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2. ENQUADRAMENTO TEÓRICO

2.4 O mlearning: vantagens e questões a contornar

Os investigadores de mlearning, na generalidade, apontam inúmeras vantagens, mas não deixam de reconhecer que existem questões a contornar e a ser objeto de reflexão, sendo uma delas a questão da avaliação. De acordo com Traxler (2007), a crescente diversidade do mlearning e o seu gradual poder, sofisticação e complexidade

2 O endereço eletrónico da Mozilla Open badge é o seguinte: www.openbadges.me 3 Tradução da autora, da definição que se encontra neste endereço eletrónico:

https://en.wikipedia.org/wiki/Mozilla_Open_Badges#History

36 exigem uma adequação relativamente às técnicas de avaliação convencional. Há necessidade de delinear uma abordagem de avaliação mais eclética e estruturada, baseada em princípios sólidos e transparentes, os quais sustentem metodologias de avaliação alinhadas ao mlearning. Todavia, conseguir uma boa avaliação é muito subjetivo, uma vez que esta entretece áreas como definição, conceptualização e categorização do mlearning, pelo que não é fácil atingir o rigor e a eficácia. Porém, o autor avança com algumas das características que esta boa avaliação deve possuir, nomeadamente ser:

• Rigorosa, pelo que as conclusões devem ser fiáveis e replicáveis; • Eficiente em termos de custo, esforço, tempo ou outro recurso;

• Ética em relação à evolução das formas de preparação, em termos dos padrões legais e normativos;

• Proporcional, ou seja, não mais difícil, onerosa, ou demorada do que a própria experiência da aprendizagem ou a implementação da mesma;

• Adequada às tecnologias específicas de aprendizagem para os estudantes, bem como para o ethos de aprendizagem;

• Consistente com a conceção e filosofia de ensino e aprendizagem de todos os participantes;

• Autêntica ao aceder às personalidades dos aprendentes e à sua construção de significados;

• Alinhada ao meio escolhido e à tecnologia da aprendizagem.

Nos Estudos de Caso apresentados por Traxler & Kukulska-Hulme (2005) são muito escassos os relatos concernentes a questões éticas na avaliação. Por outro lado, os instrumentos de avaliação frequentemente mencionados são focus groups, entrevistas, questionários, observação e registos. Por vezes são mencionadas várias técnicas, seguidas de triangulação, mas a maioria dos relatos evidenciava apenas uma ou duas técnicas. O investigador conclui este assunto da avaliação, sublinhando que há questões epistemológicas e éticas por resolver, sendo este o cerne para criar uma tipologia de avaliação rigorosa e eficaz. Para além disso, Traxler (2007) não deixa de indicar a crítica de muitos, relativa ao mlearning, afirmando que se trata de um modelo deficitário, cuja grande utilidade é colmatar deficiências dos sistemas educativos. Não obstante, Traxler & Kukulska-Hulme, (2005) argumentam que a redução do hiato digital está subjacente às atividades previamente referidas, realizadas através do mlearning, mas de uma forma muito mais simplificada, defendendo o seguinte:

37 “[…] ao contrário de qualquer outra TIC, a tecnologia móvel não repete, reforça nem replica os fossos digitais existentes […] Os telemóveis permitem aos alunos apropriarem-se e assumirem o controlo da sua aprendizagem de uma forma diferente da dos PC ou dos plasmas, e são instrumentos de política social diferente”

(Traxler & Kukulska-Hulme, 2005: 5). Destaca-se, igualmente, outra proposta, na qual Traxler (2007) propõe que o mlearning deve ir mais longe nos seguintes aspetos:

1- Colmatar distâncias geográficas ou espaciais;

2- Combater a dispersão, ligando estudantes muito afastados e até nómadas; 3- Ultrapassar barreiras infraestruturais ou técnicas;

4- Combater a exclusão social;

5- Ultrapassar diferenças fisiológicas ou cognitivas; 6- Propiciar aprendizagem particular;

7- Rentabilizar “o tempo morto”, relativamente ao qual os Podcasts podem desempenhar um papel da maior relevância;

8- Apoiar a aprendizagem baseada no trabalho e apoio à formação; 9- Aceder a conteúdos móveis, concretamente a bibliotecas móveis.

Sublinha-se que, alguns destes aspetos têm vindo a ser contornados ao longo do tempo com a gradual coexistência dos DM no quotidiano de muitos aprendentes.

2.4.1O mlearning no Ensino Superior online e a Educação em LE

No que concerne ao Ensino Superior online, foram investigados cenários possíveis para o uso do mlearning. Herrington, Herrington, & Mantei, (2009) definiram os seguintes princípios que lhe subjazem:

1. Relevância do mundo real: utilizar o mlearning em contextos autênticos;

2. Contextos de mobilidade: usar o mlearning em contextos onde os formandos estão em mobilidade;

3. Exploração: propiciar tempo e oportunidades para analisar as tecnologias móveis; 4. Integração: usar tecnologias móveis e fixas;

5. Motivação: usar o mlearning de forma espontânea;

6. Localização: usar o mlearning em espaços de aprendizagem, que não os tradicionais; 7. Colaboração: usar modalidades de aprendizagem móvel individualmente;

8. Personalização: cada aprendente utiliza os seus próprios DM, isto é, a teoria do Bring Your Own Device (BOYD);

38 10. Produção: usar o mlearning para consumir e produzir conhecimento.

No entanto, a utilização de DM no ensino superior situa-se aquém das expectativas. Gikas & Grant (2013) realizaram uma pesquisa com o objetivo de explorar a utilização de DM neste contexto e para tal, realizaram um estudo de cariz qualitativo, que teve lugar em três Universidades dos USA, com implementação de DM junto de estudantes e professores universitários, durante pelo menos dois semestres. Os dados foram recolhidos através de entrevistas e focus groups e permitiram concluir que a aprendizagem acontece independentemente do local de investigação. Apresentaram resultados sobre as perceções dos estudantes, no que concerne a esta temática, nomeadamente experiências de aprendizagem autêntica, de colaboração e interação entre os estudantes, bem como o empenho na criação de conteúdos e a comunicação através de ferramentas da web 2.0. Porém, os estudantes identificaram algumas limitações, como por exemplo o receio que a tecnologia não funcionasse ou que constituísse um fator de distração. Por seu turno, Kukulska-Hulme e Traxler (2005) descrevem uma das sofisticadas utilizações de DM em educação na Universidade Tecnológica de Nayang, Singapura. O sistema incluía o uso de uma rede sem fios, personal digital assistant

(PDA), Mobile Adhoc NETwork (MANET) e ainda General Packet Radio Services (PGRS). Este sistema permitia aos estudantes a ligação à plataforma de elearning da Universidade a qualquer hora e em qualquer lugar, ou seja, em dupla mediação, sem qualquer tipo de dependência relativamente ao campus universitário. Os autores supra (2005) descrevem igualmente uma experiência de Lévy & Kennedy, na qual explicam como cativar os estudantes durante um período de sete semanas na aprendizagem de “Literatura e sociedade Italianas”, em Italiano. Os autores do estudo demonstraram que os SMS foram muito adequados para a aprendizagem de vocabulário em LE. Estas experiências tiveram lugar no ensino superior, mas o papel do SMS para input de vocabulário foi uma das estratégias utilizadas por Moura (2010) no Ensino Secundário presencial.

Por seu turno, Abu-Al-Aish, & Love (2013) investigaram a utilização de DM no processo de ensino e aprendizagem no Ensino Superior e defendem que o mlearning desempenhará gradualmente um papel significativo no desenvolvimento de métodos de aprender e ensinar. Igualmente, (Naismith et al., 2006; Wang, Wu, & Wang, 2009 apud Abu-Al-Aish, & Love, 2013), sublinham a relevância da aprendizagem mediada por DM: “M-learning is a new stage in the development of e-learning and distance learning. It refers to any learning which takes place via wireless mobile devices such as smart phones, PDAs, and tablet PCs where these devices are able to move with the learners to allow learning anytime, anywhere.”

39 (Naismith et al., 2006; Wang, Wu, & Wang, 2009, 2009 apud Abu-Al-Aish, & Love, Introducão) Estes investigadores estudaram os fatores que influenciam a adesão dos estudantes na utilização do mlearning. Nas limitações do estudo, não obstante, os autores apontam o facto de os inquiridos neste estudo não possuírem a experiência do uso real do DM no modelo proposto, o que pode ter influenciado a sua opinião. Referem também a correlação entre o elearning e o mlearning, tal como é sugerido por Peters (2007) no modelo flexível de aprendizagem just enough, just in time, just for me, mas como é óbvio, o elearning nem sempre inclui o mlearning, pelo que apontam inúmeras vantagens do mlearning.

Traxler (2007) refere que a utilização de DM está a aumentar e a diversificar-se gradualmente em todos os sectores da educação e em todo o mundo, apresentando uma visibilidade mais significativa no Ensino Superior. Em primeiro lugar, dá conta do número crescente de conferências, seminários e workshops internacionais, tais como IADIS, MLEARN e WMTE, onde se analisam rigorosamente os desafios adequados para avaliar o mlearning implementado em termos educativos, em instituições de educação formal, comummente de Ensino Superior. O autor afirma que o mlearning passou por uma fase algo imatura, no que dizia respeito à tecnologia e respetiva pedagogia, mas evoluiu muito rapidamente. Por vezes, verifica-se que o mlearning utiliza ainda as tecnologias em linha com a Pedagogia utilizada em contexto de sala de aula; porém os

DM transformam as noções de espaço, comunidade e discurso, bem como a investigação sobre Ética e ainda sobre ferramentas personalizadas, conectadas e interativas. Estas são utilizadas em diversos contextos, tais como, em sala de aula, trabalho de campo, aconselhamento na aprendizagem colaborativa, orientação e formação de trabalhadores móveis e naturalmente em Educação.

No que concerne ao Ensino e aprendizagem do Inglês no Ensino Superior online, para além da UAb em Portugal, investigou-se o exemplo da Open University Britânica, analisando um artigo de Salema & Cardoso (2012). A Universidade do Reino Unido “disponibiliza recursos para o estudo de línguas, nomeadamente o espanhol, o francês e o chinês5 [e oferece] cursos de línguas online, [para os quais] é disponibilizada uma plataforma multimodal, em rede, denominada Lyceum. Esta oferece a possibilidade de trabalhar de forma síncrona, através de audioconferência e de chat, e assíncrona, recorrendo ao fórum de discussão” (Hampel & Hauck, 2006 apud Salema e Cardoso 2012:1435).

40 No que à UAb respeita, esta é a única instituição de Ensino Superior público em Portugal de Ensino a Distância (EAD) e utiliza nas suas atividades, as mais atualizadas metodologias de ensino a distância, orientadas para a educação sem fronteiras geográficas nem barreiras físicas, disponibilizando em qualquer lugar do mundo, formação superior (licenciaturas, mestrados e doutoramentos) e cursos de Aprendizagem ao Longo da Vida.

Em 2010, o EAD praticado pela UAb foi distinguido com o Prémio da EFQUEL – European Foundation for Quality in Elearning e com a certificação da UNIQUe – The Quality Label for the use of ICT in Higher Education (Universities and Institutes). No mesmo ano, a UAb foi também qualificada, por um painel internacional de especialistas independentes, como a instituição de referência para o ensino em regime de eLearning em Portugal. Em 2011, esta Instituição foi distinguida com o primeiro Nível de Excelência da European Foundation for Quality Management (EFQM)6. Por fim, em 29 de novembro de 2018, a UAb foi agraciada com o grau de Membro-Honorário da Ordem de Mérito por Sua Ex. cia, o Sr. Presidente da República, Professor Doutor Marcelo Rebelo de Sousa.

Na UAb, instituição a distância, com o apoio do Laboratório de Educação a Distância e Elearning (LE@D), o processo de ensino e aprendizagem de Inglês, com utilização de muita interatividade, revela muita preocupação com a promoção da aprendizagem centrada no estudante e no seu sucesso. Em suma, a presente investigação sobre mlearning decorreu numa Universidade pública portuguesa, totalmente online, no Departamento de Educação e Ensino a Distância, no qual se integra o Doutoramento em Educação, em particular uma das suas especialidades – a Especialidade de Educação a Distância e eLearning (EAD) .

2.5 Reinventar a pedagogia e a aprendizagem de Línguas Estrangeiras online