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5 DISCUSSÃO E ANÁLISE DAS ENTREVISTAS

5.3. O lugar do reconhecimento no trabalho docente com adolescentes

e o real, mobilizando seus impulsos afetivos e cognitivos da inteligência (DEJOURS, 2007). O real apresenta ao professor algo inesperado, desconhecido, que não se conhece a solução. E nisso reside a dificuldade maior, pois frequentemente o profissional não sabe como enfrentá- lo e buscar uma solução que permita superá-lo.

E, para que possamos evidenciar de modo mais específico, os aspectos que envolvem o trabalho docente, a partir da psicodinâmica do trabalho, se fazem necessário especificar o lugar do reconhecimento no trabalho docente, sendo que o reconhecimento já se fez presente em algumas falas já citadas. O reconhecimento se caracteriza como o próximo eixo de discussão.

5.3. O LUGAR DO RECONHECIMENTO NO TRABALHO DOCENTE COM ADOLESCENTES

O reconhecimento, segundo Dejours (2004) é o processo de valorização do esforço e do sofrimento investido na realização do trabalho, que possibilita ao sujeito a construção de sua identidade, que implica a vivência de prazer e realização de si mesmo. O reconhecimento é uma forma de fortalecimento da identidade do sujeito frente ao mundo do trabalho, pois se inscreve na dinâmica da realização do eu, protegendo sua saúde mental, o que possibilita encontrar o sentido do trabalho.

Conforme a psicodinâmica do trabalho, o trabalho humano é fonte de realização, satisfação, prazer, estruturando e complementando o processo de identidade dos sujeitos. Porém, este pode ser também fonte de sofrimento que compromete o próprio trabalho e a saúde do trabalhador. O reconhecimento é o que dá sentido ao trabalho, sendo no campo do reconhecimento que todo investimento feito no trabalho se efetiva. Entretanto, quando esse

investimento não é percebido ou é negado pelo outro, o sofrimento se instala, caracterizando- se como uma ameaça para a saúde mental. (DEJOURS, 2007).

A partir do momento em que o professor é valorizado, responde com iniciativa e criatividade às situações que surgem do cotidiano docente. Porém, quando isso não acontece, surge o desinteresse e desprezo pelo que realiza, não conseguindo com isso vislumbrar qualquer sentido na sua atividade. O trabalho docente, quando reconhecido oferece ao professor a oportunidade de transformação de si mesmo e também sua realização no campo social, pois o professor quer fazer a diferença na vida do sujeito, quer ser reconhecido e quando isso não acontece, o professor sente-se fragilizado em seu próprio sentido do trabalho.

O reconhecimento é visto como uma retribuição simbólica, que contribui para a construção da identidade. Conforme a psicodinâmica do trabalho, o reconhecimento é o que mobiliza esse processo de retribuição simbólica, pela contribuição do sujeito à organização do trabalho e da gratidão pela contribuição dos trabalhadores à organização do trabalho (DEJOURS, 2012), o que é evidenciado nas falas dos professores:

Bem, um elogio, por simples que seja, um bilhetinho. Ou aquela turma que te encontra e diz assim: Nossa professora, obrigada foi bom, eu gostei... aprendi isso.Como eu disse é uma pequena porcentagem, mas nossa... te dá um ânimo. (Prof.ª Gilda)

Agora satisfação é eu encontrar com um aluno na rua e ainda me chamar de tia Jane, não tem palavra, não tem objeto material que possa me gratificar quando a pessoa chegar e falar: você deu aula pra mim, você falou isso na sala de aula, mesmo que seja uma palavra, uma coisa assim. (Prof.ª Janete)

Perceber a retribuição em relação aos seus esforços mobiliza um maior comprometimento pessoal do professor, pois esse reconhecimento fará parte do registro de sua identidade e o fará encontrar o sentido do trabalho. Os professores, ao serem reconhecidos em seu trabalho, sentem-se fortalecidos. O reconhecimento pelos alunos, de uma forma tão significativa, os auxilia a amenizar as situações de desconforto e constrangimentos presentes na situação de trabalho, tais como o desânimo dos alunos adolescentes na realização das tarefas, a agressividade em relação aos colegas e até mesmo aos professores e a forma descomprometida com o futuro, evidenciado em seu comportamento de desleixo, má-vontade e até mesmo ironia evidenciada em algumas situações de sala de aula.

O desconforto experimentado na relação com alguns alunos e mesmo com os colegas e com a organização do trabalho, pode ser minimizado, na medida em que o professor, por meio do reconhecimento de alguns alunos, percebe o sentido do seu trabalho. A construção do

sentido do trabalho pelo reconhecimento pode transformar o sofrimento em prazer, conforme evidencia a professora Gilda.

O que mantém o meu trabalho é um sorriso de gratidão, às vezes quando ele conseguiu conhecer um pedacinho da matéria que eu explique, quando, às vezes ele me manda uma carta, né... depois de dois três anos me cumprimentam na rua, lembram meu nome. (Prof.ª Gilda)

Na narrativa da professora Gilda, fica evidente o quanto o reconhecimento pelo aluno fortalece o trabalho do professor e o auxilia na amenização das vivências de sofrimento e constrangimentos presentes na situação de trabalho. O reconhecimento é a forma específica de fortalecimento da identidade do sujeito frente ao mundo do trabalho, é a forma eleita de gratificação das expectativas do sujeito, no que se refere à realização de si (DEJOURS, 1997), conforme expressa a professora Maria.

Ver meus alunos progredirem, meus alunos passarem por um curso e se saírem bem, alunos que estão hoje fazendo um curso superior, encontram e dizem: professora foi tão bom o tempo que eu passei, eu aprendi tanto, hoje pra mim tá sendo tão bom... então isso ai é uma satisfação e isso que nos faz estar presente todos os dias. (Prof.ª Maria)

O reconhecimento suscita a elaboração de julgamentos em relação ao trabalho realizado, assim ser reconhecido pelos alunos traz ao docente o julgamento de utilidade. A vivência do prazer no trabalho docente com adolescentes está associada ao julgamento de utilidade. A partir do momento em que o professor se vê contribuindo com o crescimento do aluno, em que vê seus alunos incentivados a estudarem, interessados e principalmente pensando no futuro, sente-se reconhecido. Este reconhecimento da qualidade de seu trabalho é inscrito em sua personalidade, em termos de ganho no registro da identidade (DEJOURS, 2012). A professora Gilda evidencia claramente este aspecto.

[...] você deu um conselho que não é nada da educação, um conselho pra vida, eu me sinto valorizada, me sinto importante. Nossa eu contribui... talvez aquele conselho pra aquele mocinho, pra aquela mocinha ele não vai fazer nada de errado. (Prof.ª Gilda)

O julgamento de utilidade do trabalho, que vem em forma de retribuição simbólica conferida pelo reconhecimento pode ganhar sentido em relação às expectativas subjetivas e à realização de si mesmo, a partir do momento que esta valorização, este reconhecimento é inscrito na personalidade do professor, em termos de ganho no registro de sua identidade.

Na perspectiva da psicodinâmica do trabalho, a construção da identidade mobiliza o processo de retribuição simbólica, por meio de suas contribuições à organização do trabalho.

Assim, quando os professores evidenciam a expectativa de recebimento e de troca, é como se estivessem vendo no reconhecimento um pagamento simbólico pelo trabalho que desenvolvem (DEJOURS, 2004).

[...] eu conquistei os alunos, talvez por eu já conhecê-los desde o primário, tem uma relação... então eu acho que isso me anima, anima a gente, a valorização por parte do aluno me faz bem. (Prof.ª Elaine)

A valorização de seu trabalho pelos alunos adolescentes é uma forma de prazer por meio do reconhecimento, que se apóia em um processo relacional, os quais se encontram implicados no ato de ensinar e aprender. Porém, em suas narrativas, os professores deixaram claro o sofrimento causado pelo não reconhecimento por parte dos pais, alunos, e comunidade escolar em geral. Não ser reconhecido é motivo de sofrimento para esses profissionais, pois percebem que por meio de seu trabalho, oferecem bem mais do que aquilo que recebem em troca e desejam com isso serem retribuídos de alguma forma e quando isso não acontece, sentem-se fragilizados em seu próprio lugar de professor.

A decepção realmente é em relação à sociedade, em geral, pais e alunos que não reconhecem o nosso trabalho. (Prof.ª Elaine)

Reconhecimento eu acredito que os professores não estão tendo o reconhecimento merecido. No geral não está tendo, nem pelos alunos, nem pelas nossas autoridades, nem pelos pais, família... a gente não está sendo reconhecido como deveria ser. (Prof.ª Carla) Segundo Dejours (2004) o reconhecimento se caracteriza pelo processo de valorização do esforço investido para a realização do trabalho. Na medida em que o trabalhador é valorizado, responde com iniciativa e inventividade à diversidade das demandas a ele apresentadas. Mas quando isso não acontece, como evidencia a professora Carla, o professor responde com desinteresse e desprezo pelo que realiza, não conseguindo com isso visualizar um sentido no desempenho de seu trabalho docente. Não ser reconhecido pelos pais, alunos, autoridades, foi identificado com uma forma de sofrimento do professor, sofrimento este que vem acompanhado de um desencantamento e desilusão em relação ao trabalho docente. O reconhecimento dá um sentido ao sofrimento, na experiência afetiva do trabalho, é o que dá o sentido de prazer ao sofrimento.

Os professores, ao falarem de sua prática docente, deixam claro, a existência de problemas no contexto de sala de aula, tais como agressividade, desinteresse pelo estudo, indisciplina, porém consideram estas situações como inerentes a seu próprio trabalho, sem conceder um significado traumático, de sofrimento, enquanto que os aspectos relacionados à

consideração social de seu trabalho são questões que o afetam profundamente, causando uma autêntica crise de identidade, onde questionam o próprio sentido do trabalho.

Quando falam de seu trabalho, expressam claramente a idealização presente no trabalho docente que, ao se depararem com a falta de reconhecimento causa frustração. Ao serem reconhecidos pelos pais, pelos alunos e pela sociedade, os professores vêm a utilidade de seu trabalho, como uma permanente construção da identidade, que captura o olhar do outro (ROSELI, 2010). As falas dos docentes a seguir evidenciam o quanto suas expectativas em relação à valorização da sociedade ao trabalho docente, bem como o apoio e o julgamento sobre seu trabalho se modificaram, conduzindo o trabalho do professor a uma desvalorização.

Em relação à valorização eu vou comparar de quando eu era estudante. O professor pra gente era um Deus, praticamente. Era muito valorizado pelos alunos e pelos pais também. Hoje em dia eu não sinto isso mais não, São poucos os alunos que valorizam e poucas as famílias, poucos os pais que vêm no professor assim uma figura de necessidade. (Prof.ª Elaine)

Assim a classe em si é desvalorizada, nós somos desvalorizados perante a sociedade. Eu me sinto desvalorizada. Por que antigamente falar do professor era uma questão de respeito, o professor era respeitado. Hoje em dia não... e a gente sabe que todas as profissões passam pelo professor, só que e uma profissão que você não vê a valorização. (Prof.ª Maria)

Perceber o próprio trabalho com útil à sociedade é de suma importância para o trabalhador, o que segundo Codo (2006).

[...] tem valor inegável para a autoestima do trabalhador, para a forma como se estrutura sua identidade; sentir que realizamos um trabalho inútil faz, de alguma maneira, com que nos sintamos também inúteis. (p.293) Dessa forma, nos reportando para as falas das professoras Elaine e Maria, percebe-se o quanto a falta de reconhecimento, aqui atrelada à questão de utilidade, nos reporta à ideia valorativa do trabalho, pois o julgamento de utilidade do trabalho pelos pares ou superiores hierárquicos confere ao professor a originalidade da atividade desenvolvida no trabalho, o sentimento de pertencimento ao coletivo de trabalho e se revela extremamente importante no que diz respeito à saúde mental do trabalhador a revela a experiência afetiva a relacionada ao trabalho.

Quando o professor não percebe isso por parte dos pais, alunos e sociedade em geral passa a sentir-se inútil, e começa a refletir sobre o valor do trabalho docente para a educação, questionando até que ponto a educação, matéria-prima de seu trabalho está sendo utilizada como instrumento de transformação de seus alunos adolescentes.

As falas das professoras Maria e Leila, evidenciam a relação que estabelecem com o produto de seu trabalho, considerando importante a motivação dos alunos, a aplicação dos conhecimentos no cotidiano e o avanço profissional, aspectos estes que são vistos pelo professor como uma forma de reconhecimento pelo trabalho desenvolvido.

Ver meus alunos progredirem, meus alunos passarem por um curso e se saírem bem, alunos que estão hoje fazendo um curso superior, encontram e dizem: professora foi tão bom o tempo que eu passei, eu aprendi tanto, hoje pra mim tá sendo tão bom... então isso ai é uma satisfação e isso que nos faz estar presente todos os dias. (Prof.ª Maria)

Mas é assim, o que eu puder contribuir pra quem quer isso pra mim é muito gratificante, e saber que um dia lá na frente alguém vai falar eu quero fazer biologia, medicina... alguma coisa voltada pra a saúde por que eu tive você como professora. (Prof.ª Leila)

As narrativas das professoras Maria e Leila evidenciam claramente que sem o reconhecimento, o sofrimento gerado pelo encontro com o trabalho fica desprovido de sentido. Dessa forma, pode-se entender que a Psicodinâmica do Reconhecimento é um conceito central no contexto do trabalho docente com adolescentes, pois é a chave que possibilita encontrar sentido, realização e saúde no trabalho e que sua ausência é fator preponderante no desencadeamento de problemas psíquicos e somáticos.

Outro aspecto que convém evidenciar e que se fizeram presentes nos discursos dos professores é o reconhecimento pelos pares. Molinier (2013, p.157) argumenta que “o reconhecimento do trabalho pelo outro desempenha assim um papel preponderante na consolidação da identidade pessoal”. A relação com os colegas está relacionada a uma tentativa de reconhecimento de sua originalidade e de sua identidade ou ainda, de sua pertença a um coletivo ou comunidade do ofício. (MARIANO, 2006).

A psicodinâmica do trabalho privilegia as relações que são mantidas entre si, nos coletivos de trabalho e o sucesso na dinâmica do reconhecimento repousa na capacidade coletiva de tornar os julgamentos de utilidade e de beleza o mais harmônico possível, o que não é uma tarefa fácil.

O trabalho docente, a meu ver... a gente tem as nossas fraquezas. Mas a gente conta com uma equipe, com colegas, que sempre que a gente tem dúvidas, a gente não sabe como lidar, a gente recebe orientação, apoio. (Prof.ª Janete)

Aqui na escola onde trabalhamos... a escola valoriza isso, os colegas. (Prof.ª Elaine)

O reconhecimento, segundo Dejours (2012, p. 109) “implica o julgamento dos pares, que só é possível se houver um coletivo ou uma comunidade de pares.” E, para construir sua identidade no campo social o professor precisa do olhar do outro, e a cooperação passa a servir de suporte para a sustentação do lugar de sujeito, no trabalho e também como forma de superar o sofrimento.

Aqui eu trabalho com a colaboração, o bom de estar aqui é essa cooperação, a abertura, eu posso chegar e falar que vou ser ouvida. (Prof.ª Gilda)

E como na escola há uma relação muito boa entre os professores, de cooperação, quando a gente precisa de alguma coisa , eles ajudam, eles orientam, eles também mudam textos e produções para acompanhar o trabalho da gente. Tem sim, tem toda uma colaboração em relação a isso. (Prof.ª Leila)

A cooperação é essencial para a integração do sujeito a um coletivo do trabalho, numa relação de confiança onde a vontade de trabalhar em parceria e superar as contradições da organização do trabalho transforma-se em elemento propulsor do bem-estar, na medida em que pressupõe a construção de vínculo com o outro. Segundo Ganem (2008), a cooperação é a base para a formação do trabalho coletivo. A partir do coletivo de trabalho, o indivíduo se sente fortalecido e reconhecido.

O reconhecimento pode oferecer gratificações essenciais no registro da identidade do sujeito, em prol da mobilização da inteligência e ao zelo dos que trabalham, contribuindo com os princípios éticos do viver juntos, contribuindo assim para transformar o sofrimento em prazer (DEJOURS, 2012).

Dejours (2012) argumenta que se trabalhar é continuar indefinidamente a busca, é recomeçar e, sobretudo encontrar uma solução, o professor na relação com alunos adolescentes precisa constantemente buscar uma solução possível. Como fazer isso se o professor encontra-se fragilizado frente à falta de reconhecimento do trabalho? O não ser reconhecido pelos membros da comunidade causa-lhes sofrimento, o que fica evidente na fala da professora Elaine, onde expressa claramente o desencantamento e uma desilusão em relação ao trabalho docente com adolescentes. O não reconhecimento do trabalho fragiliza o lugar do professor, esvaziando de sentido e prazer sua ação pedagógica.

Só que a comunidade fora da escola não vê isso. (Prof.ª Elaine)

Tanto que eu já cheguei a falar assim, não quero mais essas aulas, não quero aquela turma, já aconteceu comigo... de eu não ter conseguido o respeito, o carinho, ou mesmo o reconhecimento. (Prof.ª Elaine)

A segunda fala da professora Elaine evidencia claramente uma estratégia de defesa individual utilizada para fugir de uma atitude provocadora. Para não sofrer em função de não ter recebido dos alunos o reconhecimento merecido, prefere deixar a turma. Ao se sentir incapaz de lidar com as frustrações da própria função, os professores buscam nas estratégias individuais e coletivas de defesa, maneiras de sobreviver ao sentimento de mal-estar no trabalho docente.

O reconhecimento traz uma mobilização tão grande ao professor que, mesmo acontecendo a posteriori, os auxilia para manterem a sua idealização da docência e com isso sustentarem o seu trabalho. Mesmo que os alunos adolescentes não reconheçam o seu valor no momento, e que o reconhecimento aconteça posteriormente, causa no professor o sentimento de dever cumprido, expresso em forma de prazer, satisfação. É o ensinar hoje com o olhar no amanhã, como forma de reconhecimento.

E eles contam depois, como tem muitos que foram meus alunos quando abriu a escola e hoje são os filhos estudando aqui e falam: ela foi minha professora,! Então... assim... lembrou meu nome então assim eu fui importante. Isso me faz bem. (Prof.ª Gilda)

Ainda tem recompensas, por que por mínimas que seja, às vezes depois de alguns anos você encontra um aluno e ele fala... eu já to na faculdade. ( Prof.ª Gilda)

Esse reconhecimento, que ocorre quando o aluno adolescente não se encontra mais no convívio escolar, vem carregado de positividade, o que reveste de sentido e prazer o trabalho docente. Pode ser analisado como um entendimento de que no momento, o movimento interno de aprendizagem ainda está em processo de elaboração, o qual se consolida posteriormente.

Assim, o professor se vê envolvido pelo desejo de reconhecimento, pelo desejo de que os alunos adolescentes percebam o seu trabalho e também a sua presença enquanto pessoa, independentemente que isso aconteça posteriormente. O professor deixa evidente também a satisfação sentida quando o aluno expressa interesse durante as aulas. O simples fato de o aluno adolescente lhe procurar para pedir um conselho, para esclarecer suas dúvidas e socializar suas ansiedades próprias do período pubertário o faz sentir-se útil.

[...] você deu um conselho que não é nada da educação, um conselho pra vida, eu me sinto valorizada, me sinto importante. Nossa eu contribui... talvez aquele conselho pra aquele mocinho, pra aquela mocinha ele não vai fazer nada de errado. (Prof.ª Gilda)

Então de todos assim, que eu mais me sinto orgulhosa é de algum dia ser lembrada por um aluno, mesmo que eu tenha feito alguma coisa errada, pelo menos alivia o que

eu passei pela vida dele, eu não passei em branco, despercebido. (Prof.ª Janete)

Nas falas das professoras podemos perceber o quanto o reconhecimento, mesmo a

posteriori, é capaz de auxiliar o professor a dar continuidade ao seu trabalho e se manter nele.

Conforme Nogueira e Brasil (2013) o reconhecimento pelos alunos ocorrido quando este não se encontra mais no convívio escolar, traz para o professor uma recarga positiva ao seu trabalho, sendo este revestido de sentido e de prazer.

A fala da professora Carla, a seguir, expressa a esperança presente na prática cotidiana do professor de que seu trabalho seja valorizado, seja reconhecido. O reconhecimento do seu trabalho é visto como uma das fontes de prazer, que fortalece sua identidade como também o faz suportar e manter o seu lugar no trabalho. O professor acredita na mudança e no reconhecimento das pessoas pelo trabalho que desempenha e isso o faz permanecer.

[...] e isso me mantém como professora, junto com a esperança que possa ter uma mudança, um reconhecimento... (Prof.ª Carla)

E ainda, reforça a ideia de que as exigências de responsabilidade existente no trabalho do professor precisam ser compensadas pelo reconhecimento da ação docente. Se isso não ocorre, a responsabilidade pelo processo pedagógico passa a ser percebida como uma sobrecarga, que gera um intenso mal-estar.

Marchesi (2008) argumenta que grande parte da identidade pessoal depende da valorização social percebida pelos trabalhadores. A professora Maria, evidencia que o baixo salário reflete a ausência de valorização e reconhecimento de seu trabalho, além de um sentimento de desesperança quanto às mudanças na política educacional, e dentre elas um reajuste salarial, com o qual o professor poderia investir em sua qualificação profissional, que não necessitasse de acumular uma carga horária excessiva e com isso tivesse mais tempo para