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2 A IMPRENSA CARIOCA E A CONSTRUÇÃO DO NOME DO AUTOR (1890-1940) — O jornalismo é para todo o escritor brasileiro um grande bem.

2.4 Os últimos anos em Autores e Livros (1940)

A partir do ano de 1941, Pereira da Silva colabora para o suplemento literário Autores e Livros (1941-1950), especialmente, como crítico literário, escrevendo artigos sobre literatura de modo geral e comentando a respeito dos próprios autores homenageados pelo suplemento como Euclides da Cunha, Fagundes Varela, Jackson de Figueiredo, Humberto de Campos, Farias Brito, entre outros, a exemplo da figura seguinte, uma crônica sobre Farias de Brito.

16 Não tivemos acesso ao referido jornal, para podermos comprovar as palavras de Austregésilo de Athayde.

Figura 9 "Farias de Brito, numa evocação de Pereira da Silva" em Autores e Livros (1944)

Fonte: Suplemento Literário Autores e Livros. 19 de setembro de 1944. (Ver transcrição na página 228)

Seu ingresso neste suplemento deu-se desde a sua formação inicial, pois Pereira da Silva passa a contribuir para o semanário a partir do ano de 1941, já sendo um membro da Academia Brasileira de Letras, requisito necessário para o pertencimento ao grupo em torno deste suplemento. Na figura abaixo, em que se dá notícia acerca do quadro dos acadêmicos da instituição, separado por estados, a fim de apresentar as ―[...] estatísticas da imortalidade ao leitor que goste desses assuntos de literatura‖, incluindo, além do estado, o lugar que ocupam os acadêmicos na sociedade, Pereira da Silva é o único paraibano a fazer parte da Petit

Trianon, listado como funcionário público. A notícia dá destaque em sua introdução à posse de Getúlio Vargas na ABL, revelando o uso que seu governo fez tanto do periódico quanto da própria ABL, ou seja, um instrumento de promoção da imagem do ditador Vargas. É nesse contexto que Pereira da Silva encontra um lugar de destaque novamente na imprensa, conforme iremos abordar.

Figura 10 Quadro atual da Academia Brasileira em Autores e Livros (1941)

Fonte: Autores e Livros, 07 de setembro de 1941, p.56. (Ver transcrição na página 241)

O Suplemento Literário Autores e Livros17 circulou no Rio de Janeiro no período de 1941 a 1950, tendo uma sobrevida até os anos de 1953, fundado pelo modernista pernambucano Múcio Leão, já membro da Academia Brasileira de Letras. O suplemento era publicado semanalmente, aos domingos, pelo jornal A Manhã (RJ), este dirigido pelo escritor Cassiano Ricardo, cujo objetivo era ser o porta-voz do Estado Novo, segundo Gomes (2013).

17 O Suplemento Literário Autores e Livros encontra-se disponível nos acervos da Biblioteca Nacional Digital:

Como consequência, a razão do convite feito a Cassiano Ricardo para dirigir o jornal A Manhã

[...] tinha sólidas raízes, pois, além de seu indiscutível prestígio como escritor, dera inúmeras indicações de que suas ideias políticas afinavam-se com as do novo regime.Autor de Martim Cererê (1926), acabara de lançar um novo livro, Brasil no original (1937), em que defendia a ideia de uma democracia social para o país. Nada, portanto, mais oportuno e adequado para o momento (GOMES, 2013, p.27).

O intuito do suplemento de reconstituir a história literária brasileira, contemporânea e antiga também se engajava no ideário de uma democracia social para o país, buscando o jornal A Manhã formar um perfil da intelectualidade brasileira, integrado ao cenário e propósitos do governo Vargas, conforme discutido. Na primeira edição do suplemento, de 10 de maio de 1941, em uma espécie de programa do semanário literário, o editor traça os princípios que nortearão a produção do periódico, revelando uma intenção doutrinária: ―a de ser, tanto quanto possível, um órgão de coordenação da inteligência literária do nosso país‖ e, por conseguinte, instaurar o que deve ser lido para que se possa conhecer o Brasil.

O título Autores e Livros já revela esse objetivo do periódico: traçar um perfil das personalidades literárias contemporâneas e antigas. Desse modo, cada caderno possuía, em média, de 16 a 24 páginas, geralmente dedicando de seis a oito páginas a traçar o perfil de um autor, através de artigos, biografia, transcrições de obras, notícias, críticas, cartas escritas de próprio punho etc. Dessa forma, como documento, ―Autores & Livros tornou-se um dos mais importantes para os pesquisadores da literatura brasileira, assim como da imprensa especializada afim, pelo capricho de Leão na abordagem das matérias de capa‖ (CADENA, 2011, s\p.), o que justifica sua importância dentre os periódicos literários.

Tal importância se confirma pela própria posição tomada pelo editor do suplemento, Múcio Leão, (1898-1969), pois este semanário tem a pretensão de se tornar uma grande referência para a literatura brasileira, servindo ao propósito do governo de Vargas. Nesse sentido, é todo organizado em numeração contínua interrompida a cada ano, a fim de que o assinante pudesse encaderná-lo, configurando, assim, uma espécie de livro de referência cultural

[...] chamamos atenção de todos os que no Brasil se interessam pelos assuntos das letras para a conveniência de guardarem os números de

Autores e Livros, pois esta publicação procurará constituir-se cada vez mais

um repertório cuidadoso e elevado de tudo o que represente atividade literária em nossa terra (Autores e Livros, 10/05/1941, p.1).

A fim de se tornar um periódico que pudesse ser colecionado pelos leitores, no início de cada ano, o suplemento lança um índice, por ordem alfabética, de escritores e assuntos contidos no volume do ano anterior, a fim de orientar o leitor que o coleciona. Pereira da Silva é referenciado nos sumários de volumes, entre as décadas de 1940 a 1950.

O surgimento de Autores e Livros tem estreita relação com a própria configuração do jornal a que este suplemento se filia, ou seja, reconstruir a história literária brasileira. Segundo Gomes (2013), o jornal A Manhã possuía uma proposta cultural bem definida, articulada com os discursos que vinham sendo construídos pelo Estado Novo. Essa proposta envolvia várias frentes ministeriais: educação, saúde, trabalho, indústria e comércio. Assim, a fim de materializá-la, o corpo editorial de A Manhã buscou organizar suplementos que correspondessem às áreas mencionadas. Dos quatro suplementos previstos, apenas dois se concretizaram, sendo um deles, Autores e Livros, dirigido por Múcio Leão18 até fevereiro de

1945, ―[...] quando este se afasta por discordar da promulgação do ato governamental (Lei Constitucional no 9) que fixava o prazo de 90 dias para que fossem marcadas as eleições e determinava a elaboração de uma lei eleitoral para o país‖ (GOMES, 2013, p.28), o que revela o total apoio de seu editor à ditadura Vargas, já em decadência, levando, também a própria decadência desse suplemento, que perde, portanto, sua razão de existência.

O suplemento guiar-se-á por dois princípios, que também revelam as concepções de literatura previstas neste semanário: ausência de partidarismos literários e políticos, uma vez que estando em um governo ditador, não há como ser diferente. O primeiro deles, o partidarismo literário, revela-se na diversidade que seu corpo de colaboradores e escritores homenageados possui no que se refere à filiação estética:

Entre as facções em que, pelo menos, teoricamente, se divide o nosso mundo das letras, havemos de seguir um rumo inteiramente nosso, equidistante de paixões e preconceitos. [...] Em nossas colunas acolheremos os representantes de todas as correntes – antigas e modernas, revolucionárias e conservadoras – com a condição única do valor dos autores e do mérito dos trabalhos apresentados (Autores e Livros, 10/05/1941, p.1).

Em segundo lugar, o critério de trazer de todos os Estados os que considerar ter ―mérito literário‖, entendido como aquilo que caracteriza o lugar de origem, o aspecto da cor

18

Múcio Leão (Recife, 1898; Rio de Janeiro, 1969): crítico literário, jornalista, diretor do Suplemento Literário Autores e Obras, membro da ABL (cadeira no 20), o qual foi recepcionado por Pereira da Silva. Ocupou vários cargos no serviço público e na Academia Brasileria de Letras (ABL).

local, congregando num só espaço ―os valores que se estabilizam nas províncias, esses valores hoje dispersos, hoje quase completamente ignorados do Rio, e quase que somente conhecido nos rincões a que pertencem‖ (Autores e Livros, 10/05/1941, p.1). Assim, o suplemento insere-se numa corrente nacionalista da literatura à luz dos princípios norteadores do Estado Novo.

Confirmando o programa do suplemento, pudemos perceber, na leitura de suas edições, que o caderno literário dedicou suas páginas a traçar perfis de diversos autores filiados a correntes estéticas variadas, como Machado de Assis, Fagundes Varela, Ruy Barbosa, José de Patrocínio, Coelho Neto, Manuel Bandeira, Euclides da Cunha, Olavo Bilac, assim como Pereira da Silva entre outros, através de ilustrações e caricaturas dos autores, sendo predominante a presença de patronos e membros da Academia Brasileira de Letras entre seus homenageados – todos já mortos – e colaboradores, como o próprio editor do suplemento, o acadêmico Múcio Leão. Entre colaboradores e homenageados de Autores e Livros encontram-se tanto nomes que se tornaram e se tornariam consagrados quanto os que foram sendo apagados pela história da literatura, a exemplo de Pereira da Silva.

Quanto à organização do suplemento, este se apresenta com uma estrutura fixa em suas seções, com algumas exceções. Na primeira página, por exemplo, temos logo abaixo do título e subtítulo do periódico, as credenciais do diretor: ―da Academia Brasileira de Letras‖, conferindo autoridade e status ao suplemento, reforçando a presença marcante dessa instituição em Autores e Livros. Há duas seções fixas nas capas dos suplementos: ―Notícia‖, ―Bibliografia‖, que muitas vezes se estendiam para outra parte do suplemento. Na seção ―Notícia‖, as informações contidas são os dados biográficos dos autores homenageados por determinado fascículo, seguindo sempre uma estrutura semelhante quanto ao conteúdo, ao apresentar dados sobre a origem dos autores, sua família, estudos, atividades profissionais, relacionamentos no campo pessoal e intelectual e, em alguns casos, seus posicionamentos políticos. Acrescenta-se a esses dados textuais, no canto superior direito, a foto do escritor sobre o qual a revista irá deter-se, a exemplo do que ocorrera a Pereira da Silva em outubro de 1944, nove meses após sua morte, conforme imagem abaixo:

Figura 11Capa do Suplemento Autores e Livros (1944)

Fonte: Autores e Livros, 15 de outubro de 1944. (Ver transcrição na página 243)

Na verdade, ―O que se homenageava em Autores e Livros, portanto, não era apenas a figura de qualidade intelectual, mas igualmente o ‗homem‘ em sua dimensão ética: seu caráter e sua honra, defendidos ao preço da própria vida, [...]‖ (GOMES, 2013, p.32. Grifos do autor), algo que se repete ao longo das páginas do jornal. Nas páginas seguintes, seguem-se artigos sobre os autores de capa, notas biográficas, transcrição de obras (poemas, trechos de romance, artigos críticos etc.), cartas escritas de próprio punho, estudos críticos sobre o escritor em questão, fotos, caricaturas, além de apresentar para o leitor do suplemento uma referência bibliográfica sobre a personalidade literária. A perspectiva adotada é a mesma: uma

homenagem ao homem pelas suas qualidades morais, seu caráter e ideologias defendidas ao longo da vida.

Essa homenagem ao homem e suas qualidades pode ser percebida nas palavras de Múcio Leão, em artigo intitulado ―O adeus da Academia Brasileira a Pereira da Silva‖. O crítico dá destaque a uma das maiores qualidades do autor: ser poeta. As palavras dirigidas para qualificar Pereira da Silva remetem ao plano da singeleza, da doçura e da melancolia, da simplicidade, da espiritualidade, colocando-o como o maior entre os poetas de sua geração:

E é preciso dizer que esse poeta soube conquistar um lugar seu, inteiramente seu, na literatura do nosso país e do nosso tempo. Ele será o poeta por excelência, se entendermos a Poesia como o fenômeno da emoção introspectiva e noturna. Nenhum dos seus companheiros da vocação literária – e me refiro, é claro, aos maiores – olhou tanto para dentro de sua própria alma (LEÃO, 1944, p.46).

A essas palavras, Múcio Leão acrescenta que Pereira da Silva ―soube permanecer fiel à perfeição do seu ideal de artista‖ (LEÃO, 1944, p.46), sendo o poeta da alma humana, do martírio humano, um íntimo de Antero de Quental e Baudelaire, sobre quem o autor extrai um dos versos de Pereira da Silva para defini-lo: ―Dai ao pó da minha alma a forma etérea / Da dor humana espiritualizada‖ (LEÃO, 1942, p.46).

Um dado que merece destaque é a incidência marcante da Academia Brasileira de Letras em Autores e Livros. Essa presença representa um momento bem peculiar desta instituição, que vai ao encontro do próprio momento vivido quando da formação desse suplemento. Não é apenas pelo fato de ser dirigida por um acadêmico a justificativa da presença da ABL, mas, segundo Gomes (2013), essa incidência deve-se ao próprio lugar que ocupava essa instância cultural, ou seja, uma instituição a serviço dos princípios nacionalistas à luz do Estado Novo. Ao mesmo tempo, a ABL se encontra fortemente atacada, por associar- se ao governo ditador, o que lhe conferiu descrédito. E nesse clima de descréditos em relação à ABL, portanto, que Múcio Leão dirige Autores e Livros, podendo seu trabalho ser entendido como a tentativa de:

[...] recriação e revitalização da própria instituição, a qual não pode nem deve ser associada ao Estado Novo. Ela tem suas próprias origens, anteriores e independentes — segundo sua história de fundação — de qualquer regime político. [...] associa seu trabalho de construção de uma galeria de vultos de nossa história intelectual ao perfil da própria ABL, levando-a, mais uma vez, a assumir o papel simbólico para o qual fora criada. O seu próprio pertencimento à ABL, como o de muitos daqueles envolvidos diretamente com o jornal A Manhã, é sugestivo da heterogeneidade política do campo intelectual em praticamente qualquer época, bem como das possibilidades de

aproximação e distanciamento sucessivos de um regime político, conforme os movimentos curtos da conjuntura que é vivida (GOMES, 2013, p.30-31). Esse movimento, ou seria melhor dizer esforço, pela revitalização e recriação desta instituição, necessário para que seja exercido seu papel simbólico, pode ser percebido, também, nas páginas do suplemento A Noite Ilustrada (1932), do qual Pereira da Silva foi colaborador, reforçando o interesse desses jornais na manutenção do discurso integralista associado ao governo de Vargas. Em notícia acerca das vagas deixadas pelo poeta Luis Carlos, o historiador Alberto de Farias e do inventor Santos Dummont na ABL, o jornalista deste jornal deixa implícita uma defesa à Academia em relação às possíveis acusações de serem seus membros eleitos por influências e apadrinhamentos, uma estratégia do jornal para manter o status de consagração da ABL. Neste relato, o jornalista afirma ser a vaga de Santos Dummont de difícil substituição, pois

Só uma figura de vigorosa expressão mental terá o justo direito de ocupá-la. O receio de que as suas candidaturas sejam mal recebidas pelo público excluirá, sem dúvida os que procuram fazer contrabando da ―imortalidade‖, conquistando as próprias insígnias acadêmicas menos pelo mérito próprio que pela influência de amizades e ―pistolões‖ (A Noite Ilustrada. Rio de

Janeiro, 28 de setembro de 1932. Ano III. n. 130, p.07).

O jornal A Noite Ilustrada, portanto, busca afirmar o valor e a idoneidade dos procedimentos de eleição da Academia, por meio dessa crítica. Esse posicionamento, no entanto, vai ao encontro dos interesses do próprio periódico, uma vez que um colaborador seu, no caso Pereira da Silva, está concorrendo para a vaga deixada pelo também poeta Luiz Carlos:

Para a vaga de um poeta é justo que se eleja outro poeta. Olavo Bilac foi substituído por Amadeu Amaral e este por Guilherme de Almeida. Vicente de Carvalho por Adelmar Tavares. É natural, portanto, que para a vaga do autor de Rosal de Ritmos seja também eleito um poeta. Parece assentada a candidatura de Pereira da Silva, que é um dos valores mais estimáveis da vossa poesia e que, tendo sido amigo íntimo de Luiz Carlos, seria também um digno sucessor deste na Academia de Letras. [...] O poeta de ―Beatitudes‖ terá sua candidatura prestigiada por elementos de relevo do nosso meio literário, apresentando as mais robustas probabilidades de triunfo (A Noite Ilustrada. Rio de Janeiro, 28 de setembro de 1932. Ano III. n. 130, p.07).

A colaboração de Pereira da Silva para o jornal A Noite, fundado e dirigido pelo também poeta Menotti del Picchia, um integralista, já é referenciada desde o ano de 1911. Em

seção intitulada ―Aniversários‖, na qual consta uma nota sobre o aniversário de sua esposa: ―Faz anos hoje Mme. Dr. Pereira da Silva, esposa do Dr. A. J. Pereira da Silva, advogado no nosso foro, e nosso companheiro de trabalho‖ (A Noite, 1911, p.02). Nessa mesma seção, o jornal faz menção ao aniversário de seu filho Hélio, reportando ao poeta como um de seus colegas de imprensa. O jornal passa, então, a realizar uma verdadeira campanha a favor de sua candidatura a vagas na ABL, juntamente com outros jornais.

Todos esses fatos somados revelam não só o tratamento carinhoso e honroso dado ao homem, ao poeta, crítico e redator Pereira da Silva, mas a função que ele ocupava no campo literário, no sentido de que sendo um crítico de jornais, possuía um lugar de controle e manutenção de um sistema literário em vigor. Porém, ao mesmo tempo, os elogios feitos à escrita de Pereira da Silva em Era Nova, seus artigos e comentários críticos sobre autores brasileiros publicados em jornais e revistas de referência como a Gazeta de Notícias, somados à ampla campanha feita pelos jornais A Noite, A Notícia, A Batalha, A Noite Ilustrada, A Época, entre outros, em torno de sua candidatura e eleição da Academia Brasileira de Letras, não foram suficientes para impedir seu apagamento pela história da literatura que o deixou à margem. Outras instâncias seriam necessárias para manter esse nome dentro do campo literário, pois os jornais, apesar de importantes para essa consagração em seu tempo, não são suficientes para garantir a permanência temporal do nome do autor.

Entre as hipóteses para o apagamento do nome do autor, que podemos ir concluindo deste capítulo, estão: primeiramente, o próprio surgimento de Pereira da Silva nos jornais como um poeta de filiação simbolista, em um período de transição do século XIX para o século XX que, apesar de ter sobrevivido a essas lutas, manteve-se filiado a uma imprensa vinculada a uma elite dominante, cujos aliados e amigos literatos também hoje são nomes apagados pela história da literatura. Acrescenta-se a postura de reclusão e aversão a pompas e promoções individuais por meio de bajulações; além da entrada na ABL como poeta simbolista num período em que pertencer a esta corrente não lhe permitia uma relevância significativa a não ser para os seus próprios pares. Somando-se a todos esses fatores, tem-se ainda a ausência de instâncias de consagração que ultrapassem o suporte jornal, ou seja, uma instância permanente e durável, que poderia ter sido a Academia Brasileira de Letras, mas que ao imortalizá-lo também não foi suficiente, paradoxalmente, para evitar sua morte no que se refere à circulação e manutenção do nome do autor dentro do campo literário para além de seu tempo.

No entanto, as hipóteses não terminam neste capítulo. Em seguida, analisamos a circulação dos livros publicados por Pereira da Silva em vida e sua repercussão pela imprensa

periódica de seu tempo, elementos importantes para compreender a trajetória literária e apagamento deste autor.