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Capítulo 3 Opções metodológicas

3.8 O método de Análise de Conteúdo

3.8.3 Sistema de categorias de análise

Tendo em conta os diferentes estádios no processo de criação dos códigos (Huberman & Miles, 1991), foram percorridas diferentes etapas antes de chegarmos a um plano global final de análise, considerado como a versão terminal de suporte à análise de conteúdo realizada. Esse plano deve incluir também as categorias novas que foram emergindo durante a análise.

Em primeiro lugar, procedemos à elaboração de um esboço da estrutura, que continha os eixos e as dimensões que queríamos estudar. Esse esboço, sujeito a um processo de revisão constante e da necessária abertura, a novas categorias comummente designadas por categorias emergentes da própria análise, foi elaborado antes da realização das entrevistas, aquando da preparação e elaboração do guião, partindo do principio de que, como referem Huberman & Miles (1991: 103) é importante, não só, que da organização da entrevista (guião) decorra o padrão de análise de dados em termos de dimensões, categorias e indicadores, mas também que os códigos se insiram numa estrutura dominante, estejam ligados entre si de maneira coerente e em relação direta com os objetivos do estudo.

Assim, optámos pela elaboração de uma lista prévia de categorias, decorrentes das áreas de estudo anteriormente estabelecidas como a que se apresenta no Quadro 5 (Plano de Análise de Conteúdo. Dimensões, Categorias, Indicadores e Códigos).

Passou-se, então, a uma etapa que consistiu na verificação da adequação de cada código, através da sua confrontação com o texto das entrevistas propriamente dito, que tinha como objetivo aferir, através de uma primeira aplicação dos códigos, de forma a verificar os que não funcionavam, sentir dificuldades na análise, entre outros objetivos. Consideramos esta etapa de capital importância, (ainda que bastante trabalhosa), pois permite não apenas a testagem de cada qualquer das categorias previamente definidas, mas também porque permite a integração de novas categorias (ou emergentes). Com base nestes elementos, faz-se posteriormente a revisão dos códigos de formas a obter uma tabela definitiva que, para aumentar a eficiência da análise, deverá apresentar também a respetiva definição operacional de cada categoria.

Durante todo este processo, fomos verificando que, além da emergência de aspetos que inicialmente não havíamos considerado, e que viriam a constituir novas categorias, registamos também fenómenos de fragmentação, deterioração e até mesmo supressão de códigos, processo

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que Marcelo (1992) e Huberman & Miles (1991) referem como acontecimento perfeitamente normal.

Uma vez que a nossa intenção era ir um pouco mais além da simples classificação e descrição do material recolhido, decidimos organizar um sistema de codificação que incluísse uma componente mais interpretativa. Apoiámo-nos na classificação proposta por Huberman & Miles (1991), que consideram a possibilidade de diferentes níveis de análise, indo do simplesmente descritivo ao altamente inferencial, e distinguem três tipos de códigos, nomeadamente descritivos, interpretativos e inferenciais ou explicativos, em função, sobretudo, da intenção do investigador quando procede à codificação propriamente dita do material qualitativo:

– Códigos descritivos, que informam sobre o conteúdo, "não sugerem nenhuma interpretação,

mas simplesmente a atribuição de uma classe de fenómenos a um segmento de texto.";

– Códigos interpretativos, que requerem algum tipo de inferência por parte do codificador. Incluem já uma certa diferença no próprio conteúdo ou, como dizem os próprios autores, "o

mesmo segmento poderia ser certamente entendido de maneira mais interpretativa.";

– Códigos explicativos, constituem uma terceira classe de códigos com maior dose de inferência e podem traduzir-se numa simples "leitura" do que certos fatos encobrem (relação causal, “leitmotiv”, “pattern”, tema, etc.). Como os autores referem, "a ideia é a de indicar que tal

segmento ilustra um ‘leitmotiv’ emergente, ou ‘pattern’ que o analista encontrou ao tentar decifrar a significação de acontecimentos ou relações locais." (pp.97-98).

Para o nosso estudo optamos pelos dois primeiros tipos de códigos, procedendo a dois níveis de categorização diferenciados i) Procedemos, primeiro, a uma categorização tendo como base a utilização de códigos descritivos (1º nível de codificação); ii) Realizámos, seguidamente, e no caso das unidades de análise em que se justificava, uma categorização utilizando códigos interpretativos (2º nível de codificação).

O produto final de todo o processo de preparação da análise, é o que consta do Quadro 5 (Plano de análise de conteúdo. Dimensões, categorias, indicadores e códigos), anteriormente referido, e que passamos a assumir como plano definitivo para darmos início à categorização propriamente dita das entrevistas. Na linha do que acabámos de referir, o plano de análise de conteúdo, encontra-se dividido em dois níveis de acordo com o tipo de código considerado e são aí visíveis não só as categorias emergentes da análise , mas ainda, emergente também, uma dimensão que não havíamos colocado inicialmente de forma explícita, mas que

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gostaríamos de aprofundar, justamente no caso dos professores entrevistados viessem a fornecer informações específicas sobre isso.

De forma a estabelecer com precisão o significado dos diferentes códigos, e como sugerem Huberman & Miles (1991) citados por Costa (2008), "são necessárias definições operacionais claras, de tal modo que um só analista as possa atribuir de maneira uniforme ao longo do estudo, ou que, vários investigadores tenham em mente os mesmos fenómenos no momento da codificação" (p.104). Com esse objetivo, procedemos, pois, à definição operacional de cada um dos códigos. Fizemo-lo essencialmente em termos de uma explicitação do que seria esperado encontrar/incluir em cada uma das categorias de dados, por tipo de códigos. Este modo de proceder contribui para garantir a fiabilidade de todo o processo, objetivo positivamente alcançado, como já se fez referência anteriormente.