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O início da Realização da Prática Profissional

No documento Relatório Final de Estágio Profissional (páginas 88-94)

4. Realização da Prática Profissional

4.1. Área 1 Organização e Gestão do Ensino e da Aprendizagem

4.1.3. O início da Realização da Prática Profissional

O primeiro contacto que estabeleci com a turma do 7ºB do Agrupamento Vertical Clara de Resende foi bastante positivo. Sabia, de antemão, que estaria sujeito durante 45 minutos aos olhos perscrutantes de 28 alunos, curiosos e estudiosos, procurando que vantagens e/ou desvantagens eu lhes oferecia. Imaginei, mesmo antes de começar esta aula uma turma difícil, conversadora e com alguns casos de indisciplina referenciados.

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Nos dias que antecederam esta aula preparei cuidadosamente o meu discurso e os pontos nevrálgicos que deveria abordar. Penso que o primeiro contacto com os alunos pode demarcar, desde logo, uma posição de autoridade, um julgamento que se pode repercutir durante o ano. Portanto, sabia que deveria ser assertivo e concreto naquilo que dizia para não transmitir nervosismo aos alunos, independentemente de vivenciar ou não esse sentimento.

Honestamente, se pensar nas projeções que fiz deste dia durante o meu mestrado, imaginara-me sempre mais nervoso do que de facto estive. Acho que me consegui controlar bastante bem nesse aspeto, e que me apartei um pouco da importância com que tal ocorrência se me afigurava.

No período inicial da aula, logo depois de os alunos se sentarem nos lugares a professora cooperante teve a iniciativa de fazer algumas perguntas, provavelmente para me colocar a mim e aos alunos mais à vontade e para me passar o “testemunho” em seguida. As primeiras duas ou três frases saíram ainda com um ímpeto, algo exagerado, como se não conseguisse controlar a pausa entre cada palavra. Não sei se isso foi percecionado pela audiência, de qualquer forma, consegui controlar-me rapidamente e à medida que a aula se desenrolava estive bastante calmo. Um dos aspetos, que poderia ter condicionado a aula foi a indisponibilidade do “data-show” para executar o que fora planeado. De qualquer forma guiei-me pela

apresentação do computador que a professora

cooperante fez o favor de segurar orientando-o para a turma. A espaços, a professora orientadora, fez questão de acrescentar algumas ideias para esclarecer os alunos

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e incitou algum diálogo para os colocar mais “à vontade”. Esse foi, provavelmente, o meu maior lapso, sinto que poderia ter dialogado mais com os alunos para criar uma maior afinidade e proximidade com eles. Sei que, porventura, será uma falha normal, devida à minha escassa experiência e à minha personalidade. Sou, por vezes, um pouco observador, gosto de conhecer antes de agir, antes de assumir o risco e naquele momento, uma relação próxima ainda constituía um risco para mim. Outro aspeto crítico que me foi apontado pelos colegas foi o vocabulário elaborado, mas tive a perceção que expliquei sempre que os alunos não percebiam e quando eu próprio me apercebia dessa possibilidade. De resto, preocupei- me em indagar se a mensagem estava a ser passada de forma clara.

Relativamente à turma, fiquei motivado para trabalhar com eles. Pareceram-me crianças normais da sua idade, com alguma tendência para brincar. Isso poderá ser aproveitado, é possível aprender a brincar, até com níveis de complexidade elevados. Se as privarmos do seu lado infantil também as condicionamos demasiado e, portanto, vou aproveitar em futuras aulas para os conhecer melhor e para saber como os poderei atingir, como os poderei motivar. Será um bom desafio (Reflexão

Aula 1 20-09-2011).

A respeito da fase referente à entrada na carreira docente, Huberman (2000, p. 39) ressalta que o início da docência é caracterizado pelos estágios de “sobrevivência e descoberta”. A sobrevivência está relacionada com o “choque do real”, ao constatar a complexidade das situações na profissão que envolve “o tatear constante, a preocupação consigo próprio, a distância entre os ideais e as realidades cotidianas da sala de aula, a

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fragmentação do trabalho, a dificuldade em fazer face, simultaneamente, à relação pedagógica e à transmissão de conhecimentos, a oscilação entre relações demasiado íntimas e demasiado distantes, dificuldades com alunos que criam problemas, com material didático inadequado etc.”

Siedentop (1991, p. 12) propõe cinco estados de desenvolvimento para a aprendizagem docente. O primeiro estado, designado por “estado de desconforto inicial”, descreve uma dificuldade que encontrei no “ponto zero” correspondente à identificação pessoal com o comportamento e com o papel docente. O que foi mais difícil, foi encontrar um ponto médio entre aquilo que é o trato corriqueiro e demasiado próximo e aquilo que é o trato formal e demasiado distante. Provavelmente, nenhuma das alternativas se adequada à turma que tinha e ao meio em que estava integrada. Também nesta fase me deparei com problemas referidos na fase 2 “Aprendizagem de técnicas variadas” e da fase 3 “Aprender a desempenhar várias tarefas em simultâneo. Provavelmente, este último foi aquele que me causou mais dificuldades em ultrapassar e sinto, que embora a minha progressão neste estado tenho sido muito grande, ainda poderei melhorar com a experiência, a controlar diferentes tarefas em simultâneo.

O início da docência é um período, simultaneamente, marcado pelas situações inesperadas e difíceis e por uma oportunidade para construir saberes ligados à prática docente. De modo geral, o início da carreira constitui um período marcado por crises. Pesquisas revelam que esse período é considerado pelo professor como um dos piores da vida profissional docente. (Huberman, 2000).

A certa altura, com a evolução do exercício achei que estavam demasiado inquietos e mandei parar, antes do tempo determinado, encostando-os à parede. Alertei- os para este facto, antes de os instruir sobre o exercício subsequente. Nesta fase, senti que não estava seguro, quando expliquei. Isto dever-se-á à pouca confiança que tinha na planificação e ao facto de estar a ser observado e

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avaliado pelos colegas estagiários num espaço diminuto e com 28 alunos agitados. Saberia que dificilmente os controlaria ali, com uma divisão do trabalho “por estações”. Deveria ter priorizado o controlo da aula em relação ao tempo de prática, já que a prática só por si, não promove uma aprendizagem efetiva. É frustrante a necessidade de parar sistematicamente a aula para disciplinar os alunos, como o é planear uma aula sem que haja um espirito ambicioso do ponto de vista da aprendizagem motora. Sinto que, por vezes, é difícil

passar a mensagem e questiono as minhas

competências. No decurso deste exercício a Professora Cooperante interveio na aula, impondo que me retirasse e alterou a dinâmica do exercício, mantendo as estações. O “rolamento à frente” foi executado em todas as estações, seguindo uma lógica de níveis e foi pedido aos colegas estagiários que realizassem ajuda aos alunos. Percebo a atitude e o seu intuito formador, mas simultaneamente não me posso deixar de sentir sem espaço, sem confiança e sem vontade. (Aula nº11 & 12 – 18 de

Novembro de 2011).

“O final da aula foi atípico, mesmo que, a

organização para o último exercício tenha sido boa, assim como a instrução. Os alunos perceberam o objetivo do exercício mas por desmazelo no controlo do tempo não o exercitaram praticamente nada e não foram dados os 5 minutos habituais e estipulados no final. Este erro não se poderá repetir futuramente e deverei ter mais atenção ao tempo, já que me tendo a descuidar neste aspeto.” (Aula

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Com estes excertos pretendo salientar aquilo que vivi e a forma como interpretei as minhas dificuldades, quando aconteceram. Olhando agora para esses acontecimentos e para as reflexões que deles elaborei, penso que sou mais capaz de identificar os erros que cometi. Quando algo de esperado acontece, Schön (1983, p. 61) sugere que, tendemos a não refletir muito sobre o assunto. Só quando acontece alguma coisa que nos surpreende, ou que não foi antecipada, a nossa reflexão será profícua e insistente. De facto, torna-se mais fácil pensar sobre o que é novo, porque capta toda a nossa curiosidade e todo o nosso interesse. Nos primeiros contactos com a turma, a reflexão foi mais produtiva, porque me era mais fácil identificar os erros e as situações que deveria modificar. À medida que as aulas se desenvolveram, foi possível verificar a tendência para se desenvolver num “esquema de aula” que privilegiei, atendendo a rotinas e comportamentos-tipo definidos para cada situação. Mesmo assim, o “novo” está sempre presente, e a reflexão é valorosa no sentido de desenvolver as nossas lacunas e de resolver as nossas problemáticas. Caso contrário, arriscamo-nos a ser profissionais empedernidos e enclausurados no conforto da rotina e do entorpecimento.

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No documento Relatório Final de Estágio Profissional (páginas 88-94)

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