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2.3 A Ciência da Informação

2.3.1 O processo de comunicação científica

Objeto da Ciência da Informação, a comunicação se constitui em parte essencial do processo de desenvolvimento da pesquisa científica e tem por objetivo criar, criticar e contribuir para um consenso racional de idéias, conhecimentos e informações. Assim, os resultados de uma pesquisa somente se tornam completamente científicos quando publicados.

John ZIMAN (1969), em conhecido artigo publicado no periódico “Nature”, ao discorrer sobre o processo de comunicação na Ciência, reporta-se às reflexões de Bernal sobre o estado de complexidade e caos que, já na década de 1930, caracterizava o sistema de comunicação científica22. Afirma Ziman ser este processo, quase que inteiramente dependente da literatura primária, que é portadora de 3 características básicas essenciais: ser fragmentária, derivativa e publicada.

22 Devido à explosão da informação e o crescimento exponencial da pesquisa e de seus resultados, publicados

em documentos diversos.

Excluído: centífica

A fragmentação estaria relacionada ao fato de ser o conhecimento produzido em partes que se inter-relacionam na formação de uma área de saber; a derivação compreenderia o relacionamento intrínseco entre esses trabalhos, fato que pode ser evidenciado pelo estudo das citações, constituindo o fenômeno da intertextualidade, da polifonia; a publicação constituir-se-ia no ato de tornar público o conhecimento, no ato de colocá-lo a disposição da comunidade científica, através de um dos suportes de comunicação disponíveis, para que possa ser avaliado e julgado, somente assim tornando possível sua incorporação ao conjunto de saber que se convenciona chamar uma disciplina, ciência, ou formação discursiva.

De acordo com a Encyclopedia of Library and Information Science (1979, p. 393), a literatura em Ciência e Tecnologia pode ser vista em três níveis hierárquicos de publicações a) as publicações primárias, nas quais novos conceitos são registrados e disseminados; b) as publicações secundárias, que são derivadas das publicações primárias e constituídas pelos processos de indexação, reempacotamento e condensação; c) publicações terciárias que são derivadas de fontes secundárias.

Pode-se melhor entender a estrutura da literatura científica, ao se traçar os caminhos da informação científica de sua geração, como um resultado de pesquisa, até sua publicação em literatura primária, passando por seu aparecimento em serviços secundários e, finalmente chegando à sua eventual integração e compactação em revisões, manuais e enciclopédias.

Constituem-se em publicações primárias: os livros; os artigos de periódicos; os trabalhos apresentados em congressos ou outros eventos similares; relatórios de pesquisas, tanto os oriundos do processo de aperfeiçoamento acadêmico (dando origem às teses de mestrado e doutorado, incluindo-se aqui os trabalhos de livre docência, trabalhos para ascensão na carreira de professor universitário); as pesquisas financiadas pela própria universidade, oriundas de núcleos de pesquisas; as pesquisas financiadas pelos órgão de financiamento, no caso do Brasil as pesquisas com o aporte financeiro do CNPq, da CAPES, FINEP, INEP e outros órgãos de fomento.

Excluído: niveis Excluído: publlicações

Excluído: aquí Excluído: ascenção Excluído: orgão

Convenciona-se classificar os meios de comunicação científica, basicamente, em formais e informais. A comunicação formal seria a que se processa por meio de publicação, tais como os livros e artigos de periódicos. Os canais informais se constituem na primeira forma de comunicação, quando os pesquisadores comunicam oralmente entre si, ou através de outros registros como notas informais, cartas, memorandos, incluindo os novos meios como as redes eletrônicas de telecomunicação; também se constitui em fontes de informação informal primária os livros de notas e diários de pesquisadores.

Ao atingirem determinado estágio de desenvolvimento em suas pesquisas, os pesquisadores preferem se comunicar através dos canais formais que podem se iniciar com as cartas a editores de periódicos especializados, sob a forma das chamadas “comunicações preliminares”, que têm como principal função garantir prioridade, especialmente em campo de pesquisa de ponta, quando o conhecimento é passível de se constituir numa nova invenção ou informação original. Quando o direito de propriedade está envolvido em um conhecimento ou descoberta, nenhuma informação sobre a invenção é tornada pública, pelo menos até a invenção ser protegida por meio de uma patente que, também, é um tipo de comunicação cientifica formal e primária.

PRICE (1966) empreendeu estudos bibliométricos, tendo por objeto os canais informais de comunicação (cartas, conversas em cafés, bares, seminários, conferências, congressos, encontros, etc.), declarando que alguns, mas nem todos os cientistas, em uma área particular de pesquisa, mantêm um alto nível de comunicação informal e que a informação recebida, dessa maneira, seria essencial para a conduta da pesquisa.

Os estudos de redes informais de comunicações entre cientistas revelam a existência de comportamentos sociais típicos, citando-se dentre esses as frentes de

Excluído: etc

pesquisas23, a existência de um tipo de agente da comunicação científica, denominado gatekeeper24 e dos colégios invisíveis.

PRICE & BEAVER (1966) estudaram a vida social da literatura científica levantando padrões de produtividade referentes a trabalhos em colaboração, tendo como base os colégios invisíveis. Esta expressão foi popularizada por Price e se refere a uma elite de cientistas produtivos, que se comportam com um alto grau de interação mútua, dentro de uma área de pesquisa25.

Para melhor compreensão do termo transcreve-se, a seguir, parágrafo do clássico artigo publicado, em 1966, no periódico American Psychological:

“Muitos estudos na área da sociologia da ciência moderna e dos padrões de comunicação de cientistas, hoje concordam que uma das características dominantes é a forma de organização que se tornou conhecida pela expressão ‘colégio invisível’ [Invisible College]26. O nome deriva historicamente de um grupo de pessoas, nos meados do século XVII que mais tarde se organizaram formalmente na Real Sociedade de Londres [Royal Society]. Anteriormente o grupo encontrava-se informalmente e de forma distinta de outros grupos centrados no Wadham College and Gresham College, colégios considerados mais visíveis. Eles comunicavam entre si por cartas, com a finalidade de obter audiência apreciativa para seus trabalhos, para assegurar prioridade e para se manterem informados dos trabalhos que estavam sendo desenvolvidos em outras localidades por outros cientistas. No contexto da estrutura organizacional da Grande Ciência [Big Science], o termo não é tão específico e infelizmente a sua definição e a compreensão tem variado consideravelmente de escritor para escritor” (PRICE and BEAVER, 1966, p. 1011).

23 Em determinadas áreas, dominadas por pequenos núcleos (“cores”) de trabalhadores ativos em relação a uma

grande e fraca população transitória de seus colaboradores (PRICE).

24 Líderes na produção e disseminação de conhecimentos, tal como definido por Jeanette Kremer: “Um

‘gatekeeper’ é um membro-chave de uma rede de comunicação informal que, por causa de certas características

pessoais como liderança, inteligência e experiência no campo, age como um filtro de informação para e dos

outros membros de seu grupo de interesse e pode conectá-los com canais de informação fora da instituição”

(KREMER, 1980).

25 Além do clássico artigo de PRICE and BEAVER e do artigo de Diana CRANE, publicado na American

Sociological Review, em 1969, que teve por objetivo testar a hipótese do colégio invisível, verificando se algo semelhante a uma organização social poderia ser observado numa área de pesquisa. Cita-se também o trabalho de GRIFFITH, Belver C. and MULLINS, Nicholas C., que teve como objeto de estudo fenômenos relacionados a “colégios invisíveis”: Coherent Social Groups in Scientific Change: ‘invisible colleges may be consistent throughout science. Science, v.177, Sept. 1972. A citação desses trabalhos, nesta nota, não tem a pretensão de esgotar a literatura na área, mas apenas de proporcionar alguma informação preliminar sobre o assunto.

26 Entre colchetes nomes mantidos no original inglês, no momento da tradução do parágrafo para esta citação.

Excluído: basee

Excluído: caracteristicas Excluído: conectálos

A identificação dos membros de um colégio invisível seria importante porque permitiria maior conhecimento do processo de comunicação da literatura científica em determinada área, podendo o nível informal influir no formal, como por exemplo, no caso das citações.

PRICE (apud SENGUPTA, 1992) afirma que, embora o principal objetivo da Cientometria ou Bibliometria seja fazer análise da ciência, cientifica e matematicamente, dentro de um conceito bem empiricista de pesquisa, a compreensão e os padrões de coerência da produtividade científica necessitam de Historiadores, Sociólogos e Psicólogos da Ciência para que se empreendam outros tipos de análises, não passíveis de expressão em termos métricos.

2.3.2 O periódico

Tendo sido o periódico eleito, nesta tese, como fonte principal para o estudo do processo da institucionalização da Pesquisa Educacional, fundamentando-se na crença de que esse tipo de publicação se constitui em um dos mais reconhecidos meios de comunicação da pesquisa, tornam-se pertinentes algumas informações sobre ele.

A comunicação, via periódico, constitui-se na comunicação formal mais destacada, em quase todos os ramos da Ciência, desde que surgiu, no século XVII, por iniciativa das primeiras sociedades científicas27. Daí ser o periódico científico objeto de estudo para se conhecer os processos de comunicação e mesmo as peculiaridades e evolução dos próprios ramos específicos da Ciência.

O periódico especializado é considerado um meio privilegiado para comunicar informações técnico-científicas e divulgar resultados de pesquisa. Mesmo com a possibilidade de ser superado, em seu suporte atual de publicação, o periódico ocupa posição

27 Registra-se que os primeiros periódicos publicados tenham sido o “Journal des Sçavants”e o “Philosophical

Transactions”.

Excluído: matemáticamente

privilegiada no processo de comunicação dos saberes institucionalizados, e pode ser considerado um sensível indicador de novas fronteiras emergentes da Ciência, seja refletindo padrões de pesquisas das nações ou das diversas áreas da Ciência e da Tecnologia, seja atribuindo prioridade às novas descobertas e idéias originais, referendando a autoridade de pesquisadores veteranos ou introduzindo novos cientistas em determinadas áreas do conhecimento (GUPTA, B. M.; NATHAN, S., 1980).

Há diferentes opiniões sobre o que exatamente constitui um periódico, embora haja certa concordância de que se trate de uma publicação seriada, com um título contínuo, editado em intervalos regulares, e em alguns casos irregulares, mas sempre inferiores a um ano28.

A terminologia utilizada para designar esse instrumento de comunicação é muitas vezes imprecisa, mas o termo seriado ("serial") é usualmente aceito para designar essa categoria de publicação, por incluir os periódicos e também as publicações editadas anualmente, tais como livros do ano, anuários e outros.

Cordélia Robalinho Cavalcanti (apud ROCHA, 1988) conceitua “publicação seriada” como:

“Publicação feita em fascículos sucessivos, contendo indicação numérica ou cronológica e, em regra, com a intenção de continuidade indefinida. As revistas especializadas, os jornais, os anuários (relatórios, almanaques, etc) os periódicos gerais, as memórias, atas e relatórios de entidades coletivas são publicações seriadas. As séries monográficas e de editores comerciais podem ser incluídas entre as publicações seriadas” (ROCHA, 1988, p. vii)

Reconhece-se ser a expressão publicação seriada mais abrangente do que periódico, embora ela venha tendo muito menos uso, até nos meios de profissionais da informação, tal como afirma a introdução do Guia de Periódicos e Seriados Brasileiros, v.1, editado pelo Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia - IBICT, órgão do CNPq.

O artigo publicado em um periódico primário especializado é visto como a mais importante peça do processo de comunicação formal, fonte que contém a grande maioria da literatura primária da Ciência, podendo se constituir de comunicações em diferentes estágios: o “preprint”, distribuído pelo autor, antes da publicação; o artigo publicado em periódico impresso ou disponível em meios magnéticos; ou a reimpressão de um artigo anteriormente publicado.

A publicação de artigos se processa sob a responsabilidade de um corpo de “referees”, comissão editorial, que tem por atribuição o julgamento dos artigos para publicação, normalmente composta de renomados membros da comunidade científica, constituindo-se em agentes do processo intitulado de revisão de pares (“peer-review”). Cumpre salientar que esse processo não é pacífico e ausente de problemas, registrando-se inúmeras criticas a ele apontadas, pela comunidade científica.

Os problemas apontados por um clássico estudo sobre a NSF - National Science Foundation - uma importante instituição distribuidora de financiamento para pesquisas científicas, nos Estados Unidos, em que o sistema de “peer-review” é praticado para a obtenção de financiamentos, poderia ilustrar as dificuldades que poderiam ser extrapoladas para o plano das reflexões sobre o sistema de revisão de artigos, para publicação em periódicos.

COLE (1977) estudou o sistema de “peer-review” da NSF, nos Estados Unidos, e concluiu que os revisores não são fortemente influenciados pelo status profissional de um candidato. Ao avaliarem uma proposta, ao contrário, haveria uma tendência para o julgamento em função das percepções da qualidade das pesquisas propostas.

No que se refere às variáveis correspondentes à correlação entre estratificação social e as dotações de recursos financeiros para as propostas, variáveis essas respaldadas em possíveis influências de “camaradagem”, nos julgamentos de pares, poderiam ser identificadas as seguintes situações: a) investigadores com pontos de vistas comuns serão sempre favoráveis a trabalhos apresentados por cientistas com linhas de pensamento similares; b) cientistas amigos entre si, que “cresceram juntos”, ou frequentaram

Excluído: distribuido

a mesma escola, respaldam-se em tendências fraternas nas decisões de julgamentos; c) cientistas em um dado nível de eminência, tendem a favorecer seus pares que se acham em situações similares, na hierarquia da ciência, mesmo se não há nenhum contato pessoal entre eles.

Nesse sentido, críticos do sistema de “peer-review” suspeitam de que possa haver certa negligência no julgamento da qualidade das propostas de eminentes cientistas, fato que condicionaria alguma vantagem destes sobre os pesquisadores não-eminentes; nesse caso confirmar-se-ia, nos processos de produção e comunicação científica, a conhecida hipótese do “rich get richer”.

As unidades bibliográficas, ou documentos compreendendo a grande massa de literatura primária da Ciência, estão dispersas em uma grande variedade de fontes, publicadas em todo o mundo e em línguas as mais diversas. As tarefas de identificar, selecionar e analisar informações pertinentes da massa da literatura científica são fases importantes do processo total de pesquisa e desenvolvimento científico, tendo como produtos as denominadas publicações secundárias. A criação de serviços de alerta, bibliografias, índices, resumos e catálogos facilita a identificação e seleção de documentos pertinentes a um determinado propósito.

Com o avanço da teleinformática os periódicos primários e secundários podem atualmente ser consultados através de meios magnéticos. Muitas dessas fontes se acham disponíveis em bases de dados especializadas, nas mais diversas áreas de conhecimento. O que acontece no Brasil, entretanto, é que o custo do acesso extensivo a bases da dados “on-line” internacionais, é bastante alto, principalmente devido ao preço de telecomunicação, com os quais as bibliotecas não podem arcar, por estarem seus orçamentos prioritariamente voltados para o pagamento de salários de seu pessoal (quase sempre escasso e pouco qualificado) e a aquisição de material bibliográfico atualizado.

O acesso fica restrito ao pessoal em nível de pós-graduação e muitos dos usuários potenciais, como por exemplo pesquisadores sem financiamento e estudantes de

Excluído: nivel Excluído: confimar-se-ia Excluído: masse Excluído: linguas Excluído: indices Excluído: prioritáriamente

graduação, ficam privados de seu uso por não poderem pagar pelos serviços bibliográficos “on-line”. Assim se expressa KREMER sobre este estado de coisas, no Brasil:

“Muitos usuários potenciais não têm acesso local e imediato de serviços bibliográficos on-line. Considerando-se o fato de que somente esses serviços podem prover informação atualizada, esse problema pode ajudar a aumentar a defasagem cientifica e tecnológica entre as regiões privilegiadas e as menos desenvolvidas do País. O uso dos serviços referidos é normalmente restrito a algumas universidades, institutos de pesquisas e agências públicas. Outros usuários têm acesso apenas às versões impressas das fontes de informações bibliográfica [...] O advento do CD-ROM é muitas vezes visto, nos países em desenvolvimento, como uma alternativa mais barata de acesso às bases de dados bibliográficas on-line”. (KREMER, 1994, p.121)

Em síntese, a literatura primária, secundária e terciária pode ser produzida (publicada) em um ou mais dos meios físicos a seguir especificados: meios impressos (livros, periódicos e outros documentos impressos); meios quase-impressos (saídas de computador, cópias mimeografadas ou datilografadas); meios gráficos (fotografias, cartas, desenhos, etc.); microformas (microfichas, microfilmes, rolos, cartuchos; microcards) e meios legíveis por máquina (discos magnéticos, disquetes CD-ROM, etc.).