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5.3 Detalhes Experimentais

5.3.2 O problema da representa¸c˜ao

A representa¸c˜ao relativa (intervalar), utilizada em [1] na Illiac Suite e em [65] para a produ¸c˜ao de contornos mel´odicos das improvisa¸c˜oes de jazz, ´e mais adequada `a produ¸c˜ao e interpreta¸c˜ao de composi¸c˜oes, pois considera que a estrutura das to- nalidades ´e sempre a mesma [89]. Dura¸c˜oes tamb´em podem ser representadas de maneira similar, indicando que h´a escalabilidade no ˆambito dos padr˜oes r´ıtmicos. Essa representa¸c˜ao tamb´em pode ser utilizada para descri¸c˜ao dos indiv´ıduos em um algoritmo gen´etico. Seja ei um evento da composi¸c˜ao; se eie ei+1s˜ao notas, o gene na

posi¸c˜ao i de um cromossomo que represente essa composi¸c˜ao ´e a dupla (Ii,i+1, Di,i+1),

H´a que se tomar cuidado com as pausas, que precisam ser codificadas de maneira diferente — cada pausa ´e uma dupla formada por um s´ımbolo indicativo de pausa e pela dura¸c˜ao da pausa, em representa¸c˜ao absoluta6.

Como j´a foi dito, deseja-se, no presente trabalho, utilizar uma adapta¸c˜ao das medidas heur´ısticas propostas por Towsey et al. [85] como parte de uma fun¸c˜ao de aptid˜ao em um algoritmo gen´etico. Da maneira que s˜ao calculadas, essas medidas n˜ao fazem distin¸c˜ao entre os tipos de representa¸c˜ao que est˜ao sendo utilizados para a composi¸c˜ao. Uma exce¸c˜ao a esse fato s˜ao as medidas de tonalidade. Porque a representa¸c˜ao relativa ´e invariante `a tonalidade e, uma vez codificadas segundo esse esquema, as pe¸cas n˜ao carregam mais informa¸c˜ao de em qual tom foram escritas, esta representa¸c˜ao prejudica a aplica¸c˜ao desse conjunto de medidas. Al´em disso, con- forme indicado no Cap´ıtulo 4, a nota¸c˜ao por intervalos torna por demais complexa a atua¸c˜ao do operador de muta¸c˜ao, que ou altera toda a melodia a partir do gene em que a esta ocorre ou requer uma altera¸c˜ao de dois em dois genes (para corrigir os efeitos de altera¸c˜ao no valor absoluto das notas subsequentes). Dessa forma, uma representa¸c˜ao absoluta dos pitches e, possivelmente, das dura¸c˜oes ´e mais adequada para os indiv´ıduos da popula¸c˜ao do algoritmo gen´etico descrito nesta disserta¸c˜ao.

De acordo com a an´alise preliminar da Se¸c˜ao 5.3.1, os pitches de G3 a G5 (duas oitavas) podem ser codificados pelos n´umeros inteiros 0 at´e 247, enquanto as pausas

assumem o valor 25. Como neste projeto os elementos musicais analisados s˜ao a altura e a dura¸c˜ao de cada composi¸c˜ao, permanece indefinida a representa¸c˜ao deste ´

ultimo. De maneira geral, dois tipos de representa¸c˜ao absoluta para a dura¸c˜ao s˜ao observados na literatura [76]: ordenada (ou expl´ıcita) e posicional (impl´ıcita). No primeiro, o valor da dura¸c˜ao de cada nota ou pausa ´e colocado em uma dupla junto `a representa¸c˜ao do pitch ou da indica¸c˜ao de silˆencio. ´E um exemplo o sistema pro- posto por Papadopoulos e Wiggins [87]. No segundo caso, cada gene ´e um quantum temporal e os alelos indicam ataque de uma nota, sua sustenta¸c˜ao ou pausa. O GenJam de Biles representa os cromossomos dessa maneira [84].

Neste trabalho, n˜ao se deseja empregar operadores de varia¸c˜ao que sejam musi- calmente “inteligentes” e que n˜ao estejam entre os tipos de operadores comumente utilizados nos algoritmos gen´eticos. Nesse caso, a principal diferen¸ca entre as duas formas de representa¸c˜ao reside na propriedade das sequˆencias, que ´e mantida fixa durante os ciclos de gera¸c˜oes. Na representa¸c˜ao ordenada (tamb´em chamada repre- senta¸c˜ao em m´ultiplos “pontos de vista” — “multiple-viewpoint” [31]), o n´umero de eventos ´e mantido constante. O operadores de muta¸c˜ao e recombina¸c˜ao podem alterar a dura¸c˜ao total da composi¸c˜ao, mas n˜ao o n´umero de notas e pausas que

6Se a pausa se encontra na i-´esima posi¸c˜ao, o gene na posi¸c˜ao i

− 1 ´e calculado a partir da rela¸c˜ao entre as notas em i− 1 e i + 1.

7Os valores MIDI de 55 a 79 poderiam ter sido usados sem altera¸c˜ao no desempenho do algo-

ela possui. Para a representa¸c˜ao posicional, o n´umero de quanta ou, mais ainda, o n´umero de compassos, ´e que se determina antes do in´ıcio da execu¸c˜ao. Nesse caso, o operador de muta¸c˜ao ´e capaz de gerar novos eventos em qualquer ponto da pe¸ca. A nota¸c˜ao posicional foi escolhida para este primeiro trabalho em Composi¸c˜ao Al- gor´ıtmica. Nessa representa¸c˜ao, a indica¸c˜ao de sustenta¸c˜ao de uma nota ou pausa ´e feita pelo n´umero 26. O quantum temporal ´e a semicolcheia.

Representa¸c˜ao e a fun¸c˜ao de aptid˜ao

O algoritmo gen´etico proposto ´e multiobjetivo, i.e., al´em da dimens˜ao definida pelas heur´ısticas, h´a uma dimens˜ao comandada por um modelo probabil´ıstico ou grama- tical. A aptid˜ao de um indiv´ıduo x, portanto, ´e um vetor como

f(x) = [f1(x), f2(x)], (5.1)

onde f1(x) ´e a soma ponderada do m´odulo das distˆancias dos valores que x recebe

em cada medida de um conjunto H (que ´e uma adapta¸c˜ao do conjunto de heur´ısticas de Towsey et al. [85]) a um valor de referˆencia dessa medida (calculado do subcorpus de referˆencia, ou matematicamente

f1(x) =

X

i∈ H

wi|Fi(x)− ¯Fi|, (5.2)

e f2(x) ´e a probabilidade de x no modelo de Markov do corpus ou uma medida das

regras gramaticais que o indiv´ıduo x segue.

A defini¸c˜ao da representa¸c˜ao dos cromossomos do algoritmo gen´etico n˜ao exclui a possibilidade de o modelo de Markov e a gram´atica de Kohonen que ser˜ao utilizados (um de cada vez) como restante da fun¸c˜ao multiobjetivo trabalharem sobre uma representa¸c˜ao diferente. Uma fun¸c˜ao de aptid˜ao ´e fun¸c˜ao dos alelos de um indiv´ıduo, bem como de sua disposi¸c˜ao nos genes. Esses valores podem, dentro dessa fun¸c˜ao, ser combinados de maneira arbitr´aria, e a fun¸c˜ao de aptid˜ao n˜ao precisa ser linear. Dessa forma, esses dois modelos podem, internamente, utilizar uma nota¸c˜ao relativa nas sequˆencias que avaliam e, assim, o sistema como um todo pode se beneficiar desta forma de representa¸c˜ao, que, conforme indicado no in´ıcio desta se¸c˜ao, ´e mais adequada para a an´alise de melodias e de ritmos. Se g(x) ´e a fun¸c˜ao que mapeia a representa¸c˜ao absoluta e posicional em uma representa¸c˜ao intervalar, a aptid˜ao de um indiv´ıduo pode ser calculada como:

f(x) = [f1(x), f2(g(x))] = [f1(x), (f2◦ g)(x)], (5.3)

Cap´ıtulo 6

Resultados e Discuss˜oes

A t´ecnica de composi¸c˜ao projetada neste trabalho consiste, segundo visto no Cap´ıtulo 5, em uma combina¸c˜ao de alguns formalismos da Inteligˆencia Artificial usualmente aplicados em Composi¸c˜ao Algor´ıtmica. Os testes da ferramenta desen- volvida foram separados em trˆes grandes tarefas — a composi¸c˜ao de melodias, a composi¸c˜ao de ritmos e a composi¸c˜ao simultˆanea de melodias e ritmos —, cujos resultados s˜ao apresentados e discutidos a seguir. Dentro de cada uma das tarefas, o algoritmo gen´etico ou funciona sozinho ou ´e amparado por outra t´ecnica (modelos de Markov e gram´aticas de Kohonen).

Alguns detalhes da implementa¸c˜ao de cada um desses formalismos tamb´em po- dem ser vistos neste cap´ıtulo.

6.1

Composi¸c˜ao de Melodias

O sistema foi testado, em primeiro lugar, na tarefa de composi¸c˜ao de melodias. As sequˆencias de pitch das cantigas do subcorpus SC51 foram selecionadas para servir

como referˆencia dos dois testes desse tipo. Conforme determinado anteriormente, os pitches s˜ao codificados pelos n´umeros inteiros de 0 a 24, e os n´umeros 25 e 26 representam, respectivamente, as pausas e as sustenta¸c˜oes de eventos. Os dois testes de composi¸c˜ao mel´odica realizados com essas sequˆencias diferem, basicamente, na forma da fun¸c˜ao de aptid˜ao, que pode ser unidimensional ou bidimensional (pro- blema multiobjetivo).