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2 TEORIA DA OTIMIDADE

3 TEORIA DA OTIMIDADE E CONEXIONISMO

4 RESTRIÇÕES CONJUNTAS

4.2 O funcionamento das restrições conjuntas

Conforme Smolensky (1995, 1997), a Conjunção Local é a combinação de duas restrições simples – ou de uma restrição com ela mesma –, que não podem ser violadas em um domínio específico.

A conjunção local de C1 e C2 no domínio D, C1 & C2, é violada quando há algum domínio do tipo D no qual ambas, C1 e C2, são violadas.Universalmente, C1&C2>>C1, C2.

(Smolensky, 1995)

Considerando as restrições A e B na gramática, essas podem interagir de duas formas: domínio estrito e Conjunção Local. Salienta-se, no presente trabalho, no entanto, que a restrição conjunta também é ranqueada em relação as outras restrições presentes na gramática, enquadrando-se também na questão da dominação estrita. De acordo com Smolensky (1997:01), Conjunção Local permite a OT significativamente aumentar a

cobertura de seu principal princípio: variação das línguas condicionada à interação entre as restrições universais.

Embora para Hewitt & Crowhurst (1995) a restrição conjunta seja violada quando pelo menos uma das restrições que a constituem apresentar violação, o modelo originalmente proposto por Smolensky (1995), utilizado nas análises correntes, propõe que uma restrição conjunta é violada quando ambas as restrições que a constituem sofrem violação.

De acordo com Fukazawa (2001), um exemplo hipotético do funcionamento da Conjunção Local pode ser visto em (1) e (2).

(1) C>>A, B

(2)

Em (1), a restrição C, ranqueada acima na hierarquia, não é violada pelo candidato ótimo, esse pode, no entanto, violar a restrição A ou a restrição B. Já em (2), com o uso da Conjunção Local, o candidato ótimo pode violar a restrição C, pois o que importa é preservar a restrição conjunta [A&B]D. A impossibilidade da violação simultânea das duas restrições ranqueadas mais abaixo é que acaba forçando a violação da restrição C, ranqueada mais acima na hierarquia.

Na língua hipotética, representada pelas hierarquias em (1) e (2), as restrições A e B podem ser violadas separadamente, satisfazendo a restrição C, mas não podem ser violadas ao mesmo tempo. A restrição de Conjunção Local é que previne a violação de ambas as restrições, sacrificando a restrição C.

De acordo com McCarthy (2002), a Conjunção Local é um outro tipo de fonte de estrutura interna em CON. Para o autor, é realmente necessário estabelecer restrições nas operações de conjunção, pois, de uma certa forma, a possibilidade de juntar restrições

mitiga os efeitos da dominação estrita. Considerando a Conjunção Local, as restrições A e

B, ranqueadas mais abaixo do que C na hierarquia, passam a ter força sobre essa restrição. É como se A e B conspirassem contra C.

Com relação à conjunção local de uma restrição com ela mesma, essa ocorre se na restrição conjunta [C1 & C2]D, C1=C2, ou seja, uma restrição é violada duas vezes em um mesmo domínio.

Aparentemente, a conjunção local de uma restrição com ela mesma pode parecer não apresentar diferença à violação dupla dessa restrição. Observem-se os tableaux hipotéticos em (3) e (4):

(3)

/input/ A B

X * *

(4)

/input/ B2 (D)30 A B

X * **

Y *! * **

Em (3), o candidato X é escolhido como forma ótima porque, apesar de violar as mesmas restrições que o candidato Y, esse viola duas vezes a restrição B, enquanto o candidato X a viola apenas uma vez.

No tableau em (4), o candidato X é escolhido como ótimo porque o candidato Y viola a restrição conjunta B2 (D) ranqueada acima na hierarquia. Note-se que o candidato Y, assim como o candidato X, viola a restrição B duas vezes. Por que, então, apenas o candidato Y viola a restrição B2 (D) ?

A resposta reside na importância da localidade. As duas violações da restriçao B podem ser assinaladas com relação a qualquer contexto, já as violações da restrição B2(D) só podem ser assinaladas quando se referirem a um contexto específico. Isso implica que nem sempre a violação dupla de uma restrição significará a violação de uma restrição conjunta, pois, para que essa ocorra, será necessário considerar a violação em um domínio específico. Conforme Fukazawa & Miglio (1998), a interação das restrições que compõem a gramática na OT é mais forte localmente do que não localmente, por isso a importância do domínio.

Em (4), o candidato X é escolhido como forma ótima, pois, apesar de apresentar duas violações para restrição B, não viola a restrição B2(D) , tendo em vista que as violações da restrição B, por esse candidato, referem-se a domínios diferenciados.

Alderete (1997:02) conceitua a Conjunção Local, afirmando que violações múltiplas

de restrições em um contexto local são categoricamente piores do que as mesmas violações

em um contexto não local. Esse conceito deixa transparecer que a única diferença entre uma

restrição conjunta com ela mesma e violações múltiplas em uma restrição simples reside na localidade.

4.2.1 Problemas que emergem

Desde o seu surgimento, muitas questões têm sido formuladas quanto à utilização desse tipo de restrição:

(i) As restrições de Conjunção Local fazem parte da gramática? (ii) Como é estabelecida a localidade?

(iii) É possível apenas tornar conjuntas as restrições que pertencem a mesma família?

(iv) Qual acepção de família é utilizada nesse caso?

(v) As restrições conjuntas com elas mesmas podem ser unidas em um número ilimitado?

Com relação a (i), Smolensky (1997), Fukazawa e Miglio (1998) e Fukazawa (1999, 2001) sugerem que as restrições conjuntas são específicas de língua. Conforme os autores, assumir que essas restrições fazem parte da GU ampliaria desnecessariamente o quadro universal de restrições. O que há na GU é o operador “&”, tornando possível a conjunção das restrições. Conforme Fukazawa e Miglio (1998), essa proposta parece ser corroborada

pela raridade de cada tipo particular de conjunção local através das línguas.

Quanto a (ii), Smolensky (1995, 1997) propõe que as restrições conjuntas só podem ser criadas quando violadas no mesmo domínio. Nathan (2001) assume que a questão da localidade é o coração da restrição conjunta. Para alguns autores, como Lubowicz (1998, apud Nathan, 2001:04), o estabelecimento da localidade significa tão local quanto possível,

de forma que o domínio de qualquer conjunção é determinado pelos seus elementos.31

McCarthy (2002a) salienta que o estabelecimento equivocado de um domínio pode comprometer a capacidade da teoria em prever a tipologia das línguas, devendo-se, portanto, sempre observar esse aspecto quando os domínios são delimitados.

Com relação a (iii), Fukazawa e Miglio (1998) postulam que, caso não haja limitações nos tipos de restrições que podem ser conjuntas, mesmo considerando que na

31 Para uma proposta do estabelecimento da localidade através da aplicação da OT Primitiva, ver Nathan (2001). É pertinente referir que a localidade atestada pela OT Primitiva corrobora a localidade postulada pelos pesquisadores nas análises já desenvolvidas.

gramática há apenas o operador “&”, ainda assim, até mesmo a gramática específica de língua poderia ser demasiadamente ampliada pela conjunção de várias restrições. Os autores sugerem, através da análise dos dados do Maia Yucatec e do Mantuan, com a utilização das restrições OCP[stop] & OCP [place] e Dep[+ATR] & Dep [Hi], que somente restrições pertencentes a mesma família podem ser conjuntas.

Fukazawa (1999:216) faz uma espécie de levantamento das restrições conjuntas utilizadas nas análises em OT, observando que as restrições que as constituem pertencem à mesma família de restrições. A autora critica Itô e Mester (1996) pela utilização da restrição NoCoda & *Voice, pois, além de o desvozeamento do Alemão poder ser explicado com o uso de restrições simples, a conjunção não obedece a restrição da mesma família, constatada em outras análises como Kirchner (1996) e Alderete (1997).

Deve-se salientar, no entanto, que é possível sugerir que a restrição conjunta utilizada por Itô e Mester (1996) é constituída por restrições da mesma família se forem consideradas as três grandes famílias de restrições, ou seja, marcação, fidelidade e alinhamento. Na verdade, questiono aqui em que medida a palavra família deve ser considerada. O uso de Dep[+ATR] & Dep[Hi] deve fazer referência à sub-família Dep ou à família maior das restrições de fidelidade?

Embora Fukazawa e Miglio (1998) e Fukazawa (1999) procurem evidenciar a existência de uma restrição na constituição da Conjunção Local, sugerindo que ambas as restrições sejam da mesma família, questões quanto à dimensão da palavra família dentro das restrições que compõem a gramática permanecem em aberto.

Conforme Crowhurst e Hewitt (1997), a limitação da mesma família de restrição defendida por Fukazawa e Miglio (1998) parece arbitrária e ainda não está claro quais critérios devem ser adotados na construção da restrição conjunta.

Para Kirchner (1996), é necessário o estabelecimento de restrições no mecanismo das conjunções locais a tal ponto que o autor sugere que uma restrição só possa ser conjunta com ela mesma. Salienta-se, aqui, que a análise proposta pelo autor justamente utiliza esse tipo de restrição e se essa pode servir como evidência, as outras análises já propostas, utilizando restrições conjuntas limitadas apenas pela família a que pertencem, também passam a servir como evidência quanto à necessidade desse tipo de conjunção na gramática. Na verdade, as análises parecem acenar para a existência dos dois tipos de conjunção

propostos por Smolensky (1995): conjunção local com diferentes restrições e conjunção local com apenas uma restrição.

Sem dúvida, o fato de as análises propostas, relacionadas a diversas línguas, utilizarem restrições conjuntas formadas por restrições da mesma família sugere a existência desse mecanismo restritivo na criação das restrições conjuntas. Mas faz-se necessário, na verdade, refletir sobre a forma que as restrições conjuntas surgem na gramática, pois somente a compreensão desse mecanismo tornará possível estabelecer o tipo de restrição que pode ser conjunta. Conforme Suzuki (1998:41), apesar de os avanços nas análises que utilizam a Conjunção Local, ainda permanece uma questão inquieta a

respeito de quais restrições podem ser conjuntas.

Para Fukazawa (1999, 2001) e Fukazawa e Miglio (1998), uma restrição de conjunção local só deve ser utilizada como último recurso, ou seja, quando uma análise, utilizando restrições simples32, não for capaz de explicitar determinado fenômeno fonológico. A restrição conjunta criada deve se enquadrar dentro das três condições/limitações requeridas: último recurso, localidade e mesma família de restrições.