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Capítulo 3 Opções metodológicas

3.3 O Estudo de Caso como opção metodológica

Dado o contexto a estudar ser o ISCED- Benguela, pareceu-nos adequado seguir uma abordagem metodológica designada como Estudo de Caso. A característica que melhor identifica e distingue esta abordagem metodológica é, segundo Coutinho (2011), o fato de se tratar de um plano de investigação que envolve o estudo intensivo e detalhado de uma entidade bem definida: o “caso” (p. 293).

Como refere o mesmo autor, quase tudo pode ser um “caso”: um indivíduo, um personagem, um pequeno grupo, uma organização, uma comunidade ou mesmo uma nação. Pode também ser uma decisão, uma política, um processo, um incidente ou acontecimento imprevisto.

O caso sobre o qual se debruçou o nosso estudo, foi o ISCED de Benguela, uma Instituição de formação inicial de professores da Universidade Katiavala Bwila, universidade publica angolana integrada na II Região Académica.

O estudo de caso constitui uma estratégia de pesquisa utilizada nas Ciências Sociais com bastante regularidade. Segundo Yin (1994, p.9), “é a estratégia mais utilizada quando se pretende conhecer o “como?” e o “porquê?” de acontecimentos atuais sobre os quais o investigador tem pouco ou nenhum controlo, quando o investigador detém escasso controlo dos acontecimentos reais ou mesmo quando este é inexistente, e quando o campo de investigação se concentra num fenómeno natural dentro de um contexto da vida real”. Trata-se de uma abordagem metodológica de investigação especialmente adequada quando procuramos compreender, explorar ou descrever acontecimentos e contextos complexos, nos quais estão simultaneamente envolvidos diversos fatores. Esta característica foi importante na nossa escolha da opção metodológica tendo em conta que o processo de formação inicial de professores já em si complexo, tem intervenção de diferentes fatores, adicionados à subjetividade introduzida pela ação do fator humano, aqui representado por alunos e professores.

Yin (1994) afirma que esta abordagem se adapta à investigação em educação, quando o investigador é confrontado com situações complexas, de tal forma que dificulta a identificação das variáveis consideradas importantes, quando o investigador procura respostas para o “como?”

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e o “porquê?”, encontrar interações entre fatores relevantes próprios dessa entidade, quando o objetivo é descrever ou analisar o fenómeno, a que se acede diretamente, de uma forma profunda e global, e quando o investigador pretende apreender a dinâmica do fenómeno, do programa ou do processo. O estudo de caso é “a exploração de um “sistema limitado”, no tempo e em profundidade, através de uma recolha de dados profunda e envolvendo fontes múltiplas de informação ricas no contexto” (Creswell, 1998, p. 61).

Considerando o nosso posicionamento qualitativo, que assumimos desde o princípio para a realização do estudo, devemos referir que o enquadramento do “estudo de caso” dentro dos planos qualitativos é uma questão controversa. Como referem Coutinho & Chaves (2002) na investigação educativa em geral abundam sobretudo os estudos de caso de natureza interpretativa/qualitativa, mas existem também muitos estudos de caso em que se combinam com toda a legitimidade métodos quantitativos e qualitativos. O nosso posicionamento qualitativo e a nossa opção pelo estudo de caso para desenvolver a pesquisa fica reforçada por Myers (1997), quando refere que o carácter positivista ou interpretativo de um estudo de caso depende da perspetiva filosófica do pesquisador.

O estudo de caso procura apreender a totalidade de uma situação e, criativamente, descrever, compreender e interpretar a complexidade de um caso concreto, mediante um mergulho profundo e exaustivo num objeto delimitado. Pode integrar diversos objetivos, como propõem Fidel (1992), Yin (1994), Guba & Lincoln (1994), Ponte (1994) e Merriam (1998).

De forma a sistematizar estes vários objetivos, Gomez, Flores & Jiménez (1996, p.99), referem que o objetivo geral de um estudo de caso é: “explorar, descrever, explicar, avaliar e/ou transformar”, sendo próprio para a construção de uma investigação empírica que pesquisa fenómenos dentro de seu contexto real – pesquisa naturalística – com pouco controle do pesquisador sobre eventos e manifestações do fenómeno. Sustentada por uma plataforma teórica, reúne o maior número possível de informações, em função das questões e proposições orientadoras do estudo, por meio de diferentes técnicas de levantamento de informações, dados e evidencias. A confiabilidade e a validade dos resultados deste tipo de estudo são asseguradas pela triangulação de informações, fontes, dados e evidencias. Procura-se apreender a totalidade de uma situação – identificar e analisar a multiplicidade de dimensões que envolvem o caso – e, de maneira engenhosa, descrever, compreender, discutir e analisar a complexidade da situação concreta.

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Das diferentes propostas de definição de um estudo de caso, emergem, segundo Coutinho & Chaves (2002) e Coutinho (2011) cinco características básicas de um estudo de caso, que são:

a) O caso é “um sistema limitado”, logo tem fronteiras “em termos de tempo, eventos ou processos” e que “nem sempre são claras e precisas” (Creswell, 1998). A primeira tarefa do investigador é, pois, definir as fronteiras do caso da forma mais clara precisa

b) É um caso sobre “algo”, que necessita ser identificado para conferir foco e direção à investigação (Coutinho & Chaves, 2002, p.224);

c) É preciso preservar o carácter “único, específico, diferente, complexo do caso” (Mertens, 1998, citado por Coutinho & Chaves, 2002, p.224);

d) A investigação decorre em ambiente natural;

e) O investigador recorre a fontes múltiplas de dados e a métodos de recolha diversificados: observações diretas e indiretas, entrevistas, questionários, narrativas, registos de áudio e vídeo, diários, cartas, documentos, entre outros (Coutinho & Chaves, 2002, p.224).

Coutinho (2011) sintetiza as características do estudo de caso dizendo que o estudo de caso é uma investigação empírica (Yin, 1994); que se baseia no raciocínio indutivo (Gomez, et al., 1996); que depende fortemente do trabalho de campo (Punch, 1998); que não é experimental (Ponte, 1994); que se baseia em fontes de dados múltiplas e variadas (Yin, 1994). O estudo de caso tem sempre forte cariz descritivo apoiando-se em descrições compactas do caso (Mertens, 1998, p. 161) citado por (Coutinho, 2011) o que não impede que possam ter um profundo alcance analítico, interrogando a situação, confrontando-a com outros casos já conhecidos ou com teorias existentes, ajudando a gerar novas teorias e novas questões para futuras investigação (Ponte, 1994).

No que diz respeito ao uso dos estudos de caso na investigação, Dooley (2002) refere que investigadores de várias disciplinas usam o método para desenvolver teoria, para produzir nova teoria, para contestar ou desafiar teoria, para explicar uma situação, para estabelecer uma base de aplicação de soluções para situações, para explorar, ou para descrever um objeto ou fenómeno.

Em relação à problemática da generalização dos resultados, Flick (2004) aponta para o fato das suas declarações se fazerem sempre para determinados contextos, mas a questão deve pôr-se mais em termos de transferibilidade para outros contextos. Um contributo muito valioso

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para a resolução deste conflito sobre a generalização dos resultados é o de Stake (1999), que afirma que dos casos particulares, as pessoas, podem aprender muitas coisas que são gerais. Fazem-no, em parte, porque estão familiarizadas com outros casos, aos quais acrescentam o novo e, assim, formam um conjunto que permite a generalização, uma oportunidade nova de poder modificar antigas generalizações.

Também Yacuzzi (2005) refere que na inferência lógica (que alguns chamam científica ou causal), o investigador postula ou descobre relações entre características, num quadro conceptual explicativo e que a relevância do caso e a sua generalidade não são provenientes da estatística, mas sim da lógica: as características do estudo de caso propagam-se a outros casos pela força de uma lógica explicativa (p. 8).