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Capítulo IV – RESULTADOS E PERCEPÇÕES DO PAPEL DA REVISTA CARTA NA ESCOLA NO ENSINO MÉDIO:

4.2. A visão da coordenação pedagógica

O primeiro contato feito com o colégio participante deste Estudo de Caso foi realizado via coordenação pedagógica. Foi apresentada a proposta da pesquisa e antes do primeiro Grupo Focal com os docentes foi solicitado à coordenadora deles que traçasse um perfil destes professores quanto a: a) tempo de carreira; b) tipo e área de formação; c) característica do método de ensino; d) pontos subjetivos do profissional. A coordenadora respondeu às questões com prontidão e, a despeito das informações pontuais sobre a

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formação dos professores, foi curioso notar as impressões que a coordenação pedagógica tem de seus profissionais.

Como expressões positivas foram registradas as seguintes: “extremamente experiente”; “total domínio do conteúdo e de classe”; “competente, comprometido, dinâmico”; “querida dos alunos, competente, comprometida”; “superdinâmica, competente, comprometida”; “comprometido, procura ser criativo”; “muito interessado em crescer em todas as áreas”; “dinâmico”; “perfil de professor universitário”; “dinâmico e competente”. A partir destas descrições, infere-se que, em sua maioria – segundo a ótica da coordenação pedagógica do colégio – os professores participantes desta pesquisa são competentes e comprometidos, dentre outros qualitativos.

Já como expressões negativas listam-se as seguintes: “pouco criativa”; “em alguns aspectos, imutável”; “autoritário demais”; “falta criatividade”; “falta dinamismo”. Observa- se, portanto, que as pontuações negativas em relação ao mesmo grupo tangem a questão da criatividade e do dinamismo. Não seria, portanto, o momento de uma intervenção que apresentasse propostas de renovação, adaptação da grade curricular com o cotidiano do aluno, algo que transformasse os docentes imutáveis em renováveis? Quem sabe a mídia – em todos os seus formatos – pudesse ser uma parceira neste trajeto.

Com o objetivo de melhor compreender o papel da coordenação pedagógica na práxis do grupo de professores participantes do Estudo de Caso, foi aplicado um questionário à profissional, que apontou a relevância de ter “experiência em sala de aula” e “espírito de liderança” como fatores motivadores ao exercício de sua função; entretanto, quando perguntada sobre o acompanhamento da aplicação das propostas de Carta na Escola com seus professores respondeu, a coordenadora respondeu com um evasivo “sim”, não fornecendo detalhes e impressões sobre a proposta – talvez por falta de tempo para responder às questões do questionário; talvez por pouco envolvimento com o projeto desta pesquisa – o que pode denotar um frágil espírito de liderança.

Há, porém, pelo menos teoricamente, uma concordância entre o perfil do professor contemporâneo requerido nos PCNEM’s e o olhar da coordenadora pedagógica entrevistada: ambos procuram docentes que busquem novas práticas de ensino, criativos e

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abertos a mudanças. Esta expectativa da coordenação quanto ao perfil de seus professores é reiterada quando lemos a impressão que ela tem de alguns dos profissionais com os quais trabalha – imutáveis, pouco criativos e sem dinamismo. Mas, a pergunta que fica é: Qual tem sido o trabalho pedagógico pontual oferecido pela coordenação para o aprimoramento destes professores? A questão se agrava na medida em que ela não respondeu à pergunta referente ao feedback de seus professores quanto ao uso da ferramenta metodológica Carta na Escola em sua escola. Uma pesquisa é realizada com os docentes e discentes do colégio, em horário de aula, interferindo diretamente no planejamento destes professores e na visão de mundo dos alunos, mas a coordenação desconhece os resultados compartilhados entre seus profissionais a respeito deste estudo. Algo sobre o qual se refletir... Além disso, percebe-se pela sugestiva questão levantada por ela que “o professor, POR SI SÓ, deve buscar seu crescimento profissional” (o que deve ser questionado porque este é um dos principais papéis da coordenação: facilitar a percepção do professor).

A coordenadora reconhece nos PCNEM’s o papel de “norte” e “base” da construção curricular e metodológica de seus professores, mas, ao que se observa nesta entrevista, não acompanha – de maneira mais sistemática – o trabalho desenvolvido por seus profissionais a partir deste documento do MEC e isto se torna ainda mais claro quando se observa o Plano Anual de Ensino dos professores e as respostas que tanto eles quanto ela, coordenadora, deram em seus respectivos questionários para esta pesquisa.

Igualmente relevante foi o ponto colocado pela coordenadora como dificultador em sua função: agradar aos pais como um inibidor da audácia pedagógica dos professores. Este pensamento requer, talvez, maior diálogo entre escola-família-comunidade a fim de que sejam afinadas as expectativas e exigências quanto ao que cobrar do aluno-filho- cidadão. Parece que há, aqui, num mesmo ringue, vários adversários: professores, gestores, alunos, pais. Curioso é que a luta é a mesma e todos visam o mesmo cinturão: o atestado de qualidade da educação brasileira, formando cidadãos conscientes de seu papel no mundo.

Quando perguntada se a mídia pode complementar o conteúdo programático e dinamizar as aulas dos professores, a resposta da coordenadora parece ser unilateral: “sim; como fonte de pesquisa”. Seria este o único lugar que a mídia ocuparia na sala de aula ou cabe a ela – a mídia – o papel de questionar, refletir, desconstruir? Curiosamente, quando

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comparados os Planos de Ensino dos professores com as temáticas tratadas nas reuniões quinzenais realizadas pela coordenação – segundo sua resposta a esta questão – não encontramos, expressos neste documento, menção a projetos pedagógicos ligados ao uso da mídia em sala de aula - o que seria de bom tom que acontecesse na rotina escolar, exatamente para quebrar essa rotina.

Entretanto, concomitante ao não acompanhamento do processo de maneira mais próxima do professor, parece que a profissional “sentiu” algo de positivo quanto à revista, já que solicitou à direção do colégio a sua assinatura, a qual havia sido cancelada por falta de procura dos professores. Eis uma influência desta pesquisa. Agora, a despeito do investimento feito pela escola – a volta de Carta na Escola à escola – a coordenação colocou em seu questionário que a escola pouco investe no financiamento de cursos de extensão, mestrados e afins e, por sua vez, os professores não querem gastar nada com isso.

O que se acaba de ler acima são teias de um tecido que parece ser de material muito delicado: o professor não quer ou não pode investir em sua formação continuada, em função das 40 horas/aula que precisa dar a fim de exercer a função de cidadão dignamente; a gestão escolar também não; a coordenação não acompanha, como gostaria, o trabalho de seus professores; o professor não tem tempo de apropriar-se de novos materiais metodológicos porque leciona em muitas outras instituições para poder viver com um mínimo de dignidade; a mídia, por sua vez, investe em material de qualidade para agregar às aulas do professor contemporâneo, mas não conhece seu “cliente” – o professor, para o qual ela é elaborada - e, por isso, continua escrevendo pra si mesma. Há que se ter cuidado para que este “tecido” não se “esgarce”...

4.3. Alunos, professores e a Carta na Escola – (des)motivação e