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Tempo passado, tempo presente que faz percorrer meandros do ensino e a escola entre mundos indígenas e o mundo do wace.

Eu sempre estudei em escolas públicas do wace na cidade, não tive a oportunidade de estudar na escola da aldeia, pelo fato, como já introduzido anteriormente, para a continuidade do estudo das minhas irmãs, o meu pai comprou uma casa na cidade, próxima da aldeia.

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Moramos quatro anos na cidade de Barra do Bugres devido a um fato trágico, uma situação triste que aconteceu com meu pai na cidade, o qual ficou muito tempo no hospital e em tratamento. Aos pouco o meu pai foi recuperando a saúde e tivemos que retornar para a aldeia, devido a esse fato, os parentes e as pessoas da comunidade disseram para nós retornarmos para a aldeia. No entanto, neste período que fomos morar na cidade, que comecei a estudar, possivelmente entre seis a sete anos. Iniciei os estudos nas escolas públicas, sendo a Escola Estadual de 1º Grau “Julieta Xavier Borges”, estudei o ensino fundamental que era denominado a 1ª, 2ª e a 3ª série, e na Escola Estadual de 1º Grau “José Ourives”, estudei a 4º série e as séries subsequentes, a 5º, 6º e 7º série nesta referida escola e, posteriormente, a 8º série e o ensino médio concluí na Escola Estadual de 1º e 2º Grau “Júlio Muller”.

Conforme informações da minha irmã Edna, o nome das escolas públicas na qual nós estudamos a Escola Estadual de 1º e 2º Grau “Júlio Muller” e a Escola de 1º Grau “José Ourives”, esses nomes foram de pessoas que tiveram uma representação política, o Júlio Muller foi prefeito e governador da capital de Cuiabá, o José Ourives foi comerciante, professor e prefeito da cidade de Barra do Bugres, entre o período de 31/01/55 a 31/01/59, possivelmente por esses fatos que nomearam as escolas, uma forma de homenageá-los.

Foi uma experiência boa, mas, ao mesmo tempo sentia estranhamento a esse mundo totalmente oposto da realidade da aldeia. Foi uma aprendizagem tradicional em que visava aprender a ler, a escrever e dominar as quatro operações.

O ensino muito diferente estava centrado aos saberes e costumes dos não indígenas, escrita, leitura, as quatro operações (subtração, adição, multiplicação e divisão) e a tabuada, tinha que repetir esses conteúdos. As disciplinas era o português, matemática, ciências, ciências sociais e ensino religioso. Os conteúdos não abordavam sobre questões dos povos indígenas.

O professor ou a professora era o centro de tudo, do saber, o saber era transmitido e o estudante tinha que ouvir e aprender, ou seja, memorizar os conteúdos, contas e formúlas. Os estudantes seguiam uma postura, uma disciplina, antes de entrar na sala de aula, fazia fila para hastear a bandeira e cantar os hinos, em seguida, todos seguiam em fila para dentro da sala, as cadeiras eram em fileiras. A professora tomava a tabuada todos os dias ao entrar na sala de aula, tínhamos que obedecer as regras e estar atentos às explicações.

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Durante o intervalo das aulas, os alunos seguiam em fila para pegar a merenda, tenho vaga recordação no que se se refere à merenda escolar na escola da cidade, mas, acredito que era a hora mais legal para todos. A merenda era servida numa cuia de plástico de cor azul, geralmente o que era servido o arroz com carne seca, sopa de macarrão, chá, bolacha e Toddy achocolatado.

Veio à tona duas situações que me marcaram nessa época de hastear a bandeira nacional, antes de começar a aula todos iam ao pátio da escola, para fazer esse ato, em seguida cantavam o hino nacional e do município com postura e respeito. Outro momento foi a foto que tirei quando estava na 4ª série e estudava na escola “José Ourives”, foi uma lembrança da minha vida escolar, foi feito um quadro de lembrança.

Na foto, está atrás de minha imagem a bandeira do Brasil e do Estado de Mato Grosso, eu na frente com uma placa que está escrito “4ª série B” e nas laterais constam vários livros e o globo terrestre mostrando o mapa do mundo, além de uma frase com os seguintes dizeres: “Da escola sou estudante, da professora a lembrança, da mamãe e do papai sou o Amor, do Brasil a Esperança”. Segue a foto:

Fotografia 1: Lembrança da minha vida escolar

Essa fotografia é da minha infância, quando estava finalizando a 4º série do ensino fundamental, na época e no lugar, as fotografias eram tiradas em ocasiões solenes. Nesta imagem, gravada no papel e na lembrança, a criança uniformizada deixa de ter atributos

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singulares. Ela é parte de um todo. O Brasil. No mundo wase, para a criança só existem algumas pessoas, um homem, o pai, e duas mulheres, a mãe e a professora, e a instituiçãoescolar.

Essa frase me faz refletir e analisar vários contextos que foram percorridos na minha trajetória de vida, não imaginava passar entre conquistas, aprendizagem, decepções, discriminação, desafios e superação e por estar aqui neste âmbito acadêmico.

Nesse sentido, da escola até os dias de hoje sou uma estudante que caminha entre mundos, mundo indígena e o não indígena em busca de conhecimento e de diálogo que versa a fomentação da pluralidade e saberes culturais. Da professora, acredito que sou lembrança. Nessa trajetória me marcou um professor que era muito bravo, dava aula de história, eu tinha muito receio dele, como os demais colegas, pois, quando fazíamos atividades erradas, ficava muito bravo e era rígido com a turma, o lema dele era “ler, quando cansar de ler, leia novamente”. Dos meus pais sou o amor, para mim eles são a inspiração que me proporcionaram exemplo de vida que fortifica a minha caminhada. Fizeram de tudo para dar uma boa qualidade de vida e, principalmente, o estudo, que segundo eles era e é importante para as suas filhas. E do Brasil, a esperança, durante esse percurso da vida escolar, tenho contribuído perante a minha comunidade na área de educação atuando como professora na formação de ensinar e compartilhar os diferentes saberes para as crianças e jovens da aldeia, para que sejam cidadãos críticos e ativos diante a sua realidade interna e externa a aldeia.

A escola é um espaço que versa a aprendizagem e interação, porém, por outro lado, nos modela de forma egoísta e individualista. Eu sempre fui uma estudante que estive num patamar razoável, não sendo a melhor e nem ruim, mas, num limite de fazer o melhor nas atividades e, principalmente, em comportamentos para almejar os meus objetivos.

Neste percurso, enfrentei muitos desafios para estudar e dar a continuidade aos estudos. Assim como muitos jovens indígenas tive que me ausentar da aldeia por um determinado tempo para estudar. Foi um período muito difícil e complexo para mim, porém, por outro lado, muito significativo na busca de conhecimento para o meu próprio desenvolvimento e aperfeiçoamento, seja pessoal e profissional, e para a minha comunidade.

Ao retornar para a aldeia, nós não deixamos de frequentar a escola na cidade. Para continuar os estudos, fazíamos diariamente o longo e demorado percurso entre a aldeia e a cidade de Barra do Bugres para chegar até a escola, o que implicava cruzar o rio Paraguai

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de barco em qualquer estação, de trator, andando pela estrada, a cavalo e, às vezes, de uma caminhonete que a comunidade tinha conseguido na época para transportar os estudantes.

Neste período, eu já estava na 5ª série e passei a ir junto com os demais estudantes que iam continuar as séries seguintes. Todos os dias da semana fazíamos esse trajeto, muitas vezes chegávamos tarde da noite em casa. Esse ritmo era para ir à escola, pois, na aldeia não havia o ensino fundamental de 5ª a 8ª série e, para continuar os estudos, os estudantes tinham que ir para a cidade adquirir novo conhecimento e estudar.

No princípio, o transporte era um trator vermelho, tinha um motorista do trator que era indígena e levava os estudantes. Saíamos às onze horas da manhã, o trajeto da viagem era em torno de uma hora até a margem do rio Bugres. A margem da estrada continha muitas matas e curvas, ao chegar à margem do rio, atravessávamos por meio de uma canoa para chegar do outro lado, que é a cidade, caminhávamos até chegar à escola. As aulas iniciavam às 13h00 e terminava às 17h00.

Quando o trator estragava, para não faltar à aula, encontrava outros meios de transporte, como ir a cavalo, a pé na estrada entre as matas da aldeia, seja com sol ou na chuva. Havia também um barco que transportava os estudantes para a escola na cidade, principalmente na época das enchentes. Durante a enchente íamos de barco, pois, o rio ficava alagado e o único meio de transporte era o barco com motor 25 Yamar. Essas idas e vindas de barco era divertido, mais ao mesmo tempo todos corríamos risco e perigo do barco emborcar no rio, algumas vezes chegávamos altas horas em nossa casa.

Éramos em torno de dez ou mais estudantes que estudavam nas escolas públicas de Barra do Bugres, dentre elas a Escola Estadual de 1ª e 2ª Grau (EEPG) “Júlio Muller” e a Escola Estadual de 1ª Grau “Jose Ourives”. Ressalto que estudei a 5ª e a 7ª série na Escola Estadual de 1ª Grau “Jose Ourives” e a 8ª série do ensino fundamental concluí na Escola Estadual de 1ª e 2ª Grau “Júlio Muller”.

O ensino era tradicional durante esse período, como já mencionado acima, o professor era o detentor do conhecimento e do saber, ao aluno só cabia obedecer, não tinha direito de expor suas ideias e pensamentos, o eixo principal era aprender a ler e a escrita, tinha que saber, ou seja, memorizar a tabuada e as quatro operações: adição, subtração, multiplicação e divisão. Todos os dias fazia a leitura e tomava a tabuada, copiava os textos do quadro negro e se exercitava para ter uma boa caligrafia.

Com relação às disciplinas de história, ciências, estudo sociais, geografia e ensino religioso estudava o que estava nos livros didáticos. Não havia nada que abordava a questão

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dos povos indígenas, como de fato é a realidade indígena, havia a abordagem da história dos povos indígenas de forma pejorativa e generalizada, parte da visão dos não indígenas, esse era o ensino, o que se aprendia nesta área era “quem descobriu o Brasil?”. Era uma pergunta que estava nas provas e aprendíamos que era o Pedro Alvares Cabral que descobriu o Brasil.

A princípio não questionava, pois, era o ensino, só mais tarde, depois, através de outros estudos, leituras, encontro com a mente mais aberta foi saber e refletir sobre essa pergunta, que na verdade, o Brasil foi invadido e não descoberto, pois, as populações indígenas já estavam aqui há muito tempo, e que o Brasil foi invadido pelos colonizadores na época da expansão da América. Começo a entender e a questionar a forma como a história é abordada nos livros didáticos e saber realmente a história e, principalmente, a diversidade e pluralidades das culturas indígenas existente no território brasileiro.

Durante esse período de estudo escolar, entre a 5ª e a 8ª série, sucederam muitas situações, como citado anteriormente, de idas e vindas, momentos difíceis e fáceis entre a estrada da aldeia até a cidade, neste trajeto da vida escolar, recordo-me de fatos que aconteceram, destaco três que ficou marcado.

O primeiro fato foi que em certo dia, que não tinha o trator, quer dizer o trator estragou e não tinha como ir para a cidade, então, eu e a minha irmã Edineth fomos de cavalo para a escola, ou seja, fomos a cavalo até a beira do rio Bugres, depois atravessávamos e íamos caminhando à escola. No caminho, íamos tranquilas na estrada, amontadas no cavalo, em certo momento, a minha irmã bateu com chicote no cavalo para ele correr, e assim, o cavalo começou a correr numa grande velocidade, assim, quando menos esperávamos, nós caímos do cavalo. Sabe, foi uma caída brusca, quando demos conta já estávamos no chão, então, caímos do cavalo, mas, ainda bem que nós não nos machucamos neste impacto brusco que tivemos, foi um desespero, e por outro lado, a maior risada. Assim, tivemos que continuar a viagem até chegar ao destino que era a escola, numa gargalhada intensa do fato acontecido.

A segunda situação foi que em certo dia fomos de carro, o qual a comunidade tinha conseguido. A ida para a escola foi tranquila, chegamos à escola, assistimos às aulas. Ao retornar para a aldeia, estávamos no ponto esperando o carro, quando de repente tivemos a informação de que o mesmo estava na oficina sendo consertado. E agora, o que fazer? Então, ficamos pensando e cada um falou sobre pegarmos carona. Já era ao entardecer, então fomos próximo da ponte do rio Paraguai na estrada da Br para pegar a carona para

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irmos embora. Ficamos em grupo, acenando com a mão para ver se algum carro parava para nos dar carona. Alguns conseguiram pegar, mas, o grupo que eu estava não conseguiu, os carros passavam, mas não paravam. Já estava ficando escuro e resolvemos andar na estrada e acenar para os carros, e nada. Num determinado momento, caminhando e ao mesmo tempo acenando para os carros, isso já à noite, alguém da turma jogou pedra num carro que passou, só escutamos um barulho, quando menos esperávamos o carro parou, e saímos todos correndo pelo mato, no maior desespero, entre matos, cipós e espinhos, na maior correria. Ficamos com medo e saímos correndo no meio dos matos, isso foi algo que fizemos devido ao fato de que nenhum carro havia parado, e foi isso o que aconteceu, ficamos uma hora no mato, esperando o carro sair, depois voltamos na estrada com medo, foi até que continuamos andando e decidimos não pegar mais a carona, e fomos a pé, chegando tarde da noite em nossas casas. Uma noite, estava escuro e tenso, mas, por fim, chegamos à aldeia.

Outra situação que aconteceu neste trajeto de estudo entre a aldeia e a cidade foi o acidente de carro (Toyota), eu estava fazendo entre a 6ª ou a 7ª série, situação em que aconteceu esse trágico acidente com a gente, estudantes indígenas. Neste período, a comunidade tinha conseguido um carro (Toyota) para transportar os estudantes, visto que a cada ano que passava estava aumentando os estudantes para estudar na Barra, me parece que esse carro foi adquirido pela Fundação Nacional do Índio (Funai), pois, na época, como já citado anteriormente, havia um motorista indígena que era funcionário do órgão, logo, em seguida, com a reivindicação da comunidade, conseguiram esse carro para transportar os estudantes, assim, como para as demais pessoas da comunidade que iam fazer compras e outras necessidades na cidade.

Num certo dia, ao retornar da escola para a aldeia, já saindo da cidade, na estrada, aconteceu o acidente com o carro que estávamos. A Toyota estava lotada, estávamos conversando entre nós, quando de repente aconteceu, foi tão rápido que não me lembro de nada, eu desmaiei, só fui sentir meu corpo quando estava no hospital. Lembro vagamente que estávamos conversando, quando ouvi um barulho e gritos de todos, o carro saiu do asfalto e caiu num buraco. Foi àquela gritaria e desespero, alguns estudantes foram jogados no asfalto, eu e dois colegas ficamos presos, estávamos na frente junto ao motorista, com a queda, o vidro do para-brisa do carro quebrou e nos atingiu gravemente, eu praticamente não vi nada, só ouvi gritos e barulho, e nada mais.

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Os estudantes disseram que o motorista perdeu o controle do carro e então aconteceu o trágico acidente, e que o mesmo tinha ingerido bebida alcoólica. Assim que aconteceu, veio à ambulância para dar assistência e, levando os mais feridos para o hospital. Eu fui uma das estudantes que ficou mais ferida e machucada, até hoje tenho cicatriz do acidente no meu braço direito e na barriga. Fiquei muito tempo em tratamento no hospital, aos poucos fui recuperando a saúde e tentando voltar à vida normal.

Esse acidente foi um fato trágico que aconteceu, e hoje ainda tenho essas cicatrizes. Sou grata por não ter ocorrido morte neste acidente, apenas ferimentos graves, mas, graças aos espíritos, fui recuperando a saúde e superando, melhorando a cada dia. Nós estudantes, que estávamos, somos gratos a Haipuku, por ter nos livrado e por oportunizar o renascimento pela vida, por estar contando e escrevendo essa história e outras tantas histórias vividas de desafios e superação.

Para mim foi muito complexo recordar e lembrar esse momento e descrever esse fato na íntegra, mergulhar nas memórias é um desafio, um desafio que estou exercitando para refletir e narrar à trajetória da minha vida escolar.

O tempo foi passando e durante esses quatro anos de estudos no ensino fundamental se sucederam esses fatos que foi relatado acima e, por fim, finalizei a 8ª série do ensino fundamental na Escola Estadual de 1º e 2º Grau “Júlio Muller”, e no próximo ano seguinte, ficava pensando, e agora? O que fazer? Dar continuidade aos estudos?

Neste período houve algumas mudanças boas em relação ao transporte escolar, a comunidade tinha conseguido uma caminhonete para levar os alunos para a escola, ressalto mais uma vez que a cada ano que passava havia aumento de estudantes e que estava indo estudar na cidade, muitos queriam continuar, e passavam a fazer esse trajeto para ter acesso à educação.

Na fase do estudo do ensino fundamental, foi uma experiência centrada no ensino tradicional, complexo, com receio, estranhamento, mas, também de aprendizagem de acordo com aquele contexto, sempre me esforcei, fui uma estudante que não reprovei em nenhuma série, dediquei em estudar e realizar as atividades propostas, nas provas às notas era razoável, de forma que conseguia superar e passar com excelentes notas de uma série para outra. Essa fase me proporcionou princípios de desvendar e navegar em espaços distintos de aprendizagem e conhecimento.

E no ano subsequente, seria uma nova etapa escolar a ser percorrida novamente, iria cursar o ensino médio. E para continuar os estudos no ensino médio, havia os seguintes

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cursos: o ensino médio profissionalizante, o propedêutico, administração, contabilidade e o magistério. Enfim, o que eu queria fazer era o ensino médio em administração, pois, era o meu sonho, achava bonito e pensava em ser secretária, trabalhar em empresa. Infelizmente não foi possível, o curso era somente no período da noite e, naquele contexto, não tinha como eu ir todos os dias naquele horário devido à falta de condições logísticas e financeiras.

Então, tive que fazer a opção de cursar o magistério, era o único que havia no período vespertino e, para dar continuidade aos estudos, tive que fazer. Nesse período, as minhas irmãs, uma já havia terminado os estudos, que era o magistério, a outra estava em fase de conclusão. A minha irmã mais velha tinha se formado em magistério e a outra irmã estava concluindo o mesmo e, por motivo familiar e pessoal, desistiu do estudo.

Iniciei o curso, íamos todos os dias para a escola na cidade, esse percurso foi durante três anos, juntamente com os demais estudantes indígenas. Com o aumento dos estudantes que ingressavam ao ensino fundamental, a comunidade começou a reivindicar para a Funai e o município, para que dessem assistência, principalmente no transporte escolar. Com muita luta, conseguiram uma caminhonete e, posteriormente, um ônibus escolar da prefeitura, que buscava e trazia os estudantes todos os dias da semana, de 2ª feira a 6ª feira, apesar dessa melhoria do transporte, às vezes acontecia um imprevisto, ou seja, o carro estragava e demorava algumas semanas para ser consertado, para não perder as aulas, os indígenas estudantes davam um jeito de ir por outros meios de transportes para à escola.

Quando comecei a estudar o magistério, foi simplesmente para não ficar parada e continuar os estudos, nunca imaginava que me tornaria uma profissional da educação, eu não queria dar aula, sabia que, posteriormente, teria que fazer o estágio. Este era a parte do currículo que tinha que dar aula e acompanhar um professor dentro da sala de aula com crianças das turmas da 1º a 4º séries iniciais. E uma das dificuldades que tinha, era minha timidez, tinha vergonha de falar na frente e no meio das pessoas, além disso, a dificuldade era a situação financeira, tinha que comprar vários materiais e muitas vezes não tinha condições para comprá-los.

Apesar de todas essas situações e dificuldades relacionadas à questão financeira, logística e de transporte, eu consegui caminhar, estudar e a cada dia ter a superação e enfrentando as barreiras. Diante de tudo, os meus pais sempre me apoiaram e fizeram de tudo para me ajudar e para comprar o que precisava. Eles trabalhavam na roça, faziam