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CAPÍTULO I- ENQUADRAMENTO TEÓRICO

2. O Ensino Superior em Portugal

Temos assistido nos últimos 30 anos a alterações profundas na estrutura e organização das instituições de ensino superior. Na origem dessas alterações, poderão estar novas expectativas e aspirações sociais relativas às funções e papéis das universidades, sistemas de financiamento mais regulados, o desenvolvimento do conhecimento científico e tecnológico, a influência das políticas educativas nacionais, o

aumento e diversificação da população estudantil. Tavares (1998) considera que de todos estes factores, é de destacar a expressão do aumento e da diversificação estudantil no panorama do ensino superior.

É notório que a população estudantil no ensino superior tem aumentado, se nos anos 60, existiam 25000 alunos e nos anos 70 eram contabilizados, aproximadamente, 50000, na década de 90 o número de alunos aumenta para os 350000 (ME-DGES, 1999). Tenhamos em consideração que a democratização da sociedade portuguesa trouxe consigo um acesso ao ensino superior generalizado por parte de todas as classes sociais, o que conduziu à heterogeneidade da população estudantil (Vieira, 1995). Assim, têm surgido diversos estudos com o intuito de obter maior conhecimento da origem e características dos estudantes que frequentam o ensino superior. Os estudos centram-se nas trajectórias escolares, nos factores do sucesso académico, nos objectivos, motivações e expectativas da frequência do ensino superior e também, uma outra linha de investigação apostada em perceber como é realizada a transição para o mercado de trabalho (Almeida, Vasconcelos, Machado, Soares & Morais, 2002; Balsa, 1997; Bessa & Tavares, 2000; Cabral-Cardoso, Estêvão & Silva, 2006; Soares, 2003; Soares & Almeida, 2001, 2002; Tavares et al, 1998).

Pensamos que os principais desafios colocados às instituições portuguesas de ensino superior são, principalmente, a missão pública de educação e formação, a construção e difusão do conhecimento científico e tecnológico, a participação no desenvolvimento económico, social e cultural dos cidadãos e da sociedade (Santiago, Tavares, Taveira, Lencastre & Gonçalves, 2001). É essencial que as instituições de ensino superior repensem e reformulem os conteúdos de ensino proporcionados, a organização curricular, os métodos de ensino e o perfil de competências a desenvolver (Cardoso, 2004; Almeida, 2002; Silva, 2002). No panorama actual, de globalização e competitividade internacional crescentes, as instituições de ensino superior devem agora conceptualizar-se como estruturas com relevância social e económica, prestando o seu contributo na resolução de problemas e para a evolução das sociedades (Silva, 2002; UNESCO, 1998).

Assim sendo, a missão válida de ensinar e investigar de outrora das instituições de ensino superior deve dar lugar à formação e preparação dos estudantes, proporcionando-lhes a obtenção de graus e fornecendo-lhes saberes que lhes permitam integrar-se na vida activa de forma a executarem tarefas diferenciadas e prestando o seu contributo para o desenvolvimento económico e social (Crespo, 2003). A UNESCO (1998) recomenda que a actual missão das instituições de ensino superior deva reformular-se no sentido de educar cidadãos responsáveis com abertura para a aprendizagem ao longo de toda vida. Neste âmbito, é necessário alargar a

compreensão dos factores de sucesso e insucesso académico para posterior implementação de medidas de intervenção de combate ao insucesso académico e de promoção do sucesso académico.

Muitas investigações e projectos têm sido realizados tendo em vista o tema dos factores de insucesso/sucesso dos alunos do ensino superior. Os projectos Estratégias

de Promoção do Sucesso Académico no Ensino Superior (EPSAES) e Laboratório de Estudo e Intervenção no Ensino Superior (LEIES) coordenados pela Universidade de

Aveiro expressam a preocupação com situações de insucesso escolar persistente já manifestada pelo próprio Ministério da Educação nas suas medidas destinadas a combater o insucesso escolar no ensino superior.

O projecto LEIES, decorrido entre 2002 e 2004 enquanto projecto financiado, destinava-se a promover o sucesso académico no ensino superior partindo de acções de diagnóstico e de intervenção. No âmbito dos seus objectivos principais, referimos o equacionar a qualidade educativa, científica e pedagógica das práticas institucionais, dos seus agentes, processos e mecanismos de ensino/aprendizagem; a promoção de discussões sobre as problemáticas da transição, pedagogia universitária e sucesso académico; a recolha de dados sobre características pessoais, competências, atitudes, comportamentos e experiências de alunos e professores; a identificação e análise de diferentes práticas curriculares. Depois do LEIES, muitas investigações e projectos se seguiram, dando-lhe de certa forma, alguma continuidade. É neste contexto, que surgem os projectos de investigação Ensino Superior. Um estar entre duas transições:

Ensino Secundário e Vida Profissional e Pesquisa, Análise, Compreensão e Gestão da Informação. O primeiro funciona desde 2003 e a sua pesquisa incide sobre a transição

para o ensino superior, a envolvência nas instituições do ensino superior e a transição para a vida profissional mercado de emprego. O segundo projecto, PACGI, a base do trabalho exposto nesta dissertação, recai sobre as competências que devem ser promovidas nos alunos com vista ao sucesso académico e a uma inserção mais eficiente na vida activa e no mundo do trabalho.

Destacamos ainda um trabalho de investigação denominado Transição,

Adaptação e Sucesso Académico de Jovens no Ensino Superior, da Universidade do

Minho, o qual apresentava como objectivos principais avaliar as expectativas e motivações de ingresso dos alunos, o seu grau de concretização no 1º ano e o seu impacto no sucesso académico, caracterizar os seus métodos de estudo, identificar factores de adaptação à universidade e dificuldades na transição para a vida activa.

Em síntese, começámos por contextualizar o período de desenvolvimento no qual o estudante do ensino superior se inclui. Trata-se de um período distinto da

adolescência e da adultez, caracterizado pela exploração da identidade, pela instabilidade, pelo auto-focus, pelo sentimento “in-between” e pelas inúmeras possibilidades (Arnett, 2006).

Descrevemos, também, algumas teorias e modelos ilustrativos do desenvolvimento psicossocial do estudante do ensino superior, distinguindo a Teoria dos Sete Vectores de Chickering e no âmbito das teorias e modelos de impacto, o Modelo Institucional de Pascarella.

Por fim, apresentamos algumas considerações a respeito do ensino superior em Portugal e focámos alguns projectos de investigação nacionais que têm centrado os seus trabalhos na promoção do sucesso académico no ensino superior.