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Desafios subjetivos do trabalho docente com adolescentes : um estudo exploratório a partir da psicodinâmica do trabalho

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Academic year: 2017

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Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa

Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação

DESAFIOS SUBJETIVOS DO TRABALHO DOCENTE COM ADOLESCENTES: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO A PARTIR DA

PSICODINÂMICA DO TRABALHO

Autora: Sonia Terezinha Oliveira Nogueira

Orientadora: Dra. Katia Tarouquella Rodrigues Brasil

Coorientadora: Dra. Sandra Francesca Conte de Almeida

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SONIA TEREZINHA OLIVEIRA NOGUEIRA

DESAFIOS SUBJETIVOS DO TRABALHO DOCENTE COM ADOLESCENTES: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO A PARTIR DA

PSICODINÂMICA DO TRABALHO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação da Universidade Católica de Brasília como requisito parcial para qualificação da pesquisa do Mestrado em Educação.

Orientadora: Dra. Katia Tarouquella Rodrigues Brasil

Coorientadora: Dra. Sandra Francesca Conte de Almeida

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Ficha elaborada pela Biblioteca Pós-Graduação da UCB

N778d Nogueira, Sonia Terezinha Oliveira.

Desafios subjetivos do trabalho docente com adolescentes: um estudo exploratório a partir da psicodinâmica do trabalho. / Sonia Terezinha Oliveira Nogueira – 2013.

104f. ; 30 cm

Dissertação (mestrado) – Universidade Católica de Brasília, 2013. Orientação: Profa. Dra. Katia Tarouquella Rodrigues Brasil Coorientação: Profa. Dra. Sandra Francesca Conte de Almeida

1. Educação. 2. Ensino. 3. Adolescentes. 4. Professores. 5. Trabalho – aspectos psicológicos. I. Brasil, Katia Tarouquella Rodrigues, orient, II. Almeida, Sandra Francesca Conte de, coorient. III. Título.

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Dissertação de autoria de SONIA TEREZINHA OLIVEIRA NOGUEIRA, intitulada “DESAFIOS SUBJETIVOS DO TRABALHO DOCENTE COM ADOLESCENTES: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO A PARTIR DA PSICODINÂMICA DO TRABALHO”, apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Educação da Universidade Católica de Brasília, em 19 de dezembro de 2013, defendida e aprovada pela banca examinadora abaixo assinada:

_________________________________________

Profa. Dra. Katia Tarouquella Rodrigues Brasil Orientadora

Universidade Católica de Brasília

_________________________________________

Profa. Dra. Sandra Francesca Conte de Almeida Coorientadora

Universidade Católica de Brasília

_________________________________________ Profa. Dra. Valérie Ganem

Examinadora Externa Universidade PARIS XIII

_________________________________________ Prof. Dr. Carlos Angelo de Meneses Sousa

Examinador Interno Universidade Católica de Brasília

_________________________________________ Profa. Dra. Alessandra Arrais

Examinadora Interna - Suplente Universidade Católica de Brasília

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Dedico este trabalho ao meu esposo, filhos e noras pelo reconhecimento e apoio ao meu trabalho docente.

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AGRADECIMENTO

Agradeço primeiramente a Deus, pela saúde, fé e perseverança, que fez com que mais esse objetivo fosse alcançado em minha vida profissional.

Ao meu esposo, pelo incentivo e apoio.

Aos meus filhos que muitas vezes abdicaram de suas atividades para me acompanhar nesta jornada e às minhas noras, grandes companheiras e especiais em minha vida.

À professora Katia Cristina Tarouquella Brasil, obrigada pelo incentivo e ajuda nos momentos de elaboração deste trabalho e pela sabedoria e dedicação com a qual orientou esta pesquisa.

À professora Sandra Francesca Conte de Almeida, coorientadora, fica aqui o meu respeito e a grande admiração pela capacidade e dedicação profissional.

À professora Valérie Ganem, grande conhecedora da psicodinâmica do trabalho, que aceitou estar conosco nesta caminhada.

Ao professor Carlos Angelo de Meneses Souza e à professora Alessandra Arrais, pela disponibilidade com que atenderam ao pedido de estar presente na banca desta dissertação.

À amiga, incentivadora e companheira Lívia Maria Rassi Cerce. Muito obrigada pelo convívio divertido e harmonioso durante todo o período do curso e pelas interlocuções nos momentos fundamentais da pesquisa.

A todos os professores do curso de Mestrado em Educação e, respeitosamente à Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa, pela oportunidade.

Aos funcionários da Universidade Católica de Brasília, Campus II, pelo sorriso e pelo “bom dia!” com que nos receberam diariamente, na instituição.

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“[...] O trabalho é sempre uma provação para a subjetividade, da qual esta sai sempre ampliada, engrandecida ou, ao contrário, reduzida, mortificada. Trabalhar constitui, para a subjetividade, uma provação que a transforma. Trabalhar não é apenas produzir, mas ainda transformar a si próprio e, no melhor dos casos, é uma ocasião oferecida à subjetividade de provar-se a si mesma, de realizar-se.”

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RESUMO

NOGUEIRA, Sonia Terezinha Oliveira. Desafios subjetivos do trabalho docente com adolescentes: um estudo exploratório a partir da psicodinâmica do trabalho. 2013. 104 f. Dissertação - Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação. Universidade Católica de Brasília. Mestrado em Educação. Brasília, 2013.

A pesquisa teve como propósito a investigação dos desafios do trabalho docente na relação com alunos adolescentes, tendo como referencial teórico a psicodinâmica do trabalho. A psicodinâmica do trabalho nos fornece elementos para uma melhor compreensão do modo como o trabalho mobiliza o trabalhador, gerando sofrimento, mas também possibilitando uma transformação pessoal, que pode se constituir como fonte de prazer para o sujeito, tendo em vista que trabalhar é transformar-se. O trabalho docente junto aos alunos pubertários e adolescente mobiliza o professor a reviver sua própria adolescência, sua sexualidade, sua relação com a autoridade e com o conhecimento, elementos que podem ser fonte de prazer e de sofrimento. Optou-se por entrevistas não diretivas, realizadas com seis professores de três escolas públicas da cidade de Cristalina no Estado de Goiás, sendo dois de cada escola. As entrevistas foram gravadas e transcritas e seguiram três eixos principais: o prazer-sofrimento no trabalho, prescrito e real e reconhecimento no trabalho. A análise apontou que o reconhecimento do trabalho do professor pelo aluno fortalece o trabalho docente e a identidade do professor e se constitui como um elemento de prazer. A falta de um coletivo de trabalho obriga os professores a lidarem de modo solitário com as dificuldades, situação geradora de sofrimento. Os imprevistos no cotidiano do trabalho docente com os adolescentes remetem ao real do trabalho que gera mal-estar, decepção e mesmo o sentimento de impotência. Enfim, considera-se que o trabalho docente, junto ã alunos pubertários e adolescente convoca os professores a conviverem com sujeitos em processo de transformações físicas, psíquicas e sociais, de modo que, além dos conteúdos pedagógicos, o professor terá que lidar com agressividade, mas também vulnerabilidade e desamparo, que o colocam diante de um dilema, entre aproximação e distanciamento de seu aluno. Nesse contexto, um dos elementos que poderia contribuir para melhor enfrentar o cotidiano com alunos adolescentes, além de uma formação que contemple de modo mais cuidadoso este período da vida, seria a instalação de um espaço de troca entre os professores, que poderia contribuir para a convivência entre os docentes e para a sustentação do trabalho educativo junto aos alunos adolescentes.

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ABSTRACT

The research had as purpose the investigation of the challenges of the teaching work in relationship with adolescent students, having the work psychodynamics as theoretical reference. The work psychodynamics provides the elements for a better understanding of how the work mobilizes the worker by generating suffering, but also enabling a personal transformation, which may constitute a source of pleasure to the individual, keeping in mind that to work is to transform. The teaching work with the pubertal students and adolescents mobilizes the teacher to revive his own adolescence, his sexuality, his relationship with authority and with the knowledge, elements that can be a source of pleasure and suffering. It was decided to make non-directive interviews conducted with six teachers from three public schools in the Crystalline City, State of Goiás, two of each school. The interviews were recorded and transcribed and three main axes were followed: pleasure-pain at work, prescribed and real and recognition at work. The analysis pointed out that the recognition of the work of the teacher, by the student, strengthens the teaching work and the identity of the teacher and is constituted as an element of pleasure. The lack of a collective of work obliges teachers to cope, in solitaire mode, with the difficulties, a suffering generative situation. Unforeseen in the daily teaching work with adolescents refer to the actual of the work that generates discomfort, disappointment and even the feeling of powerlessness. At last, it is considered that the teaching work, along with pubertal students and adolescents convene the teachers to live together with individuals in process of physical, mental and social transformations, so that, in addition to the pedagogical contents, the teacher will have to deal with aggressivity, but also vulnerability and helplessness, which put him facing a dilemma between rapprochement and distancing of the student. In this context, one of the elements that could contribute to better cope with the everyday of adolescents students in addition to a formation that contemplates more carefully this period of life, would be to install a space of exchange between teachers, which could contribute to acquaintanceship between the teachers and the support of educational work with the adolescent students.

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SUMÁRIO

1 Introdução... 9

2 Trabalho docente: contribuições da psicodinâmica do trabalho ... 17

2.1 Trabalho e trabalhar ... 17

2.2. Prazer e sofrimento no trabalho docente ... 19

2.3. O prescrito e o real no trabalho docente ... 25

2.4. O lugar do reconhecimento no trabalho docente ... 33

2.5. Estratégias individuais e coletivas de defesa no trabalho docente ... 41

3 Trabalho docente: o professor e o aluno adolescente ... 44

4 Método ... 49

4.1 Tipo de Pesquisa ... 49

4.2 Procedimento de coleta de dados ... 50

4.3 Universo da pesquisa ... 53

4.4 Sujeitos da pesquisa ... 53

5 DISCUSSÃO E ANÁLISE DAS ENTREVISTAS ... 56

5.1 Trabalho docente com alunos adolescentes: o prazer-sofrimento ... 56

5.2. O real e o prescrito no trabalho docente com adolescentes ... 76

5.3. O lugar do reconhecimento no trabalho docente com adolescentes ... 83

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 94

REFERÊNCIAS ... 98

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1 INTRODUÇÃO

A pesquisa tem como propósito a investigação acerca dos desafios subjetivos do trabalho docente na relação com alunos adolescentes, tendo como referência a psicodinâmica do trabalho, a partir dos elementos que fazem parte do trabalho docente, tais como: a ação pedagógica e a mobilização subjetiva do professor na relação com seus alunos adolescentes.

A psicodinâmica do trabalho nos fornece elementos para uma melhor compreensão do modo como o trabalho mobiliza o trabalhador, gerando sofrimento, mas também possibilitando uma transformação pessoal, que pode se constituir como fonte de prazer para o sujeito, tendo em vista que trabalhar é transformar-se (DEJOURS, 2012). A psicodinâmica do trabalho é uma disciplina clínica que se sustenta na descrição e no conhecimento das relações entre trabalho e saúde mental e uma disciplina teórica que se inscreve na investigação no campo clínico, apoiada em uma teoria do sujeito que considera a psicanálise e a teoria social (DEJOURS, 2012). Nesta perspectiva, a subjetividade, identidade, o coletivo de trabalho, a cooperação, o reconhecimento, e demais elementos teóricos da psicodinâmica do trabalho auxiliam a melhor compreender o trabalho como central para a consolidação da identidade e para a saúde mental,

O trabalho ocupa um lugar de destaque na consolidação e reorganização da identidade do sujeito, exercendo um lugar central na sua constituição e em suas relações com a sociedade. Neste sentido, trabalhar é muito mais que vender a força de trabalho em troca de remuneração, pois se caracteriza como um fator de integração a determinados grupos, e exerce também uma função psíquica, que se caracteriza como um dos grandes alicerces de constituição do sujeito (LANCMAN, 2011).

Um alicerce que se apoia em alguns elementos como reconhecimento, gratificação, cooperação e mobilização da inteligência que se coloca a serviço dos desafios do trabalho. Quando algum desses elementos se fragiliza ou se rompe, o trabalhador é atingido em sua identidade, situação esta que pode abrir espaço para o sofrimento e isolamento, trazendo consequências tanto individuais, quanto sociais, conforme evidencia Lancman (2011).

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Esse estudo chama a atenção para o trabalho docente e para as particularidades do processo de complementação da identidade e consolidação da vida psíquica que é promovida por meio do trabalho, a fim de construir uma pesquisa exploratória do trabalho docente, a partir da perspectiva teórica da psicodinâmica do trabalho.

O trabalho, conforme Dejours (2012), tanto pode ser gerador de sofrimento quanto de prazer. O sujeito é transformado pelo trabalho e se estende além do espaço e do tempo de execução da atividade para outras esferas da vida. Neste contexto, pretende-se evocar a contribuição do trabalho para a saúde e para o adoecimento dos docentes na prática pedagógica com alunos adolescentes. Entende-se que as situações de instabilidade e de sofrimento que o trabalho vem causando ao docente comprometem a relação professor-aluno e o processo ensino-aprendizagem. Assim, através dessa pesquisa, busca-se maiores subsídios para o entendimento dos impasses que surgem no cotidiano de trabalho docente na relação com seus alunos adolescentes e os elementos conscientes e inconscientes que invadem essa dinâmica relacional.

Neste contexto, alguns questionamentos se formaram, sendo eles: como se dá o trabalho docente junto aos alunos adolescentes? Qual o sentido que o docente confere ao trabalho que realiza? De que modo esses professores são mobilizados subjetivamente com o trabalho com alunos adolescentes? Quais as razões que os mantém na profissão?

Assim, ao nos debruçarmos sobre este tema e, principalmente sobre o trabalho docente, objeto de investigação dessa pesquisa, identifica-se a importância de investigar a relação dos professores com seus alunos adolescentes, que difere da relação com os alunos crianças e adultos. Nesse sentido, ao direcionar a pesquisa para o trabalho docente na relação com alunos adolescentes no período pubertário, busca-se melhor compreender a complexidade desse trabalho, tendo como fio condutor o que sente o professor, como ele é mobilizado por trabalhar com esse segmento da população e se está preparado para tal desafio.

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Pesquisadores, tais como Esteve (1999), Jesus (2007), Paschoalino (2009) evidenciam que na relação com o trabalho docente, o professor está sujeito a um conjunto de prescrições, que são as atribuições que lhe são conferidas pela sociedade em geral, pais, diretores, alunos e os órgãos governamentais, com todos os documentos que prescrevem seu trabalho, os quais influenciam suas ações e também suas representações na sociedade. Portarias, pareceres, leis e diretrizes estabelecem normas para a organização do trabalho docente, definindo formas de desenvolvimento da atividade pedagógica. Porém, essas prescrições nem sempre são possíveis de serem cumpridas, tal e qual estão nas normativas, pois, trabalhar na perspectiva da psicodinâmica do trabalho, é justamente buscar o preenchimento da lacuna entre o prescrito e o real do trabalho, o que segundo a ergonomia é teorizado “pelo binômio formado de um lado pela tarefa, de outro pela atividade.” (DEJOURS, 2012. p.79).

Por ser um trabalho que envolve a relação interpessoal aliada a aspectos afetivos, o trabalho docente supõe muito mais do que um conjunto de habilidades técnicas, pois o real do trabalho o coloca de frente com diferentes circunstâncias educativas, que de certa forma, os impulsiona a renormatizar seu fazer pedagógico.

Assim, as indagações acerca do trabalho docente, que são os elementos fundamentais desta pesquisa, giraram em torno do trabalho educativo frente aos desafios enfrentados pelo docente na relação com adolescentes, tendo como elemento fundamental a psicodinâmica do trabalho, sendo elas: Como o professor sustenta seu trabalho? Como se vê mobilizado pelo seu trabalho com adolescentes? Como a atividade docente se desenvolve e o que acarreta no profissional as situações desafiadoras que envolvem sua prática cotidiana, na relação com alunos na adolescência? Quais as dificuldades particulares sentidas pelo docente ao trabalhar, especificamente, com adolescentes no período pubertário?

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O objetivo geral da pesquisa é identificar os desafios do trabalho docente com alunos no período da adolescência na perspectiva da psicodinâmica do trabalho. Os objetivos específicos são: Descrever os aspectos que envolvem o prazer-sofrimento no trabalho docente com adolescentes; identificar e analisar os desafios entre o prescrito e o real no trabalho docente com alunos adolescentes e explicitar o lugar do reconhecimento no trabalho docente com alunos adolescentes.

A partir do estudo sobre os desafios do trabalho docente na relação com adolescentes, busca-se a compreensão do que há no cotidiano escolar que certamente engancha com a subjetividade do docente e contribui para o prazer e para o sofrimento no trabalho.

Tardif-Lessard (2012) Esteve (1999) Nóvoa (1999) Mosquera e Stobäus (2007), Paschoalino (2009), Jesus (2007), Aguiar e Almeida (2008), que se dedicaram ao tema do trabalho docente apontaram que na relação com os alunos, alguns elementos se destacam no real do trabalho, tais como indisciplina, falta de reconhecimento e uma crise social instalada na escola, que coopera para situações de desrespeito entre professor-aluno, violência e mal-estar. Todas estas situações se chocam com o ideal de escola pensado pelo professor, atravessado por uma idealização do processo educativo, marcado em sua formação. Assim, ao perceber que o prescrito não dá conta de todas as demandas escolares, tendo em vista os imprevistos do trabalho docente, as situações de sofrimento pode se instalar entre os professores (AGUIAR; ALMEIDA, 2008).

Diversos estudos realizados também contribuíram para o entendimento do trabalho docente e para as situações que envolvem a prática pedagógica. Dentre eles, Silva (2010) enfatiza o mal-estar, evidenciando elementos que contribuíram para o sofrimento docente e que fragilizaram o lugar do trabalho como complemento da identidade para o sujeito. Aguiar (2006), também evidencia o trabalho docente, voltando-se para o sofrimento psíquico sofrido pelo professor,e como esteafeta sua prática educativa. O mal-estar sofrido pelo docente o faz perceber-se incapaz e impotente frente às demandas presentes no cotidiano escolar. E, por não sustentarem sua posição de autoridade junto a seus alunos, passa a ter uma sensação de desamparo no exercício da prática educativa.

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pedagógicas, tendo em vista que a convivência diária com sujeitos em processo de desenvolvimento, mobiliza o professor a reviver sua própria adolescência, sua sexualidade, sua relação com a autoridade e com o conhecimento.

A adolescência tem sido considerada por vários autores (WINNICOTT, 2005, DAVIS; WALBRIDGE, 1982) como uma fase do desenvolvimento humano em que diversas questões estão implicadas, tais como a busca de identidade, sexualidade, desejo de afastamento, principalmente das figuras parentais, associação a grupos, transgressão às normas e tradições, os quais surgem como desafios desse período, causando dificuldades a quem precisa lidar com eles. A escola, no confronto com todas essas situações vivencia no dia a dia, problemas como rebeldia, descompromisso, ironia e inconformismo por parte dos adolescentes, e o professor, frente a esta realidade, precisa criar estratégias para lidar com isso e manter seu trabalho. Assim, pergunta-se, como fazer isso?

O interesse da pesquisadora pelo trabalho docente com alunos adolescentes surgiu a partir de sua experiência em sala de aula, assim como nos cargos de gestão. Nesses dois espaços de atuação, a pesquisadora vivenciou situações do real do trabalho que muito a angustiou como profissional da educação. Essa angústia era sentida diante da percepção de que a idealização da escola está muito longe de existir e que é preciso abrir mão dessa visão idealizada, tendo em vista o real do trabalho.

A experiência da pesquisadora na Secretaria Municipal de Educação de Cristalina contribuiu para que essa pesquisa se voltasse para a investigação do trabalho docente, especificamente com alunos adolescentes, que é a fase em que os maiores conflitos com os professores e com a comunidade escolar ocorrem e ocasionam muitas dúvidas, angústias e sofrimento ao professor. No período em que foi gestora, a pesquisadora teve a oportunidade de observar mais atentamente o trabalho docente, particularmente nas situações que ocorrem no dia a dia da escola, tais como absenteísmo, violência, insatisfação, angústia e mal-estar, os quais são demonstrados claramente nos discursos e nas práticas cotidianas nas escolas, que atingem de modo mais evidente aos professores que trabalham com alunos adolescentes.

A pesquisa aqui apresentada ocorreu no município de Cristalina, Estado de Goiás, cidade em que não existem estudos sobre o trabalho docente, de modo que essa pesquisa poderá inaugurar uma reflexão sobre essa temática.

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das cinco escolas públicas estaduais, (303) trezentos e três das dezoito escolas públicas municipais e (39) trinta e nove das três escolas privadas.

O número de alunos matriculados no Ensino Fundamental no ano de 2012 foi de (8.429) oito mil, quatrocentos e vinte e nove alunos, sendo (962) das escolas públicas estaduais, (7.039) sete mil e trinta e nove das escolas públicas municipais e (428) quatrocentos e vinte oito alunos das escolas privadas.

Cristalina vivencia situações sociais que se refletem no cotidiano da escola, tais como violência, uso de drogas, desemprego, aspectos que são trazidos para a escola e interferem significativamente no trabalho docente. Por isso, não podemos nos omitir à realidade dos professores, que têm demonstrado cada vez mais um sentimento de impotência frente a estas situações sociais, tendo que lançar mão de várias estratégias, com o intuito de garantir o processo ensino-aprendizagem. Dejours (2012) argumenta que trabalhar é recomeçar e, sobretudo encontrar uma solução para os desafios do real. O professor na relação com alunos adolescentes precisa constantemente buscar uma solução possível para os impasses que se colocam na sua prática educativa.

Todas essas questões vêm reforçar a ideia de que se faz necessário uma maior capacidade por parte dos docentes, para enfrentar as situações adversas que atravessam o cotidiano escolar. Assim, refletir sobre o significado do trabalho docente na relação com adolescentes passa a ser imprescindível, pois o que vemos é a tarefa docente sendo reduzida a um conjunto de técnicas de ensino e exigências prescritas que estão muito afastadas do que realmente deveria impulsionar o seu trabalho real. Neste contexto, pensar o trabalho docente com alunos adolescentes, a partir de uma escuta desses profissionais é importante, pois é possível identificar os vários dilemas, contradições e desafios do prescrito e do real do trabalho educativo.

O primeiro capítulo apresenta a fundamentação teórica, a partir das contribuições da psicodinâmica do trabalho, evidenciando as intervenções relacionadas à organização do trabalho, com enfoque no trabalho docente com alunos adolescentes, a partir do estudo sobre o trabalho e o trabalhar e as situações que envolvem este ato, tais como o prazer e sofrimento no trabalho docente, os impasses entre o prescrito e o real do trabalho docente, o lugar do reconhecimento e as estratégias individuais e coletivas de defesa, elementos estes que servirão de fio condutor para o estudo exploratório sobre o tema.

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professor frente aos desafios desta fase de desenvolvimento humano, fase esta marcada pela passagem de uma dinâmica de filiação com a família, para aberturas de afiliação com os pares, os grupos, dentre eles a escola. Traz o conceito de puberdade e adolescência, em sua relação com o docente e suas formas de tecer laços no ambiente escolar, elucidando os eventos cotidianos que ocorrem na classe e que, de certa forma, desafiam o trabalho docente.

Os procedimentos metodológicos da pesquisa, apresentados no terceiro capítulo estabelecem o detalhamento dos métodos e técnicas que foram utilizadas no decorrer da pesquisa, para assim atingir os objetivos propostos. Quanto ao tipo de pesquisa, esta é de cunho qualitativo, tratando-se de uma pesquisa exploratória, a qual tem o objetivo de proporcionar maior familiaridade com o problema. O universo da pesquisa foram professores dos 8º e 9º anos do Ensino Fundamental das Escolas Públicas do município de Cristalina, Goiás, num quantitativo de seis professores.

O capítulo evidencia ainda, as técnicas de coleta de dados, a qual envolveu levantamento bibliográfico e entrevista não diretiva com professores, utilizando o método dedutivo, que parte de teorias gerais para explicar fenômenos particulares, através de uma escuta sensível das manifestações individuais, por parte da pesquisadora. Não foi utilizado o método da psicodinâmica do trabalho, tendo em vista a dificuldade de colocar esse dispositivo em prática, de modo que a escolha por um método qualitativo de escuta se manteve nessa pesquisa, mas ocorreu por meio de entrevistas individuais, com os professores, as quais foram analisadas na perspectiva da psicodinâmica do trabalho.

O quarto capítulo apresenta a análise e interpretação dos dados, que envolveram a analogia entre os estudos realizados, a partir da pesquisa bibliográfica e os resultados obtidos nas entrevistas. A análise das entrevistas proporcionou respostas às perguntas da pesquisa, procurando estabelecer um sentido mais amplo, a partir da ligação com os conhecimentos já adquiridos, procurando manter o essencial da palavra do professor, a partir dos eixos de discussão previstos e o referencial teórico da psicodinâmica do trabalho.

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perceber a implicação pessoal com os aspectos técnicos da profissão, mas também com as questões relacionadas ã sua subjetividade.

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2 TRABALHO DOCENTE: CONTRIBUIÇÕES DA PSICODINÂMICA DO TRABALHO

2.1TRABALHO E TRABALHAR

O trabalho é central na atividade do ser humano. A centralidade do trabalho está relacionada à ideia de que o trabalho é um mediador central entre o inconsciente e o campo social. Dejours (2012) destaca que admitir a centralidade do trabalho significa compreender que o trabalho foi capturado pela modernidade, mas que ele possui também um lugar central na vida psíquica e que atinge também aqueles que são privados do trabalho, que são impossibilitados de restituir à sociedade, pelo trabalho, uma contribuição.

É pela experiência do trabalhar que o ser humano aprende a conhecer seus limites, sua capacidade de experimentar, de renunciar e de resistir para transformar-se (DEJOURS, 2012). Trabalha-se sempre para alguém, para o outro, sendo o trabalho não apenas uma atividade, mas ainda uma relação social, uma vez que trabalhar não é apenas produzir, mas também viver junto.

Dejours (2012) afirma que trabalhar é também mobilizar a inteligência inventiva e criativa, construindo as artimanhas da profissão, as quais não são ensinadas na formação do trabalhador, mas que são desenvolvidas na relação entre o prescrito e o real do trabalho. Nessa perspectiva, trabalhar é lidar com imprevistos e incidentes, de modo que todo trabalho é marcado pela resistência do real, o qual se faz conhecer por intermédio do sentimento de fracasso. Essa experiência é acima de tudo afetiva e gera um sentimento de surpresa, que logo é substituído pelo nervosismo e pela irritação, senão pela cólera, marcado por um sentimento de impotência, de sofrimento, que pode ser transformado em prazer, quando o trabalhador consegue encontrar soluções para esses imprevistos.

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O sentido do trabalho é o que contribui para a construção da identidade do sujeito, é o que agrega elementos para a formação da personalidade. Tem a ver com a identidade do sujeito, pois o ser humano é habitado por esse trabalhar. Assim, a psicodinâmica do trabalho, ao procurar entender a ação do sujeito em seu contexto de trabalho, vem considerar que todo comportamento tem um sentido que o motiva.

O trabalho traz em si um projeto de vida, pois homens e mulheres extraem de seu trabalho, além do produto, uma maneira de ser e de se posicionar frente aos outros, mobilizando assim, sua própria subjetividade. A subjetividade é mobilizada no trabalho de modo geral, pois segundo a psicodinâmica do trabalho, sempre se trabalha para alguém, para o cliente, para o aluno, os colegas, entre outros. Isso não é neutro, e nessa experiência está embutida a ideia de reconhecimento daqueles para quem se trabalha, de modo que trabalhar mobiliza experiências afetivas, a princípio de sofrimento, e que podem ser transformadas em prazer, através da mobilização dos recursos subjetivos na busca de uma realização no campo social.

Dejours em entrevista (CARDOSO, 2001) evidencia que o trabalho tem lugar central na construção da identidade, nas relações de gênero e na construção da sociedade. O trabalho não é apenas uma atividade solipsista, é também uma atividade dirigida ao outro: trabalhamos sempre para alguém. Uma vez reconhecido, o trabalho oferece não apenas a oportunidade de transformação de si mesmo, mas também a de realização no campo social.

O trabalho inscreve-se na dinâmica da realização do eu e da identidade como proteção a saúde mental do sujeito. É, conforme Dejours (2007) o único mediador eficiente possível do desejo no campo social, que nos remete à questão do reconhecimento, que segundo a Psicodinâmica do Trabalho, ocupa um lugar central, de elevada importância para a realização e bem-estar do trabalhador.

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retribuição simbólica dada ao sujeito como compensação por sua contribuição aos processos da organização do trabalho.

O engajamento subjetivo no trabalho se apoia no par contribuição-retribuição. O trabalhador contribui para a organização de trabalho e espera receber o reconhecimento por seus esforços, por ir além do prescrito para realizar o melhor trabalho possível. O julgamento, revestido de conteúdo simbólico, que se apresenta na forma de reconhecimento, configura-se como a retribuição esperada e mais valorizada pelo sujeito, que dá sentido ao seu investimento subjetivo no trabalho, a partir dos princípios cooperativos que permeiam a prática profissional (DEJOURS, 2008).

Dessa forma, convém evidenciar acerca da cooperação, caracterizada pela vontade das pessoas trabalharem juntas e superarem coletivamente as contradições que surgem no dia a dia do trabalho, a qual é considerada um grau suplementar de integração da organização do trabalho. Supõe um compromisso que é ao mesmo tempo técnico e social. Isto tem a ver com o fato de que trabalhar não é unicamente produzir, é também, e sempre, viver junto, partilhar.

A cooperação é uma modalidade essencial para a socialização e a integração do sujeito a um coletivo do trabalho e é graças a ela que a organização real do trabalho evolui e se adapta, em função da composição do coletivo e da transformação material do processo de trabalho. Exige dos sujeitos uma relação de confiança, o que sem ela, a construção de acordos, normas e regras se tornam frágeis. É um importante componente para a integração na organização do trabalho, onde a vontade para trabalhar em parceria e superar coletivamente as contradições da organização do trabalho transforma-se em elemento propulsor do bem-estar no trabalho, os quais trazem a integração e o crescimento profissional do grupo, numa relação de confiança e integração na organização do trabalho.

A ação construída a partir de um coletivo de trabalho, num processo cooperativo, considera valores, eficiência e eficácia, surgindo mediante a atividade realizada em conjunto, numa relação espontânea. É estabelecida a partir de uma dinâmica coletiva que possibilita a confiança e o reconhecimento, apresentando assim a subjetividade do trabalho.

2.2. PRAZER E SOFRIMENTO NO TRABALHO DOCENTE

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O trabalho é fonte tanto de prazer quanto de sofrimento, vivências que implicam em uma contradição e não são excludentes. Essa contradição “é guiada por um movimento de luta do trabalhador para busca constante de prazer e evitação do sofrimento, com a finalidade de manter o seu equilíbrio psíquico”. Acrescenta-se que “não é a simples existência do prazer ou do sofrimento os indicadores de saúde, mas a diversidade das estratégias que podem ser utilizadas pelos trabalhadores para fazer face às situações geradoras de sofrimento e transformá-las em situações geradoras de prazer” (MENDES; MORRONE, 2003, p. 27).

Este é justamente o paradoxo psíquico do trabalho: ser tanto fonte de equilíbrio quanto causa da fadiga, o que conforme Dejours (1992, p.172) “se o trabalho provoca sofrimento, também promete em troca um prazer que pode ajudar na construção do equilíbrio psíquico”. Para Dejours (2004) tanto o prazer como o sofrimento resulta da organização do trabalho, ressaltando as organizações como desestabilizadoras da saúde.

A relação entre prazer e sofrimento encontrou suas origens nas ideias de Freud, que coloca o “amar e trabalhar” como elementos essenciais na vida do ser humano. Evidencia que a vida proporciona ao homem muitos sofrimentos, decepções e renúncias. O trabalho é uma das renúncias pulsionais coletivas em prol da sociedade, fazem parte da sujeição ao princípio da realidade (OLIVEIRA, 2006). O sofrimento ameaça o homem, cuja maior defesa seria o isolamento, porém enquanto membro da comunidade humana ele busca alternativas para vencer os desafios de modo coletivo, de modo que o trabalho se inscreve nessa dimensão de apoio da subjetividade no campo social.

Dejours (1992) aborda o sofrimento no trabalho e destaca suas possíveis fontes, dentre elas o medo de fracassar, diante das pressões externas, da distância entre o prescrito e o real e também desesperança quanto ao reconhecimento no trabalho, evidenciando a presença do sentimento de que a atual organização do trabalho docente é constituída por uma desumanização presente no ambiente profissional.

No trabalhar estão implicados todos os laços humanos criados pela organização do trabalho: relações com a hierarquia, com as chefias, com a supervisão, com os outros trabalhadores – e que são, às vezes desagradáveis, até insuportáveis. (DEJOURS, 1992).

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Por meio de um efeito surpresa e desagradável, ou seja, de um modo afetivo, o real do trabalho está acompanhado de uma dose de sofrimento, porque o trabalho resiste às prescrições (DEJOURS, 2008). A origem desse sofrimento está no esforço realizado pelo sujeito no trabalho, que objetiva dar conta das dificuldades a ele apresentada. O real existe para confrontar o sujeito ao fracasso, de onde surgem os sentimentos de impotência e decepção.

Dejours (1994) faz uma análise das relações entre trabalho, prazer e sofrimento, com base na organização do trabalho. Para o autor, existe um paradoxo psíquico do trabalho: este é, para uns, fonte de equilíbrio; para outros, causa de fadiga e sofrimento. Assim, o trabalho é equilibrante quando traz consigo a possibilidade da diminuição da carga psíquica e é extenuante quando não possibilita essa diminuição. (AGUIAR; ALMEIDA, 2008, p.15).

O trabalho é possuidor de um valor pessoal e social, imprimindo vinculações subjetivas no sujeito, causadoras das sensações de bem e mal-estar. (DEJOURS, 2007).

O sofrimento não é apenas uma consequência última da relação com o real; ele é ao mesmo tempo proteção da subjetividade com relação ao mundo, na busca de meios para agir sobre o mundo, visando transformar este sofrimento e encontrar a via que permita superar a resistência ao real (DEJOURS, 2004, p.28).

Quando a organização do trabalho faz obstáculos à elaboração do sofrimento e sua transformação em prazer, este pode ser prejudicial à saúde mental. Entretanto, sofrimento pode ser transformado em prazer pelo sujeito em duas condições. A primeira seria quando a organização do trabalho não se opõe à criatividade do sujeito, quando esta se traduz na sensibilidade e na habilidade dele com as máquinas, objetos e pessoas. A segunda condição é quando a contribuição do trabalho é reconhecida pelos outros. (MOLINIER, 2004).

O bem estar psíquico é, conforme Dejours (1992) resultado de um livre funcionamento em relação ao conteúdo da tarefa. Portanto, se o trabalho é favorável ao livre funcionamento, existirá o equilíbrio; se ele se opõe provocará o sofrimento e a doença. Como todo estado psíquico, o bem-estar não é um processo estável (DEJOURS, 2004), pois o ser humano possui capacidade de variações, as quais se apresentam como dispositivos de regulação, em virtude do organismo humano estar sempre em constante movimento.

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ou seja, é necessário que a tarefa tenha um sentido para o sujeito, com base na sua história de vida (LANCMAN; SZNELWAR, 2008). O segundo seria os espaços públicos de fala onde há uma escuta atenta à fala dos trabalhadores não só a individual, mas principalmente a fala coletiva, a chamada clínica do trabalho.

Para a Psicodinâmica do Trabalho, se o sofrimento é de ordem do singular, sua solução é coletiva (DEJOURS, 2007). Assim é necessário que se crie um espaço para que a palavra coletiva circule, pois é na escuta do que é expresso pelas pessoas que se cria a possibilidade do sofrimento emergir e com isso poder ser pensado por todos.

A partir da avaliação do trabalho baseada na escuta do trabalhador, Dejours (2008) evidencia que é necessário acessar o trabalho invisível e isso só pode ocorrer a partir da palavra relatada pelo próprio trabalhador. Ao oferecer um espaço de escuta, a análise das divergências entre o trabalho prescrito e real serviria como uma forma de amenizar o sofrimento que surge no enfrentamento com estas situações de trabalho. É uma forma de construção de um novo olhar sob a inteligência pratica desenvolvida pelo trabalhador para lidar com as dificuldades do cotidiano profissional.

A construção teórica da Psicodinâmica do Trabalho contribui nessa pesquisa para discutir o trabalho docente. O exercício da profissão docente é implicado por fatores que incidem diretamente sobre a ação do professor na sala de aula, fatores estes relacionados às exigências, contradições, expectativas, valorização, reconhecimento e condições de trabalho. A partir da percepção subjetiva e da frequência com que ocorrem na vida do professor, estes fatores podem ser geradores de bem ou mal-estar, o que se traduz em prazer e sofrimento.

As vivências de prazer e de sofrimento se alternam o tempo todo no cotidiano escolar, pois a função educativa coexiste com tristezas, frustrações e desilusões, mas também com alegrias, compensações e realizações. Cabe ao professor desenvolver a sua atividade docente “educando para a realidade” [...] (AGUIAR; ALMEIDA, 2008, p.63).

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Esse abismo traz uma sensação de mal-estar. O mal-estar não é uma discussão nova, Freud (1930/1974), nos remete que a constituição do processo civilizatório exigiu do sujeito a renúncia de satisfações individuais em favor do bem-estar comum, situação geradora de desconforto e sofrimento. Desse modo, mesmo com todas as mudanças já evidenciadas por Freud (1930/1974), no início do século XX, a modernidade e os avanços não se constituíram como uma fonte segura como precondição da felicidade humana. Portanto, para Freud (1930/1974), a cultura sendo fonte de mal-estar, impõe ao sujeito um antagonismo fundamental, a saber, abdicar das satisfações pulsionais em prol das exigências da cultura, este antagonismo no qual o sujeito é jogado e revela o preço que este precisa para civilizar (SILVA, 2010).

O mal-estar é próprio da condição humana, portanto, não há como o sujeito humano escapar (AGUIAR; ALMEIDA, 2008). O mal-estar na contemporaneidade apresenta a marca de uma sociedade do espetáculo que ressalta a exterioridade, autocentramento e esvaziamento das trocas intersubjetivas (BIRMAN, 2001). Para o autor, configura-se a tese de que a pós-modernidade seria decorrência da falência dos projetos sociais de superação do mal-estar, levando à ruína do sujeito epistêmico e do indivíduo social, e consequente ameaça de niilismo de relativismo cultural. A fragmentação da subjetividade constituiria, assim, o aspecto fundamental do mal-estar na contemporaneidade.

Outra característica da pós-modernidade é o modo como a violência entra no cenário social e contribui efetivamente para o mal-estar na cultura. Assim, saquear o outro naquilo que este tem de essencial e inalienável, se transforma quase no credo nosso de cada dia. A eliminação do outro, se este resiste e faz obstáculo ao gozo do sujeito, nos dias atuais se impõe como uma banalidade (BIRMAN, 2001). As novas formas de subjetivação da contemporaneidade têm produzido novas formas de mal-estares e, portanto, novos transtornos psíquicos, que cada vez mais se situam no registro do corpo e da ação.

Cordié (1998) compreende o mal-estar docente como um fenômeno que envolve aspectos exteriores aos sujeitos como: os sociológicos e as condições mesmas do fazer pedagógico e demandas diárias, os fatores profissionais e, também a problemática do próprio sujeito, uma vez que ensinar não é uma atividade neutra, o processo de ensino e aprendizagem entre professor e aluno é interativo, pois não demanda somente o desenvolvimento de habilidades cognitivas, mas afetivas também.

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está relacionado ao mal-estar vivido pelos docentes europeus no final do século XX, gerado por fatores apontados por Esteve (1999, p. 66) como:

[...] aumento de exigências em relação ao professor; inibição educativa de outros agentes de socialização; desenvolvimento de fontes de informação alternativas; ruptura do consenso social sobre educação; modificação do apoio da sociedade ao sistema educativo; menor valorização social do professor; mudança dos conteúdos curriculares; escassez de recursos materiais; mudanças na relação professor/aluno, e fragmentação do trabalho do professor.

Sendo assim, ao longo da história da formação docente ficam evidenciados os fatores que representam o mal-estar docente que está ligado à sua própria origem, ao desenvolvimento histórico, ao desgaste em função das insatisfações dos docentes, de seus alunos, e da improdutividade perante modificações rápidas no conhecimento (SILVA, 2010).

De acordo com Mosquera e Stobäus (2007) os professores sentem um desencanto pessoal e coletivo, que emana do processo de a sociedade não dar o valor devido à profissão docente e à educação. Acrescentam ainda, que a imagem ideal serve de pretexto, ocultando a real imagem trabalhadora docente e o consequente desempenho. A ausência do reconhecimento do trabalho docente é uma importante fonte de mal-estar, podendo contribuir para os sentimentos de angústia, desgosto, desesperança, raiva. O acúmulo destes sentimentos pode desencadear doenças relacionadas à situação de trabalho.

A saúde do professor na contemporaneidade encontra-se fragilizada. Os estudos realizados por Carlotto e Palazzo (2006); Codo e Vasques-Menezes (2006); Gasparini, Barreto e Assunção (2005); Carlotto e Câmara (2007) e Araújo, Sena, Viana (2005) descrevem o professor distante de uma satisfação no trabalho, esgotado pelo acúmulo de responsabilidades e por expectativas desproporcionais ao tempo e aos meios de que dispõe. A dificuldade em realizar bem seu trabalho, acarreta em um desinvestimento progressivo na docência e um enfraquecimento dos vínculos entre os pares.

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trabalho, apontando a necessidade de redefinição de aspectos referentes às condições de infraestrutura, do processo e organização do trabalho na instituição. Enfim, a experiência do trabalho docente na contemporaneidade é marcada por grandes demandas as quais este profissional se vê obrigado a gerenciar muitas vezes sozinho.

Conforme Aguiar e Almeida (2008, p. 52),

[...] o professor adoecido pelas contingências do cotidiano escolar está sempre à espera de restaurar a unidade um dia perdida com o Outro, por meio das demandas de reconhecimento que o afaste, um pouco, do sentimento de desamparo. Imaginariamente, espera poder mudar radicalmente o cenário da escola no mundo moderno, como se esta fosse uma tarefa possível, mas se deprime quando se depara com as dificuldades a serem transpostas na instituição escolar, com a falta de modelos a serem seguidos, com o real da educação impossível.

O desafio atual do professor é o reexame dos valores que sustentam a educação, pois o velho modelo não serve mais à ação pedagógica exigida na atualidade, tendo em vista que a mudança social e a crise na educação familiar constituem um problema que se reflete no cotidiano escolar. Deste modo, o que se apresenta é a redefinição do papel do professor. Se no passado o lugar de professor era a garantia de uma autoridade reconhecida e respeitada, diante das novas demandas da sociedade pós-moderna, o lugar e a autoridade dos professores fragilizados socialmente o colocam face ao desafio de assumirem um lugar que deverá ser construído no cotidiano da sua prática docente. Estas situações os deixam confusos em relação às atitudes que devem tomar (AGUIAR; ALMEIDA, 2008).

Diante do exposto, é plausível questionar se existe a possibilidade de eliminar o descompasso entre o prescrito e o real no trabalho docente? O que se observa é que ele precisa aprender a lidar com esses novos desafios que marcam a contemporaneidade. É nesse contexto que o professor se depara frequentemente, com a necessidade de desempenhar vários papéis contraditórios que lhe exigem manter um equilíbrio muito instável em vários terrenos (ESTEVE, 1999).

E assim, busca constantemente estratégias docentes que permitam preencher a lacuna entre o prescrito e o real. Aspecto este evidenciado a seguir.

2.3. O PRESCRITO E O REAL NO TRABALHO DOCENTE

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psicanálise foram incluídos e a ergonomia foi incorporada, sendo desta a descoberta da existência de um intervalo entre a tarefa prescrita e a atividade real do trabalho. (DEJOURS, 2008). A ergonomia sustenta que os equipamentos e os postos de trabalho podem ser padronizados num ambiente de trabalho, mas não se pode esquecer que os executores não são padronizados e por isso não se consegue uma só performance. Foi a ergonomia que tornou possível, conforme Dejours (2004), verificar as dificuldades dos trabalhadores, pois ela se encontra no intervalo entre o trabalho prescrito e o trabalho real. E, quando há uma interferência direta na autonomia do trabalhador, essa distância não permite que este exerça sua criatividade.

A Psicodinâmica do Trabalho, disciplina que evoluiu da Psicopatologia do Trabalho, tem como investigação a normalidade, a qual não se concebe apenas pela ausência de doenças, “mas como o resultado sempre precário, das estratégias defensivas elaboradas para resistir a elas, no trabalho, é desestabilizante, até mesmo deletéria pelo funcionamento psíquico da saúde mental.” (DEJOURS, 1993, p. 136).

Trabalhar é preencher o espaço entre o prescrito e o efetivo. Assim, para o clínico do trabalho, este se define como o que o sujeito deve acrescentar ao que foi prescrito para poder alcançar os objetivos que lhe foram atribuídos. Ou ainda: o que ele deve acrescentar por decisão própria para enfrentar o que não funciona quando ele se limita escrupulosamente à execução das prescrições. (DEJOURS, 2008, p. 39).

Partindo do princípio de que trabalhar é ter que lidar no cotidiano com o imprevisto, com os incidentes e, consequentemente, com o prescrito e o real do trabalho, a Psicodinâmica do Trabalho, ao procurar entender a ação do sujeito em seu contexto de trabalho, vem considerar que todo comportamento tem um sentido que o motiva.

A organização do trabalho, divisão das tarefas e dos homens estabelece os elementos prescritos em forma de normas, tempo e controle para a execução da tarefa, prescrições estas que nem sempre correspondem ao trabalho real. Dessa forma, a prescrição do trabalho nunca contempla a realidade do trabalhador.

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organização do trabalho, conduzindo muitas vezes à desorganização, existindo situações de impossibilidade da execução da tarefa.

Para compreender essa dualidade trabalho real e prescrito, é conveniente estabelecer os princípios norteadores de cada um, enquanto diferentes faces do trabalho. O trabalho prescrito é entendido como o modo operatório em que as atividades são organizadas e desenvolvidas, isto é, como o trabalho deve ser realizado. Implica a tarefa propriamente dita vinculada às regras e objetivos fixados pela organização do trabalho, ou seja, o que se deve fazer e cada processo de trabalho.

O trabalho real, por sua vez, ocorre no contexto propriamente dito, sendo marcado por improvisos próprios do dia a dia. Caracteriza-se como uma forma do trabalhador adaptar o trabalho prescrito à realidade que o cerca. É a atividade desenvolvida pelo trabalhador, ações estas realizadas no cotidiano, tendo em vista a dinamicidade do processo e suas contradições, a partir de suas próprias capacidades, recursos e escolhas. Os trabalhadores, através de um movimento contínuo de renormatizações, recriam estratégias de ação, produzindo novos elementos, mediante os saberes adquiridos. Assim, o prescrito é que dita as normas, mas o real do trabalho resiste às prescrições, pois o real do trabalho é pleno de imprevistos, de modo que trabalhar é preencher as lacunas entre o prescrito e o real.

Convém evidenciar que essas duas faces não se opõem, mas se articulam uma exercendo implicações na outra. Existe um nível de intermediação entre a tarefa e a atividade, tendo em vista os objetivos que os trabalhadores definem para si. E, quanto mais ocorrer o desajuste entre trabalho real e trabalho prescrito maior será o desgaste do trabalhador no exercício de sua função, gerando ansiedade, desvalorização, não reconhecimento e insatisfação. Ao contrário, se houvesse um ajuste entre o real e o prescrito, as vivências de prazer, motivação e satisfação seriam potencializadas, ocasionando sensação de bem-estar.

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A organização do trabalho real, por sua vez, é um produto das relações sociais e se apresenta ao sujeito como um compromisso, pois a disputa das relações sociais de trabalho se restringe à simples elaboração da atividade. Porém, conforme os princípios da psicodinâmica do trabalho são os processos intersubjetivos que tornam possível ao trabalhador gerir e criar atividades que ainda não estão prescritas pela organização do trabalho. Assim conforme Dejours (2008, p.78) “o que está prescrito nunca é suficiente”.

Os trabalhadores respondem a coordenação (prescrita) com a cooperação (efetiva). Entre as duas se interpõe uma série complexa de iniciativas que, quando é eficiente, resulta na formação de regras de ofício, elaboradas pelos trabalhadores, as quais consistem no estabelecimento de acordos entre os membros do coletivo a respeito das maneiras de trabalhar. Trata-se aqui de compromisso entre os estilos de trabalho, entre as preferências de cada trabalhador, de forma a torná-los compatíveis (DEJOURS, 2008). O trabalhar aqui é caracterizado pela formação de competências individuais e da invenção e apropriação coletiva do saber-fazer.

O encontro com o trabalho representa uma experiência de aprendizagem para as formas específicas de cooperação entre os trabalhadores. Os acordos firmados entre os trabalhadores no coletivo do trabalho se estabelecem sob a forma de acordos normativos e, no máximo, sob a forma de regras de trabalho, têm sempre uma vetorização dupla: de uma parte, um objetivo de eficácia e de qualidade do trabalho; de outra parte, um objetivo social (DEJOURS, 2008).

O trabalho, conforme Dejours (2008) deve ser entendido como algo contínuo, que vai além do espaço restrito e influencia significativamente em outras esferas da vida humana, é algo que está sempre em confronto com o real, confronto este gerador de sofrimento, tornando-se insuportável quando intransponível. Em contrapartida, quando ocorre o deslocamento das situações constrangedoras, quando os limites do real são deslocados pela mobilização da inteligência e pela criação de novas estratégias, a saúde e o prazer são conquistados.

Assim, a partir de estudos no campo das ciências do trabalho, tendo a ergonomia e a psicodinâmica do trabalho como pano de fundo se chega a uma definição de trabalho enquanto,

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A organização do trabalho compreende todas as condições em que o trabalho acontece. No trabalho docente, além do contexto de sala de aula, existe o envolvimento com as competências administrativas de todos os órgãos que gerem a educação, que vão desde o currículo, metodologia e avaliação até a estrutura física, enfim tudo que está direcionado ao processo de ensino aprendizagem.

O trabalho do professor, conforme Blanchard-Laville (2005) se desenvolve num espaço cuja estrutura se mostra cada vez mais complexa, principalmente, na medida em que se tenta compreendê-la em sua complexidade, tendo em vista a parte prática e técnica do trabalho e os elementos afetivos que circulam entre aluno e professor e seus efeitos na aprendizagem. É um trabalho no qual circulam elementos de um saber construído ao longo da história da humanidade, um conteúdo que precisa ser atingido ao longo do ano escolar e, ao mesmo tempo impõe uma implicação subjetiva do professor e do aluno nesse processo.

O processo de trabalho, conforme Tardif-Lessard (2012) é constituído pelas relações entre os trabalhadores e as pessoas. Na docência, as relações sociais acontecem na escola, a partir das interações cotidianas entre os professores e os alunos, relações estas entre trabalhadores e seu objeto de trabalho. A profissão docente é exercida a partir de uma adesão coletiva (implícita ou explícita) a um conjunto de normas e valores, sendo os professores os protagonistas deste desígnio, os quais serão investidos de um importante poder simbólico, enquanto agentes do progresso na escola (Nóvoa, 1999).

Na escola, há um sujeito, que se expõe através de seu discurso didático, e que se interpõe entre a própria vontade didática e o que faz efetivamente em cena (BLANCHARD-LAVILLE, 2005). Este espaço de trabalho é, a todo o momento ameaçado, o que desafia o professor a instaurá-lo e reinstaurá-lo continuamente. Este espaço tem sido invadido por modelos de gestão e normas de execução de trabalho, com prescrições de tarefas e conteúdos escolares que tornam o fazer pedagógico cada vez mais engessado, introduzindo medidas de eficiências, num processo burocrático crescente.

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interpretações dos gestores vêm à tona, gerando disputa de poder, ficando o real sob suspeita frente ao que foi prescrito.

Se observarmos as adaptações que os professores realizam nos programas curriculares, por exemplo, vamos verificar uma lacuna significativa entre o trabalho prescrito e o trabalho real. A tarefa prescrita é extremamente formal, definindo o programa a ser seguido, os objetivos, tempo para cada matéria, entre outros. Porém, conforme Tardif-Lessard (2012), para a realização do trabalho prescrito, os professores precisam realizar diversas operações, as quais não são visíveis ao analisarmos o resultado do trabalho. O trabalho docente não permite, ao contrário de outros trabalhadores, a visibilidade dos esforços do professor, sendo ocultado o processo concreto do trabalho realizado.

O ensino aproxima-se bastante, assim, daqueles ofícios e daquelas profissões cujo espaço cotidiano de trabalho é marcado por uma grande autonomia e em que as atividades são desenvolvidas de acordo com representações, muitas vezes, renovadas, móveis, imprevisíveis na sua concretização e onde, por fim, a personalidade do trabalhador torna-se parte integrante do processo de trabalho (TARDIF; LESSARD, 2012, p. 45).

Num contexto de sala de aula com adolescentes surgem muitos desafios, tais como indisciplina, resistências, comportamentos agressivos, desinteresse dos alunos pela aprendizagem, o que faz com que o professor se sinta impotente frente aos seus ideais de escola e de trabalho docente, ocasionando um adoecimento psíquico, o qual, segundo Aguiar e Almeida (2008) surgem quando todas as possibilidades possíveis de ajustamento à organização do trabalho, que o colocaria em consonância com seu desejo foram utilizadas e mesmo assim não obtém resultado, bloqueando sua relação subjetiva com o trabalho.

Perrenoud (1998) afirma que os sentimentos de fracasso, impotência e desconforto fazem com que o profissional reflita sobre a sua forma de saber e sobre todas as situações que permeiam o processo educativo. Conforme Esteve (1999), as dificuldades e pressões vivenciadas pelos professores estão associadas à sobrecarga de trabalho, precariedade de material e recursos didáticos, inadequadas condições de trabalho, tipo de clientela assistida, superlotação das salas, pouco reconhecimento e desvalorização social do magistério.

O docente, por sua vez, percebendo que não foi formado para os desafios do trabalho com adolescentes e, além disso, não recebe o suporte institucional que precisa para sustentar seu lugar de educador, sente-se vulnerável e em conflito de identidade. É justamente nesse contexto que se instala um enorme mal-estar, e que ele adoece.

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A falta de significação, a frustração narcísica, a inutilidade dos gestos, formam, ciclo por ciclo, uma imagem narcísica pálida, feia, miserável. (DEJOURS, 1992, p.49).

Conforme Dejours (1992), a insatisfação em relação ao trabalho gera angústia. Essa angústia causa um sofrimento psíquico, que comparece sob a forma de impossibilidade de lidar com os insucessos e fracassos em relação ao ensino e à aprendizagem, de administrar a distância entre o que está pré-determinado e a realidade do cotidiano escolar. E assim, conforme Aguiar e Almeida (2008), o professor sofre, e esse mal-estar comparece no não dito, na palavra não expressa, mas que denuncia na saúde psíquica.

Todas as situações adversas na sala de aula interferem significativamente, resultando em ações de improvisação e reorganização do trabalho prescrito, o que descaracteriza o trabalho real e gera um processo de insatisfação. Insatisfação esta que gera sofrimento e constante conflito entre as normas que lhe foram repassadas e sua atitude de renormalizar sua ação.

Com o objetivo de mecanizar o homem e de mecanizar o tempo, deixando de lado o ritmo de atividade característico de qualquer ser vivo (GANGUILHEM, 2001), surgiram as normas prescritas, as quais determinam que certo trabalho deve ser realizado por um único método, sendo somente este o aceitável. Porém, o autor argumenta que o homem age no seu meio, construindo sua normatividade, o que é próprio do sentido da vida, pois o homem não apenas se submete ao meio, mas também possui a capacidade de instituir este meio.

A atividade humana do trabalho é tecida na trama das normas e dos valores que possibilitam o constante “ressignificar” da tarefa prescrita. Obedecer à norma é uma opção. Transgredi-la já é uma escolha. Nesta perspectiva, a docência estabelece complexas relações com as situações de trabalho prescrito [...] (PASCHOALINO, 2009, p.29).

Para realizar o trabalho, conforme Oliveira (2003) é necessário que se faça um investimento pessoal da inteligência do sujeito no trabalho, pois necessita de inventividade, tendo em vista a imprevisibilidade na execução das tarefas, uma vez que o prescrito não dá conta do real do trabalho.

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deliberação coletiva, baseado na intercompreensão dos sujeitos (DEJOURS, 1997 apud OLIVEIRA, 2003, p.6). Assim, o desafio para o docente é a realização de uma gestão concreta da defasagem entre o prescrito e o real, que depende da mobilização dos impulsos afetivos e cognitivos da inteligência (DEJOURS, 2007), tendo como princípio o coletivo de trabalho, não perdendo de vista o próprio sentido do trabalho docente, que é o ensino-aprendizagem.

A vida é demarcada por dispositivos que ordenam e antecedem a atividade do trabalho, procurando regular sua execução de forma precisa, conforme afirma Paschoalino (2009). O professor, para gerir seu trabalho, necessita articular seus valores e seus limites, com a engrenagem do sistema de ensino. E, quando isso não é possível, quando não consegue se sentir sujeito de sua prática, busca saídas, que vai desde o absenteísmo ao desejo de abandonar a docência, o que desencadeia um cansaço físico e um esgotamento mental, causando mal-estares e adoecimentos.

As atividades prescritas são muitas, as imposições do governo, secretarias, leis vêm de todos os lados, determinando o que deve ser seguido, porém sabe-se que as condições para cumprir todas essas exigências são poucas. Os professores enfrentam dificuldades ao se depararem com o surgimento de novos currículos e programas. (CURY, 2007 apud PEDROZA, 2010). Estas novas exigências requerem tempo para adaptação, porém as pressões institucionais, políticas e pedagógicas são tantas, que o trabalho pedagógico, voltado para a construção do conhecimento acaba ficando de lado, o que gera angústia e desencanto no docente.

[...] Sufocados pelas exigências que a realidade educacional lhes impõe, manifestam uma enorme angústia e sentimentos de desamparo e desesperança e muitos não encontram saídas a não ser as queixas insistentemente reiteradas e o sintoma depressivo. (AGUIAR; ALMEIDA, 2008, p.47).

Assim, o professor começa a evidenciar traços de mal-estar, fenômeno este que atinge professores em diversos lugares. De acordo com o relatório produzido pela Organização Internacional do Trabalho (OIT, 1981), intitulado “Emprego e condições de trabalho dos professores” o trabalho docente é considerado como uma “profissão de risco físico e mental”. Na atualidade, esse dado só traduz a gravidade do problema.

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É importante destacar que, as mudanças sociais do século XX e XXI acrescentaram maiores dificuldades para o docente devido as novas atribuições da escola e do professor, a fragilização dos laços familiares, a rigidez do sistema educacional com o excesso de tarefas a serem realizadas fora do âmbito escolar e ainda uma necessidade permanente do professor em tornar a aprendizagem na sala de aula interessante em uma busca de técnicas para melhorar o processo de ensino aprendizagem (SILVA, 2010) e alcançar um lugar no patamar do reconhecimento no trabalho, assunto este que será abordado a seguir.

2.4. O LUGAR DO RECONHECIMENTO NO TRABALHO DOCENTE1

A dinâmica do reconhecimento se refere a uma forma de valorização do engajamento subjetivo e do sofrimento inerente ao trabalho e, conforme Dejours (2008) diz respeito a um modo de retribuição simbólica dada ao sujeito como compensação por sua contribuição aos processos da organização do trabalho. O reconhecimento profissional oferece uma base sólida para o desenvolvimento da autoestima, tanto para viver um conjunto de emoções positivas, quanto para enfrentar com segurança as questões negativas que surgem no exercício da docência.

Conforme afirma Dejours (2008) o engajamento subjetivo no trabalho se apóia no par contribuição-retribuição. O trabalhador contribui para a organização de trabalho e espera receber o reconhecimento por seus esforços, por ir além do prescrito para realizar o melhor trabalho possível. O julgamento, revestido de conteúdo simbólico, que se apresenta na forma de reconhecimento, configura-se como a retribuição esperada e mais valorizada pelo sujeito, que dá sentido ao seu investimento subjetivo no trabalho.

O reconhecimento se constitui a partir da construção do julgamento que envolve duas dimensões de sentido: da constatação referente à contribuição do sujeito para a organização do trabalho e da gratidão pela contribuição dos trabalhadores para a organização do trabalho (DEJOURS, 1993). Nesse contexto, a conquista da identidade no campo social, mediada pelo trabalho, passa pelo reconhecimento, o que implica no julgamento dos pares, da clientela.

Conforme Dejours (2008) o julgamento dá sentido ao trabalho e confere a condição de pertencimento a uma comunidade específica. Nessa perspectiva enfoca-se a utilidade social, econômica e técnica do trabalho, que envolve a avaliação dos superiores hierárquicos e

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o sentido atribuído à estética ou beleza do trabalho, julgamento este realizado pelos pares. O julgamento pelos pares é considerado o mais importante, pois para reconhecer é preciso antes conhecer o trabalho. E assim, ninguém melhor para analisar com propriedade uma atividade do que alguém que também a desempenhe.

Perceber a retribuição para com seus esforços mobiliza um comprometimento pessoal mais duradouro, pois o que o sujeito procura é que seu fazer seja reconhecido e não o seu ser. Somente depois de reconhecido o seu fazer, ou seja, a qualidade de seu trabalho é que partirá para o repatriamento desse reconhecimento para o registro de sua identidade (DEJOURS, 1999).

Assim, oreconhecimento do trabalho pode depois ser reconduzido pelo sujeito ao plano da construção da sua identidade. Nesse sentido, o trabalho se inscreve na dinâmica da realização do eu e da identidade como proteção a saúde mental do sujeito. Na perspectiva da psicodinâmica do trabalho, o reconhecimento ocupa um lugar central, de elevada importância para a saúde do trabalhador (DEJOURS, 2008).

Esses diferentes julgamentos têm em comum uma particularidade, tratam do trabalho realizado, ou seja, sobre o fazer e não sobre a pessoa do trabalhador. Portanto, ao ser julgado por fazer um belo trabalho, o sujeito pode importar este reconhecimento e inscrevê-lo na esfera da personalidade, em termos de ganho no registro da identidade. A retribuição simbólica conferida pelo reconhecimento pode ganhar sentido em relação às expectativas subjetivas e à realização de si mesmo.

A construção do sentido do trabalho pelo reconhecimento – premiando o indivíduo quanto a suas expectativas com respeito à sua realização pessoal (edificação da identidade no campo social) – pode transformar o sofrimento em prazer (...). Assim, a dinâmica do reconhecimento das contribuições para com a organização do trabalho empenha de facto a problemática da saúde mental (DEJOURS, 2008, p.76). Sem o reconhecimento, o sofrimento gerado pelo encontro com o trabalho continua a ser desprovido de sentido. Pode-se entender então que a Psicodinâmica do Reconhecimento é um conceito central, pois é a chave que possibilita encontrar, sentido, realização e saúde no trabalho e que sua ausência é fator preponderante no desencadeamento de problemas psíquicos e somáticos.

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