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Capítulo 2 O Metropolitano de Lisboa Como Local de Exposição de Arte

2.3. Outras intervenções artísticas e culturais patrocinadas pela ML

Mas a intervenção da ML no campo da arte e da cultura não se resumiu apenas à animação das estações. De facto, após o início da expansão dos anos 80, a ML tem patrocinado muitas iniciativas artísticas e culturais, tanto na cidade de Lisboa como noutras cidades do mundo, o que levou Simonetta Luz Afonso a escrever que o

Metropolitano de Lisboa tem-se destacado como caso exemplar de ligação entre o mundo empresarial e o mundo da cultura155.

Pouco mais de um ano após a inauguração das quatro novas estações, a ML comemorou 30 anos de exploração (em 29 de dezembro de 1989). Para assinalar a data, ofereceu à cidade de Lisboa um painel de azulejos reproduzindo uma obra de Maria Helena Vieira da Silva, com uma vista sobre Lisboa antiga, que foi colocado no exterior da entrada da estação Cidade Universitária junto à Reitoria da Universidade156 (fig. 65). Alguns anos passados, e para marcar a conclusão da perfuração do túnel de ligação entre o Cais do Sodré e a Baixa-Chiado, em agosto de 1995 a ML volta a oferecer uma obra à cidade, desta vez um conjunto escultórico de grandes dimensões denominado Ribeira das Naus, de João Charters de Almeida, que traz para a superfície a lembrança geométrica da estrutura dos túneis e da tuneladora que os construiu. O conjunto ficou instalado na Ribeira das Naus, na margem ajardinada do rio Tejo, local não distante do traçado do túnel e, ao mesmo tempo, onde há 500 anos se situava o estaleiro naval que construía as naus que partiam para os novos mundos157. Entretanto, tal conjunto foi deslocado, encontrando-se hoje na Alameda da Universidade, servindo como pórtico de entrada da cidade universitária (fig. 66).

Também no âmbito da comemoração dos 30 anos de exploração, em 1990 a ML promoveu ainda, em colaboração com o Museu Nacional do Azulejo, a exposição

Azulejos no Metropolitano de Lisboa158, bem como a publicação de um livro com o

155

Cfr. Isabel Carlos e Margarida Mira, Encenar a Cidade: Intervenções Artísticas nos Tapumes das Obras do Metropolitano de Lisboa, Metropolitano de Lisboa, 1994, ISBN 972-95792-6-1, p. 9.

156

Cfr. Maria Fernanda Rollo, Um Metro e Uma Cidade, vol. 2, p. 195.

157

Cfr. Paulo Henriques, Arte no Metropolitano de Lisboa, in Maria Fernanda Rollo (coordenação), Um

Metro e uma Cidade, vol. 3, p. 195, e Maria Fernanda Rollo, op. cit., vol. 1, p. 268.

158

mesmo título159.

Foi realizada uma mesa redonda dedicada ao tema A Arte nos Espaços Públicos, em janeiro de 1991, moderada pelo pintor Fernando Azevedo e que deu origem à publicação de um número especial da revista do Clube 50, com o título A Arte no

Metro160.

Em colaboração com o Instituto Português de Museus e no âmbito da Lisboa 94

Capital Europeia da Cultura, a ML inaugurou o Museu da Música na estação Alto dos

Moinhos, em 26 de julho de 1994.

A ML organizou a Junction'96, terceira conferência internacional sobre arte e os transportes públicos, que teve lugar de 28 de setembro a 1 de outubro de 1996161, na sequência das anteriores conferências de 1992 em Wakefield (Reino Unido) e de 1994 em Bruxelas162.

2.3.1. Os tapumes

Por sua vez, as obras de melhoramento e expansão da rede continuaram a ser uma constante, sendo protegidas pelos inevitáveis tapumes. Com o fim de compensar os cidadãos pelos incómodos e sempre no intuito de divulgar a arte contemporânea, e também no âmbito da Lisboa 94 Capital Europeia da Cultura, a ML convidou artistas para intervir nos tapumes das obras163. Em 1994, as maquetas das intervenções tiveram direito a uma exposição no Museu do Teatro, bem como à publicação do livro Encenar

a Cidade: Intervenções Artísticas nos Tapumes das Obras do Metropolitano de Lisboa164.

Estas intervenções tiveram como objetivo minorar o impacto negativo de obras

de reestruturação em zonas chaves da cidade (...) de forma a que os habitantes tenham uma contrapartida positiva dessa destruturação do meio urbano165. Esta aproximação

159

Da autoria de João Castel-Branco Pereira (cfr. bibliografia anexa à presente dissertação).

160

Cfr. Maria Fernanda Rollo, Um Metro e Uma Cidade, vol. 2, p. 204, e bibliografia anexa à presente.

161

Cfr. ibidem, p. 315, nota 143 e bibliografia anexa à presente dissertação.

162

Cfr. Marianne Ström, O Seguimento da Junction na Arte e os Transportes Públicos, in Junction '96:

Conferência Mundial sobre a Arte e os Transportes Públicos, Metropolitano de Lisboa, 1996, s/ ISBN,

p. 305.

163

Cfr. Simonetta Luz Afonso, Encenar a Cidade: Intervenções Artísticas nos Tapumes das Obras do Metropolitano de Lisboa, p. 9.

164

Cfr. bibliografia anexa à presente dissertação.

165

ao público e a intenção de alguma forma o compensar pelos incómodos das obras vem já dos inícios do metro, com as janelinhas iniciais e o Jornal do Mirone. Todavia, tendo o metro passado a integrar a vida dos lisboetas e não sendo a sua expansão novidade, as obras já não suscitavam a mesma curiosidade, tanto mais que Lisboa nos anos 90 tinha bem mais para oferecer ao público do que nos anos 50, pelo que o entretém de ir ver as obras já conhecera melhores dias.

Pretendeu-se, por mais esta via, levar a arte contemporânea ao grande público, ao transeunte que passa despreocupado na rua e que, na maior parte das vezes, não frequenta as galerias e os museus. E se tal é verdade ainda hoje, em 1994 esse distanciamento era ainda maior, pelo que se aproveitou a visibilidade dos tapumes e a sua intrusão na vida quotidiana para levar a arte ao público, transformando tanto quanto possível o incómodo numa vantagem. As intervenções foram as seguintes166:

 Leonel Moura, no Rossio (fig. 67);

 Pedro Proença, na Baixa (Rua da Vitória) (fig. 68);

 Ferreira Rocha, na Ribeira das Naus (fig. 69);

 Fernando Calhau, na Avenida 24 de julho (perto da Praça da Ribeira) (fig. 70);

 José Nuno da Câmara Pereira, no Chiado (fig. 71);

 Fernanda Fragateiro, na Rua Mouzinho da Silveira (fig. 72);

 Luís Pinto Coelho, no Marquês de Pombal (fig. 73);

 António Campos Rosado, em Carnide Ocidental (perto da atual estação Colégio Militar-Luz) (fig. 74);

 Gracinda Candeias, em Carnide Oriental (perto da atual estação Carnide) (fig. 75);

 Manuel San-Payo, na Pontinha (fig. 76).

2.4. A continuação do melhoramento e da expansão da rede: as intervenções