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Capítulo II – Flávio Gonçalves a vida e a obra 61

3. O jovem universitário 67

Flávio Gonçalves matriculou-se na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra187 no ano letivo de 1947/1948, mas a carreira de advogado que parecia estar-lhe destinada não se concretizou. Em 1949 mudou para o curso de Ciências Históricas e Filosóficas da Faculdade de Letras prosseguindo os estudos na área que ambicionava188

(Fig. 4).

Pela análise dos títulos que o jovem estudante publicou em revistas e jornais percebemos que nunca abandonou a sua verdadeira vocação: a História da Arte. Durante estes anos de incertezas académicas manteve a sua colaboração nas publicações periódicas anteriores à sua entrada na faculdade.

Entre os estudos etnográficos, arqueológicos e de História da Arte são vários os títulos publicados. Juntou-lhes a colaboração com a revista Estudos de Coimbra tendo contribuído, em 1948, com os trabalhos: “Novos documentos sobre a função penal dos pelourinhos portugueses”; “Acerca duma exposição”; “O Congresso Internacional de História da Arte”, este último não assinado189.

Em 1949 continuou Flávio Gonçalves a participar na revista Estudos de Coimbra, iniciando nova colaboração, para a revista de Dialectologia y Tradiciones Populares de Madrid com o seu trabalho A rima popular com vocábulos toponímicos e antroponímicos.

Quando chegou a Coimbra, no outono de 1947, Flávio Gonçalves entrou como segundo tenor para o Orfeão Académico190. Do grupo de orfeonistas constavam nomes como José Afonso, Alberto Sampaio da Nóvoa, António de Almeida Santos191.

187 UNIVERSIDADE DE COIMBRA. [Bilhete de identidade]. 1947. Coimbra. [Manuscrito]. 1 f. Faculdade

de Direito. Acessível na Biblioteca Municipal Rocha Peixoto, Póvoa de Varzim, Portugal. Cota BMRP-EFG 1.41.2.

188 UNIVERSIDADE DE COIMBRA. [Bilhete de identidade]. 1949. Coimbra. [Manuscrito]. 1 f. Faculdade

de Letras. Acessível na Biblioteca Municipal Rocha Peixoto, Póvoa de Varzim, Portugal. Cota BMRP-EFG 4.3.

189 GONÇALVES, Flávio – «O Congresso Internacional de História da Arte». Estudos. Coimbra. Ano 26, n.º

10 (dezembro 1948) pp. 574-575. [texto não assinado]

190 ORFEÃO ACADÉMICO DE COIMBRA. [Cartão de identidade]. 1947. Coimbra [Manuscrito] 26 nov.

1947. Orfeonista – 2.º Tenor. Acessível na Biblioteca Municipal Rocha Peixoto, Póvoa de Varzim, Portugal. Cota BMRP-EFG 1.41.1.

191 SANTOS, António Almeida – Coimbra em África. Coimbra: Orfeão Académico de Coimbra, 1950.

“RELAÇÃO DOS ORFEONISTAS ESTUDANTES DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA QUE CONSTITUIRAM A EMBAIXADA CULTURAL AO ULTRAMAR PORTUGUÊS NO VERÃO DE 1949” (Total 108; Flávio Gonçalves n.º 47).

Nas férias de verão de 1949, o grupo partiria para apresentar recitais em diversas localidades das Colónias portuguesas em África e na África do Sul, em Joanesburgo e Cidade do Cabo192.

A digressão histórica pelos diversos locais de África parou em Luanda, Lourenço Marques, Beira, Moçâmedes, Nova Lisboa, Lobito e em cidades da África do Sul como Joanesburgo e Cidade do Cabo.

Para Flávio Gonçalves tratou-se de uma viagem enriquecedora em trocas culturais com novas «descobertas geográficas e humanas» como depois confessaria. De toda a viagem enviou crónicas para o semanário O Comércio da Póvoa de Varzim e A Voz, das reportagens e notícias dos poveiros espalhados pelas zonas visitadas193.

Flávio Gonçalves pertencia ao Centro Académico de Democracia Cristã – C.A.D.C.194. Foi nomeado secretário de redação da revista Estudos, que era um órgão da associação, entre 1950 e 1951. Entre 1951 e 1952 foi eleito presidente do Conselho da Faculdade de Letras junto da Associação Académica de Coimbra. Estes cargos não o impediram de participar em colóquios e conferências, continuando a publicar os seus ensaios.

Em fevereiro de 1950 participou na conferência “A Escultura medieval em Coimbra”, realizada na sede daquele centro. O jornal Gazeta de Coimbra, ao noticiar a sessão, realça a qualidade da intervenção e os conhecimentos de Flávio Gonçalves sobre a matéria e a sua paixão pela arte195 (Fig. 5). No mês imediato proferiu uma segunda conferência intitulada “O simbolismo da Escultura Medieval”, na sala de fonética da Faculdade de Letras, por iniciativa do conselho cultural da Associação Académica de Coimbra196.

192 ORFEÃO ACADÉMICO DE COIMBRA [Circular] 30 julho 1949 [a] Dactiloscrita 1f. Acessível na

Biblioteca Municipal Rocha Peixoto, Póvoa de Varzim, Portugal. Cota BMRP-EFG 2.24.

193 GONÇALVES, Flávio – [Relato] Viagem às Colónias do Orfeon Académico de Coimbra. 1949 agosto. 19. [Manuscrito]. 1949. 5 f. Autógrafo. Acessível na Biblioteca Municipal Rocha Peixoto, Póvoa de Varzim,

Portugal. Cota BMRP-EFG 2.25.

194 C.A.D.C. COIMBRA – [Recibo pago inscrição] 1947, Coimbra [Manuscrito] 1 f. Acessível na Biblioteca

Municipal Rocha Peixoto, Póvoa de Varzim, Portugal. Cota BMRP-EFG 1.41.3.

195 A sessão sobre "Escultura medieval em Coimbra", aluno do 1º ano de Letras realizada no C.A.D.C. «A

Sessão de Estudos de Flávio Gonçalves». Gazeta de Coimbra. Coimbra. Ano 39, n.º 5487 (6 fevereiro 1950), p. 1. Acessível na Biblioteca Municipal Rocha Peixoto, Póvoa de Varzim, Portugal. Cota BMRP-EFG 4.7.

196 ASSOCIAÇÃO ACADÉMICA DE COIMBRA. [Folheto] O simbolismo da Escultura Medieval. 1950 março 24 [Dactiloscrito] 1 f. Conferência na sala de fonética da Faculdade de Letras. Acessível na Biblioteca

O Centro Universitário da Mocidade Portuguesa de Coimbra organizou, em janeiro de 1951, um passeio aos monumentos de Leiria, Batalha e Alcobaça que o futuro historiador registou e publicou na revista Estudos197.

Integrado na publicação A Briosa – quinzenário académico, cultural e recreativo, Flávio Gonçalves publicou, em 1951, um artigo na rúbrica Horizonte – folha literária,

Duas linhas sobre poesia popular, tratando-se de um texto etnográfico que analisa as

cantigas populares198.

O alvoroço que Flávio Gonçalves sentira com os resultados satisfatórios nas provas a que se submeteu, para a troca de rumo académico, estimulou-o, pois quatro anos volvidos, por despacho ministerial de 26 novembro 1953, Flávio Gonçalves estava já a dar aulas. Recebera um telegrama do seu amigo João Marques para se apresentar na Escola da Póvoa de Varzim199, encetando dessa forma a sua carreira de professor.

Terminado o curso em Coimbra foi para Lisboa. Passou esse verão de 1953 a fazer investigações sobre Iconografia religiosa portuguesa em igrejas e museus, facto que surtiu a publicação de um título que veio a editar em 1954 no boletim Douro-Litoral200.

Entre 1954 e 1955, deu voz aos anseios literários, mas a sua ambição deteve-se nos dois livros de poemas que mandara publicar em edição de autor: Arco de Passagem201 e

Mãos de Lis202, respetivamente.

Em 22 de setembro de 1956 casou com Maria José Vales Fernandes203, professora primária e em 1957 nasceria, em Viana do Castelo, o seu filho Pedro Afonso.

197 GONÇALVES, Flávio – «Integração dos monumentos de Leiria, Batalha e Alcobaça nas correntes

artísticas do seu tempo». Estudos. Coimbra. Ano 29, n.º 1-2 (jan—fev. 1951) pp 73-81; Idem, ano 29, n.º 3 (março 1951) p 144-156. Separata. Acessível na Biblioteca Municipal Rocha Peixoto, Póvoa de Varzim, Portugal. Cota BMRP-EFG 43.37.

198 GONÇALVES, Flávio – «Duas linhas sobre poesia popular». A Briosa. Coimbra. N.º 10 (17 de março de

1951), p. 5-6. Cota BMRP-EFG 32.89.

199 MARQUES, João [Telegrama] 1953 outubro29. Póvoa de Varzim [a] Flávio Gonçalves. [Dactiloscrita].

1953. 1f. Acessível na Biblioteca Municipal Rocha Peixoto, Póvoa de Varzim, Portugal. Cota 5.60.

200 GONÇALVES, Flávio – «A “Caldeira de Pero Botelho” na arte e na tradição». Douro-Litoral. Porto. 6.ª

série, n.º 3-4 (1954) pp 33-53. Separata. Acessível na Biblioteca Municipal Rocha Peixoto, Póvoa de Varzim, Portugal. Cota BMRP-EFG 45.12.

201 GONÇALVES, Flávio – Arco de Passagem. Póvoa de Varzim: [Edição de Autor], 1954. 202 GOLÇALVES, Flávio – Mãos de lis. Coimbra: Coimbra Editora, 1955.

203 PÓVOA DE VARZIM. Conservatória do Registo Civil – [Certidão de casamento], 1956 setembro 22, Póvoa de Varzim. [Dactiloscrita.] 1956 out. 20. 1 f. Certidão n.º 7838. Acessível na Biblioteca Municipal