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Capítulo 1 As Tecnologias de Informação e Comunicação e sua importância para a Educação

1.4 As TIC no contexto africano

Ensinar através das TIC, requer uma profunda reflexão sobre a visão do conhecimento, fragmentada e fora da realidade. Requer que se reveja o papel do professor e do aluno para que a aprendizagem surja como resultado da interação da necessidade e do interesse de um com o conhecimento do outro. Isto requer que se repense não só os processos de ensinar e aprender, mas sobretudo a postura que, quer o professor, quer o aluno irão assumir neste processo. Passa a haver uma exigência para que o professor se posicione e se assuma como um gestor de aprendizagens, mais do que como um transmissor de conhecimentos, com mente aberta e uma postura recetiva a enfrentar novos desafios, muitos dos quais poderão vir da própria natureza dos seus alunos e do nível de conhecimento que os mesmos trazem (competências para utilizar as TIC) da rotina do seu dia a dia para a escola.

Como afirma Robalo (2017), torna-se essencial democratizar e massificar o acesso digital, criando-se assim as bases necessárias para a aquisição, consolidação e divulgação de conhecimentos, os quais se refletem na qualidade de vida, bem como construir novas formas de desenvolvimento e de organização socio económica e de governo.

Apesar de o tema das TIC, da sua integração na sociedade em geral, e na educação em particular, ser um discurso em moda, em África são muito poucos os estudos que se debruçam sobre o tema. O reconhecimento do seu enorme potencial e das consequentes vantagens que o seu uso adequado poderá trazer a quase todos os setores da vida económica e social, o contributo

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que poderá ter para minimizar os efeitos da exclusão social, a redução da pobreza e a melhoria da qualidade de vida (UNESCO, 2017), obrigam os governos a reequacionar o seu posicionamento face as TIC, a definir políticas e estratégias adequadas que facilitem a sua integração e a disseminação do seu uso pela população. Dado o papel estratégico que ocupa na sociedade e, principalmente, a sua função social, a Educação deve ser vista de uma forma especial em todo este processo.

Apesar do enorme impacto das TIC na sociedade moderna, que tem revolucionado as comunicações e as trocas de informação, Kambamba (2008) afirma que a adoção das TIC em África não trouxe contribuições significativas à nível social e económico para a maioria da população.

A população africana vive maioritariamente em áreas rurais, onde o acesso aos cuidados básicos de saúde e educação é precário ou muitas vezes inexistente e a Internet é praticamente uma miragem. De acordo com UNESCO (2003), para a maior parte da população africana, a utilização da internet não é possível porque, além de esta ainda não estar disponível em todas as áreas do continente, possui um custo muito elevado que pode atingir até 5 a 10 vezes o valor do mesmo serviço na Europa ou nos Estados Unidos da América. Contudo este quadro começa a mudar positivamente graças à definição de políticas mais favoráveis face a integração das TIC por parte de alguns governantes africanos, que têm vindo a investir em infraestruturas e na formação dos recursos humanos necessários.

Os problemas existentes hoje na educação em África, e não só, passam desde a fragilidade profissional de professores e gestores, no que diz respeito à sua formação de base até ao despreparo da escola para colocar as tecnologias de informação ao serviço da educação e da própria formação continuada do professor. Ainda não há uma resposta adequada aos investimentos tecnológicos feitos na escola pois ainda não se conseguem obter resultados efetivos e inovadores no tocante às tecnologias educativas e, de acordo com PROINFO (1997, p. 17) só haverá uso efetivo da tecnologia na escola, se professores e alunos, diretores de escola, pais de alunos, fornecedores de Hardware e Software, prestadores de serviço, professores e pesquisadores universitários e governantes, compreenderem os seus benefícios potenciais, mas também as suas limitações.

A fazer crença no que foi dito acima, a escola precisa de ter um projeto onde reavalie todas as suas variáveis e componentes, precisa de fazer a sua própria reestruturação curricular, a sua inovação, de rever e redefinir, caso seja necessário, os seus parâmetros atuais.

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No que respeita à análise do impacto que as TIC estão a ter no continente Africano, escasseiam estudos ou outro tipo de documentação oficial sobre o tema, conclusão a que já Santos (2007) tinha chegado aquando da realização de uma investigação sobre a Integração Curricular das TIC em Angola. Ainda assim, há consciência do enorme potencial das TIC e da importância da sua integração em praticamente todos os campos da vida e da sociedade. Esta tomada de consciência traduz-se nos esforços de alguns governantes africanos para melhorar as condições de acesso da população às tecnologias, que têm resultado em algumas ações e estratégias viradas para a dinamização do setor das tecnologias e a extensão do acesso dessas ferramentas a todos os cidadãos.

Em dezembro de 2013, realizou-se em Túnis o primeiro Fórum Ministerial Africano sobre a Integração das TIC na Educação e na Formação, organizado pela Associação para o Desenvolvimento da Educação em África, pelo Banco Africano de Desenvolvimento, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), pela Organização Internacional da Francofonia e pela empresa americana de tecnologia informática Intel Corporation (ANGOP, 2013).

Estas entidades uniram-se na organização deste fórum com o objetivo de ajudar os decisores políticos, os parceiros de desenvolvimento e o setor privado a adotar políticas eficazes e pertinentes de inserção das TIC para acelerar de maneira estratégica a transformação dos seus sistemas de educação e de formação (ANGOP, 2013).

O primeiro Fórum teve também por objetivo o de criar uma plataforma de diálogo de alto nível entre os diferentes intervenientes para que se tivesse uma compreensão comum das possibilidades oferecidas pelas TIC e das políticas e estratégias a adotar para a sua utilização eficaz pelos sistemas de educação e de formação dos seus respetivos países (ANGOP, 2013).

Na ocasião, o Secretário de Estado da Educação de Angola manifestou a opinião de que os países Africanos não devem ver as TIC na educação apenas como um instrumento, mas sim como algo que responde às necessidades de desenvolvimento das sociedades africanas (ANGOP, 2013). Por sua vez, o vice-ministro da Educação de Moçambique, defendeu a necessidade de criação de um plano estratégico de integração das TIC na educação em função da realidade e do contexto de cada país (Jornal de Angola Online, 2013).

Embora tenha sido a primeira vez que os governantes discutiram o tema em conjunto é importante salientar o esforço realizado tendo em conta todos os problemas que o continente apresenta. Por outro lado, o fato de se ter realizado o Fórum representa um passo em frente na

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mudança de postura face às TIC e revela a tomada de consciência da necessidade e da importância da sua integração, com consequente necessidade da preparação para o seu uso.

Os obstáculos à utilização das TIC em África são muitos. Apesar de as estatísticas sugerirem um aumento de utilizadores da Internet no continente africano, esta conectividade continua a ser quase exclusiva das áreas urbanas. Tendo em conta que a maior parte da população africana vive em áreas rurais - onde até o acesso aos cuidados básicos de saúde e educação é complicado, como já se referiu– esse aumento não é sinónimo de uniformização no acesso e a Internet torna-se assim um sonho distante para estas pessoas (Kambamba, 2008).

Também Neto (2013), ao abordar esta problemática, afirma que apesar de África contar com 16 das 30 economias com maior previsão de crescimento económico no mundo para 2013 e 2014, os países africanos, nomeadamente da África Subsariana – onde Angola está inserida - ainda estão longe de ver reflexos desses valores na melhoria do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).

Em sintonia com as opiniões de Kambamba (2008) e Neto (2013), Jensen (n.d.) elaborou um relatório sobre as TIC em África onde concluiu que embora a cobertura das redes tenha aumentado rapidamente, esse aumento deu-se apenas nas áreas urbanas com centenas de estações de rádio, milhares de antenas para receção de sinal de telefones móveis e Internet e grande expansão da televisão digital. No entanto o fosso digital é ainda muito grande no continente africano.