção os dados do Ensino Médio da rede particular do Brasil: 15 Estados e o Distrito Federal não atingiram a nota mínima esperada pelo governo no Ideb, conforme se observa na Tabela 8. Além do que, dois terços dos 20 Estados avaliados em 2009 pelo mesmo índice sofreram queda ou mantiveram a mesma média.

Na verdade, o que se discute aqui é a vantagem que um aluno de escola particular levaria sobre o da escola pública, visto que existe um senso comum pairando na população (ilustrado pela Figura 2) de que a rede privada tem privilégios se comparada à publica. Na mesma reportagem do jornal o Estado de S. Paulo, a professora Silvia Colello, da Faculdade de Educação da USP observa que

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Os alunos de escolas privadas têm muitas facilidades, pois a maioria aprende idiomas fora do colégio, tem aulas particulares e mais acesso a viagens e ao mundo letrado.

[...]

Mesmo assim, a rede particular de ensino ainda está longe da sua meta. Paira a concepção de que a escola pública é ruim e a particular é ótima, mas isso é relativo.

[...]

As escolas particulares estão num momento difícil, pois têm de assegurar a clientela e garantir a qualidade que demandam os pais. Cobram mensalidades mas funcionam como empresa e não valorizam o professor. (O Estado de S.Paulo, A19)

Ainda sobre o mesmo tema, a especialista Neide Noffs, da Faculdade de Educação da PUC-SP, acredita que “a rede particular também sente os efeitos da mudança no perfil das provas (...); o desafio de ensinar os alunos a contextualizar e analisar questões atuais ainda não foi assimilado pela rede de ensino”. A professora também afirma que

Os instrumentos de avaliação utilizados hoje têm premissas diferentes. As escolas eram voltadas para a memorização, e hoje as avaliações exigem dos alunos maior capacidade de compreensão e interpretação de texto. [...]

Várias escolas estão tentando fazer isso, e as particulares são mais ágeis nesse processo, mas leva tempo até conseguirem se adequar. (O Estado de

S.Paulo, A19)

Algumas possibilidades foram apontadas acima, mas Carneiro (2012, p.139) ainda coloca um fator não discutido pelas entrevistadas; algo anterior ao Ensino Médio, mais específico ao contexto social em que este nível de ensino se insere. Ele diz que

A nossa escola do Ensino Médio vive a fantasia de um aprendizado divorciado da ideia de educação básica. Por isso, todo seu formato organizacional, curricular e docente não é para formar sujeitos autônomos, mas para conformar identidades. [...] É uma escola escassa de meios e recursos que a qualifiquem. E como se não bastasse, não conta com um quadro estável de professores profissionais, mas, sim, de profissionais professores temporários.

Aqui estão sendo colocadas questões como a realidade do Ensino Médio virar as costas para a Educação Básica – ironizando a própria LDB, que o nomeia como último ciclo da E.B. – e voltar-se integralmente para o exame vestibular, para a competição do

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mercado de trabalho, para as vagas nas universidades públicas, ignorando o discurso da criação de um cidadão crítico e reflexivo. Há, ainda, a discussão sobre o comprometimento dos professores com sua profissão e da má remuneração frente a um trabalho que exige estudo contínuo, tempo digno para a execução de bons Planos de Ensino e elaboração de aulas criativamente dialógicas entre conteúdo formal e atualidades.

Afinal, que escola queremos, que escola temos, que escola fazemos? Silva (2002, p.62) estabelece contraposições interessantes quando pergunta:

Escola: local de estudo ou de acesso à merenda?

Escola: local de aquisição de conhecimentos ou de orientação

psicoterapêutica?

Escola: local de questionamento crítico dos valores sociais ou de

atendimento médico-odontológico?

Escola: local de formação/informação ou de comércio de bijuterias? Escola: local de instrumentação para o trabalho ou uma panaceia para

todos os males sociais?

Estas questões só reiteram a complexidade a partir da qual a escola – e, consequentemente, o Ensino Médio – é construída. Nota-se uma luta política pelo seu espaço da escola e cada ator social envolvido nessa disputa defende suas razões e luta por elas – alunos, professores, gestores, pais, Estado. E em tempos de cultura global, alfabetização de consumidores globais, sociabilização global, ou se dialoga e se entra num acordo, ou as frustrações sociais só se aprofundarão.

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