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2 TEORIA DA OTIMIDADE

3 TEORIA DA OTIMIDADE E CONEXIONISMO

3.3 Teoria da Otimidade e conexionismo

Prince & Smolensky (1993) fazem referência à associação entre Teoria da Otimidade e Conexionismo nos capítulos 1 e 10, salientando as semelhanças e diferenças que a OT apresenta em relação ao paradigma conexionista.

As semelhanças, basicamente, giram em torno do uso do processo de maximização de harmonia. De acordo com os autores, na maximização de harmonia conexionista, em

uma certa classe de rede conexionista, o conhecimento da rede consiste em um quadro de restrições conflitantes e violáveis que operam em paralelo para definir a harmonia numérica de representações alternativas. Quando a rede recebe um input, ela constrói um output que inclui a representação de input, aquele que melhor satisfaz simultaneamente o quadro de restrições – isto é, que tem harmonia máxima, no entanto, a OT utiliza representações simbólicas, e não valores numéricos, fazendo emergir a idéia de uma hierarquia de restrições e da dominação estrita.

Conforme Prince e Smolensky (1997), a otimização é um dos princípios das redes neuroniais que pode contribuir em muito para as teorias formais da gramática. Nas redes, esse processo de otimização considera valores numéricos, pesos entre as conexões. A ativação é iniciada através de um determinado input, cujo padrão de ativação fica fixado na própria rede. A rede produzirá um output que apresente o padrão de ativação mais harmônico, ou seja, otimizado, contendo o input. Esse padrão é escolhido a partir das várias conexões neuroniais que são acionadas, é maximizado de acordo com as exigências tipicamente conflitantes de todas as restrições – implícitas nas sinapses - na rede.

Já as diferenças referem-se ao fato de a OT representar uma alternativa para os modelos conexionistas eliminativista e implementacionalista. De acordo com os autores, a Teoria da Otimidade está totalmente distante dos dois principais modelos de conexionismo. No modelo eliminativista, inserem-se os pesquisadores que acreditam que conceitos gerativistas como inatismo e serialidade devem ser totalmente abandonados nas formas de processamento, assim como a computação que utiliza estruturas simbólicas, em detrimento das numéricas. Já o implementacionalista procura implementar conceitos da gramática gerativa nas redes conexionistas.

Apesar de os autores não explicitarem as razões que distanciam a OT dos dois modelos, é possível afirmar que tal distanciamento ocorre porque a OT teve a sua origem na Gramática Harmônica, que visa a justamente implementar dois níveis de processamento diferenciados: processamento de unidades altas e processamento de unidades baixas. No primeiro, podem ser enquadradas as atividades como compreensão e produção da linguagem, pensamento, etc.; o segundo estaria relacionado a atividades mais mecânicas,

como caminhar, comer, etc. Na verdade, a proposta dos autores implica um modelo de processamento que envolve o simbolismo – processamento de unidades altas, que não depende apenas do que é aprendido, mas pressupõe a existência da GU – e conexionismo – processamento de unidades mais baixas.

Para Prince & Smolensky (1993), a OT evidencia que princípios conexionistas podem ser considerados em uma teoria gerativa – a maximização de harmonia – e que representações simbólicas podem ser consideradas no processamento – conexionismo subsimbólico.

Prince e Smolensky (1997:1606) reforçam essa idéia, pois, para os autores, a OT também configura o processamento que ocorre em níveis mais altos, pois a otimização ocorre sobre representações simbólicas discretas. Para fazer contato com o nível abstrato

no qual a organização mental, como a da gramática, reside, os conceitos relevantes da

computação neuronial devem captar as propriedades de nível mais alto. Portanto, há um

processamento – eliminativista - que considera valores numéricos no nível mais baixo e, logo após, há um processamento – implementacionalista – no nível mais alto, considerando estruturas simbólicas – restrições – maximizadas pelo processo de dominação estrita.

A minha proposta, no entanto, contrária a essa visão ecumenista dos autores, entende a Teoria da Otimidade – pós Gramática Harmônica - apenas como um modelo de descrição e análise lingüística, não compartilhando a idéia de dois níveis de processamento diferenciados, um simbólico e outro conexionista. Proponho que o chamado nível mais alto de processamento existe apenas enquanto formalização lingüística e, portanto, defendo o modelo de conexionismo eliminativista. O conexionismo subsimbólico de Smolesnky (1988) parece tentar aproximar os dois paradigmas, no entanto, entendo que essa aproximação deve ser considerada enquanto lançar mão da arquitetura proposta pelas ciências do cérebro na tentativa de se propor uma teoria de análise lingüística em assonância aos achados da neurociência.

O modelo conexionista pode ser aplicado para explicar o funcionamento de qualquer desempenho humano, pois está calcado na neurociência. A Teoria da Otimidade é uma teoria de análise lingüística, não apenas de análise fonológica, pois está calcada no conexionismo. Não vem substituí-lo, não vem contribuir diretamente para o seu

desenvolvimento, mas beneficia-se de seus avanços para propor uma teoria gramatical que seja, cada vez mais, capaz de dar conta da análise e descrição dos dados lingüísticos.

O paradigma conexionista é um paradigma do conhecimento, cognitivo, sem relação com teorias de descrição e de análise formal da gramática. Está interessado em como se processa, não em como se descreve uma determinada língua.

Na verdade, é possível afirmarmos que, com exceção das discussões que giram em torno do inatismo, da serialidade, da representação em níveis e da forma subjacente, o conexionismo não se opõe à Fonologia Gerativa, nem à Teoria da Otimidade, afinal, essas duas são apenas modelos de descrição e análise lingüística.

Acredito, pois, que é preciso estar atento à proposta conexionista, mesmo trabalhando com modelos de descrição e análise lingüística, porque a mesma pode redirecionar as pesquisas, tornando-as mais próximas do que realmente possa estar ocorrendo no cérebro humano.