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3. METODOLOGIA

5.4. Estágios de desenvolvimento de uma ENBT

5.4.1. O estágio de reconhecimento de oportunidade

Assim como no trabalho de Kirwan,Van Der Sijde e Groen (2006), observou-se que o primeiro estágio do surgimento de uma nova empresa é a identificação, por parte dos empreendedores, de uma necessidade de mercado não atendida, um problema a ser solucionado ou uma nova forma de disponibilizar algo a alguém.

Em todos os casos estudados, a orientação inicial das ENBTs foi mercadológica, uma vez que se deu por alguma necessidade ou oportunidade observada externamente. O reconhecimento de uma oportunidade pode decorrer de várias situações. Houve empresas que surgiram por algum projeto pessoal dos empreendedores, outras de uma situação vivida pelos empreendedores em seu ambiente de estudos e/ou de trabalho, auxiliados por orientação de terceiros, ou ainda por alguma deliberação estratégica de uma empresa mãe (Tabela 6).92

Tabela 6 – Origem do reconhecimento da oportunidade

Fonte – Entrevistas com empreendedores das ENBTs. Elaborado pelo autor da dissertação.

Pelos resultados apresentados na Tabela 6, observa-se que, tanto o empreendedorismo tecnológico acadêmico, quanto o empreendedorismo tecnológico corporativo tem papel fundamental na geração de novos negócios de base tecnológica.

Uma vez identificada tal oportunidade, os empreendedores normalmente seguiram três caminhos, a depender, principalmente, de seu perfil, de suas competências-base e da disponibilidade inicial de recursos financeiros: (i) iniciar o desenvolvimento tecnológico de um possível produto que irá solucionar o problema identificado (estágio 2); ou (ii) iniciar a realização de estudos mercadológicos, de estudos de viabilidade e/ou de um plano de negócios, que indiquem que explorar tal oportunidade por meio de uma nova empresa pode ser lucrativo (estágio 3); ou (iii) ambas as atividades.

Percebeu-se que a existência de recursos próprios – pessoais e reinvestimento de lucros de outros negócios, principalmente – ou de recursos públicos de fomento a P&D e/ou de subvenção foram fundamentais para avançar para os estágios seguintes. Das três ENBTs que foram diretamente para o estágio 3, de mapeamento e viabilidade, duas foi por não ter recursos financeiros para iniciar o desenvolvimento tecnológico e a estruturação do negócio. Já a terceira foi por deliberação do empreendedor líder, que decidiu avaliar primeiro o potencial do negócio e estruturá-lo em um plano de negócios. Desse modo, fica evidente a predominância de uma postura just-do-it nos casos observados, desde o seu surgimento.

92 Os relatos do reconhecimento da oportunidade em cada ENBT não são transcritos neste trabalho por conta dos acordos de confidencialidade, uma vez que, por tais relatos, as empresas podem ser facilmente identificadas.

Desenvolvimento tecnológico acadêmico 7 43,8%

Situação profissional vivenciada 5 31,3%

Orientação estratégica 3 18,8%

Situação prática vivenciada 1 6,3%

Tabela 7 – Estágio seguinte ao de reconhecimento da oportunidade

Fonte – Entrevistas com empreendedores das ENBTs. Elaborado pelo autor da dissertação.

Em vários relatos observou-se também a importância das instituições mães e das instituições

incubadoras como fornecedoras de uma estrutura mínima para que a ENBT embrionária iniciasse seu desenvolvimento. A procura por esse tipo de apoio – sejam as instituições mães e/ou incubadoras as próprias universidades, incubadoras de empresas ou sócios corporativos – é uma das atividades a ser desempenhada pelos empreendedores.

Três empresas iniciaram ao mesmo tempo atividades dos estágios 2 e 3. Duas delas são

spinoffs corporativos. Estas já tinham realizado suas primeiras vendas, compartilhavam estrutura da instituição mãe e já tinham algum recurso financeiro para iniciar suas operações. A outra já havia captado verbas de fomento e de subvenção para P&D e agregou um novo sócio corporativo que iniciou concomitantemente o processo de planejamento do negócio.

A análise dos dados coletados sugere que os empreendedores que detêm as competências técnicas necessárias para o desenvolvimento da tecnologia e do produto seguem o primeiro caminho (estágio 2), enquanto os demais tendem a partir para as análises mercadológicas, para a busca de parcerias e atividades comerciais (estágio 3).

Em algumas ENBTs do setor de tecnologia da informação e comunicação (TIC) (cinco das sete empresas desse setor), os empreendedores líderes não detinham as competências técnicas de ciências da computação. Por isso, buscaram essa Competência-Base (CB) externamente, por meio da incorporação de novos sócios com tal CB ou da contratação de profissionais ou de outras empresas qualificados para o desenvolvimento de seus sistemas e plataformas. Foi observado, no entanto, que, antes de contratarem esses serviços de desenvolvimento, os empreendedores fizeram alguma análise, mesmo que baseada em suas próprias percepções, que indicasse a viabilidade do negócio.

Por fim, indica-se que, a depender de cada caso, o segundo e terceiro estágios de desenvolvimento das ENBTs podem ocorrer na ordem inversa ou paralelamente ou, ainda, de forma cíclica. Isso deverá suceder até que os empreendedores decidam por empreender (juntura crítica do estágio 2) e entendam que estão aptos para a abertura formal da empresa (juntura crítica do estágio 3).

Desenvolvimento tecnológico 10 62,5%

Mapeamento e viabilidade 3 18,8%

Ambos 3 18,8%

A Figura 8 apresenta a configuração do modelo teórico proposto no primeiro estágio das ENBTs estudadas. Observou-se que, neste estágio, ainda não há as decorrências dos fatores influenciadores (anel externo da Figura 4), dado que se está apenas iniciando as atividades de desenvolvimento de um negócio. Destacam-se, nesse estágio, as competências-base de

marketing e estratégia – fundamentais para o reconhecimento da oportunidade – e tecnológicas – necessárias para iniciar o estágio seguinte de desenvolvimento do negócio de base tecnológica.

Figura 8 – Estágio de reconhecimento da oportunidade

Fonte – Elaborado pelo autor da dissertação.

Os demais Fatores Básicos (FBs) – características e perfil, rede de contatos, conhecimento do setor, experiência em negócios – irão variar a cada caso. Destaca-se, já nesse estágio, a importância da rede de contatos dos empreendedores. Vários entrevistados relataram o apoio de outras pessoas, tanto de seu círculo pessoal quanto profissional, incentivando-os a investir na ideia, assessorando-os na modelagem do negócio, apresentando-os a empresas e a pessoas relevantes para o projeto dentre outras ajudas. De qualquer forma, em todas as ENBTs estudadas, tais fatores influenciadores na captação de investidores privados externos irão se robustecer ao longo do desenvolvimento do empreendimento.