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SEÇÃO 4 CONDUÇÃO DO FLUXO INVESTIGATIVO

4.3. O nosso corpus de análise

Feitas as devidas considerações sobre o que é corpus e seus diferentes modos de composição, podemos adentrar no nosso corpus de análise, ou seja, o corpus que foi propriamente utilizado no presente trabalho (Figura 11). Procurou-se diversificar as fontes de informação, justamente para observar o maior número de referenciais possíveis e agir em concordância com toda a literatura exposta na Seção 2 e Seção 3. Aliás, a própria revisão e síntese da literatura feita nessas seções já serviu para a composição de corpus, dentro do primeiro modo de autoridade epistêmica descrito anteriormente. A consulta à comunidade científica foi imprescindível, não só para a fundamentação teórica, mas para revelar alianças e antagonismos acadêmicos que poderiam ser relevantes na identificação das controvérsias acadêmicas. Fora a revisão da literatura, nosso corpus analítico foi constituído por 8 subcorpus, detalhados a seguir.

Figura 11 - Corpus de Informações Utilizados pelo Autor. Fonte: O Autor.

O primeiro subcorpus é o diário de campo, disponível no Anexo 1. Por meio dele, foram registradas em uma periodicidade diária as impressões da experiência imersiva do pesquisador e sua prática de “mãos sujas”. Os registros do diário ocorreram no período de observação intensiva que durou de 05/03/2018 a 16/03/2018 e, posteriormente, em algumas outras visitas pontuais. Foi por meio do diário de campo, que os primeiros esforços de organização das ideias expostas na Seção 5 foram realizados e as controvérsias de nossa

cartografia identificadas de maneira embrionária O diário de campo foi construído a partir de um documento do Microsoft Word, ocasionalmente completado por notas de áudio, post-its e caderno de anotações.

A elaboração do diário de campo, entretanto, só foi possível devido a um segundo recurso: o glossário de termos não-controversos. As controvérsias, apesar de serem caracterizadas por desacordos, sempre envolvem uma base comum de opiniões compartilhadas que possibilitam o debate. Não é possível argumentar sobre aquecimento global se não houver consenso sobre o que é temperatura. Assim, a criação do glossário de termos não-controversos é imprescindível pois torna mais claro os limites do que é consenso e o que está sendo discutido em uma organização. O nosso glossário de termos NC, disponível no Anexo 2, elencou todas as palavras do jargão próprio dos observados. Para alguém de fora da comunidade, o jargão pode parecer um outro idioma, já que está cheio de anglicismos e termos técnicos. Sugerimos ao leitor, que procure utilizar o glossário sempre que se deparar com uma palavra desconhecida ao longo da próxima seção. A definição dos termos do glossário veio dos próprios pesquisadores ou de wikis que eles frequentemente indicavam para a solução de nossas dúvidas sobre o assunto (Stack Overflow, Wikipédia britânica, etc.). O glossário elencou quase 200 termos, muitos deles não rigorosamente tratados no presente trabalho, mas de entendimento imprescindível para todos os que quiserem um dia se aventurar pelos mares de uma empresa de TI.

Um terceiro recurso bastante valioso foi o de fotos capturadas a partir do smartphone do pesquisador. Por questões de sigilo, não pudemos disponibilizar todas elas, mas aquelas que passaram pelo nosso filtro de confidencialidade se encontram no Anexo 3. O suporte midiático-imagético serviu como uma extensão da memória do pesquisador, permitindo-o registrar detalhes importantes sobre a dinâmica comportamental dos actantes da organização e fazer análises à posteriori. Pode-se, até mesmo, recuperar informações que, de outra maneira, não teríamos acesso, como fotos de documentos importantes e esboços dos projetos feitos nas paredes-lousa do escritório.

A maior parte das análises, contudo, foi feito a partir do quarto, quinto e sexto subcorpus. Esses são, respectivamente, as entrevistas semiestruturadas, não-estruturadas (NE) e grupos de discussão.

As entrevistas semiestruturadas foram aplicadas em duas rodadas. A primeira rodada de entrevistas ocorreu nas duas semanas de observação imersiva (de 05/03/2018 a 16/03/2018), sendo cinco o total do número de entrevistados. Dois deles estavam em posição de liderança, três em posições operacionais. A segunda rodada ocorreu no dia 04/09/2018, com a aplicação de dois formulários distintos, um para a liderança, outro para o setor operacional. O primeiro foi aplicado ao líder formal do grupo, juntamente com um funcionário do operacional que vem desempenhando função de liderança. O segundo formulário, mais enxuto, foi aplicado a quatro funcionários do operacional. Os formulários da segunda rodada foram elaborados para atacar as dúvidas e incongruências que o pesquisador teve após um tempo debruçado nos dados de sua primeira visita. Todos os formulários aplicados nas entrevistas semiestruturadas estão disponíveis no Anexo 4. Todas as transcrições das entrevistas semiestruturadas podem ser lidas no Anexo 5.

As entrevistas não-estruturadas, disponíveis no Anexo 6, foram espontâneas e tiveram como fio condutor principal as controvérsias que surgiam do próprio processo investigativo. Elas foram feitas, sobretudo, com ex-funcionários, para que pudéssemos relativizar questões que tinham uma explicação unilateral, bem como nos livrar de um olhar limitado exclusivamente ao de membros do interior da organização. Além dos ex-funcionários, foram feitas entrevista não-estruturadas com uma funcionária atual. Optou-se por entrevista não- estruturada, pois a funcionária não se encaixa totalmente no padrão da equipe devido a sua posição. Ela é mais velha, a única mulher e trabalha a maior parte da semana em regime remoto, enquanto toda a equipe trabalha localmente.

Os grupos de discussão foram feitos no momento de observação imersiva e estão disponíveis no Anexo 7. Eles foram compostos pela totalidade de trabalhadores que não estavam ocupados durante o surgimento de alguma pauta polêmica. É natural que, nesse tipo de conversa desestruturada, pessoas mais desinibidas e expansivas tomem o espaço de fala dos demais. Dizemos isso para justificar a desproporcionalidade dos espaços de fala, que, no caso dos nossos grupos de discussão, foram ocupados majoritariamente pelas posições de liderança. Contudo, após uma abordagem individual, o pesquisador notou que o pensamento dos funcionários reproduz ou aceita aquilo que foi dito pela liderança no que diz respeito nos assuntos tratados dentro desses grupos.

O áudio das entrevistas semi-estruturadas e não-estruturada, bem como dos grupos focais, foi gravado no formato MP3 com a qualidade de transmissão de 128kbp/s partir de um gravador de voz da marca Sony modelo LCD-PX 240. Algumas das entrevistas, sobretudo as com ex-funcionários, foram realizadas remotamente via Skype e gravadas com o software iFree Skype Recorder. O áudio foi gravado a partir de uma placa de captura de áudio da marca Realtek modelo HD Audio, mantendo a qualidade de transmissão em 128kbps. No total, mais de 12 horas de áudio foram gravadas e transcritas. Todo o áudio foi transcrito manualmente pelo pesquisador.

Por fim, as informações do website oficial foram importantes para capturar o modo que a empresa deseja formar a sua imagem publicamente. Nós utilizamos tais dados na Seção 5, mas sempre parafraseados, já que se os copiássemos na íntegra, a empresa ficaria muito facilmente identificável pelos motores de busca dos recuperadores de informação online. Pelos mesmos motivos de sigilo, não disponibilizamos as informações do website anexados na íntegra, assim como fizemos com os dados da observação empírica. O subcorpus “outras fontes”, se refere a fontes diversas que auxiliaram no processo investigativo, mas que também não puderam ser disponibilizadas por questões de sigilo. Isso inclui mensagens de Facebook e WhatsApp, lista de tarefas, mensagens trocadas no comunicador corporativo (Slack), apresentações de powerpoint institucionais feitas para clientes, etc.