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A Reforma Universitária e suas implicações sobre a institucionalização da pesquisa e da Pesquisa Educacional no Brasil

Considerando-se que, embora a implantação da Reforma Universitária tenha contribuído para o desencadear dos trabalhos de planejamento que culminaram na implantação da Pós-Graduação, no Brasil, merecem ser discutidos, ainda que sucintamente, alguns fatos a ela relacionados.

Ao se constatar que o processo de implantação das reformas do ensino superior tenha se concretizado, sem a participação ampla da comunidade estudantil e acadêmica, ressalta-se a necessidade de se compreender os antecedentes, o momento de efetivação e o real alcance dessas reformas empreendidas pelos Governos Militares e das políticas a elas subsequentes, envolvendo Ciência, Tecnologia e Pós-Graduação.

Segundo Herbert de Souza (apud VEIGA, 1985), os debates ocorridos, durante o longo período de gestação da Lei de Diretrizes e Bases - LDB (Lei 4024 de

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20/12/61) e até mesmo antes, tiveram como consequência importante, para a intelectualidade e para o movimento estudantil, a generalização de discussões sobre a educação brasileira.

Essas discussões geraram propostas para enfrentar os problemas diagnosticados na Universidade brasileira, muitas das quais culminaram em realizações concretas, tais como a criação da Universidade de Brasília -UnB (Lei 3 998 de 15/12/61), que instituiu um novo modelo de universidade para o Brasil.

Segundo VEIGA (1985), o fato de não ter sido a LBD uma lei rígida, mas portadora de alguma parcela de autonomia universitária, essa legislação permitiu que algumas universidades, no interregno entre a sua promulgação e os atos de Reforma Universitária, no momento de adaptação de seus estatutos internos, iniciassem um processo de modificações estruturais mais imediatas, julgadas necessárias. Cita-se a UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais, como exemplo de instituição, onde ocorreu esse tipo de procedimento.

O projeto da UnB, também concretizado antes da reforma, é citado por haver se constituído em modelo para outras universidades, mesmo em sua fase inicial de implantação, e também por se prestar à inspiração da Reforma Universitária apressada, realizada pelo governo do General Arthur da Costa e Silva, no período de 1966 e 1968. Entretanto, como subsídio para a Reforma Universitária, o modelo UnB de universidade apresentou-se despido das pretensões democráticas e do nível de autonomia, tal como incorporados na proposta inicial de reforma de autoria do Professor Darcy Ribeiro.

Paralelamente à proposta de Darcy Ribeiro, discutia-se outra proposta de reforma, mais profunda e radical, na qual a universidade se tornaria uma frente sensível à luta pelas reformas de base, metas do governo João Goulart. Esta proposta, fundamentada pelo filósofo Álvaro Vieira Pinto, tinha como gestora principal a UNE - União Nacional dos Estudantes, e pretendia “transformar a Universidade em uma instância capaz de agir em favor de grupos socialmente dominados, de servir a seus desígnios e estar aberta a suas necessidades” (VEIGA, 1985, p.92).

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Ao se iniciar a fase dos Governo Militares, no Brasil, duas diretrizes podem ser detectadas, da parte da ação desse governo, em relação à comunidade universitária e científica do País e que tiveram reflexo direto na Reforma Universitária: a da coerção, na tentativa de reprimir os movimentos reivindicatórios, organizados por estudantes, professores e cientistas; e da cooptação modernizadora, com o objetivo “de transformar as instituições de ensino superior em instrumentos mais dóceis à formação de profissionais demandados pelo sistema produtivo e a reduzir a crítica social nas atividades de ensino e pesquisa” (VEIGA, 1985).

Nesse contexto, a Reforma Universitária foi empreendida, pelo Governo Militar, pressionado pelo clima de descontentamento reinante entre estudantes, cientistas e autoridades universitárias. As questões que pautavam as discussões estudantis, naquele momento, centravam-se na questão dos excedentes, nas demandas pela reestruturação do ensino superior, acompanhadas por manifestações contrárias ao pagamento de taxas nas universidades públicas, e especialmente, à ingerência norte-americana, nos assuntos da educação do País3. A passeata “Marcha pela Liberdade e Contra a Repressão”, realizada em

26-06-68, no Rio de Janeiro, foi a maior manifestação de rua, ocorrida pós-64, com a participação de estudantes e seus familiares, professores, intelectuais, artistas, políticos e membros da Igreja.

O Ministro da Educação do Governo Costa e Silva, Tarso Dutra, procurando conter os movimentos reivindicatórios, nomeia o Grupo de Trabalho da Reforma Universitária, em 2/07/68, grupo este que produz, com extrema rapidez, os textos das leis que foram editadas em novembro do mesmo ano. Assim, foi definida, pela tecnocracia burocrática do Governo Militar, com o apoio de técnicos americanos, uma solução técnica para as demandas da comunidade universitária, que eram caracterizadas por uma crise universitária.

3 O acordo MEC-USAID, assinado entre o Governo Militar e os Estados Unidos, em 1965, foi o responsável pela apresentação, em 1967, do Relatório da Equipe de Assessoria ao Planejamento de Ensino Superior, da autoria de uma equipe composta de membros da CAPES e técnicos americanos. Esse trabalho, juntamente com Relatório Meira Matos e a proposta do modelo da Universidade de Brasília - UnB, constituíram-se nas fontes de inspiração da Reforma Universitária empreendida pelo Governo Militar. Maiores aprofundamentos deverão ser feitos, para melhor conhecimento desta questão.

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Para melhor compreensão do ambiente em que foi concretizada a Reforma Universitária, no Brasil, cumpre-se ainda salientar que, no mês seguinte à promulgação da Lei 5540 de 11/11/1968, ou seja, em Dezembro de 1968 o Congresso Nacional foi fechado e foi promulgado um dos instrumentos de maior repressão, já vigente no País - o Ato Institucional no. 5 - AI-5 e, em Fevereiro de 1969, o Decreto 477, institucionalizando instrumentos de repressão ostensiva ao segmento da comunidade acadêmica do País que não se afinasse com as decisões autoritárias, então implementadas (VEIGA, 1985).

Diante desse quadro, torna-se evidente que a implantação da Reforma Universitária, que pode, às vezes, parecer ter inaugurado um momento novo para a universidade brasileira e desencadeado, logo depois, os planos para a Pós-Graduação e para a Ciência e Tecnologia, não foi decorrente de um processo pautado pelo consenso, coesão e pacificidade entre as forças atuantes, no contexto da universidade brasileira.

Embora realizada, sim, com subsídios aproveitados do trabalho de reflexão da comunidade universitária e científica, dos períodos de governos anteriores, a reforma introduzida pelos Militares se respaldava em princípios ideológicos peculiares, contrários aos ideais democráticos, gestados até então. Também, tal como afirma PEIXOTO (1994), não ocorreu qualquer abertura concreta, por parte do governo militar, para a participação da comunidade científica e universitária, no Plano Nacional de Pós-Graduação, registrando a autora o fato de ter sido a proposta do plano simplesmente apresentada, por dois técnicos do Ministério da Educação e Cultura - MEC, na reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência SBPC, em Belo Horizonte, em 1974.