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O Mundo Literário: entre táticas e estratégias na manutenção de poderes

3 PEREIRA DA SILVA: ENTRE A CRUZ E O MUNDO

3.2 Pereira da Silva: da Cruz ao Mundo

3.2.1 O Mundo Literário: entre táticas e estratégias na manutenção de poderes

O corpo editorial da revista O Mundo Literário era composto pelo poeta Pereira da Silva, o romancista Théo Filho - seus diretores –; Agripino Grieco, secretário e a Livraria Editora Leite Ribeiro como editora, tendo como sucessora, posteriormente, a Livraria Freitas Bastos, Spicer & Cia. Trata-se de uma revista eclética e, ao contrário de a Rosa Cruz, não se filiava a nenhuma estética específica, aceitando contribuições de diversos autores, gêneros e estilos, sendo seus colaboradores autores que editavam ou não pela Livraria Leite Ribeiro, conforme afirmam os escritores Murilo Araújo, Sérgio Buarque de Holanda e José Geraldo Vieira, todos eles antigos colaboradores da revista O Mundo Literário, em entrevista feita por Eneida Maria Chaves, já citada. Segundo consta na entrevista, o caráter eclético associado ao investimento financeiro da Livraria Leite Ribeiro foram fatores determinantes para que esse periódico durasse quatro anos. No entanto, pouco ou nada sabemos a respeito desta revista, seu ecletismo pode ser considerado fator importante para o seu também apagamento pela história literária, em detrimento das publicações de revistas literárias ligadas aos ideais modernistas, tais como a Revista da Antropofagia (1928-1929), Revista Pau Brasil (1924- 1925), Klaxon (1922-1923). Porém, nossa retomada a esse periódico interessa-nos, uma vez que ele guarda outras histórias que ficaram à margem.

Dessa forma, O Mundo Literário é um mensário, publicado no dia 5 de cada mês, contendo apenas textos inéditos sobre literatura nacional e estrangeira, com um número muito grande de colaboradores, entre eles nomes conhecidos e consagrados pela literatura brasileira atual como Cecília Meireles, Lima Barreto, Coelho Neto, Ronald de Carvalho, entre outros.

29 ―Entrevistas relativas a O Mundo Literário‖, publicadas na Revista do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) nº

24, de 1982, trata-se de um extrato do apêndice ao trabalho O Mundo Literário: um periódico da década de 20 no Rio de Janeiro. Monografia de Mestrado de Eneida Maria Chaves. S. Paulo, FFLCH-USP, 1977, 2 volumes.

Figura 24 Sumário de O Mundo Literário de 05 de maio de 1922

Fonte: Material impresso disponível no Acervo de periódicos da Biblioteca Nacional.

Quanto às suas seções, a revista, diferentemente de Rosa Cruz, divide-se por temas de diversas áreas de conhecimento, confirmando seu propósito de generalidades: Teatro, Pedagogia, Filosofia, Medicina, Música, Engenharia, Literatura Nacional e Estrangeira, todas a cargo de quem assinava cada uma dessas seções, conforme consta nas páginas do mensário de 5 de julho de 1922. Além disso, seus editores também fazem alusão honrosa às editoras femininas colaboradoras de O Mundo Literário, o que reforça o caráter eclético a que se propunha a revista:

São redatoras-colaboradoras de O MUNDO LITERÁRIO as seguintes escritoras, glórias da intelectualidade feminina: Albertina Bertha, Bertha Lutz, Chrysanthpeme, Cecília Meireles, Gilka Machado, Júlia Lopes de Almeida, Maria Eugência Celso e Rosalina Coelho Lisboa (O Mundo

Literário, 5 de julho de 1922, no 3, vol. I).

Outro aspecto que justifica seu caráter eclético é o fato de, em pleno Modernismo de 1922, O Mundo Literário não se apresentar como uma revista Modernista. Segundo Murilo Araújo (1982), ela não foi uma revista exclusivamente modernista, no sentido da Semana de

Arte Moderna, mas abria espaço para os autores modernos. Sua característica eclética fazia com que a revista recebesse contribuições literárias de gêneros e concepções artístico- culturais diversos. Sérgio Buarque de Holanda (1982) também reforça as palavras de Murilo Araújo (1982) ao referir-se à revista dentro do contexto da Semana de Arte Moderna, afirmando que ela representava várias correntes e sub-correntes, principalmente os valores acadêmicos e tradicionais, por isso contava com tantos colaboradores, pois

Havia de tudo. Mesmos os modernistas, quando quisessem colaborar, eles os aceitavam. Não marcou uma corrente, assim. Não havia sentido de grupo. Naturalmente, o pessoal da revista tinha interesse em agremiar toda uma gente. A Livraria mais ainda (HOLANDA, 1982, p.175).

O que também justificava o grande número de colaboradores, de diversas correntes e posturas literárias era o fato de não haver tantas revistas literárias onde se publicar e, como os editores recebiam colaboração de diversos autores, tornou-se um espaço aberto e plural, cujo interesse, na verdade, era criar público para si e para a livraria. Além disso, o próprio modelo editorial que se tornou uma marca dos jornais do início do século XX, conforme analisamos no capítulo anterior. No entanto, esse caráter plural também não deu à revista uma identidade e, talvez por esse motivo, Sérgio Buarque de Holanda (1982) afirmou que O Mundo Literário não marcou tanto uma época.

Quanto à origem e objetivos da revista O Mundo Literário, o periódico surge como um veículo de propaganda da Livraria Leite Ribeiro. Ao contrário de Rosa Cruz que era dirigida por pessoas que perdiam dinheiro com ela, que dependiam de seus fundadores, O Mundo Literário, mesmo que trouxesse algum prejuízo, tinha a Livraria Leite Ribeiro para custeá-la, com interesses bem definidos, pois

[...] Queriam formar um ponto de reunião, um núcleo como a Garnier era e tinha sido tradicionalmente. A Livraria Leite Ribeiro era grande, enorme, tinha dois andares, ambos atopetados de livros. Assim, era livraria de grande movimento e girava um largo capital. [...] A Livraria tinha esse objetivo: formar um núcleo lá dentro. Para a Livraria era interessante, porque lá iam se encontrar os escritores. Dois jornais – O Globo e O Correio da Manhã – ficavam a pequena distância. Assim, jornalistas também iam muito à livraria (HOLANDA, apud CHAVES, 1982, p.175).

Do ponto de vista de empreendimento material, segundo José Geraldo Vieira, também entrevistado por Eneida Maria Chaves (1982), O Mundo Literário teria sido uma iniciativa da própria Livraria Leite Ribeiro. Sendo, portanto, subsidiada por uma empresa que queria o

domínio editorial no Rio de Janeiro, numa época em que as editoras Garnier e Alves vinham publicando autores estrangeiros, a José Olympio e a Livraria Schimidt ainda não existiam, a Leite Ribeiro podia pagar uma revista própria e os seus editores arregimentavam os colaboradores e Grieco os dinamizava. Uma aliança perfeita: interesses culturais e econômicos. As informações de Sérgio Buarque de Holanda e José Geraldo Vieira se justificam uma vez que, além dos anúncios publicitários, havia um grande número de páginas anunciando os livros vendidos pela Livraria Leite Ribeiro, com seus respectivos comentários críticos e, em alguns anúncios, com o preço da obra, além de um grande número de colaboradores entre eles, mulheres.

Figura 25 Anúncios de livros em O Mundo Literário (1924)

Fonte: O Mundo Literário, no 3, de 5 de julho de 1922, volume I. Material impresso disponível no Acervo de periódicos da Biblioteca Nacional.

O veículo de propaganda também se prestava à divulgação das obras de seus próprios diretores, todos com edições pela Livraria Leite Ribeiro. Essa divulgação se dava tanto em relação aos livros como na publicação de seus textos. Desse modo, Pereira da Silva encontra nesse mensário, com também encontrou em Rosa Cruz, um veículo de promoção e de manutenção de sua poesia, não só na venda de seus livros, como ocorre em O Mundo Literário, mas também na publicação de seus poemas. O Mundo Literário era, portanto, um

meio de divulgação e manutenção de nomes e obras, uma vez que muitos poetas não conseguiam ver seus livros reeditados e, por conseguinte, utilizavam-se dos jornais para ver suas obras não só publicadas originalmente, como também re-publicadas.

Figura 26 Anúncio de livros de P. Silva em O Mundo Literário (1922)

Fonte: O Mundo Literário, no 3, de 5 de julho de 1922, volume I. Material impresso disponível no Acervo de periódicos da Biblioteca Nacional.

Ainda sobre esse aspecto, outros recursos utilizados pelos editores da revista revelam esse caráter de autopromoção, essa necessidade de vender um produto e de ver esse produto circulando em território nacional e estrangeiro. Um deles é a própria disposição gráfica da definição da revista, que aparece em alguns números: um ―(Mensário de literatura nacional e estrangeira)‖ da ―GRANDE LIVRARIA LEITE RIBEIRO‖, escrito em letra maiúscula. Essa disposição, além do uso do adjetivo superlativo ―grande‖, sugere o que vai ser confirmado no texto que segue – uma espécie de editorial da revista –, isto é, que o mensário serve, também,

como uma propaganda da própria livraria, que se autointitula ―GRANDE‖. No entanto, esse recurso insere-se numa tradição dos jornais advindos do século XIX.

Figura 27 Página da revista O Mundo Literário (1924)

Fonte: O Mundo Literário, no 22, vol 8, de 5 de fevereiro de 1924. Material impresso disponível no Acervo de periódicos da Biblioteca Nacional.

Nessa apresentação do mensário, explicam-se os propósitos da revista: dar maior desenvolvimento aos negócios da livraria Leite Ribeiro, difundir o livro nacional e estabelecer

intercâmbio com as repúblicas hispano-americanas, além de ―mostrar o criterioso desejo de bem informar o público de tudo o que se passa na República das Letras‖. Sobre o intercâmbio referido, o editor comunica que tem em Buenos Aires, como correspondente, o escritor e cônsul Ozório Dutra; e no Rio de Janeiro, o redator encarregado desse intercâmbio, também escritor, Saul de Navarro. Tal fato revela que esta revista tinha pretensões que ultrapassavam as barreiras geográficas, como argumento fortalecedor do propósito principal deste mensário: informar bem o público!

Toda a estrutura do periódico volta-se, então, para essa autodivulgação da Livraria Leite Ribeiro. Muitos dos anúncios giram em torno da promoção de livros publicados pela editora, como também, a presença de listas contendo suas edições. Dentre os livros anunciados, não poderiam faltar os de Pereira da Silva e Théo Filho, o que denuncia essa autopromoção, conforme já mencionamos, elemento indispensável para a manutenção do bem cultural. No entanto, há também, anúncios de outras revistas literárias, tanto nacionais, quanto estrangeiras; reforçando, assim, o fato de a imprensa brasileira manter esse sistema de trocas entre si.

Outro aspecto que merece destaque, mencionado no texto de abertura da revista é a propaganda sobre a tiragem de vendas, que representa uma forma de garantir ao leitor a visibilidade e importância do produto oferecido: ―[...] cerca de 300 agências desde o Acre até o Rio Grande do Sul, pretende consagrar ao Mundo Literário o máximo de sua atenção, desde já aumentando para 15.000 exemplares, [...]‖. O aumento dos pedidos informado pelo editor confirma-se em comentário feito na revista Era Nova (PB), sobre o mensário O Mundo Literário, conforme se pode perceber no fragmento abaixo:

Ainda uma publicação surgiu com mais probabilidades de triunfos do que essa, basta dizer que, com pouco mais de 15 dias de venda do primeiro número, se fez preciso a tiragem de uma segunda edição, para satisfazer o reclamo da gente culta do meio carioca (Era Nova, 1922, s/p).

Assim como o editor de O Mundo Literário utiliza-se dessa informação para revelar o quanto este mensário tem alcançado um público extenso, o editor de Era Nova (PB), ao fazer a propaganda da revista carioca em solo paraibano, também recorre à mesma estratégia para motivar o leitor paraibano a adquirir o produto, acrescentando que o mensário é lido pela ―gente culta do meio carioca‖. Essa informação valoriza o produto, ao inseri-lo na ordem do discurso.

Os textos reunidos nesta revista literária reúnem vários gêneros textuais: poemas, contos, artigos científicos e de crítica literária, trechos de romances etc. Esses textos são tanto de e sobre autores nacionais, de diversas regiões do país quanto de e sobre autores estrangeiros, estes últimos argentinos, peruanos etc. Tal diversidade de gêneros e assuntos converge para a necessidade dos periódicos de abranger um número diversificado de leitores, mas, também, reflete uma concepção de literatura que ainda se encontra presente nessas duas revistas da década de 1920, nas palavras de Márcia Abreu (2003): de que não há um consenso sobre o que pertence realmente ao mundo literário, a literatura é vista como um conjunto de conhecimento produzido ou como um conjunto de obras e autores consagrados. Nas revistas, essas duas concepções parecem caminhar juntas.

Além dos aspectos apresentados, chamamos a atenção para um comentário feito na revista Era Nova¸ a respeito de uma das qualidades de O Mundo Literário: o fato de o mensário não apresentar ―restrições nem cores regionalistas‖. Essa característica se confirma no exemplar que estamos analisando, pois os textos apresentados trazem contribuições e refletem concepções culturais de diversos estados brasileiros, como de outros países; reforçando o caráter universal pretendido pela revista. Nesse sentido, a revista enquadra-se nas discussões que se avolumavam no país nesse período, ou seja, o surgimento do movimento regionalista, cujo objetivo era inspirar uma nova organização do Brasil, dar um corpo brasileiro ao Brasil, uma vez que, segundo Freyre (1996, p.02) em seu Manifesto Regionalista proferido em 1926, as províncias estavam sacrificadas ao imperialismo da Corte, ―[...] uma corte afrancesada ou anglicizada.‖ Visava, assim, a um sistema em que as regiões, mais importantes que os Estados, se completassem e se integrassem ativa e criadoramente numa verdadeira organização nacional – uma articulação entre o que é nordestino com o que é brasileiro ou americano.

Dessa forma, o periódico vem ser um espaço, no qual escritores, eruditos ou não, assim como os artistas de modo geral, possam produzir tanto para um público quanto para os seus pares concorrentes, numa necessidade constante de permanência na dinâmica do campo literário, uma vez que ―[...] os artistas e os intelectuais, [...] dependem tanto, no que são e no que fazem, da imagem que têm de si próprios e da imagem que os outros e, em particular, os outros escritores e artistas, têm deles e do que eles fazem‖ (BORDIEU, 2009, p.108).

O Mundo Literário representa, então, um espaço para formação de comunidades de leitores, na qual Pereira da Silva alia-se a Agripino Grieco e Théo-Filho, estes de personalidade forte e ao mesmo tempo autores populares na época, ao contrário do poeta simbolista, um recatado e avesso às rodas literárias e sociais, ―[...] sem a menor desenvoltura

quanto ao conceito de comunicação social‖, segundo José Geraldo Vieira (1982, p.168). A Leite Ribeiro deu a direção da revista, curiosamente, a essas duas personalidades antagônicas, uma aliança entre a tradição e a irreverência, de um lado um poeta simbolista sério, místico, triste no aspecto, não muito conhecido a não ser pelos seus admiradores devotos; e um romancista de sucesso na época, pois escrevia romances para vender e ―vendia muito‖, apesar de não agradar moralmente, acusado que era pelas pessoas ―graves‖, de ―explorar temas escabrosos‖, conforme também relata Sérgio Buarque de Holanda (1928) ao referir-se à dupla que conduzia a revista. Porém, independentemente do sucesso ou não em seu tempo, ambos os autores foram esquecidos pela memória historiográfica literária brasileira.

Apesar de eclética, a revista possuía uma ideologia própria que se percebe nos artigos, espécies de editorias. Na revista número 1 de 5 de maio de 1922, seu redator afirma a crença na missão social da arte: independentemente das ideologias, o povo tem o direito à arte, além de ele ser fonte inspiradora da natureza imortal. Sendo assim, os próprios editores de O Mundo Literário consideram o periódico um instrumento capaz de concretizar o direito à arte, devido à facilidade no acesso, o preço e a variedade de autores e de campos do saber que O Mundo Literário propõe-se a publicar. Seria, portanto, uma prestação de serviço, ―[...] serviço à generosidade dos leitores, proporcionando rápido, econômico e fácil veículo de informação e educação mental, serviço aos homens de letras, preparando terreno propício à frutificação de ideias novas e sãs‖ (O Mundo Literário, 5 de maio de 1922, p.4). Portanto, prestar um serviço ao público e aos homens de letras é ao mesmo tempo um meio de formação de uma comunidade de leitores sem a qual o literário não teria como manter-se. Ou seja,

[...] é a própria lei do campo, e não um vício de natureza, como pretendem alguns, que envolve os intelectuais e os artistas na dialética da distinção cultural, muitas vezes confundida com a procura a qualquer preço de qualquer diferença capaz de livrar do anonimato e da insignificância. Esta mesma lei, que impõe a busca da distinção, impõe também os limites no interior dos quais tal busca pode exercer legitimamente sua ação (BOURDIEU, 2009, p.109).

A revista ainda adota um compromisso político-social com a Nação. Para seus diretores, a Literatura e a Política são instrumentos de plenitude das forças harmônicas de uma Nação: ―[...] a ação direta dos estadistas realizando os projetos de que depende o progresso material e a influência dos escritores e educadores na formação do espírito coletivo‖ (O Mundo Literário, 5 de maio de 1922, p.4). Assim, a correlação entre Literatura e Política torna-se um fator indispensável na construção da Nação e o que a Revista pretende ver

concretizado. O Mundo Literário revela isso, ao tratar em seções separadas a literatura nacional da literatura estrangeira. Na seção de literatura nacional, há a separação por estados, em que se dão notícias sobre autores além do clima cultural e artístico que dominava a região. Sendo, dentro desse espírito nacionalista e regionalista, um meio de divulgação da cultura literária do período, uma vez que:

Os jornais e as revistas tinham como trunfo servirem de berçário, vitrine, pedestal e mesmo de trampolim para o homem de letras, encarregando-se do recrutamento, da visibilidade e dos mecanismos de consagração dos escritores. Era a imprensa que dava as condições de sobrevivência e de divulgação para a produção dessa massa crescente de intelectuais brigando por um lugar ao sol (COSTA, 2005, p.25).

A revista, portanto, representa o desejo de seu editor e diretores em alcançar o prestígio econômico-social e o cultural, uma espécie de tática, no sentido dado por Certeau (1998), de firmar-se num mercado simbólico dos bens culturais. Não bastava à Editora Leite Ribeiro ser recordista em publicações, ser economicamente satisfatória, mas o que ela pretendia era o ―lugar‖ que a Garnier ocupava, isto é, um lugar de status cultural, de formação intelectual, conforme podemos concluir com base nas considerações de Holanda (1982). Para isso, aliar-se a nomes como Pereira da Silva, um poeta de personalidade pacata, um homem honesto e bem quisto entre os seus pares com um romancista popular, Théo-Filho, recorde de vendas, além de um articulador como Agripino Griecco, crítico também popular, foi de fato uma estratégia inteligente. Ao mesmo tempo, seus editores, encontraram nessa aliança a possibilidade de não apenas ver suas obras e seu nome entre as rodas jornalísticas e literárias, mas inserirem-se nelas.

A autopromoção de O Mundo Literário faz-se presente, também, em uma de suas seções intitulada ―O Mundo Literário e a Imprensa do Rio‖. Nessa seção, há publicação dos comentários feitos por diversos jornais a respeito do primeiro número da revista. Isso porque, segundo a revista, ―O Mundo Literário‖ teve uma tirada de sua 2a edição em menos de 15

dias, algo incomum para o gênero. Entre os elogios, encontram-se os publicados pelos jornais Gazeta de Notícias, Jornal do Brasil, O País, Notícia, A Careta, Correio da Manhã, O Jornal, entre outros, segundo O Mundo Literário de 5 jun., 1922, p. 270.

Há ainda as notas a respeito da repercussão da revista nos demais estados brasileiros. No entanto, independente desse caráter promocional, tanto em elogios feitos à livraria quanto aos seus diretores, elogios que revelam o prestígio que ambos possuíam no cenário carioca, os comentários revelam alguns aspectos da revista que apontam pistas para os lugares ocupados

pelo também poeta Pereira da Silva, a exemplo do comentário do jornal Gazeta de Notícias que afirma ter a revista um formato semelhante ao de ―La Revue‖ (1830-1880), que se edita em Paris. Esse intercâmbio cultural Brasil e França que a revista possui é reafirmado pelo jornal Notícia (diretor, Joaquim Salles e secretário José Guilherme):

O Mundo Literário, confeccionado à feição das mundiais revistas francesas,

vem preencher positivamente uma lacuna nos círculos da imprensa carioca, ou por outra na imprensa de todo o país. Cremos mesmo que dificilmente se