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2 A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE ARTE NO BRASIL

4.1 O MULTICULTURALISMO-CRÍTICO COMO FIO CONDUTOR

É importante destacar que o termo multiculturalismo é discutido por diversos autores e é conceituado de forma ampla.

A multiculturalidade - crítica proposta por Peter McLaren, também chamada de multiculturalismo revolucionário, situa-se na teoria crítica, reconhece que a construção social de raça, sexo, classe e identidades sexuais se faz por meio de processos interligados que ocorrem de diferentes formas e em múltiplos contextos. (MCLAREN,1998). Essa abordagem

[...] situa a formação de identidade dentro do processo de globalização, circuitos, redes e fluxos de capital, relações sociais de produção e consumo e processos de fetichismo comercial. Embora não privilegie a "classe" em relação à raça, ao sexo ou à orientação sexual, ele busca formas nas quais a luta de classes possa ajudar a construir coalizões de resistência e luta entre os vários movimentos sociais. (MCLAREN, s/p. 1998).

Por meio desse viés pedagógico que parte da realidade social, foram realizados os projetos de ensino de arte online em anos anteriores, permitindo novos olhares sobre a cultura local e regional contemporânea dos estados envolvidos, promovendo uma aproximação da arte por parte dos professores participantes, aproximando os estudantes dessa realidade. Da mesma forma fazer do estudo da produção local um eixo para a compreensão e fruição também da produção universal.

É importante ressituar as funções dos professores de arte, aproveitando suas experiências para adequar suas posturas pedagógicas às rápidas transformações do mundo digital.

O sujeito, para sentir-se parte do mundo, precisa se apropriar de sua cultura, de sua língua, de sua arte, das especificidades sócio-históricas e econômicas. As interações entre culturas não deve ser visto ou entendido como contaminação cultural e nem pode gerar tal fenômeno. É preciso preservar a cultura de origem, com contornos permeáveis, enriquecendo-a com outras. Fundamentalmente reconhecendo os envolvidos nesse processo, como os atores dessas mudanças, que eventualmente dialogarão com conflitos, interesses e jogos de poder colocados na sociedade.

Além disso, segundo Rosa, o multiculturalismo-crítico identifica

[...] os aspectos diferenciados entre suas perspectivas educacionais e as das tendências neoconservadoras que estabelecem um “caldeirão cultural”, onde seriam misturadas as tendências culturais de diversos grupos na busca de uma homogeneidade. (ROSA, 2004. p.45).

O ensino de arte precisa comprometer-se com o projeto de ampliar o alcance e a qualidade da experiência artística do aluno, como propõe Lanier (2005). Para tanto, é necessário reconhecer como significativa a diversidade de manifestações artísticas, “adotando” a vivência do aluno como o ponto de partida, resultando em mudanças no seu modo de se relacionar com a arte em seu cotidiano. Lanier (2005) também destaca que nada aqui é novidade, e sim uma tentativa de um olhar amplo e efetivo, para o que desejamos para o ensino de arte. O autor fala da prática da estética visual, que precisamos incluir hoje não somente as pinturas a óleo em molduras douradas, bem como o artesanato, a mídia eletrônica, o cinema e a televisão. Partindo da prática social, para promover uma mudança qualitativa da mesma, como coloca Saviani (1984). O ensino de arte, portanto, deve visar uma mudança na experiência de vida.

Porém, é necessário que professores de artes visuais estejam dispostos às mudanças e inovações que poderão ampliar seu repertório tanto imagético como pedagógico. Da mesma forma, é preciso identificar que, estar disposto às mudanças não basta. É preciso incluir o professor nesse processo, de forma que ele se entenda enquanto sujeito do seu próprio fazer e não mero reprodutor ou manipulador

de máquinas. É com investimentos contínuos na construção e reconstrução de seu saber pedagógico e tecnológico, que teremos avanços na educação.

A experiência piloto “Internet e infância, trocas multiculturais entre duas realidades” (2008), em que se puderam reconhecer todas as sinuosidades do processo, permitiu perceber a importância da colaboração dentro de uma “sociedade em rede”, como aponta Castells (1999). Ele afirma que a sociedade contemporânea, enfatiza a cultura da aprendizagem, nessa, o foco recai no processo, na competência, no respeito mútuo, na colaboração, na coautoria, na identificação e resolução de problemas. Foram muitas as dificuldades relatadas pelas professoras ao final dessa experiência, essas relativas a formas diferenciadas de comunicação, metodologias e posicionamento perante situações nunca antes vivenciadas.

Figura 2: Projeto piloto realizado em 2008 entre as cidades de Itapema SC e Florianópolis SC.

A experiência de participação no projeto de 2008 pautou-se numa relação dialógica na qual a construção do conhecimento foi processada por meio de ações colaborativas que permitiram a organização e reorganização cognitiva do sujeito ativo, cujo arranjo interno se encontra em um movimento contínuo de mudança, em processo de reconstrução gerado nas inter-relações entre sujeitos e sociedade.

Entende-se, numa concepção contemporânea de ensino de arte, que a opção por uma abordagem multicultural-crítica em um projeto de intercâmbio online, retoma

a defesa da alteridade, oferece possibilidades de reflexão aos estudantes sobre a diversidade cultural, no objetivo de compreendê-la como elemento enriquecedor e articulador, e não de segregação. Segundo Fonseca da Silva

A possibilidade de interatividade, de troca de proposição amplia as possibilidades de autoria dos estudantes. Igualmente o desenvolvimento desses processos na sala de aula permite a articulação de processos críticos que ampliam a capacidade de aprendizagem dos estudantes, educando o olhar para práticas investigativas e de compreensão da arte como produção sócio- histórica (FONSECA DA SILVA, 2009, p. 2).

Partindo de experiências anteriores de aplicação dos projetos de extensão com a participação dos estudantes - o piloto “Internet e infância, trocas multiculturais entre duas realidades67” (2008/2), e “A plataforma Moodle: uma experiência inclusiva

a partir da Arte” (2009/1),pôde-se vivenciar diversas situações pedagógicas.

Figura 3: Projeto realizado em 2009 entre as cidades de Itapema SC, Florianópolis SC e Canoas no RS.

Acreditou-se que a ampliação de oportunidades propostas por meio de um curso de extensão para professores de artes visuais online, num processo qualificado, colaboraria para a democratização do acesso à formação continuada. Com o apoio do grupo de pesquisa Educação Arte e Inclusão, do CNPq, e do

67 Artigo publicado sobre a experiência. Disponível em: Ensinando Arte à Distância: Percursos

Inclusivos na Ação docente 2009 Disponível em:

<http://sistemas.virtual.udesc.br/cursos/encontro/04_ensinando_arte.pdf>.Acesso em: 20 jun 2011.

departamento de extensão do CEAD-UDESC, o curso foi idealizado e proposto por professoras que já haviam participado das edições anteriores e da coordenação do projeto. A partir desse curso, realizou-se a seleção das duas professoras que seriam, mais tarde, sujeitos dessa pesquisa. É sobre ele que discorrer-se-á no subcapítulo seguinte.