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O PNAP

No documento Download/Open (páginas 43-45)

Somente em 2006 se lança um Decreto que institui nosso primeiro Plano Estratégico de Áreas Protegidas (Dec. 5.758/2006) atendendo aos compromissos assumidos 14 anos antes pelo Brasil na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento – CNUMAD – de 1992, e considerando que a Convenção sobre Diversidade Biológica “prevê o desenvolvimento de estratégias para estabelecer sistema abrangente de áreas protegidas, ecologicamente representativo e efetivamente manejado, integrado a paisagens terrestres e marinhas mais amplas até 2015”. O destaque do PNAP à participação social na gestão, comparando-se aos instrumentos anteriores, pode ser considerado uma grande evolução. Logo em seu Art. 2º ele infere que “contará com participação e colaboração de representantes dos governos federal, distrital, estaduais e municipais, de povos indígenas, de comunidades quilombolas e de comunidades extrativistas, do setor empresarial e da sociedade civil”. Além de inserir em seus princípios a conservação da diversidade sociocultural, a erradicação da pobreza e das desigualdades regionais, inclui em inciso o princípio da “promoção da participação, da inclusão social e do exercício da cidadania na gestão das áreas protegidas, buscando permanentemente o desenvolvimento social, especialmente para as populações do interior e do entorno das áreas protegidas”, o que é detalhado pelas diretrizes “XI - assegurar o envolvimento e a qualificação dos diferentes atores sociais no processo de tomada de decisão para a criação e para a gestão das áreas protegidas, garantindo o respeito ao conhecimento e direitos dos povos indígenas, comunidades quilombolas e locais, e XII - fortalecer os instrumentos existentes de participação e controle social, bem como os de monitoramento e controle do Estado”. Este trecho pode ser considerado contraditório, visto

44 que valoriza o poder do Estado, quando este, nas práticas de gestão já favorecedoras do mesmo, acaba por ofuscar a participação dos cidadãos comuns. O PNAP (BRASIL, 2006) também incorpora o avanço do “reconhecimento da importância da consolidação territorial das unidades de conservação e demais áreas protegidas”, admitindo-se as dificuldades em se efetivar a implantação das UCs decretadas e seu reconhecimento pelos diversos órgãos administrativos regionais. Este princípio é previsto pela diretriz “XX - incluir a criação de áreas protegidas na formulação e implementação das políticas de ordenamento territorial e de desenvolvimento regional”. Na sua diretriz “VI - as áreas protegidas devem ser apoiadas por um sistema de práticas de manejo sustentável dos recursos naturais, integrado com a gestão das bacias hidrográficas” se preconiza a integração entre as diversas instâncias de gestão territorial dos recursos naturais, o que é complementado por “VII - facilitar o fluxo gênico entre as unidades de conservação, outras áreas protegidas e suas áreas de interstício”, que dá ênfase aos corredores ecológicos e aos mosaicos de UCs. (BRASIL, 2006)

Nos objetivos específicos para planejamento e gestão de UCs do PNAP, coloca-se “b) aprimorar a regulamentação do SNUC em relação à consulta pública, gestão compartilhada, mosaicos, corredores ecológicos, compensação ambiental e categorias de manejo entre outros; c) estabelecer e promover o funcionamento dos conselhos das unidades de conservação; d) solucionar os conflitos de uso dos recursos naturais em unidades de conservação; e) solucionar os conflitos decorrentes da sobreposição das unidades de conservação com terras indígenas e terras quilombolas; f) concluir, no âmbito dos órgãos ambientais, os processos de regularização fundiária de todas as unidades de conservação; g) dotar as unidades de conservação de instrumentos de gestão e infra-estrutura básica de funcionamento; e h) desenvolver e implementar um sistema de fiscalização e controle efetivo para as unidades de conservação”. Estas são justamente as barreiras operacionais encontradas na gestão destes espaços desde a criação do SNUC. O direcionamento de tais afirmativas, com relação aos espaços de governança, deixa transparecer que a gestão participativa através dos instrumentos fomentados (mosaicos, conselhos, consultas etc.) pode ser, na verdade, a manutenção de ambientes de informação, persuasão e concertação de conflitos justamente para “solucionar” os entraves à conservação determinada a priori pelas instituições públicas. Tais ferramentas são instaladas, a princípio, para legitimar a presença das UCs nos territórios, e para fazer funcionar regras e ações previstas nos Planos de Manejo33 específicos de cada UC. Não fica claro, ali, que as diretrizes legais estejam abrindo novos espaços de cidadania e autonomia das populações referentes à administração de seus territórios. Sem proporcionar capacitação política para a construção de ambientes democrático-deliberativos, em que se aceite os conflitos como decorrentes da diversidade cultural e inserção histórica e das desigualdades sociais, dificilmente as concepções levantadas pela PNAP irão constituir em transformação de realidades. “O olhar lúcido e construtivo dirigido à desmistificação do ‘mito conflito’, talvez seja o primeiro passo para a gestão de parques nacionais. Com este entendimento, será então possível um movimento no sentido efetivo de governança democrática.” (IRVING ET all, 2006)

Após estes objetivos, a PNAP define as estratégias para alcançá-los. E ainda “a) adotar medidas políticas, jurídicas e administrativas, entre outras, para aprimorar a integração de unidades de conservação a paisagens terrestres e aquáticas continentais e marinhas mais amplas; e b) garantir o estabelecimento e a manutenção da conectividade entre ecossistemas; lançando-se também as estratégias. Além disso: “a) fortalecer sistemas inovadores de

33 O Plano de Manejo é um documento técnico pertencente e aplicado no âmbito de uma UC que contém o

zoneamento de toda a sua área e da Zona de Amortecimento, com detalhamento de suas características físico- químicas e biológicas, e de suas regras e diretrizes de uso e proteção. Normalmente é elaborado em forma de planejamento para longo prazo do funcionamento da instituição UC, com sua infra-estrutura, equipe e conselhos gestores.

45 governança e aqueles previstos no SNUC; b) fomentar o envolvimento dos diversos setores de governo e da sociedade civil na gestão do SNUC; e c) estabelecer mecanismos que assegurem a participação de comunidades locais, quilombolas e povos indígenas, bem como de outras partes interessadas, no estabelecimento e na gestão de unidades de conservação e outras áreas protegidas existentes”, também com definição de estratégias. Enfatiza, ainda, mais objetivos concernentes à interação e capacitação entre as diversas equipes gestoras e instâncias governamentais, à eficácia da gestão, especialmente em relação à promoção do desenvolvimento sustentável na sua zona de influência, assim como à inclusão social e valorização cultural regional na gestão das UCs, com detalhamento estratégico. (BRASIL, 2006)

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