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O Plano Nacional de Educação: avanços e recuos

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POLÍTICAS EDUCACIONAIS E FORMAÇÃO DE PROFESSORES: um olhar sobre a educação rural.

5) Padrões de gestão mercantis da escola.

3.3 A EDUCAÇÃO RURAL NA LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL BRASILEIRA: o discurso e a realidade

3.3.1 O Plano Nacional de Educação: avanços e recuos

O Plano Nacional de Educação - PNE, instituído pela Lei nº 10.172/2001 e respaldado na Constituição de 1988 e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394/96, apresenta nas suas diretrizes três eixos norteadores, a saber: a educação como direito da pessoa; a educação como fator de desenvolvimento econômico e social e a educação como meio de combate à pobreza. Nesses fundamentos estabelece diretrizes voltadas à especificidade da educação para o meio rural, como expressa o relator o Deputado Nelson Marchezan:

A escola rural requer um tratamento diferenciado, pois a oferta de ensino fundamental precisa chegar a todos os recantos do país e a ampliação da oferta de quatro séries regulares em substituição às classes isoladas unidocentes é meta a ser perseguida, consideradas as peculiaridades regionais e a sazonalidade.

Para consolidar essa Diretriz, o Plano Nacional de Educação estabelece entre as metas do Ensino Fundamental, as seguintes:

15- transformar progressivamente as escolas unidocentes em mais de um professor, levando em consideração as realidades e as necessidades pedagógicas e de aprendizagem dos alunos.

16- associar as classes isoladas unidocentes remanescentes a escolas de, pelo menos, quatro séries completas.

17- Prover de transporte escolar as zonas rurais, quando necessário, como colaboração financeira da União, dos Estados e dos Municípios, de forma a garantir a escolarização dos alunos e o acesso à escola por parte do professor.

25- Prever formas mais flexíveis de organização para a zona rural, bem como a adequada formação profissional dos professores, considerando a especificidade do alunado e as exigências do meio.

Mais uma vez a legislação é tímida ao propor a educação para o meio rural, porque é instituída num contexto genérico, não considera a diversidade do campo, como uma exigência a ser cumprida no que se refere à especificidade e às expectativas dos sujeitos que ali vivem e trabalham.

Em síntese, conforme observa Henriques et al. (2007, p.17), o Plano Nacional de Educação (PNE) ao estabelecer entre as suas diretrizes o “tratamento diferenciado para a escola rural”, porém, na prática a prioridade não é estabelecida, por isso, que:

[...] a organização do ensino em séries, a extinção progressiva das escolas unidocentes e a universalização do transporte escolar. Observe-se que o legislador não levou em consideração o fato de que a unidocência em si não é o problema, mas a inadequação da infra-estrutura física e a necessidade de formação docente especializada exigida por essa estratégia de ensino. Por outro lado, a universalização do transporte escolar, sem o necessário estabelecimento de critérios e princípios, gerou distorções, tais como: o fechamento de escolas localizadas nas áreas rurais e a transferência de seus alunos para escolas urbanas; o transporte de crianças e adolescentes em veículos inadequados e sucateados; e a necessidade de percorrer estradas não pavimentadas e perfazer trajetos extremamente longos.

Diante dessa ambigüidade, Estados e Municípios vêm adotando para as escolas isoladas a estratégia da nucleação com as escolas multisseriadas, a fim de baixar os custos da sua manutenção sob o argumento não só de melhorar as condições de ensino, como de ampliar as oportunidades para alunos e professores do meio rural. Todavia, esses problemas aumentam com o transporte escolar para o município para o deslocamento dos alunos até a escola nucleada, que em geral, fica na cidade. Acerca desta dificuldade cabe ainda ressaltar, como observa Leite (1999, p. 56), que “são raros os municípios que se dispõem a um trabalho mais aprofundado e eficiente, devido à ausência de recursos financeiros, humanos e materiais, para tanto.”

Com relação à Educação Profissional para o meio rural, prevista no Plano Nacional de Educação (PNE) as metas são as seguintes:

12- reorganizar a rede de escolas agrotécnicas, de forma a garantir que cumpram o papel de oferecer educação profissional específica e permanente para a população rural, levando em conta seu nível de escolarização e as peculiaridades e potencialidades da atividade agrícola na região.

13- estabelecer junto às escolas agrotécnicas e, em colaboração com o Ministério da Agricultura, cursos básicos para agricultores, voltados para a melhoria do nível técnico das práticas agrícolas e da preservação ambiental, dentro da perspectiva do desenvolvimento auto-sustentável.

O caráter profissionalizante também está assegurado no Plano Nacional de Educação (PNE) quando, ao tratar da educação de jovens e adultos, prevê que o Estado deve:

2. Assegurar, em cinco anos, a oferta de educação de jovens e adultos equivalente às quatro séries iniciais do ensino fundamental para 50% da população de 15 anos e mais que não tenha atingido este nível de escolaridade.

3. Assegurar, até o final da década, a oferta de cursos equivalentes às quatro séries finais do ensino fundamental para toda a população de 15 anos e mais que concluiu as quatro séries iniciais.

5. Estabelecer programa nacional de fornecimento, pelo Ministério da Educação, de material didático-pedagógico, adequado à clientela, para os cursos em nível de ensino fundamental para jovens e adultos, de forma a incentivar a generalização das iniciativas mencionadas na meta anterior.

7. Assegurar que os sistemas estaduais de ensino, em regime de colaboração com os demais entes federativos, mantenham programas de formação de educadores de jovens e adultos, capacitados para atuar de acordo com o perfil da clientela, e habilitados para no mínimo, o exercício do magistério nas séries iniciais do ensino fundamental, de forma a atender a demanda de órgãos públicos e privados envolvidos no esforço de erradicação do analfabetismo.

16. Dobrar em cinco anos e quadruplicar em dez anos a capacidade de atendimento nos cursos de nível médio para jovens e adultos.

Deste modo, a proposta para a Educação Profissional de Jovens e Adultos para o meio rural, implementada pelo governo federal contribui para a política educacional do meio rural como forma de promover a agricultura familiar.

O Programa “Saberes da Terra”: Programa Nacional de Educação de Jovens e Adultos para Agricultores/as Familiares integrada com Qualificação Social e Profissional, no âmbito nacional, destinado, de acordo com MEC/SECAD/SETEC (2005, p.4,) “a desenvolver uma política que fortaleça e amplie o acesso e a permanência de jovens agricultores (as) familiares no sistema formal de ensino, oferecendo oportunidades de qualificação social e profissional e o desenvolvimento e da cidadania”, com atendimento a jovem na faixa etária de 15 a 29 anos vem ao encontro dos objetivos e metas proposto pelo PNE, o que contribui para esses jovens tenham a possibilidade dar continuidade nos seus estudos.

Ainda com relação ao PNE, pode-se dizer que, embora não dedique uma seção particular para a Educação Rural, as ações propostas não são acompanhadas das provisões financeiras que permitam sua viabilidade, visto que o PNE elaborado pela base governista e

e a progressivo abandono da responsabilidade de manter e desenvolver o ensino. As responsabilidades são transferidas para a sociedade civil, o que estabelece uma conexão entre estes pressupostos e as recomendações do Banco Mundial, que induz os sistemas de ensino à descentralização.

Cabral Neto (apud. BRZEZINSKI, 2003, p. 30), ao analisar o termo descentralização, percebe nele um sentido duplo que expressa assim:

[...] a) como um mecanismo de redistribuição de poder entre o Estado e a sociedade civil para a edificação de mecanismos de participação popular que permitam influenciar nos processos decisórios e no controle de execução de tais decisões; b) como uma estratégia de desconcentração de tarefas, representando uma transferência de responsabilidades sem, contudo, redistribuir o poder decisório.

Na continuidade do pensamento desse autor, fica clara a idéia de que o governo assume aspectos reguladores da política educacional e delega a execução descentralizada para os Estados e Municípios, exercendo assim, de longe, o controle do sistema escolar, do financiamento, bem como da política de avaliação que estabelece para todos os níveis de ensino, caracterizando assim, uma política de centralização e desconcentração de tarefas e não de descentralização de poder.

Essas medidas delineadas no Plano Nacional de Educação, mais uma vez deixou de entrever que peso dos interesses orçamentários é maior que o peso dos interesses da sociedade brasileira, que reivindicava o fortalecimento da escola pública estatal e a plena democratização da gestão educacional, no esforço de universalizar a educação básica. Por isso, é necessária a ampla mobilização dos educadores para uma avaliação deste plano, não só para os educadores participarem da elaboração dos Planos de Educação Estadual e Municipal, mas como forma de alcançarem os avanços almejados por todos.

Em conseqüência a esta análise crítica sobre o Plano Nacional de Educação, no próximo item, se discute a proposta das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação do Professor e a formação do professor rural, com propósito de evidenciar como está sendo pensada a formação deste profissional no contexto atual do desenvolvimento econômico.

3.3.2 Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação do Professor e o

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