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AS REFORMAS EDUCACIONAIS NA AMÉRICA LATINA E NO BRASIL: no contexto das políticas neoliberais

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POLÍTICAS EDUCACIONAIS E FORMAÇÃO DE PROFESSORES: um olhar sobre a educação rural.

3.1 AS REFORMAS EDUCACIONAIS NA AMÉRICA LATINA E NO BRASIL: no contexto das políticas neoliberais

Após a Segunda Guerra Mundial, o mundo passou por uma profunda reorganização no sistema de desenvolvimento econômico, político e social, em cujos rumos o Banco Mundial exerceu influência direta. Segundo Arruda (2000), o Banco Mundial após ajudar na reconstrução da base produtiva dos países afetados pela guerra, por volta das décadas de 1960 e 1970, investe na transnacionalização das atividades dos países centrais, transferindo, gradualmente a força motriz do crescimento econômico dos Estados para as empresas.

Sob esta ótica, é possível descrever as drásticas alterações que a dinâmica do capital provocou na sociedade brasileira, tendo em vista o apetite pela produtividade e o lucro, expresso na compra da força de trabalho, na reforma institucional, na liberalização da política econômica, todas elas medidas exigidas das instituições, organizações e corporações multilaterais, tal como argumenta Ianni (1999, p. 59):

Os fatores da produção, ou as forças produtivas, tais como o capital, a tecnologia, a força de trabalho e a divisão do trabalho social, entre outras, passam a ser organizadas e dinamizadas em escala bem mais acentuada que antes, pela sua reprodução em âmbito mundial. Também o aparelho estatal, por todas suas agências, sempre simultaneamente políticas e econômicas, além de administrativas, é levado a reorganizar-se ou “modernizar-se” segundo as exigências do funcionamento mundial dos mercados, dos fluxos, dos fatores da produção, das alianças estratégicas entre corporações. Daí a internacionalização das diretrizes relativas à descentralização, desregulamentação, privatização, abertura de fronteiras, criação de zonas francas.

Neste sentido, o que se deduz é que, de acordo com este novo desenho da ordem mundial de 1980 à de 2000, o Banco Mundial reorienta as ações de desenvolvimento dos países menos industrializados, atuando como credor inflexível, impondo-lhes ajustes econômicos que priorizem o pagamento da dívida externa. Ou seja, o Banco vem desempenhando papel primordial no processo de reestruturação neoliberal nos países periféricos, por meio de políticas de ajuste estrutural, inclusive na política educacional.

Por isso, pode-se dizer que na prática, como afirma Brzezinski (2000, p. 148):

[...] a competitividade internacional definida pela globalização no novo cenário mundial inclui exigências como a adoção de novas tecnologias, a assunção de atitudes mais flexíveis em relação à refuncionalização do capitalismo e às novas relações de trabalho, o reconhecimento do aumento da produtividade econômica e a aplicação de mecanismos de ajustes financeiros, para tornar o sistema capitalista mais dinâmico. Como conseqüência do fenômeno da globalização excludente e da internacionalização do capital e do trabalho ocorreram profundas modificações que atingiram a economia do continente latino-americano.

Nas reformas para a educação no Brasil, então, este cenário estabelece estreita sintonia com as políticas econômicas e sociais pensadas pelo Banco Mundial com o objetivo de elaborar um modelo educacional que atenda aos interesses das elites do mundo industrializado. Neste contexto, portanto, o principal papel do Banco consiste em assessorar as políticas educativas a serem implantadas no país.

Por isso, a análise das políticas educacionais no modelo neoliberal exige considerar dois aspectos, assim descritos por Bianchetti (1999, p.93):

Em primeiro lugar, as tendências teóricas coincidentes com essa concepção social e que têm relação com a proposta dos objetivos a serem alcançados pelo sistema educativo, no que se refere à formação e capacitação das pessoas. Neste caso, nos referimos às políticas “em educação”, ou seja, às orientações refletidas na estrutura e nos conteúdos do currículo. Elas dependem não só das condições políticas de uma conjuntura histórica, mas também das características e do poder dos grupos hegemônicos [...]. Entre as coincidentes com a filosofia neoliberal, identificamos a ‘teoria do capital humano’ [...]. Essa teoria incorpora em seus fundamentos a lógica do mercado e a função da escola se reduz à formação dos “recursos humanos” para a estrutura de produção. Nessa lógica, a articulação do sistema educativo com o sistema produtivo deve ser necessária [...]. O segundo aspecto refere-se as políticas ‘para a educação’, desenvolvidas pelo governo como parte das políticas sociais que se refletem nas características e funções propostas para o sistema educativo. Neste caso as ações se orientam fundamentalmente à conformação de uma estrutura educacional que seja o veículo de efetivação das exigências do modelo social.

Esses dois aspectos são complementares entre si e, ao mesmo tempo em que abordam a política educacional submetida à lógica do mercado, visam diminuir os gastos com a educação. Assim, de acordo com a concepção neoliberal de Estado, que defende o Estado Mínimo, além de considerar o pertencimento da educação às políticas sociais, e a idéia de que o projeto neoliberal tem como princípio a redução dos gastos sociais pelo Estado, entende-se a lógica da privatização, de que todos devem pagar pelo que recebem, portanto, devem pagar pela própria educação.

Neste sentido, o modelo neoliberal está fundado no princípio da descentralização do estado nacional e do financiamento aplicado no âmbito das políticas educacionais, tal como descreve Bianchetti (1999, p.95): “[...] o marco geral que orienta as políticas para a educação, é a ampliação da lógica do mercado nessa área. Essa lógica coloca a educação como um bem econômico que deve responder da mesma maneira que uma mercadoria.”

O que se percebe na lógica aí descrita é que, para minimizar os gastos públicos com a educação, a melhor alternativa que se apresenta é a da competitividade entre público e privado, da qual a sociedade se apropria da educação de acordo com suas possibilidades financeiras. Em outras palavras, essa lógica afeta a concretização da dinâmica da privatização no campo educacional, pois a correlação entre o sistema educativo e o sistema de mercado

reduz a educação a uma análise econômica, incapaz de cumprir seu papel com o menor custo possível para o Estado.

Por trás de tal proposta existe o rolo compressor neoliberal, que tem como objetivo, de reduzir o papel do Estado frente à obrigação de financiar a educação, deixando tal responsabilidade nas mãos da sociedade civil, por um lado. Por outro lado, o estado permanece com a proposta de centralização no que se refere à distribuição de recursos e ao monitoramento do desempenho escolar em todos os níveis de ensino.

Do exposto, pode-se concluir que o processo acima descrito, não constitui novidade. Ao contrário, tem sido o caminho, por excelência, imposto a todos os países de todos os continentes, inclusive os latino-americanos compelidos a se integrarem ao chamado mundo globalizado.

Na América Latina aexperiência neoliberal inicia-se na década de 1970, nos países com governos ditatoriais, tal como afirma Bianchetti (1999, p. 34):

A irrupção das idéias neoliberais na América Latina acompanha os governos militares instaurados na década de 70 na maioria dos países do Cone Sul30, nos quais, por outra

parte, se vivia uma severa crise econômica como resultado das contradições internas e externas dos modelos econômicos [...]. Essas condições econômicas refletiam a crise de um determinado modelo de desenvolvimento e manifestavam, também, problemas derivados das novas condições econômicas internacionais, dado o tipo de ralação existente entre as políticas dos países centrais e seus efeitos nos países da periferia capitalista.

As relações entre os países desenvolvidos, como os da Europa e os Estados Unidos da América, e os países da América Latina, historicamente foram sempre desiguais, marcados por uma forte dependência desses últimos em relação aos primeiros, o que tem influenciado nas estratégias econômicas e políticas nos países periféricos, entre elas, a educacional.

Lançadas no campo educacional na América Latina, essas idéias neoliberais vêm adequando as reformas educacionais à lógica do mercado, provocando naqueles países, ao mesmo tempo, uma desestruturação e uma reestruturação educativa no que se refere aos campos: político, legal, curricular e pedagógico. De acordo com esses pressupostos, as escolas devem seguir a lógica das empresas que visam à rentabilidade e a eficiência, em especial, no que se refere aos currículos, à avaliação e à gestão educacional, conforme Gadotti (2003, p. 4) apresenta, assim:

1) Conteúdos mínimos e socialmente necessários, verificados através dos exames

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