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O governo Geisel e o início da abertura política

2.2 Brasil: ame-o?

2.2.4 O governo Geisel e o início da abertura política

Em 15 de março de 1974, Ernesto Geisel assumiu a presidência. Nela enfrentaria dificuldades econômicas e políticas que anunciariam o fim do “milagre econômico” e ameaçariam o regime militar, além dos problemas herdados de outras gestões – já no final de 1973, a dívida externa atingia 9,5 bilhões de dólares. Em 1974, a inflação chegaria a 34,5% e

acentuaria a correção dos salários. Surpreendentemente, Geisel, ao invés de utilizar-se de uma política recessiva, de maior contenção possível, se propôs a investir num crescimento econômico. O Brasil permaneceu, assim, com grande endividamento externo, mas direcionando os investimentos na indústria, para projetos que substituíssem importações. A meta era alcançar um crescimento industrial de 12% ao ano em 1979. Para isso, desenvolveu- se o II Plano Nacional de Desenvolvimento – PND, que visava a criar bases para a indústria, procurando reduzir, dessa forma, a dependência em relação a fontes externas:

Conforme o ministro Mário Henrique Simonsen, o governo não quis a ortodoxia, de menor risco, que incluiria desindexação da moeda, maxidesvalorização cambial e política monetária apertada. Preferiu manter a indexação e implantar programa de substituição de importação de bens de capital e matérias-primas básicas e de expansão das exportações, parcialmente financiado por aumento da dívida externa, a ser coberto com futuros saldos positivos dos balanços de comércio. A dívida externa líquida de médio e longo prazos disparou: de US$ 6,1 bilhões de dólares (1973) para US$ 31,6 bilhões no final de 1978, quando as reservas internacionais alcançaram US$ 12 bilhões. A inflação anual mudou para o patamar de 40%. No qüinqüênio de Geisel, o crescimento médio real da economia foi da ordem de 6,5% anuais. (COUTO, 1999, p.143)

Também com o objetivo de ampliar as fontes alternativas de energia para fazer frente à crise do petróleo, os investimentos neste setor foram consideráveis. Iniciou-se um programa visando à implantação de um combustível substituto da gasolina, o Pró-Álcool (Programa Nacional do Álcool), ao mesmo tempo em que se desencadeou uma campanha de racionamento de combustíveis. Acompanhando esse processo, criou-se o Pró-Carvão (Programa Nacional do Carvão), visando à substituição do óleo combustível. Ainda na área de energia, foi aprovado, em 1975, o Programa Nuclear Brasileiro, que previa a instalação de uma Usina de enriquecimento de urânio, além de centrais termonucleares.

Esse último programa, estabelecido por acordo assinado com a Alemanha Ocidental, em junho de 1975, fez com que os Estados Unidos ameaçassem cortar o crédito pretendido pelo governo brasileiro, no valor de 50 milhões de dólares para fins militares. A pressão funcionou ao contrário. Geisel, não aceitando a ameaça, rompeu acordo militar com os

Estados Unidos. Houve, também, uma grande preocupação com o aproveitamento do potencial hidráulico brasileiro. Foram construídas as usinas de Tucuruí, no rio Tocantins, e de Itaipu, no rio Paraná.

No entanto, a crise internacional do petróleo também afetaria o desenvolvimento industrial e aumentaria o desemprego. Diante desse quadro, Geisel reafirmou seu projeto de abertura política “lenta, gradual e segura”, o qual era atribuído ao ministro-chefe do Gabinete Civil, general Golbery de Couto e Silva. Mas, seguiu por um bom tempo cassando mandados e direitos políticos, por conta da utilização do AI-5, que só seria retirado no final de 1978.

Em virtude do expressivo crescimento das oposições, verificado nas eleições de 1974, promulgou, em 24 de junho de 1976, a Lei Falcão, que impedia o debate político nos meios de comunicação.

Antes, porém, da promulgação da Lei Falcão, mais precisamente em janeiro daquele ano, o general Ednardo D’Ávila Mello seria afastado do comando do 2o Exército e substituído pelo general Dilermando Gomes Monteiro. A medida foi tomada em conseqüência das mortes do jornalista Vladimir Herzog, em 25 de outubro de 1975, e do operário Manuel Fiel Filho, em 17 de janeiro de 1976, no interior do DOI-CODI de São Paulo.

Em 12 de outubro de 1977 foi exonerado o ministro do Exército, general Sylvio Frota, por sua oposição à liberalização do regime.

Elio Gaspari (2002a, pp. 22-23) conta como foi esse momento tenso do governo Geisel:

Os dois (Geisel e Frota) sentaram-se à mesa de reuniões do salão de despachos do presidente. As relações entre eles jamais haviam sido afetuosas, mas ultimamente eram gélidas. [...].

À cabeceira da grande mesa de reuniões de seu gabinete, com um retrato de D. Pedro I às costas, Geisel abriu a conversa:

- Frota, nós não estamos mais nos entendendo. A sua administração no Ministério não está seguindo o que combinamos. Além disso, você é candidato a presidente e está em campanha. Eu não acho isso certo. Por isso preciso que você peça demissão.

- Eu não peço demissão – responde Frota.

- Bem, então vou demiti-lo. O cargo de ministro é meu, e não deposito mais em você a confiança necessária para mantê-lo. Se você não vai pedir demissão, vou exonerá-lo.

Em menos de cinco minutos a audiência estava encerrada.

Sabe-se que Frota tentou, neste dia, articular um golpe, no entanto, seus planos foram frustrados. No mesmo dia, tomou posse Fernando Bethlem.

Já no que diz respeito às eleições, prevendo uma vitória da oposição nas eleições de 1978, Geisel fechou o Congresso por duas semanas e decretou, em abril de 1977, o Pacote de Abril, que alteraria as regras eleitorais: as bancadas estaduais da Câmara não poderiam ter mais do que 55 deputados ou menos que seis. Com isso, os Estados do Norte e Nordeste, menos populosos, mas controlados pela Arena, garantiam uma boa representação no Congresso, contrabalançando as bancadas do Sul e Sudeste, onde a oposição era mais expressiva e o número de eleitores era muito superior.

Começavam, ainda em 1977, as articulações para a sucessão presidencial. No dia 15 de outubro de 1978, o Congresso cumpriu seu papel homologatório e elegeu o candidato do governo: general João Baptista Figueiredo.