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O painel da estação Conceição, do metro de S Paulo, de David Almeida

Capítulo 5 Outros Murais de Bartolomeu dos Santos, Posteriores à Obra de Entre Campos, e

5.4. O painel da estação Conceição, do metro de S Paulo, de David Almeida

No âmbito da colaboração entre metropolitanos, em 1994 a ML ofereceu ao Metrô de São Paulo dois painéis de David de Almeida (1945-2014): As Vias da Água e As Vias

do Céu.

Os painéis, ambos dispostos em tríptico, são também executados em pedra gravada e tintada, tendo David Almeida usado a mesma técnica que Bartolomeu dos Santos. Têm a altura de dois andares (5,60 metros de altura e 12,30 metros de comprimento), são executados no mesmo vidraço de Ataíja que os de Bartolomeu dos Santos e estão expostos no corredor de acesso à mezzanine da estação551, podendo ser observados de cima (ao ar livre e ao nível da rua) ou dentro do corredor subterrâneo552. Também como Bartolomeu dos Santos, David Almeida teve colaboradores: Ana

549

Cfr. Ana João Romana, entrevista concedida a António Canau Espadinha in Desenhar com os Ácidos: a Obra de Bartolomeu Cid dos Santos, vol. III, p. 135.

550

Cfr. Bartolomeu dos Santos, Centro Cultural de Cascais, pp. 92 e 93.

551

Cfr. Roteiro de Arte, in www.metro.sp.gov.br/cultura-lazer/index.aspx, consultado em 25/04/2018, e Enock Sacramento, Arte no Metrô, A&A Comunicação Ltda., São Paulo, 2012, in

www.metro.sp.gov.br, consultado em 09/09/2013, pp. 59-60.

552

Cfr. Paulo Henriques, Arte no Metropolitano de Lisboa, in Um Metro e uma Cidade, vol. 3, p. 196, e João Castel-Branco Pereira, Arte: Metropolitano de Lisboa, p. 143.

Almeida, Inês Almeida, Maria Calheiros, Vítor Casanova, Maria João Dias, Julieta Gomez e Lúcio Lima553.

As Vias da Água (fig. 251), situado de frente para quem sai, refere-se ao

descobrimento do Brasil e às viagens marítimas, estando a pedra desenhada de forma a sugerir a vela de um galeão, regularmente pontuada por uma malha de pequenos quadrados com fitas que parecem corresponder àquelas que indicam a boa mareação da vela554. Ao centro uma caravela chega (fig. 252), à esquerda uma índia observa em terra (imagem retirada de uma gravura francesa do século XVI - fig. 254), a carta de Pero Vaz de Caminha sobre o "achamento" do Brasil555 está à direita, junto ao Diálogo Sobre

a Conversão dos Gentios do Padre Manuel da Nóbrega. O poema de Fernando Pessoa Mar Português556, encontra-se manuscrito e disperso pelo painel em versos soltos, iniciando-se em cima à esquerda e terminando em baixo à direita. Na parte de cima do painel, ao centro encontra-se uma página com a armada de Pedro Álvares Cabral, à esquerda desenhos de Leonardo da Vinci sobre uma embarcação de casco duplo (fig. 253) e à direita a "passarola" do Padre Bartolomeu de Gusmão (nascido em Santos, no Brasil), um engenho voador do século XVIII que não vingou557. Esta máquina voadora faz a passagem para o painel seguinte: As Vias do Céu.

As Vias do Céu (fig. 255) é baseado na chegada de Gago Coutinho e Sacadura

Cabral ao Brasil e na figura de Santos Dumont558. Tal como o painel anterior, este também é marcado por tracejados verticais que não são mais do que as costuras com que se cosiam os dirigíveis e as asas dos aeroplanos559 que Santos Dumont inventava. A chegada dos portugueses encontra-se em baixo à esquerda e é a transposição de uma fotografia da época, a que se juntam as assinaturas dos aviadores, na vertical (fig. 256).

553

Cfr. Margarida Botelho e Pina Cabral, Painéis para a Estação Conceição do Metrô de São Paulo, Metropolitano de Lisboa, 1994, ISBN 972-95792-5-3, pp. 5 e 13.

554

Não parecendo cordões para atar a vela, como referem João Castel-Branco Pereira in Arte: Metropolitano de Lisboa, p. 144, e Margarida Botelho e Pina Cabral, op. cit., p. 12.

555

Cfr. p. 102 supra.

556

Ó mar salgado, quanto do teu sal / São lágrimas de Portugal! / Por te cruzarmos, quantas mães choraram, / Quantos filhos em vão rezaram! / Quantas noivas ficaram por casar / Para que fosses nosso, ó mar! / Valeu a pena? tudo vale a pena / se a alma não é pequena / Quem quer passar além do Bojador / Tem que passar além da dor. / Deus ao mar o perigo e o abismo deu, / Mas nele é que espelhou o céu (cfr. arquivopessoa.net/textos/2405, consultado em 08/09/2013).

557

Cfr. Margarida Botelho e Pina Cabral, op. cit., p. 11, Paulo Henriques, Arte no Metropolitano de Lisboa, in Um Metro e uma Cidade, vol. 3, p. 197, e João Castel-Branco Pereira, op. cit., p. 144.

558

Alberto Santos Dumont (1873-1932) foi um aviador brasileiro e inventor de objetos vários, designadamente o relógio de pulso, tendo investigado também na área da aeronáutica.

559

Em cima veem-se o aeroplano XVI bis de Santos Dumont e desenhos de Leonardo da Vinci sobre o voo das aves. À esquerda, em baixo, o retrato de Santos Dumont, acompanhado da respetiva assinatura (fig. 256) e em cima o balão Brésil por si inventado. À direita, os desenhos e fórmulas do seu dirigível nº 9560 (fig. 257). Ainda figura uma inscrição dedicada ao piloto de automóveis brasileiro Ayrton Senna561, falecido durante a execução dos painéis — Ayrton: hoje foi a sua vez de cumprir o

cumprir o céu. 1 de Maio de 1994562. Assim se juntou aos demais heróis representados nos painéis.

Se bem que fruto de uma investigação temática cuidada, estes painéis não podem deixar de recordar os de Bartolomeu dos Santos. Com efeito, este haveria de reprovar a David de Almeida o facto de este ter usado a sua técnica sem autorização563.

560

Cfr. Margarida Botelho e Pina Cabral, Painéis para a Estação Conceição do Metrô de São Paulo, pp. 24 e 26, Paulo Henriques, Arte no Metropolitano de Lisboa, in Um Metro e uma Cidade, vol. 3, p. 197, e João Castel-Branco Pereira, Arte: Metropolitano de Lisboa, p. 144.

561

Foi três vezes campeão mundial na categoria de Fórmula 1 e morreu em consequência de um acidente em pista, durante o Grande Prémio de S. Marino, com apenas 34 anos.

562

Cfr. João Castel-Branco Pereira, op. cit., p. 147, e Paulo Henriques, op. cit., p. 197.

563

Capítulo 6 - O Papel Assumido Pelo Metro de Lisboa