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Madeireira Colonizadora Rio Paraná S/A (conhecida como Colonizadora

1.1.1. O nascimento do MST e a criação das escolas itinerantes

O primeiro movimento que analisamos é do MST, movimento social20 do qual emerge a proposta pedagógica das escolas itinerantes. Apesar de ter sido criado oficialmente em 1984, precisamos entender quais foram os elementos anteriores que provocaram a sua criação, especialmente a partir dos anos 1950. Mesmo considerando esse período, não podemos deixar de indicar que os processos migratórios da segunda metade do século XIX e do início do século XX, tanto da Europa quanto internos, tiveram como resultado a transformação dos imigrantes em comerciantes, industriais e proprietários agrícolas, mas também em força-de-trabalho explorada por outros ou, ainda, em sujeitos sem terra, o que obrigou muitos a buscarem trabalho ou se organizarem na luta pela terra. Esses processos levaram a uma modernização conservadora da agricultura o que provocou um grande êxodo rural, obrigando o trabalhador do campo a buscar trabalho nas cidades, tornando-se, em geral, força-de-trabalho de baixo custo, principalmente, para as indústrias (AUED e FIOD, 2002; SORJ, 1980). Esses fatos se acumulam e provocam, de certa forma, a organização da classe trabalhadora nas décadas seguintes.

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Tomazi et al (2000) contribuem com vários elementos para a compreensão do que seja um movimento social. Os autores indicam vários aspectos que contribuem para identificar um movimento social: a existência de um conflito; a consciência da situação de opressão que está relacionada intimamente à perspectiva de manutenção ou conservação; a existência de relações de poder e ação coletiva organizado com objetivos comuns. A partir da existência desses aspectos os autores chegam ao seguinte entendimento de movimento social: “trata-se da ação conjunta de homens, a partir de uma determinada visão de mundo, objetivando a mudança ou a conservação das relações sociais numa dada sociedade” (p. 216). Para ampliar a compreensão do que seja um movimento social, buscamos também a contribuição de Gonçalves (s/d) que conceitua movimento social como a unidade de um grupo social em torno de um mesmo objetivo” e, fornece-nos elementos para não definirmos todos os movimentos sociais como se fossem a mesma coisa. Gonçalves diferencia movimentos sociais classistas e populares; reformistas (rebeldes) e revolucionários. Para o autor, os movimentos sociais classistas são “aqueles de representação de classes com lutas sociais oriundas das condições materiais e, por interesses econômicos” e os populares aqueles no interior dos quais não há luta de classes. O autor considera os movimentos rebeldes como reformistas, pois lutam para ganhar mais dentro da própria estrutura da sociedade e revolucionários aqueles que têm projeto estratégico para superar a atual estrutura social.

Nos anos 1950 e 1960, a organização dos trabalhadores rurais no processo de luta pela terra ganhou força, justamente por causa da fundação das primeiras Ligas Camponeses (inclusive no Paraná) e da ULTAB (União dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas do Brasil). Segundo Pires (2001), as Ligas Camponesas eram coordenadas pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB) e no início desempenhavam ações assistencialistas, posteriormente passando a “exigir mudanças sociais e políticas” (p. 46), estimulando a criação de sindicatos rurais e ampliando-se para outros estados brasileiros. Segundo o autor, em 1963, o Congresso Nacional aprovou a legalização dos mesmos. Lembremos que as Ligas nasceram no contexto do acalorado debate sobre o desenvolvimento do Brasil e que a questão agrária estava colocada de diferentes maneiras nas correntes que defendiam o desenvolvimento nacional.

Nesse período, ocorreram, como nos esclareceu Serra (1991), grandes conflitos no Paraná, como o “Levante dos Posseiros”, a “Guerra de Porecatu” e pequenos conflitos em Cascavel, Assis Chateaubriand, Medianeira, Faxinal, Jaguapitã, Alto Paraná, Campo Mourão, Terra Rica e Querência do Norte. A ULTAB organizou nesse contexto, em 1961, o 1º. Congresso dos Trabalhadores Rurais do Paraná, em Londrina, e o 2º Congresso dos Trabalhadores Rurais do Paraná, em 1962, em Maringá (neste, estava presente o Deputado Francisco Julião, fundador das Ligas Camponesas e foi marcado por atos de violência nas ruas). Ao apresentar tais fatos, Serra (1991) afirma, em sua tese, que a categoria dos trabalhadores rurais com pouca ou nenhuma terra acabou sendo despojada da terra, ou seja, acabou deixando de ser proprietária do principal meio de produção e foi obrigada a vender sua força de trabalho ao capitalista, e assim “a terra que era terra de trabalho, de produção familiar, passa como num toque de mágica, a ser terra de negócio, terra- mercadoria que produz basicamente para o mercado” (Idem, p. 156). Esse processo, segundo o autor, impôs ao trabalhador três saídas: buscar espaço em novas fronteiras (MT, RO e AC); trabalhar como volante (boia-fria) e morar na periferia da cidade ou ficar no campo e disputar espaço no mercado de trabalho das lavouras capitalistas. Acrescentamos a isso a possibilidade de se organizar coletivamente e lutar pela terra e pelas condições necessárias para nela viver.

No mesmo período (anos 1950 e 1960), a igreja católica se posicionou contra a Reforma Agrária, pois entendia que “a propriedade da terra, como direito adquirido, era colocada como fator de estabilidade da família cristã” (SERRA, 1991, p. 283). Para defender tal posicionamento, a ala conservadora da igreja católica criou, em 1961, a

FAP (Frente Agrária Paranaense) que coordenou vários sindicatos rurais católicos. Na verdade, a grande questão não era essa, mas sim combater o que entendia como ameaça comunista, pois as Ligas eram também apoiadas por adeptos do Partido Comunista Brasileiro, tanto que o lema da FAP era “a cruz de Cristo vencerá o comunismo” (Idem, p. 281).

Serra (1991) traz vários fatores que alteraram significativamente o campo paranaense no período em questão e que consideramos como elementos que também motivaram a criação dos movimentos sociais do campo do Paraná: a erradicação de cafeeiros financiada pelo governo federal por meio do Programa IBC – GERCA (Instituto Brasileiro do Café/Grupo Executivo de Recuperação Econômica da Cafeicultura) a partir de 1962, (as culturas que substituíram o café dispensavam força de trabalho braçal, o que provocou uma onda de desemprego); a implantação do Estatuto dos Trabalhadores rurais, em 1963, (muitos proprietários demitiram os trabalhadores por causa dos direitos adquiridos); as geadas de 1953, 1954 e depois em 1969, 1972 e 1975 que causaram muitos prejuízos; a modernização da agricultura e o quadro político paranaense marcado pelos fortes vínculos entre o poder público dominante e a burguesia agrária.

Alguns desses fatores também motivaram a criação de sindicatos rurais21. Quando João Goulart assumiu o governo, fundou a SUPRA (Superintendência da Reforma Agrária) para estimular a sindicalização dos trabalhadores rurais. Em 1962, foram fundados centenas de sindicatos rurais que se alinhavam com as Ligas Camponesas e outras organizações de esquerda. Assim, de um lado havia os sindicatos católicos e de outro, os ligados a partidos de esquerda, principalmente ao PCB (Partido Comunista Brasileiro). Havia nesses sindicatos de esquerda, também um embrião do que viria a ser o MST (SERRA, 1991). Essa influência se explicitanos primeiros documentos do MST, como no caso do caderno intitulado Normas gerais do Movimento dos

Trabalhadores Rurais Sem Terra – de caráter nacional, de 1988, que ao

apresentar o terceiro princípio indica que o Movimento deve ser de massa, autônomo, dentro do movimento sindical.

Significa que teremos que ser de muita gente, de massa. Autônomo, para que os trabalhadores sem terra tomem suas decisões. Estar dentro do

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Na obra A foice e a cruz – comunistas e católicos na história do sindicalismo dos trabalhadores rurais do Paraná, de Osvaldo Heller da Silva, o autor discute o confronto entre os sindicatos coordenados pela igreja católica e o partido comunista.

Movimento Sindical para fortalecer o Movimento Sindical e a articulação com os demais trabalhadores e conquistar uma Reforma Agrária para todos os sem terra e não apenas para alguns ou para quem está no Movimento (MST, 1988 c, s/p.)

Mesmo com toda essa organização coletiva dos que lutavam pela distribuição das terras, o crescimento das propriedades e a concentração da terra22, no Paraná, aumentaram dos anos 1960 para 1970. Pires (2001) indica que em 1965, existiam mais de 550 mil propriedades rurais no Estado, sendo que os estabelecimentos com menos de 50 hectares ocupavam 43% da área agrícola; em 1975, existiam 106 mil propriedades com menos de 50 hectares que ocupavam menos de 30 por cento da área agrícola. A concentração de terras explicita um processo de desapropriação da classe trabalhadora de um dos seus principais meios de produção, portanto, de separação entre o homem e o objeto de trabalho, e as lutas, que são consequência desse processo, irão ser pautadas, justamente, na busca da superação dessa separação, que no âmbito do capitalismo ganha uma complexidade ainda maior, pois a propriedade da terra não é suficiente para resolver os problemas da classe trabalhadora que está no campo. Apesar de toda essa tensão nos anos 1950 e 1960, nos anos 1970 o regime militar acabou quase silenciando o movimento dos trabalhadores rurais.

Como resultado direto da mordaça imposta pelos militares que assumiram o poder, os movimento surgidos antes de 1964 foram literalmente exterminados, tendo o mesmo destino os movimentos que tentaram se estruturar em represália às feridas abertas pelas transformações que mal haviam começado no campo. A pressão camponesa desaparece, sem que isso, no entanto, significasse o desaparecimento de suas bandeiras de luta, o que quer dizer que pelo menos no momento da luta havia desaparecido na prática, mas não no seu espírito, que permaneceria durante algum tempo em estado latente para ressurgir logo

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Silva (1971) indica que no Brasil esse processo de concentração é histórico e afirma que o índice Gini, que indica a concentração de terras, em 1920 era de 0,798; em 1940 de 0,826; em 1950 de 0,838 e, em 1960 era de 0,866 (índices considerados “forte a muito forte” numa escala que vai de 0 a 1,0 ).

que a mordaça fosse afrouxada (SERRA, 1991, p. 292)

Na segunda metade dos anos 1970, houve mudanças no contexto brasileiro: a abertura política anunciada favoreceu a rearticulação do movimento dos trabalhadores rurais; uma ala da igreja, orientada pela Teologia da Libertação23, passou a defender os pobres e marginalizados; a expropriação e a expulsão desses trabalhadores fez aumentar os focos de tensão social; houve a construção de várias barragens que levou à expulsão de grandes contingentes desses trabalhadores e foram fortalecidas as discussões sobre Reforma Agrária (SERRA, 1991).

Estava em andamento um processo que já apresentava o embrião do nascimento do MST. Sabemos que ocorreram ações em outros estados, como por exemplo, no Rio Grande do Sul, que também motivaram o nascimento do MST, como é o caso da criação do MASTER (Movimento de Agricultores Sem Terra), que organizou entre 1960 e 1962 mais de vinte e seis acampamentos24 naquele estado. Outro exemplo, foi o conflito entre índios e posseiros, em 1979, na Reserva de Nonoai e, em 1981, na Encruzilhada Natalino houve um acampamento na beira da estrada, com 600 famílias, no município de Ronda Alta, no mesmo estado (PIRES, 2001). No Paraná, um dos fatores mais importantes para a criação do MST e de outros movimentos foi a construção de usinas hidrelétricas. Segundo Pires (2001) e Serra (1991), a primeira experiência foi a de Salto Santiago, concluída em 1979. Os municípios atingidos foram Laranjeiras do Sul, Chopinzinho, Mangueirinha e Coronel Vivida. Naquele momento não havia organização suficiente dos camponeses para protestar e se contrapor às decisões tomadas, especialmente no que dizia respeito às indenizações e isso serviu de motivo, além de outros, para uma maior organização dos trabalhadores do campo, portanto, a mesma nasceu das necessidades produzidas na materialidade e não da vontade dos trabalhadores.

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O termo libertação foi cunhado a partir da realidade cultural, social, econômica e política sob a qual se encontrava a América Latina, a partir das décadas de 60/70 do século XX. Os teólogos deste período, católicos e protestantes, assumiram a libertação como paradigma de todo fazer teológico. (CABRAL, s/d, p. 2)

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Segundo Pires (2001, p. 88) “Os sem-terra consideram como acampamentos, os agrupamentos de trabalhadores rurais que ocupam uma área ou se aglutinam em beiras de estradas, para a conquista da terra. Quando os ocupantes recebem um documento chamado “Imissão de Posse”, assinado pelo governo, através do INCRA, a área passa a denominar-se assentamento”.

Nos anos 1970, foi construída a Usina Hidrelétrica de Itaipu25 que provocou a desapropriação de mais de sete mil famílias que foram retiradas do canteiro de obras a partir de 1978. Segundo Serra (1991), foram poucos que aceitaram os valores propostos para as indenizações.

Para ajudar a resolver a situação, em 1980, foi criado o Movimento Justiça e Terra (MORISSAWA, 2001). De acordo com Mazzarollo (2003), esse Movimento defendia justiça na avaliação do valor das propriedades e terra para os desalojados. O autor afirma que nos textos do Movimento Justiça e Terra havia alertas sobre a necessidade de organização popular que precisava se antecipar às obras similares que ainda viriam.

Serra (1991) conta que a pressão organizada por esse Movimento foi forte na época. Houve acampamentos organizados em frente ao escritório da Itaipu Binacional (Santa Helena) durante 17 dias, em 1980 e, durante 57 dias, em 1981. O autor afirma que o acampamento representava uma forma do trabalhador rural fazer sua greve, protestando objetivamente para obter do poder público, soluções para seu drama coletivo. Com essa pressão, a Itaipu Binacional acabou atendendo grande parte das reivindicações26.

Desse Movimento todo acabou nascendo outro, o Mastro (Movimento dos Agricultores do Oeste do Paraná) que, nas últimas etapas de lutas dos desapropriados da Itaipu, enfatizava a necessidade de indenização também aos que não eram proprietários, mas trabalhavam na terra. Esses processos traziam o embrião para o nascimento do MST. Entre 1970 e 1980 várias lutas pelas terras se davam em São Paulo, Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul. Sentia-se a necessidade de agregar esforços.

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Ver também Mezzomo (2009). Entendemos o acampamento como território, como espaço de disputa e de construção de novas relações.

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Itaipu aceitou pagar 50% de indenização aos não-proprietários e pagamento das benfeitorias; aumentou o preço por hectare de terra; assumiu o compromisso de reajustá-lo automaticamente caso as indenizações demorassem a sair e de classificar a maior parte das terras dos imóveis como de primeira qualidade. Concordou ainda com as indenizações das redes elétricas e com outras reivindicações mais vinculadas à operacionalização dos pagamentos e das saídas dos lavradores da região. Além disso, os agricultores conseguiram dois assentamentos no Paraná – em Arapoti (para 400 famílias) e Toledo (para 20 famílias). (SERRA, 1991, . 297)

Não podemos deixar de explicitar a origem “religiosa” do MST. Pires (2001) nos dá elementos para isso. Stédile, ao ser entrevistado pelo autor, em 1997, afirmou que

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem- Terra é ‘filhote da igreja’. A Igreja, através da CPT, é fundamental no nosso processo de organização. Apesar de ter desenvolvido um papel importante na etapa final da ditadura, a igreja refluiu no final dos anos 1980 e início dos 1990. Porém, de uns anos para cá, nós percebemos que tanto a igreja católica quanto a luterana, retomaram um trabalho pastoral de base com um cunho progressista (PIRES, 2001, p. 65).

João Pedro Stédile, que é um dos líderes do MST, reconhece o papel da igreja, principalmente da CPT27 (Comissão Pastoral da Terra), na organização inicial do Movimento, mas indica, segundo Pires (2001), que a mesma igreja que apoiou o Movimento impôs limites quando o mesmo definiu e praticou ações que extrapolaram a política social católica. O autor analisou vários documentos da igreja e salienta que os

[...] postulados da Teologia da Libertação forneceram a justificativa teórica para atuação das pastorais no meio popular, principalmente da CPT, em especial nos pressupostos formulados a partir de 1968 – ano do encontro de Medellín – nascidos da prática de alguns cristãos em movimentos sociais da América Latina (PIRES, 2001, p. 67).

A igreja, independentemente da religião a qual se vincula, articulou-se aos movimentos sociais de luta pela terra por uma pequena, quase insignificante parcela dos seus dirigentes. Sua natureza, construída nas relações, mas camuflada por ideais transcendentes a elas, mais contribui para a manutenção do que para a ruptura com o atual estado de coisas, pela via do conformismo e do enaltecimento da magnitude do sofrimento humano na busca de recompensas futuras, fora dessa materialidade, portanto, indicando as soluções dos problemas sem conflitos, para um tempo e espaço que podem não existir, ficando isenta

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Primeiro, nomeada como Comissão da Terra, posteriormente acrescentou-se ‘pastoral’ para descartar a possibilidade de parecer um Partido ou Sindicato (PIRES, 2001)

de se confrontar com uma ou outra classe social, pregando, inclusive, uma necessária harmonia entre elas.

Os anos 1980, para o MST28, foram marcados por encontros, seminários, cartas e o Paraná foi palco de alguns deles. O Primeiro Encontro de Agricultores Sem Terra do Sul, foi justamente, em Medianeira, em 1982, no qual estavam presentes representantes de cinco estados brasileiros: São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná e Mato Grosso do Sul. Em 1984, foi realizado em Cascavel, o I Encontro Nacional dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, no qual nasceu oficialmente o MST e estavam presentes trabalhadores de doze estados brasileiros. Em 1985, realizou-se em Curitiba, o I Encontro Nacional dos Sem Terra com a participação de 1600 delegados de todo o Brasil (MORISSAWA, 2001).

Figura 1 – I Encontro Nacional dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (1984, em Cascavel)

Fonte: Morissawa (2001)

No encontro de Cascavel, em 1984, foram tomadas as seguintes resoluções:

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No processo de luta, o MST criou muitos símbolos, hino e muitos lemas e gritos de ordem. Dois dos símbolos mais importantes são: a bandeira28 (anexo 1) do Movimento, que foi aprovada no 3º. Encontro Nacional (em 1987) e o hino (anexo 1), aprovado no II Congresso, em Brasília (1990).

1. Os trabalhadores rurais não devem lutar apenas por terra para si mesmos. Cada combate faz parte da luta por terra para todos os sem-terra e pela Reforma Agrária.

2. Cada companheiro deve assumir o compromisso de continuar a luta, mesmo depois de conseguir seu pedaço de terra.

3. O Movimento deve lutar pela transformação da sociedade, por mudanças no sistema econômico social, pois os trabalhadores rurais nunca terão futuro sob o capitalismo. A Luta pela terra deve ser uma luta por uma sociedade sem explorados nem exploradores. 4. A terra conquistada na luta não deve ser vendida, pois

terra para nós é terra de trabalho, não terra de negócio. 5. Deverá ser estimulado e apoiado de todas as formas

possíveis o trabalho em conjunto através de diferentes formas de cooperação agrícola, respeitada a vontade de cada um.

6. O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra representa o instrumento para os trabalhadores rurais sem terra se articularem dentro do Movimento sindical. Movimento de massas, deve organizar-se pela base em comissões de sem terra, nas comunidades rurais, nas capelas, nos bairros rurais e, depois disso, em comissões municipais. Se o sindicato for combativo, a comissão dos sem-terra funcionará como um órgão a mais do sindicato, a exemplo das comissões de salários e dos comandos de greve nos sindicatos operários. Se o Pelego controlar o sindicato, a comissão é independente e forma a oposição sindical. Em hipótese alguma deixa de lutar pela terra.

7. A bandeira de lutas do Movimento é “Terra não se ganha, se conquista”. A ocupação, como uma das principais formas de luta, significa que a Reforma Agrária será feita pelos próprios trabalhadores.

8. Como veículo de comunicação impressa, é criado o “Jornal dos Trabalhadores Rurais Sem Terra”, de circulação Nacional. (SERRA, 1991, p. 301)

Essas resoluções foram ampliadas, redefinidas e a luta para concretizá-las, continua. Ao final de 1984 foram organizadas e feitas pelo MST várias ocupações, envolvendo 1700 famílias, principalmente no oeste e sudoeste do Paraná (Anexo 34).

Entre 1982 e 1986, foram criadas regionais do MST no Paraná: o Mastes (Movimento dos Agricultores Rurais Sem Terra do Sudoeste do Paraná), em 1984; o Masten (Movimento dos Agricultores Rurais Sem Terra do Norte do Paraná), em 1985; o Mastec (Movimento dos Agricultores Rurais Sem Terra do Centro do Paraná) e o Mastevi (Movimento dos Agricultores Rurais Sem Terra do Vale do Iguaçu), em 1986; o Mastreco (Movimento dos Agricultores Rurais Sem Terra do Centro Oeste do Paraná); o Mastel (Movimento dos Agricultores Rurais Sem Terra do Litoral do Paraná) (MST 1989 a; MORISSAWA, 2011) e o Mastro (Movimento dos Agricultores Rurais Sem Terra do Oeste do Paraná) (MST, 1986 d).

Em 1986, o Paraná estava entre os estados onde havia o maior número de acampamentos e de 1986 a 1990, foram registradas no Paraná várias áreas com mais de vinte conflitos (anexo 34). A intensificação das ocupações, das discussões, dos confrontos, na segunda metade dos anos 1980, teve um elemento forte: a realização da Assembleia Constituinte e a elaboração da nova Constituição (1988). Tanto uma classe como outra precisava demarcar os espaços, impor seu poder. Isso contribuiu para que a organização se formasse tanto de um lado como de outro. A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), por exemplo, em 1986, lançou a Campanha da Fraternidade “Terra de Deus, terra de irmãos” e pautou, principalmente, discussões sobre a Reforma Agrária, a Constituinte e a elaboração da nova Constituição (MST, 1986 a).

A UDR (União Democrática Ruralista)29, criada em 1985, constituída por um grupo de fazendeiros violentos e conservadores,

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A própria UDR, no site oficial anuncia seu objetivo: “é uma entidade de