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4. REALIZAÇÃO

4.4. O Modelo de Educação Desportiva fez renascer o 8ºI

O MED é o modelo de ensino no qual me inspirei, e inseri algumas das suas características enquanto lecionava as diversas modalidades, como por exemplo, estabelecer grupos de trabalho, isto é, equipas, que se mantinham ao longo de toda a UD e que depois competiam entre si.

No entanto, na modalidade de ginástica acrobática apliquei o modelo na íntegra. Desde o princípio que tinha como objetivo implementar o modelo na ginástica, contudo, com o desenvolver das aulas, necessitei de o fazer no sentido de reconquistar a turma, de voltar a ter o empenho e a motivação como sempre desejei e consegui ter a turma a viver a EF.

No 1º Período tive sempre a turma empenhada e motivada nas tarefas. No entanto, no 2º Período, quando iniciei a modalidade de Basquetebol, uma

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UD composta por 12 aulas, houve uma diminuição do entusiasmo por parte dos alunos.

“A minha preocupação com o ensino do basquetebol pretendeu-se na aprendizagem dos conteúdos programáticos da modalidade em contexto de jogo através de situações reduzidas, em detrimento de situações analíticas ou isoladas.

As situações pensadas e aplicadas em aula tinham como ponto de partida permitir que houvesse maior tempo efetivo de contacto com a bola, de uma maior velocidade de execução e tomada de decisão e de uma maior atividade e intervenção dos alunos em ações ofensivas e defensivas.” (Reflexão da aula de

basquetebol, 2ºPeriodo, 8ºano)

Continuei com as estratégias de fazer equipas e mantê-las para permitir a competição entre os alunos. Porém, fui sentindo que o interesse dos alunos pela modalidade estava a diminuir, o que me deixou preocupada e ao mesmo tempo motivada para fazer algo que alterasse isso. Passo a citar um excerto de uma reflexão de basquetebol quando percebi que a turma ficou desinteressada:

“Já no dia 31, senti nos alunos desinteresse em aprender, e foi algo que me desmotivou. No entanto, nesta última aula (dia 7 de fevereiro), fiz de tudo para criar exercícios diferentes para os motivar e, assim, a aula já correu dentro da normalidade.

O facto de ter feito dois exercícios nunca antes apresentados fez com que perdesse algum tempo na instrução, mas senti que valeu a pena pois tive a turma novamente comigo.” (Reflexão das aulas

de basquetebol, 2ºPeriodo, 8ºano)

Algo que me continuava a preocupar era o facto de o interesse dos alunos ainda não estar a 100%. Optei por falar com um aluno (um pouco mais velho), que era excelente a EF, de modo a questioná-lo sobre o comportamento da turma, tentando descobrir o porquê da mesma não querer jogar ou não querer jogar com a intensidade máxima, como anteriormente

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faziam. O mesmo apenas me informou que a falta de entusiasmo se devia ao facto de o basquetebol não ser a modalidade preferida, o que coincide com o que os alunos responderam no questionário inicial, ou seja, à exceção de uma aluna, o basquetebol não aparece como modalidade preferida.

Seguindo o planeamento anual, a modalidade que seria lecionada a seguir seria a Ginástica. Considerei a altura ideal para implementar na íntegra o MED, seguindo os princípios de Siedentop (1987). Assim, pretendia desenvolver a dimensão humana e cultural, bem como possibilitar uma evolução a nível afetivo e social durante as aprendizagens das aulas (Mesquita & Graça, 2009). Os alunos, através deste modelo de ensino, sentiram-se desafiados e motivados, conseguindo dar resposta aos desafios apresentados nas aulas. Consequentemente sentiram prazer com isso e esse sentimento está associado à superação. Tal como Pereira (2005) afirma, “a valorização do

esforço parece catalisar a superação de si próprio e a necessidade de ultrapassar obstáculos permitindo, consequentemente, a realização de si.”

“A ginástica acrobática, em termos de aplicação do Modelo de Educação Desportiva (MED) tem muito mais interesse, e muito mais forma, portanto, esta será a modalidade chave das aulas. Permitirá o desenvolvimento do trabalho autónomo, e decerto estabelecerá um limiar motivacional maior, já que o objetivo último é que cada equipa crie um esquema de grupo para apresentar no Evento Culminante dia da avaliação sumativa.

Com a utilização do MED, os alunos desempenharão papéis de capitão/treinador e juiz (em momentos de avaliação).

O Evento Culminante está agendado para a última aula desta unidade, que coincide com a avaliação sumativa da modalidade, onde se apresentarão os esquemas de equipa. É o culminar da época desportiva.” (Justificação da UD de ginástica, 2ºPeriodo, 8ºI)

Segundo Siedentop et al. (2004), o MED tem como propósito formar a pessoa desportivamente competente, culta e entusiasta, e integra 6 características estruturais do deporto institucionalizado: a época desportiva, a

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filiação, a competição formal, o registo estatístico, a festividade e os eventos culminantes.

Quanto à abordagem da ginástica, passo a relatar como foi a experiência com a minha turma com a aplicação do MED. Ao contrário da quantidade de aulas sugeridas pelo modelo (20 aulas) a UD de ginástica tinha apenas 10 aulas. Numa fase inicial, pré-competitiva, os exercícios eram propostos por mim pois, antes de introduzir a ginástica acrobática, lecionei duas aulas para rever conteúdos da ginástica de solo, para que os alunos conseguissem criar os esquemas de grupo sozinhos e incluíssem os elementos de ligação com maior facilidade.

O procedimento de filiação consistiu na formação de equipas e numa tentativa de progresso no sentido de pertença ao grupo. Para conseguir uma ampliação nas relações intergrupais e capacidade de escolhas e autonomia, concedi alguma liberdade à turma para fazer os grupos de trabalho. Escolhi uma aula em que eles tinham de trazer os grupos já formados quando ainda estava a lecionar o basquetebol. Havia pouca gente que ainda não tinha grupo mas rapidamente se distribuíram. Senti que estava a arriscar, mas eu queria vivenciar o risco, e se fosse um erro, teria de ter a capacidade de o solucionar. Fui sempre dando a entender aos alunos de que as equipas que eles estavam a formar seriam para entrar numa competição. Assim, sabiam que tinham de trabalhar, de se esforçar e de estar sempre empenhados, pois se um membro não respeitasse as regras pré-estabelecidas por mim no início da UD, todos os elementos do grupo iriam sair prejudicados, vendo os pontos serem descontados no final da competição à sua equipa. Isto poderia comprometer toda a prestação ao longo das aulas, e por isso o próprio evento culminante das apresentações das coreografias. Embora tenham sido os alunos a formar as equipas, eu tentei explicar que eles tinham que se escolher uns aos outros consoante as alturas, de modo a que formassem grupos com bases e volantes.

Considero que a filiação é um campo imprescindível para exponenciar a entrega dos alunos a este modelo. Desta forma, foi proposto a cada equipa que escolhesse um nome, uma cor e um grito de guerra que expressasse toda a união do grupo. O sentido de pertença foi evoluindo ao longo das aulas, também por minha culpa, pois frisei várias vezes e relembrava-os de que estavam a competir. Por vezes, quando eles estavam em fase de transição de

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exercício, eu perguntava “Onde estão os «alfacinhas»?; Onde estão os «batmans»?; Onde estão os «noddy’s»?; Onde estão os «blue team?»” e eles faziam barulho e o grito de equipa.

Quando os alunos puderam começar a construir os esquemas, eu levava a aparelhagem de som e eles iam treinando à vez com música, enquanto eu ia circulando e dando sugestões. Senti que o empenho foi exponencial e a vontade de fazer “boa figura” no evento culminante aumentou. Tal fascinou-me e superou as minhas expectativas. Recordo que eles vinham de uma UD anterior com pouco entusiasmo na realização das tarefas.

O evento culminante coincidiu com o dia da avaliação sumativa devido ao baixo número de aulas. Algo que nunca me vou esquecer foi o facto de uma funcionária, mãe de um aluno, me ter pedido para trazer os meninos do ensino especial para assistir ao espetáculo. Vê-los tão felizes a ver os colegas da escola a atuar e a dar um espetáculo numa suposta simples aula de EF, foi algo que me encheu o coração. Foi tudo filmado com as devidas autorizações e ainda hoje gosto de recordar tal passagem. Não há dúvida de que esta UD marcou a minha vida enquanto professora pois, a partir daqui tudo fluiu muito bem. No 3º Período lecionei dança e futebol. Fui tirando o melhor proveito enquanto professora, que é como me sinto hoje e como me senti desde que consegui implementar o MED e alterar na turma o empenho e a motivação nas tarefas. Para mim, o MED é dos modelos mais fantásticos pois, para além do fator competitivo e da filiação a uma equipa, também contribui para o clima motivacional dos alunos, e até mesmo os que não podem fazer as aulas práticas, como foi o caso de uma aluna, podem participar e envolver-se na aula.